PAULA: Entende uma coisa ... Se quer mesmo ... Que fiquemos juntas ...
Ela falava pausadamente, respirando fundo a cada palavra. De repente ela desistiu e foi para o quarto me deixando novamente só.
Eu sinceramente não entendia o que havia feito de errado, o Bruno tinha sido tão elegante em relação a nova situação. Ele havia sido inteligentemente amigável conosco, não tinha motivos para ser tão hostil. Perdi imediatamente a fome, peguei minha bolsa que estava posta no sofa, e fui embora, ainda descalça.
Passei o sábado inteiro deitada no sofá, assistindo a filmes maravilhosos - Querido John, a Última Música e um Amor para Recordar - que já havia assistido, mas senti vontade ver de novo.
Fiquei também pensando, nas ultimas semanas, no que antes era perfeito e agora um monte de chagas abertas. O meu relacionamento com o Bruno, que era exemplar, sobrava respeito e compreensão. Nos amávamos, pelo menos, achávamos isso. Naquele mesmo sofá pedia a Deus que iluminasse meus dias, manifestasse sua vontade através de mim. Aquela situação de ir contra Deus com aquela relação com a Paula me perturbava, eu pensava horrores da homossexualidade - mas respeitava - entanto meu coração negava aos meus pensamentos. Decidi não mais me martirizar.
Me encaminhei a Igreja pela primeira vez depois daquele primeiro beijo com a Paula, apesar de me sentir suja perante Deus, e para entrar na casa Dele, eu fui. Cheguei na Catedral por volta das 17hrs, fiquei ali apenas olhando Jesus exposto e lagrimando com o pensamento longe. Sem que eu percebesse passou-se horas, senti um toque suave em ombro direito e imediataeente me virei, encontrei imediatamente os olhos azuis de um senhor, bem simpático, de expressão serena e com os cabelos brancos. Sequei minhas lágrimas rapidamente e me levantei, ele nada me disse apenas sorriu. Eu estava muda, estática e fragilizada. Ele logo percebeu e me indagou.
PADRE FERNANDO: Boa noite minha filha, precisando conversar?
GISELA: Estou de saida.
Mas não me movi, o olhava nos olhos.
PADRE FERNANDO: Forte não é aquele que resolve-se sozinho, e sim aquele que reconhece precisar de ajuda.
GISELA: O senhor é o Padre ou ...
PADRE FERNANDO: Sou eu o sacerdote enviado por Deus, para este local santo. Volto a perguntar ... Precisa conversar? Não digo confessar, digo conversar, apenas com alguém mais experiente, talvez possa lhe fornecer bons conselhos.
Meio receiosa eu aceitei conversar, afinal estava sozinha mesmo, não tinha amigos além da Paula, e do Bruno, sempre fui reservada e tímida. Sentamo-nos no mesmo banco um frente ao outro e ele continuou.
PADRE FERNANDO: Dá para notar a sua inquietude, algo lhe magoa?
GISELA: Eu sou lésbica eu acho.
Ele sorriu levemente, e prosseguiu.
PADRE FERNANDO: Acha?! Explique-me melhor isso.
GISELA: Eu tenho uma amiga de infancia, que sempre fomos muito unidas, moravámos em outro Estado numa cidadezinha pequena, os avós dela eram donos de uma grande fazenda, aliás a unica na região. Meus pais eram funcionários desta fazenda, sempre fomos bem tratados, eu fui criada juntamente com ela, tudo que ela tinha eu também ganhava. Sempre tivemos uma ligação muito forte, beijamo-nos na boca inocentemente pela primeira vez com pouco mais de dois anos, crescemos e nos beijamos de novo na oitava série, quando estudávamos em uma escola particular paga pelos avós dela. Nos mudamos inicialmente com o patrocinio dos mesmo, mas logo me empreguei e consegui comprar um apartamento, que pago a prestações e me sustentar sozinha. Nunca mais falamos no assunto até que de repente, de umas semanas para cá, nos beijamos novamente, terminei meu namoro de alguns anos por diversos motivos, inclusive por ela, ela se declarou, disse que sempre me amou e guardava coisas a meu respeito que nem imaginava que existiam, decidimos ficar juntas. Mas tudo dá muito certo quando estamos ... Estamos ... Sexualmente falando dá tudo certo, mas fora isso só brigamos, nossa amizade acabou, brigamos por nada e ainda me sinto infeliz vivendo contra as Leis de Deus.
O Padre ainda me olhava serenamente, em momento algum ele perdeu a serenidade.
PADRE FERNANDO: Você precisa compreender o certo para todos, o certo para você, o certo para Deus e o certo para acalmar seu coração. Busque o equilibrio entre as vontades de Deus e as suas, não faça nada que ofenda a Deus, preste atenção, não é ir contra Deus quando cumpre suas obrigações com ele. Quando o respeita e ama, quando reconhece o valor do Altíssimo.
Ficamos em silencio, enquanto refletia sobre suas palavras.
Ixee, agora complicou, isso quer dizer que eu devo ficar com ela ou devo me afastar e repeitar Deus? Seria um desreito me relacionar homossexualmente? Nossa como é dificl entender o que Deus espera de nós, é dificil até mesmo compreender o que eu quero de mim. Será mesmo que minha plena felicidade está com aquela pequena mulher? Como serão os dias se ficarmos juntas, e essas brigas que não tem fim, acabaremos nos assassinando. Os meios influenciam muito no fim.
CONTINUA!