As coisas sempre tendem a piorar, ali mesmo no banco da Igreja, ainda frente a frente ao Padre, me perguntava se teria entendido as suas palavras corretamente, ou havia entendido o que eu quis entender. Ainda confusa, me despedi do Padre com um beijo em sua mão e sai da Igreja, muito mais aliviada.
No caminho para casa passei em frente a um barzinho que nós costumávamos frequentar, imediatamente voltei meus pensamentos em quando éramos casais heterossexuais e não teriamos a possibilidade de sofrer nenhum preconceito, nenhuma ameaça ou agressão. Embora essas monstruosas agressões ocorram mais em gays, mas vai saber né =/. Estava assustada, era comum a transmissão destes ocorridos nos meios de comunicação. Pai e filho foram agredidos por serem confundidos com homossexuais, patético da parte dos agressores. Parei em frente ao Baronesas e incrivelmente eu nos via na mesma mesa de sempre, podia até afirmar que ouvia em meio ao som altíssimo nossas prazerosas risadas, senti vontade de ir atrás da Paula, mas não iria, pois eu não estava errada. Então minha outra unica opção foi o Bruno, enviei um torpedo pedindo que me encontrasse, pois precisava de um ombro amigo. Ele prontamente me respondeu dizendo que viria correndo, disse que no Baronesas e em pouco menos de trinta minutos ele já estava lá.
Sentamo-nos na mesa de sempre, frente a frente apenas como amigos, não mais juntinhos como um casal. Contei os ultimos acontecimentos a ele, e expliquei minha confusão mental, as suas palavras foram apenas essas.
BRUNO: Que amor é esse que não confia e nem respeita? Ser lésbica ou bissexual, não é uma escolha sua. Foi Deus que te quis assim, não deveria sentir-se envergonhada, você é uma pessoa maravilhosa, divertida, carinhosa, inteligente é por tudo isso que eu te amo. E deve ser por isso que ela te quer bem perto. Vai atrás dela, quando se trata de amor não é se humilhar, é querer que dê certo.
Alisávamos a mão um do outro nos olhando nos olhos, sentia o que o Bruno quis dizer, e hoje relembrando vejo nitidamente a tristeza em seus olhos, quando me incentivava a ir ficar com outra pessoa, ao invés de me convencer que ele era o melhor. O melhor homem do mundo, digno, ele poderia ter se aproveitado da minha fragilidade e insegurança, para manipular meus pensamentos, mas não o fez me incentivou a buscar minha felicidade.
Continuamos conversando sobre trabalho, faculdade e outras coisinhas bobas, até por volta das 23hrs. Pedi que fossemos embora e ele concordou. Nos despedimos em frente ao Baronesas com um selinho inesperado e costumeiro.
Pouco depois em minha casa, eu estava deitada no sofá quando o telefone desesperadamente toca, e meu coração se aperta.
GISELA(telefone): Quem é?
PAULA(telefone): Por que está fugindo de mim?
GISELA(telefone): Por inumeros motivos, por que estou cansada de ser tratada desta forma, por que não aguento mais você fazer um tsunami em tampinha de xarope toda vez que eu falo do Bruno e por que eu não tenho certeza de que iremos dar certo juntas. Já parou para pensar que nossa amizade tão antiga acabou por causa dessa história de amor?
PAULA(telefone): Por causa dessa história de amor? Você acredita que seja apenas uma história, quando eu disse que te amava eu nunca menti, aliás nunca menti a respeito de nada.
GISELA(telefone): Aaaa não? E a respeita das outras com quem você dormiu? Você nunca me disse nada sobre elas, isso não é mentira?
PAULA(telefone): Eu sou bissexual mesmo, sempre fui, mas se dissesse antes não seriamos mais amigas.
GISELA(telefone): Não somos mais amigas, apenas brigamos agora.
Desliguei o telefone na cara dela, me sentei chateada no sofá e comecei a assistir um filme muito sem graça que passava na televisão. Ainda com o telefone na mão, ouvi um estrondo em frente a minha casa - não acredito - Paula chacoalhava meu portão feito louca, mas apenas chacoalhava e não gritava, ela apenas gritou quando abri a porta.
PAULA: Abre aqui agora.
GISELA: Vai embora, de cabeça quente nós só vamos nos machucar.
PAULA: Se não abrir eu vou fazer um escandalo.
Caminhei vagarosamente até o portão e alisei sua face. Ela deixou escapar uma lágrima rebelde que rolou deixando em seu rosto uma marca de sentimento e em meu coração uma marca de certeza, me aproximei mais daquele rosto tão lindo e pequeno, quase me encurvei, beijei-a, não nos movemos apenas tocamos nossos lábios. Nos separamos e iniciei.
GISELA: Procurei o Bruno, acabei de chegar do Baronesas, estavamos lá. Ele me incentivou a tentar que demos certo, mas não posso fazer isso sozinha.
PAULA: Eu quero que dê certo, mas quero ele bem longe de você.
GISELA: Não Paula, não pode afastar as pessoas de mim, tem que somar na minha vida e não subtrair.
PAULA: Abre aqui.
Voltei a sala para pegar a chave e abrir o cadeado. Portão aberto, ela se pôs de pé em minha garagem rapidamente e me envolveu a cintura, abraçou-me forte e sussurrou em meu ouvido.
PAULA: Desde que você seja inteiramente minha, pode vê-lo, mas com uma condição ...
CONTINUA!