Ainda não me sentia preparada para uma experiencia sexual homossexual, parecia uma adolescente que iria perder a virgindade com o garanhão popular do colégio. Mas a Paula não entendia isso.
Ainda sentada no sofá, ela me abraçou.
PAULA: Vai ser tudo como você quiser.
GISELA: Vamos então.
Me levantei segurando sua mão e caminhamos para meu quarto, eu tremia tanto que chegava a ter espasmos musculares. No topo da escada eu pedi que ela voltasse e desligasse a televisão, enquanto atendia meu pedido, me encaminhei ao quarto e entrei no banheiro, fiquei me encarando no espelho. Tinha certeza que estava fazendo a coisa errada, estava apenas fazendo a vontade dela e não a minha. Minha cabeça doia muito e meus olhos estávam umidos e prontos a derramar rios de lágrimas. Estava tentando me encontrar na imagem que refletia no espelho, mas nada de mim continha ali. Paula entrou no banheiro e começou a me olhar silenciosa, eu não estava pronta, mas aquilo teria que acontecer. Quanto antes começar, mais rápido irá acabar, eu pensei.
Hiper desajeitada eu a guiei a cama, derrubei algumas coisas no caminho por conta do nervosismo, mas ignorei-as. Sentamo-nos na cama, ela me olhou com um sorriso malicioso e logo disse.
PAULA: Não precisa fazer isso se não quiser.
GISELA: Mas eu quero. Só me responde uma coisa antes?
PAULA: O que?
GISELA: Já fez isso outras vezes?
PAULA: Isso o que Nega?
GISELA: Transar com outra mulher?
PAULA: Algumas vezes.
Perplexa me levante e caminhei até a sala, sentei-me no sofá, agarrei o Ted - ursinho de pelucia - e comecei a chorar. Ela esbravejando me interrogou.
PAULA: Caramba Gisela o que foi agora?
Continuei chorando agarrada ao Ted sem nem olhar para ela.
PAULA: Eu desisto, você é louca eu nunca vou te entender.
Quando ela já estava quase abrindo a porta.
GISELA: Você mentiu para mim.
PAULA: Eu menti para você? Pare, quando que eu menti para você?
GISELA: Aquele dia na sua casa você me disse que tinha vontade de ficar com uma mulher de verdade, e agora se contradisse dizendo que já teve experiencias sexuais com mulheres. Eu não te conheço mais, você nunca tinha mentido para mim.
PAULA: Você está ciumes Nega?
GISELA: Não, eu estou indignada com a sua cara de pau. Eu sou só mais uma para você.
PAULA: Você pode pensar o que quiser de mim, só não pode duvidar do amor que sinto por você. Você sabe quanto tempo eu estou sofrendo calada por causa desse amor? Não, você não sabe o que eu passei nesses anos tentando esconder minha sexualidade e meus sentimentos para não perder a coisa mais valiosa do mundo que é você. Mesmo querendo o seu amor, eu me contentei com sua amizade para te ter pertinho. Tenta entender Gisela, se tivesse contado desde sempre, talvez isso nunca ia estar acontecendo, talvez nem amigas seriamos mais.
Ela estava alterada, mas não gritava e controlava-se para não chorar. Eu naquele momento não chorava mais, estava inerte em meus pensamentos, tudo entre nós tinha sido uma mentira, aquele beijo na oitava série havia sido premeditado por ela, até onde ela manipulou minha vida para que ficássemos juntas? Eu estava totalmente confusa, não consegui raciocinar direito, minha razão só pedia uma coisa.
GISELA: Vai embora, eu não quero mais te ver.
PAULA: Gi me desculpa, eu nunca quis te magoar Nega. Me perdoa.
Eu estava irredutível, e magoada com ela, depois da parte que ela me disse que havia tido relações com outras eu não consegui ouvir mais nada que ela me disse, estava transtornada como pode?
PAULA: Eu vou embora depois que me escutar.
GISELA: Não tenho nada para ouvir de você, você é uma falsa mentirosa.
PAULA: Hoje em dia essas palavras me machucam, mas não tanto quanto me machucariam alguns anos atrás. Se tivesse dito na oitava série, você acha que estaríamos juntas agora. Diz com sinceridade.
GISELA: Por que mentiu para mim?
PAULA: Para não te perder Nega entende isso.
GISELA: Você não corria esse risco, eu nunca ia me afastar de você.
PAULA: Ficamos seis meses sem nos falar por causa de um short ridiculo, você acha mesmo que continuaria igual se me declarasse?
GISELA: eu era uma criança na época, adorava aquele short que não era ridiculo e você fez questão de fazer sumir.
PAULA: Eu rasguei.
GISELA: Que?
PAULA: Eu rasguei o short, por ciumes, depois que o Otávio falou que você ficava gostosa com ele eu o rasguei.
Fiquei olhando a ela com cara de idiota, incrivel esse poder de me surpreender que ela tem.
GISELA: Eu não quero mais brigar.
Me encaminhei a escada, sentei e a fitava de longe.
PAULA: Posso te mostrar umas coisas?
GISELA: Mostre - com ar de indiferença.
PAULA: Vou lá em casa buscar então, me espera ai.
Ela saiu eufórica e eu inevitávelmente estava curiosa. Fui para o quarto pensar em tudo que ela me disse. Parecia surreal, uma garota que se dizia minha amiga me amava em segredo, com direito até a crise de ciumes e tudo.
Chegando sentou-se na cama com uma grande caixa rosa, aparentemente pesada, abriu um cadeado ...
GISELA: Meu Deus !
CONTINUA!