Dizem que nós só damos valor às coisas quando estamos prestes a perdê-la, com o Phelip não foi diferente, sozinho ele pedia a Deus para que nada acontecesse ao seu namorado.
- O que aconteceu com o meu filhinho? – perguntou a mãe do Duarte desesperada.
- Eu não vi... nós brigamos... quando... quando... aconteceu...
- E onde... onde está meu filho... eu quero vê-lo!!!
- Oi tudo bom. – falou o Mauricio se aproximando.
- Oi Mauricio... como está o Duarte? – perguntou chorando.
- Tenho que ser sincero com você... foi algo grave, mas já conseguimos reverter o quadro, ele está com o cirurgião plástico agora.
- Ohhh Deus!!! Como isso pode ter acontecido com o meu filho?! – ela disse se desesperando.
- Calma – o Mauricio falou a abraçando. – O Pedro e o seu Rodolfo já estão no bar onde aconteceu a briga, estão com a policia... tudo vai ficar resolvido o importante é o Duarte se recuperar.
- Phelip querido você deve estar tão assustado, você está bem? – ela perguntou abraçando o Phelip.
É...quando nossa índole muda, muitas pessoas não desconfiam, o Phelip sabia o que tinha feito, e por dentro ele estava se consumindo em desespero. Em sua cabeça a cena em que via o Duarte no chão todo ensanguentado passava como um filme mudo e muito lento. No outro lado da cidade Pedro e seu pai tentavam juntar as peças de um crime imperdoável, de puro ódio e homofobia.
- Então policial? O que vamos fazer? – perguntou o Pedro ansioso.
- Não temos muito o que fazer, apenas reunir provas e conversar com testemunhas. – disse um policial baixinho.
- Eu sei, mas além disso podemos fazer alguma coisa?
- Eu já expliquei, tudo o que podemos fazer é esperar... – falou o policial.
- Entendo... o Senhor ainda precisa de nós aqui? – perguntou o pai do Pedro.
Naquela tarde Pedro teve a certeza que a sua cidade já não era mais como antes e decidiu tomar algumas atitudes quanto a sua casa e sua família. Eles voltaram para o hospital e tiveram a noticia que a cirurgia de Douglas havia sido um sucesso.
- Agora temos que esperar. – falou o Mauricio.
- Amor... podemos falar em particular? – perguntou o Pedro.
- Claro... vamos até a minha sala. – falou o Mauricio pedindo licença a todos da sala de espera.
- Mauricio, ultimamente eu percebi que a nossa cidade está um pouco... digamos... perigosa.
- Verdade, eu já pensei nisso também.
- Então... eu gostaria de comprar aqueles equipamentos de alarme... sabe... aqueles profissionais.
- Sei sim... vamos comprar sim então... colocamos câmeras nas entradas da casa, nas laterais e reforçamos as trancas... eu lembro da vez que o pai do Duarte entrou lá em casa... quebrou a fechadura com duas porradas.
- Beleza... amanhã vou providenciar alguma agência... vou voltar lá para a sala de espera. – Pedro falou se levantando e dando um beijo em seu marido.
No corredor Pedro encontra a sua irmã que tenta fugir do contado visual entrando no primeiro elevador que atende o seu chamado. Ao olhar para o lado direito ele reconhece o irmão na varanda localizada no segundo andar do hospital e decide ir conversar um pouco.
- E ai campeão?! – perguntou o Pedro abraçando o seu irmão.
- Ai Pedro... euto me sentindo um lixo... – ele disse chorando no ombro do irmão.
- Ei!! Calma... poderia ter sido pior... ele está se recuperando, temos que esperar... agora é por conta dele. – Pedro falou acalmando o Phelip.
- Se acontecer alguma coisa com ele, eu... eu...
- Nem mais uma palavra. A Policia está resolvendo o caso, temos que achar quem foram esses monstros e prender eles. – falou o Pedro.
- O Mauricio falou que já podem fazer visitas para o Duarte, mas ele está em coma induzido. Me acompanha? Eu não tenho coragem de ir sozinho.
- Claro... sempre que você precisar de mim, eu estarei aqui. – Pedro disse abraçando forte o Phelip.
No quarto o barulho do Bip das máquinas deixava o Phelip mais apreensivo, quando ele chegou próximo da cama começou a chorar, pois, pode ver o estado do Duarte. Com faixas na cabeça e no rosto ele estava muito machucado e respirando com ajuda de aparelhos.
- Meu Deus!!! – gritou o Phelip se desesperando.
- Calma! É difícil, mas agora temos que ter calma. – falou Pedro amparando o irmão.
- É tudo minha culpa! Eu briguei com ele e ele saiu correndo... quando desceu as escadas esbarrou no grupo e apanhou... tudo por minha causa... – ele disse se desesperando.
- Phelip... escuta... acidentes acontecem, as pessoas fazem suas próprias escolhas, não foi você que fez o Duarte sair correndo... ele fez isso porque ele quis. Agora o idiota que usou violência contra ele merece pagar... e é isso que nós temos que focar agora. – o Pedro falou olhando nos olhos de Phelip.
- Você está certo... tenho que ser forte agora... – ele disse limpando as lágrimas.
- Agora você precisa ir para casa... está a quase um dia sem dormir e comer... se despede dele e vamos embora. Vou te esperar lá na frente. – Pedro falou pegando na mão de Duarte e saindo do quarto.
- Amor... me perdoa. Quando você sair dessa eu juro que vou fazer qualquer coisa para te fazer feliz... Eu te amo! – falou Phelip próximo ao ouvido de Duarte.
Na casa de seu Rodolfo, pai de Pedro, a situação também não estava uma das melhores. Priscila negava-se a tomar qualquer decisão quanto ao filho que estava esperando e seus pais estavam preocupados com os danos emocionais que poderiam acarretar para a vida da jovem.
- Priscila minha filha... abre a porta para a mamãe. – disse dona Paula com uma bandeja de comida nas mãos.
- Eu quero ficar sozinha mãe... por favor. – gritou Priscila deitada em sua cama.
- Filha você passou o dia no hospital... você se alimentou?
- Mãe me deixa em paz!!! Eu quero pensar!!! – ela gritou chorando.
- Paula... não podemos insistir. Ela vai levar o tempo que precisar para pensar... temos que dar esse espaço, a Priscila não é mais uma criança. – falou seu Rodolfo com uma expressão triste.
- Ai Rodolfo, mas ela foi sempre tão independente dos irmãos, fico com medo. O Pedro está seguindo a vida dele, o Phelip ainda é um adolescente. E se ela se sente solitária... antes o alicerce de todos era o Paulo. – disse Paula deixando a bandeja perto da porta e indo para o quarto com o Rodolfo.
Não muito longe dali Pedro e Phelip conversavam sobre a questão da segurança do bairro. Ele explicou para o irmão mais novo dos planos de colocar um novo sistema de câmeras para evitar assaltos ou invasões indesejadas. Quando chegaram na casa de Pedro dona Antonia, mãe de Mauricio, assistia um programa popular sobre separação.
- Boa noite Pedro. – disse ela se levantando com dificuldade do sofá.
- Oi Antonia, nossa desculpa o atraso... juro que tentei chegar mais cedo. – Pedro falou abraçando a sogra.
- E então como está o jovem? – ela perguntou.
- Bem... graças a Deus, fora de risco. – disse Phelip sentando numa cadeira.
- Phelip... você vai dormir aqui comigo hoje, o Mauricio vai ficar de plantão. Quero que você tome banho aqui em baixo para não acordar os meninos e suba para fazer companhia a eles. Vou levar a Antônia para casa. – Pedro falou pegando as chaves do carro.
No caminho para a casa de Antônia, Genro e Sogra conversam sobre os planos e projetos para o futuro.
- O Mauricio falou que você anda tendo uns pesadelos? Está tudo bem? – questionou Antônia;
- Mais ou menos... não consigo dormir direito... pensei que havia superado o fato do pai do Duarte ter invadido a nossa casa, mas o medo continua, tenho medo pelos meninos. – Pedro falou prestando atenção para a rua.
- Eu sei meu filho, mas não podemos viver para o medo. Faz o que você planeja, compre as câmeras e viva uma vida normal.
- Eu sei Antônia, era tudo o que eu mais queria... ter uma vida com os meus filhos sem preocupação, saber que eles estão seguro e não vão ser vitimas do preconceito. O Paulinho principalmente que vai começar na escola primeiro que os irmãozinhos.
- É difícil, mas você e o meu filho já superaram tantas outras dificuldades. Essa vocês vão tirar de letra. Ainda mais com os netos maravilhosos que eu tenho. – ela disse rindo.
- Verdade. Obrigado por tudo a senhora também... não ganhei uma sogra, ganhei uma mãezona! – Pedro falou rindo também.
Quando chegou em casa Pedro lembrou que não havia comido nada. Foi até a geladeira e pegou restos do almoço e esquentou no micro-ondas. Ele tirou a blusa e sentou sozinho na sala de jantar. A cabeça dele estava a mil, a Priscila grávida, Duarte no hospital e esse medo que lhe tomava a conta. De repente ele escuta um barulho e para de comer e começa a andar vagarosamente até a cozinha e pega uma vassoura. Sorrateiramente ele vai fuçando todo o primeiro andar, quando vê um vulto por trás dele e erra o alvo.
- Meu Deus!!Tú tá louco?! – gritou o Phelip.
- Desculpa... eu... eu... pensei... desculpa.
- Pedro... o que foi isso?! Eu pensei que você já tinha superado tudo aquilo.
- Está voltando... e pior do que antes... tenho medo pelos meus filhos, tenho medo que alguém faça com vocês o que fizeram com o Duarte... eu não vou aguentar... perder alguém. – o Pedro falou chorando e abraçando o Phelip.
- Ei... calma... nada vai acontecer... eu não vou deixar o que aconteceu com o Duarte, acontecer com você ou os meus sobrinhos... hoje eu vou dormir aqui... já chequei todas as portas e janelas, está tudo trancadinho. – ele falou abraçando o irmão mais velho.
- Ok... me espera terminar de comer.
- E depois eu sou o irmão mais novo.
- Por favor... – disse Pedro sentando-se para terminar de jantar.
- Pedro...
- Fala?
- Será que o Duarte vai demorar para acordar... e...e... se ele não me perdoar...
Inseguranças, preocupações e problemas, a família Soares parece que não tem descanso.