Curiosidade. Ela nos coloca em lugares que nunca imaginaríamos, depois de passar por um trauma no qual nunca imaginou, Pedro Soares, decidiu ir até o Centro da cidade. Olhou em várias lojas especializadas em busca do equipamento de segurança perfeito. Perguntou sobre os pós e contras das câmeras. Coitado do atendente que respondeu milhares de questionamentos.
- Então senhor... já decidiu? – perguntou o vendedor cansado.
- Já.. quero aquela Watson 2010. Quero 6 câmeras e quero também que você indique um lugar para trocar as fechaduras da minha casa. – falou Pedro ainda com dúvida.
Não muito longe dali, o Mauricio levou a Priscila para dar uma volta e comer algo.
- E então Priscila? – perguntou Mauricio.
- Então...
- Priscila... eu te conheço e não importa qual seja a decisão que você tomar o Pedro vai te apoiar... apenas avise quando e onde...
- Eu sei. Na verdade eu não sei o que eu quero... ser médica sempre foi o sonho da minha vida... eu não quero jogar isso fora... e não quero dar responsabilidade para ninguém.
- Ok... se você for fazer o aborto... avise a todos antes... pelos menos seus pais e o teu irmão.
- Aii Mauricio é tão difícil. – falou a Priscila abraçando o Mauricio.
- É a vida, temos que pensar nas opções e ver aquelas que nós não vamos sair machucados. – ele disse abraçando ela forte.
- Eu sinto tanto a falta do Paulo... – ela disse chorando.
- Calma querida vai tudo dar certo.
Em casa Pedro estava terminando de instalar as câmeras de segurança. E decidiu ver se o sistema realmente funcionava. Os homens possuem uma peculiaridade, quando estão dominando tecnologias se tornam verdadeiras crianças. Mauricio deixou Priscila em casa e seguiu, a única coisa que queria era abraçar o marido e jantar. A casa estava toda trancada e ele não percebeu as câmeras instaladas na entrada. Quando ele forçou a tranca da porta um grande alarme soou e ele se jogou no chão. Do escritório onde estava o computador que controlava o sistema Pedro riu da reação de seu esposo.
- Amor... o que aconteceu? – perguntou o Mauricio atordoado.
- É o nosso novo sistema de segurança, o Watson 2010. – ele falou mostrando no computador a filmagem das câmeras.
- Não poderíamos ter comprado o Sherlock Holmes? Olha o que você fez... que ridículo amor... apaga isso. – ele disse saindo da sala.
- Não vou mostrar para os nossos parentes e amigos. – disse Pedro rindo. – Paulinho!! Vem cá filho... olha o papai caindo...
Priscila resolveu contar aos pais a sua decisão e a reação não foi tão boa quanto o esperado.
- Você é louca?! – gritou Rodolfo.
- Priscila é a vida do nosso neto que está em jogo. – chorou a mãe dela.
- E a minha vida... o hospital não conta?! – ela perguntou chorando.
- Depois você volta... você está fazendo a maior burrice da sua vida minha filha! – gritou Rodolfo batendo com a mão na mesa.
- Eu sou residente pai... quando eu voltar vai passar muito tempo... que droga! Eu apenas não quero ter esse filho... me entendam!!! – ela gritou saindo da sala.
No coração de Priscila não havia dúvidas ela queria tirar o bebê, pegou suas malas e quando ia descendo as escadas de sua casa escorregou e rebolou até cair desmaiada no chão. Paula encontrou sua filha inconsciente e se desesperou gritando por ajuda.
- Acorda minha filhinha!! Rodolfo... ajuda!!! – gritou Paula.
- O que foi?!! Meu Deus minha filha... o que aconteceu?! – ele gritou se abaixando.
- Eu não sei quando eu cheguei aqui ela já estava desmaiada... vamos levar ela para o hospital.
- Vamos. Ligue para o Mauricio ou o Pedro. – ordenou seu Rodolfo segurando Priscila no colo.
- Isso é.... é sangue... Rodolfo ela está sangrando... ohhh meu Deus!!! – gritou Paula enquanto pegava o telefone celular.
- Vamos para o carro!!! – ele disse tendo dificuldade em abrir a porta.
- Alô Mauricio?! Onde você está?! Pelo amor de Deus a Priscila caiu da escada e está desmaiada... venha para cá!! Estamos levando ela para o hospital.
- Não se preocupe Paulo... estou indo... só vou colocar uma camisa. – disse Mauricio correndo para o quarto.
- O que foi amor?! – perguntou Pedro.
- Tua irmã... ela desmaiou... acho que caiu da escada estou indo lá na tua casa.
- Eu vou também... – disse Pedro desesperado.
- Amor... as crianças... eu... eu vou agora... liga para a minha mãe e eu vou agora. – disse Mauricio correndo para a casa dos Soares.
- Mauricio... você está de samba canção.... ohhh Deus... o que a nossa família tem de errado.... atende dona Antonia... atendePapai... onde o papai Mauricio foi? – perguntou Paulinho.
- Ele foi resolver um problema na casa da vovó. Ok!! Eii você quer ficar com a vovó Antônia hoje. – Pedro perguntou fazendo foz infantil.
- Quero a vovó Toninha faz comida gostosa...
- Quer dizer que a minha não é?! – disse Pedro tentando disfarçar o nervosismo.
- A sua é... a da vovó Paula e a vovó Toninha... faz comidinha gostosa. – ele falou sentando no sofá.
- Ok filho... deixa eu ligar para o Phelip. – Pedro falou pegando outro telefone.
A caminho do hospital todos estavam preocupados com a saúde de Priscila. Paula e Rodolfo extremamente culpados pelo estado da filha. Mauricio realizou os primeiros procedimentos no carro mesmo e constatou que fisicamente nada havia acontecido, mas que era preciso fazer uma série de exames. Quando eles chegaram ao hospital um milhão de pessoas surgiram para atender o chamado. Priscila era muito querida no hospital e todos se preocuparam com ela.
- Então Doutor? – perguntou o Carlos para o Mauricio.
- Aparentemente nada quebrado... me traz um jaleco... eu imobilizei a coluna e trouxe logo porque os meus sogros ficaram muito abalados com o acontecido. – Mauricio falou enquanto retiravam a Priscila do carro.
- Nossa a família do Pedro às vezes me assusta. – falou o Carlos tentando aliviar a tensão.
- Ei... não é assim desse jeito. – falou o Mauricio vestindo um jaleco.
- Não estou mentindo né?! – questinou.
- É a minha família também... não gosto de pensar essas coisas.
- Doutor Mauricio? – chamou uma enfermeira.
- Oi?! – ele respondeu.
- Sua...
- O que?!
- Doutor... a ... a ... sua... sua...
- Não estou entendendo enfermeira... eu... preciso entrar agora nessa sala.
- A sua calça doutor Mauricio... o Senhor só pode entrar na sala de exames com uma calça. – ela disse.
- Me perdoe, eu já vou conseguir uma... Carlos eu quero sua calça. – ele disse olhando para o amigo.
- Minha calça?!
- Sim... tira agora.
- Mas eu não quero te dar a minha calça.
- Eu não estou brincando... tira as tuas calças agora ou eu mesmo vou arrancar de você. – ele disse ficando sério.
- Ok... – disse Carlos abaixando a calça;
- Valeu bom garoto... liga para o Pedro e pede para ele trazer uma calça para você... que coisa feia Doutor Carlos. – ele disse entrando na sala de exames.
- Valeu pela força amigão! – gritou Carlos olhando para os lados com vergonha.
O corpo humano é surpreendente, com certeza Deus pensou em tudo quando formou todo o nosso ser. E a tecnologia pode indicar todos os problemas que nós possuímos. Mauricio usou uma grande máquina para mapear todo o corpo de Priscila e constatou que quase tudo estava bem, havia um sangramento no útero dela. Todos foram convocados para uma decisão que afetaria a vida de Priscila diretamente.
- Paula, Rodolfo... as noticias que eu tenho não são muito boas, mas antes de se desesperarem a Priscila está bem, não corre risco.
- Então o que não é bom? – perguntou Paula chorando.
- Ela... ela... perdeu o bebê e está tendo um sangramento... já preparamos a sala de operação, mas há um porém se o útero dela estiver muito machucado teremos que retirar ele.
- Mas ela só tem 23 anos. – falou Rodolfo com uma voz suave.
- Sim... por isso que temos que decidir agora... ou podemos estabilizar ela e esperar que ela acorde.
- É melhor esperarmos a decisão dela... quer dizer se isso não for prejudicial. – falou Paula.
- Claro... como vocês quiserem. – disse Mauricio retornando a sala.
Pedro já estava a caminho, nervoso e preocupado com a saúde da irmã. Ele nunca orou tanto na vida como naquele dia. Apesar de amar o Phelip com todas as forças, ele sentia algo completamente diferente por Priscila. Nem ele conseguiu descrever esse sentimento. Pedro se lembrou de um sonho em que estavam Priscila e Phelip em um penhasco quase caindo e ele podia salvar apenas um deles. Pedro no sonho olhou com os olhos cheios de lágrimas para Phelip e pediu desculpas dizendo que ele conhecia a Priscila por mais tempo e não conseguiria viver sem ela.
- Deus... o que realmente tem de errado com a gente? Não saímos do hospital...
Phelip estava a exatamente 8 horas no hospital ao lado de Duarte. Ele leu um livro, escutou música e conversou sobre diversos assuntos com o seu namorado, mas só havia um detalhe, o Duarte ainda não havia saído do coma induzido. Fazer aquilo fazia com que ele se sentisse bem consigo mesmo.
- Aí Duarte... eu lamento tanto. Eu em desespero só em lembrar o que aqueles caras fizeram com você. E a policia que não resolve nada...
Nos sonhos de Priscila algo lhe chamou a atenção. Ela estava com o mesmo vestido que havia usado em sua primeira comunhão. Era branco até os joelhos, com flores em várias partes, muito lindo. Estava caminhado num pasto verde e havia um riacho passando próximo. Um homem colhia do água e apenas o barulho que ela conseguia ouvir era da água correndo colina a baixo.
- Moço? – ela perguntou.
Sem sucesso Priscila se aproximou um pouco e mais quando tomou um choque e seus olhos encheram de lágrimas.
- Oi irmãzinha! – gritou Paulo. – A quanto tempo.
- Não... é... impossível... você está...você está... morto. – disse ela com medo de se aproximar.
- Calma...
- Não se aproxime... fique longe de mim!!! – ela gritou chorando.
Poderia Priscila estar delirando... teria coragem ela de se aproximar de seu irmão?