Bom dia classe.
-Bom dia – a turma respondeu com "tanta vontade" que era assustador.
-Bom, como vocês podem perceber, temos um aluno novo por aqui - ela fez um sinal com a mão direita para o lado – por favor apresente-se.
O garoto – digo, o rapaz, ele era grande, garoto não seria bem apropriado – se levantou e ficou parado ao lado da professora, tímido, meio encolhido, seria vergonha?
-Oi, meu nome é Félix... Ehh – ele dava breves pausas entre cada frase, falar em público não era seu forte, alguns alunos estavam rindo dele – eu tenho 19 anos, eu vim de outra escola pra cá, eu acabei de me mudar e... – ele continuaria se não fosse a Alana com suas bobeiras.
-Solteiro? – disse Alana alto, fazendo a turma toda turma rir.
-Tudo bem turma, já chega! – disse a professora, interrompendo a piada – Félix pode se sentar.
A aula decorreu normalmente, matéria, exercício, falação, normal de qualquer escola, até a hora do intervalo – que na verdade eu não curtia muito, geralmente ficava na sala com a Alana conversando – todos começaram a sair, ficamos na sala, eu, Alana, Félix e mais 3 pessoas.
Enquanto falava com a Alana, fiquei prestando atenção no novato, pensando em como devia ser ruim ficar num lugar onde não se conhece ninguém, entrar num lugar, passar quase 5 horas lá e não falar praticamente nada, eu fiquei com pena e comentei com a minha amiga.
-Alana, você acha que devíamos falar com ele? – perguntei num sussurro com a intenção de que ninguém ouvisse.
-Não sei, por que?
-Sei lá, ele não tem ninguém pra conversar, seria bom ter algum conhecido, somos ótimos.
-Vamos lá então.
Saímos de nossas carteiras e pulamos duas carteiras à frente, Alana com seu jeito despojado, chegou sem cerimônia alguma.
-Oi Félix – disse Alana dando uma ênfase maior na letra “L” do nome.
-Oi – disse ele um pouco tímido, sem saber o que falar, o por que estávamos falando com ele.
-Pensamos que seria bom ter alguém pra conversar, então... Se quiser ficar com a gente...
-Tudo bem, vai ser legal – ele disse bem animado, pelo jeito ficou contente por termos falado com ele – vocês são?
-Alana e Eric – disse Alana nos apresentando.
Ele sentou na nossa frente e ficamos ali conversando por um tempo, Félix era um garoto engraçado, aquela quietude era só timidez, ele contou que tinha repetido a 5 série, por isso era um pouco mais velho do que a maioria, ele era alto, não era forte, mas tinha os músculos definidos, um cabelo preto espetado, olhos escuros e um sorriso perfeito, digno de conquistar qualquer pessoa, suas sobrancelhas bem pretas e a pele bem branca, davam um contraste incrível, fazendo seu rosto ser difícil de ser esquecido.
Logo o intervalo acabou e a aula recomeçou, de vez em quando trocávamos alguns comentários, o dia passou e estávamos já indo pra casa, no portão de saída nos despedimos e começamos o nosso caminho.
-Eric, que garoto é aquele? Lindo...
-Credo Alana, que assanhamento.
-Vou investir, vamos ver no que dá.
-Você acabou de terminar com o Victor e você sabe que ele ainda é super afim de você.
-Mas eu não sou, tenho que partir pra outra, ou você quer que eu fique solteirona? – ela fez uma pausa e começou a rir – igual a você.
-Eu não sou solteirão – falei indignado.
-Eric, você deu seu primeiro beijo com 16 anos, sua lista de ficantes se baseia em 2 pessoas, sendo que nenhum foi sério, foi coisa de festa.
-Isso não significa que eu sou solteirão, significa que eu sou seletivo, não saio pegando qualquer coisa, quero algo melhor pra mim.
-Tudo bem, vou fingir que acredito e você finge que me engana.
-Fica quieta – já estávamos no condomínio, então nos despedimos e fomos cada um pra sua casa – até amanhã sua pegadora.
-Até amanhã, seu pega ninguém.
Ao chegar em casa, fui direto para a cozinha, estava faminto, pensei que a Fátima estaria lá, mas na verdade quem estava lá era apenas o Caio.
Caio era quase um irmão pra mim, crescemos juntos e fazíamos quase tudo juntos de acordo com que a diferença de idades permitia, ele era bem alto e forte, estava estudando “Direito”, tinha 22 anos, seu cabelo era bem curtinho, quase raspado, tinha uma tatuagem no braço, olhos escuros e uma boca carnuda, ele era sempre muito engraçado, muito esperto, mas um pouco nervosinho demais.
-Oi Caio, cadê sua mãe?
-Ela precisou resolver algumas coisas que na verdade nem me falou o que era e disse que já está voltando.
-E você está cozinhando? – disse ironizando a situação.
-Eu sou ótimo cozinheiro, muitas vezes você comeu minha comida e elogiou achando que era da minha mãe.
-Bem que eu percebi que algumas vezes a comida da Fátima não estava tão boa, mas educadamente eu dizia que estava ótima – a piada ainda estava de pé.
-Sei...
-Mas então, onde você estava ontem? Não te vi aqui.
-Eu dei uma saída, tinha uma garota e você sabe né?!
-Sei... – sei? – dormiu em casa?
-Sim, mas e você, tem alguém?
-Ehh... – eu sempre contava vantagem de pegador e de como eu achava tal garota muito gostosa, mas era só pra disfarçar, meu... Vou dizer irmão, pois era o que ele representava pra mim, ele não sabia sobre mim e não era fácil dizer ao seu irmão mais velho que era gay, então era melhor fazer tudo às escuras – na verdade não tem nada sério, só ficando com algumas meninas.
-Assim que eu gosto, mas então, o almoço fica pronto em uns 20 minutos.
-Já que vai demorar um pouco, vou tomar meu banho e já desço.
Peguei minhas coisas e fui tomar meu banho, no meu quarto eu passei em frente ao espelho e comecei a pensar, eu estava com 18 anos, era um garoto até que bonito, cabelo castanho claro, olhos verdes, pele branca e um corpo definido, era inteligente, era muito brincalhão, não era muito de zoar e de baladas e um solteirão, fiquei pensando se eu iria ficar sozinho sempre? Era verdade o que a Alana disse, eu só tinha beijado dois garotos, mas não foi nada sério, eu tinha medo de nunca achar alguém sério pra namorar e tal, algo que me traga uma felicidade duradoura e não uma felicidade passageira.
Tomei meu banho e desci, estava um pouco triste com aquilo tudo, mas logo tratei de melhorar o rosto, não gostava de encher as pessoas com meus problemas.
Nesse tempo que eu tomei banho, a Fátima voltou e acabamos almoçando nós três, como uma família, isso era um momento que raramente acontecia com a minha família, o resto do dia se foi, já era de noite, então fui dormir.
No dia seguinte, chegamos à escola, Félix já estava em seu lugar, sentamos e já estávamos conversando, a aula passando e a professora então passou um trabalho em trio, mas o trabalho seria para quase 3 semanas depois, era algo sobre história, no mesmo momento combinei com a Alana de fazermos juntos.
-Posso fazer com vocês? – perguntou Félix timidamente, mesmo tendo conversado conosco esses últimos dias.
-Claro, semana que vem nós começamos a fazer, ainda tem tempo – disse sem dar muita importância à tarefa.
-Tudo bem.
-Vai ser ótimo fazermos o trabalho juntos – disse Alana já com segundas intenções.
Ao sair da escola vi um carro conhecido, era o Caio, estranhei a presença dele por ali, ele não costumava ir muito ali, ele já chegou a me buscar na escola algumas vezes, mas era raro.
-Caio? O que você está fazendo aqui?
CONTINUA…