Já fazia alguns meses, desde que comecei a me transformar. O céu de São Paulo é mais convidativo à noite, quando a brisa fria invade o sobretudo e faz seu corpo inteiro se arrepiar ao tocar em sua virilha recém depilada. Esse hábito era bem mais recente e eu ainda ficava nervoso com a idéia de ser visto por alguém conhecido. Por mais que eu soubesse que naquele bairro distante eu jamais seria reconhecido em meu disfarce e que este surpreendia até a mim mesmo a cada vez que olhava no espelho, vendo que ele do outro lado era ela, um medo incontrolável se apoderava de mim.
Mais do que isso, eu temia ser abordado por alguém mal-intencionado, algo não tão difícil nessas ruas violentas e assim andava apressado, batendo meus saltinhos no concreto enquanto me perguntava se aqueles rostos estranhos de fato flertavam comigo ao passar. Meus quadris se mexiam com desenvoltura a cada passo, enquanto eu me perguntava o que eu faria se surgisse um estuprador, um medo que nunca se dissociava de um fetiche. O fato é que minha estrutura física realmente se apresentava como um risco, pois com vinte e cinco anos recém completados, eu tinha o corpo pequeno, pouco maior do que o de uma menina antes de entrar na puberdade e seus hormonios agirem.
O coração disparado e a respiração ofegante davam movimento a um decote devidamente preenchido com seios falsos de silicone sob o meu sutiã, quando cheguei à fachada de uma casa canhestramente tradicional, dentro de um universo de hediondos edifícios cinzas. Olhei seus tijolinhos cuidadosamente limpos, conferi o número e enfim toquei a campainha. Os poros de minha pele eram visíveis pela tensão, ou pelo frio, mas aquela situação me excitava. As horas que eu gastei me produzindo, para me tornar uma mulher fidedigna, não seriam em vão.
A porta se abriu. Através dela, surgiu um homem verdadeiramente grande, de rosto um tanto quadrado e barba cerrada, com um sorriso digno de seu tamanho, para me receber. Ele me abraçou e deu um beijo no rosto, enquanto uma de suas mãos afagava meus cabelos cultivados desde que vesti a primeira calcinha e que, agora, chegavam quase aos ombros.
Me convidou para entrar e pegou meu sobretudo para pendurar, denunciando um curto vestido preto que evidenciava a minha palidez. Segui para sua sala e senti um olhar se detendo por um instante nas minhas costas quase tão expostas quanto minhas coxas, ou talvez olhasse pouco abaixo da cintura, não sei. Olhei para trás e ele me deu outro de seus sorrisos, perguntando se eu queria beber algo enquanto o jantar ficava pronto. Aceitei um whisky puro, retribuindo o sorriso e fitando seus penetrantes olhos azuis que contrastavam com os meus tão negros. As marcas da idade que começavam a surgir ao redor daquele azul chamavam a minha atenção e, de alguma maneira tornavam-no ainda mais atraente.
Bebiamos esperando o peixe terminar assar, sentados lado a lado no sofá da sala, enquanto eu perguntava como estava o trabalho e ouvia suas reclamações não muito diferentes das minhas. Desde que me ofereceram um cargo de confiança na sede, perdi a convivência até mesmo com os outros engenheiros nas construções. Havia algo de nostálgico em ouvir meu amigo falando, ainda mais porque eu sei que minha ascenção meteórica certamente tinha algo a ver com o meu pai, ainda que nunca tenhamos tido essa relação. Sua esposa não aceitava que ele mantivesse qualquer contato com a família da ex-mulher.
Não importava. Perdido em digressões, voltei a mim ao sentir um toque aspero de suas mãos nas minhas. Eu estava feliz. Feliz como não lembrava mais ser possível. Se ele tentasse sentir o gosto do vermelho de meu batom, eu cederia na hora, mas ele era experiente e me cortejava com delicadeza. Talvez, mais do que isso, carinho. Um carinho que não existia entre nós nos tempos em que trabalhamos juntos, nem tampouco no semestre em que me deu aulas de cálculo na faculdade.
O whisky começava a agir em mim e trouxe suas mãos para as minhas coxas, olhando em seus olhos com alguma timidez simulada. Ele correspondeu, segurando com firmeza e perguntando se eu tinha certeza do que estava fazendo. Pisquei em confirmação e antes que meus olhos estivessem totalmente abertos, já começavam a se fechar novamente para um beijo.
Fiquei algum tempo aconchegada em seus braços, curtindo meu primeiro beijo com outro homem. Ou, mais precisamente, com um homem, pois definitivamente, ali, eu não era um. Queria mais, queria ir além, queria sentir toda a sua virilidade dentro de mim, mas meus devaneios foram interrompidos pelo anúncio de que o peixe já deveria estar bom. E "bom" não alcança a magnitude do quanto me deliciei com aquela refeição, acompanhada de um vinho. Não entendo nada de vinhos, mas sei dizer quando gosto de um e posso afirmar com segurança que aquele estava maravilhoso.
Ainda assim, havia entre nós uma penúmbra muito maior do que a das ruas naquela noite. Ele sentia um visível desconforto por não entender o porque de eu querer ser uma mulher. Eu adoraria poder sanar essa dúvida, mas primeiro eu precisaria descobrir a resposta para ela. No lugar disso, relembrei a boate em que nos reencontramos após tanto tempo, desde que deixamos de trabalhar juntos. Eu estava dançando assuntosamente com uma convidativa minissaia adornada com lantejolas, não mais extravagante do que boa parte do público local. Jamais imaginei que veria um viuvo respeitável num ambiente como aquele, mas meu primeiro impulso, ao invés de tentar passar despercebida, foi puxar assunto. Nossas conversas voltaram a ser constantes desde então.
Voltamos para a sala e agora já nos beijávamos sem tanta cerimônia, o que me deu a abertura para alisar seu pênis por cima da calça. Estava extremamente duro, tanto quanto o meu, que forçava para sair da arapuca projetada sob a seda de meu fio-dental. Abri seu zíper e envolvi em minhas mãos. Precisava das duas, pequenas que são, para dar conta dele inteio, mas boca eu só tenho uma e ela teria que dar conta. Era a primeira rola que eu tive contato na vida, excetuada a minha e ela estava irresistível.
Aproximei meu rosto e olhei para o dele, pedindo sua anuência. Um breve gemido enquanto eu o masturbava e sua mão puxando minha cabeça para junto de seu corpo me deram o que eu precisava para começar meu primeiro boquete. Não era muito habilidoso, mas fiz o possível para envolver em meus lábios toda aquela carne e ele parecia nunca terminar de passar pela minha língua. Uma parte ainda ficou para fora, porque achei que vomitaria se continuasse, mas ainda assim comecei a chupar. Subia e descia minha boca naquele pau, enquanto encarava seu olhar apertado e recebia suas ordens.
Não demorou muito para que gozasse na minha garganta. Ele anunciou que gozaria, mas eu não queria perder a oportunidade de conhecer o gosto de sua porra. Engoli e sorri, antes de ceder outro beijo ao meu macho. Fomos para seu quarto e em sua cama senti outra primeira vez. As mãos de um homem segurava minhas nádegas por baixo do vestido, enquanto minhas pernas se enrolavam em seu corpo já nu. Um caralho forçava o fio de minha calcinha e me fazia delirar pedindo pra ser fodida. Devaneando sob o peso de seu corpo, subi o vestido e coloquei a calcinha para o lado, para levar aquela pica da qual eu ainda sentia o gosto.
Ele, mais experiente, ignorava meus apelos e se divertia beijando meu corpo inteiro. De beijo em beijo, acabou chegando em meu cuzinho virgem, no qual sua língua não poupou esforços para me fazer deixar as marcas de minhas unhas em suas costas. Eu já gritava implorando pica, quando senti uma gosma gelada entrando em mim junto com um dedo. Tremi. Medo, frio, dor... O tesão ainda era forte, mas eu me calei e gemi, cada vez mais forte a cada dedo que entrava. Depois do terceiro, eu já sentia que ia estourar. Não aguentaria a envergadura de um pênis. Pedi, no entanto, com medo de perder aquela oportunidade, apenas para que fosse carinhoso.
E assim, sem muita dificuldade, senti que aquele pau deslizava sem qualquer resistência, rasgando lentamente cada prega por onde passava. Eu olhava sem muita convicção para os dele, que ao contrário estavam como os de um animal fixo em sua presa e grunhia coisas incompreensíveis entre gemidos. Finalmente suas bolas tocaram em meu corpo e eu sabia que o pior tinha passado. Respirei e beijei a sua boca enquanto se iniciava um vai e vem que me destruia de dor, mas eu queria ir até o fim. Queria fazer aquele homem gozar usando o meu cu e de alguma maneira, comecei a sentir algum prazer. Estava gostando até daquela dor e isso se refletiu nos meus gemidos, que por sua vez eram estimulados pelos tapas que eu passei a receber. Eu pedia por eles. Na bunda, nas coxas, na cara... E ele dava. De leve, mas com vontade.
Ficamos assim até que gozasse e me abraçasse forte. Seu suor se misturava ao meu, enquanto a camisinha começava a ficar larga em seu pênis que murchava dentro de mim. Só depois de algumas horas e muitas promessas é que nos dignamos a nos mexer. Voltei para casa antes de terminar a noite. Era estranho dirigir após ter levado tanta vara. Mais do que isso, era difícil me concentrar e por duas vezes, quase bati. Só tirei o vestido quando amanheceu o dia e a conveniência mandava escolher um inconveniente terno para usar no escritório.