Chamo-me Daniel, possuo hoje 19 anos e atualmente faço intercambio no Canadá, contarei uma história que ocorreu comigo a um ano e alguns meses. A Homossexualidade não poderia ter vindo mais importuna para outro alguém do que pra mim. Nascido em cidade pequena e filho de duas importantes gerações de médico, a minha sexualidade transformou-se em um “segredo de estado”. Minha família era conhecida, e eu tinha medo da reação de todos se soubessem. Resultado: sofrimento durante anos.
Meu irmão mais velho, Rafa, era fruto de relacionamento precoce entre meu pai, chamado André, e minha mãe, sendo eles muito jovens na época em que o conceberam. Dois anos depois eu nasci, e minha mãe infelizmente falecera no parto. Com um pai jovem divido entre o restante dos estudos e o árduo trabalho de um médico em inicio de carreira, acrescentando a ausência de minha mãe, eu e o meu irmão nos tornamos inseparáveis, apesar de muitas vezes eu me mostrar mais malvado e mimado. RS
Rafa aprendeu que deveria cuidar de mim, me proteger, me defender. Meu pai era legal, carinhoso, engraçado, generoso, mas quase sempre estava fora, cuidando da clínica herdada do meu avô. Era Rafa que, mesmo tendo apenas dois anos a mais, fazia coisas como me esperar dormir toda noite segurando em minha mão para que eu não tivesse medo do escuro ou de alguma outra paranoia infantil.
Crescemos, viramos melhores amigos, mas possuíamos cada um a própria vida, apesar de termos quase o mesmo ciclo de amizades, consequência de morar em uma cidade pequena. Já estando eu no ensino médio cursando o ultimo ano e Rafa já cursando cursinho pré- vestibular na mesma escola, éramos alunos dedicados, mas nada nerds. Rafa era um garoto bonito e loiro, legal e inteligente, tornou-se um garanhão junto com outros amigos semelhantes. E eu, como quase toda a maioria dos gays, possuía um numero de amigas maior do que de amigos, apesar de não ser nem um pouco afeminado.
Diferente do meu pai e de Rafa, que eram brancos e tinham o cabelo loiro bem claro, eu tinha a pele mais dourada e meu cabelo era loiro escuro. Não era tão alto, eu era o mais baixo entre os três, mas eu praticava esportes, e como Rafa e meu pai, eu era definido. Tinha um corpo desenhado. Eu era ( e aindo sou, RS.) muito bonito. Mas as meninas da escola já haviam percebido que eu estava fora de alcance, eu não dava encima e muito menos ficava com nem uma delas.
Eu sonhava mesmo era com garotos altos, fortes, bronzeados. Ou seja, fantasiava com a maioria dos meninos que rodeavam meu irmão, mas em nem um momento eu se quer imaginei que eu pudesse me envolver com algum, afinal eles eram visivelmente hetero. Sempre houve um em especial, Bernardo. Um pouco mais auto que eu, também possuía um corpo definido, era branco e tinha os cabelos pretos não muito curtos, olhos claros, muito másculo, mas com um toque infantil. Ele definitivamente me arrancava suspiros.
Bernardo passava longe de ser algum santinho, ele era bonito, e sabia disso. Era do tipo que tinha quem ele queria, daquele tipo que te ganha com um sorriso. E o dele era realmente lindo. E pra piorar ele era o melhor amigo de Rafa, meu querido irmãozão. Viviam juntos, estudavam, saiam, davam festas, bebiam e volta e meia Ber também dormia na minha casa.
Toda vez que o via eu tremia na base, até o tal frio na barriga tão conhecido da maioria, eu sentia. Mas eu sempre disfarcei muito bem. Nunca fui de fazer a bichinha afetada. Nem mesmo para as minhas amigas, que com certeza à aquela altura já tinham percebido minha opção, eu havia contado sobre. Eu simplesmente não estava pronto.
Era inicio de ano letivo, poucas caras novas na escola e todas as já conhecidas estavam presentes. Poucos professores novos, e a mesma rotina cansativa de sempre. As mesmas pessoas eram o centro das atenções, nós, eu e todos os meus amigos. No recreio todos puderam realmente se cumprimentar, colocar o papo em dia. Rafa aproveitava também para convidar algumas pessoas para a festa que sempre dávamos em nossa casa no inicio do ano. E eu, eu apenas observava Bernardo falando e rindo atraindo várias pessoas a ficarem em torno dele. Eu havia passado as férias em uma casa de praia em uma conhecida praia de Florianópolis com meu pai e meu irmão, e mal pudera vê-lo por quase mais de um mês.
E então fui pego de surpresa, nossos olhares se encontraram, e eu podia jurar que tinha corado , eu sentia o rubor subir pelo meu rosto. Bernardo deu um sorriso de lado leve, meio sínico e sedutor, por uma fração de segundo, e voltou a conversar com as pessoas ao seu redor. Aquilo realmente me incomodou de certa forma, não só por ele ter me pego o admirando daquela forma, mas também por parecer que eu havia alimentado seu ego com toda aquela situação, que só nos dois percebemos. Eu realmente não tinha entendido aquela reação, ele não podia estar me dando mole. Larguei a minha lata de chá gelado sobre a mesa e resolvi ir pra sala de aula antes dos outros, sem nem mesmo dizer nada às minhas amigas que foram pegas de surpresa com minha saída repentina.