Estão prontos para o segundo conto pessoal? Confesso que fiquei surpreso com a quantidade de comentários e votos... Não esperava tantos assim! Mas vamos deixar de enrolação e partir logo pra história, certo?
Naquele momento eu realmente queria me enterrar no concreto e nunca mais sair. Peguei o uísque e o desci direto a garganta a baixo; Em que dimensão alternativa eu iria imaginar uma situação tão embaraçosa quanto esta? Me afundei ainda mais na cadeira quando ele me viu. Acho que ele ficou mais incrédulo do que eu, mas os olhos dele de repente mudaram de humor.
De incredulidade passou para uma expressão que era difícil de decodificar... Mas depois ele desviou o olhar e foi se sentar ao lado do seu pai. Ele sorria discretamente o tempo todo, e conversava um pouco com um carinha que estava ao seu lado. O jantar continuou e depois fomos todos para um jardim que estava também decorado com mesinhas e coquetéis servidos pelos garçons. Meu pai me puxou de um canto e falou:
--É agora. Vá lá e faça tudo o que combinamos. Pelo o amor de Deus não cometa erros! – me empurrou para a porta a fora em rumo a onde ele estava.
Engoli o seco repassando tudo o que tinha aprendido sobre ele. Mas agora eu realmente estava em um beco sem saída. Ele se virou e deu de cara em mim...
-- Bo-a N-oite – gaguejei. Porra meu! Isso é hora de gaguejar?!
-- Boa Noite – respondeu de uma forma educada – está gostando da festa?
--Tá muito legal.
--Ótimo. Eu vou logo sair daqui por que vai que você inventa de me jogar esta bandeja cheia de petiscos, né? – falou secamente.
--Na verdade eu queria te pedir desculpas. – Minha mão estava tremendo. Controle-se caramba;
--Desculpas pelo o quê mesmo? – ele disse estreitando os olhos
-- Por esta ultima semana... – minha voz falhou na ultima palavra.
-- Interessante. Você só cria vergonha na cara quando descobre que eu não sou o pé rapado que você e seus amiguinhos falavam, certo? Bem dá pra vê o quanto são sinceras as suas desculpas. – murmurou ele sem demonstrar um pingo de interesse no que eu falei. Fiquei mudo com a resposta dele;
-- Você não me entendeu direito! Foi só uma brincadeirazinha boba só isso cara. – falei envergonhado;
-- Brincadeira boba é uma vírgula! Isso não se faz com nenhuma pessoa. Ou me desculpe à franqueza você não recebeu educação? É impressão minha ou você tem o dom natural de me irritar? Seja como for, aproveite a festa... – disse ele saindo me deixando na saleta sozinho.
Voltei pra minha mesinha onde meu pai estava; Fui recebido com um bombardeio de perguntas.
-- E então como foi? – disse ele animado e esperançoso.
Contei a história pra ele desde o inicio, e quanto mais eu falava mais meu pai mudava de cor: do tom de pele normal à um roxo quase vinho de tanta raiva. Ele ficou sem palavras com a mão na testa.
-- Que merda você fez? – disse ele crispando a voz
-- Eu não sabia que era ele! – me defendi
-- Será que você não acerta uma! Oh meu Deus! Se ele contar para pai dele, estou ferrado! Eu vou arrancar seu fígado Bernardo! – Cuspindo palavra por palavra.
-- Não pode ser tão mal assim?!
-- Não me importo o que você tenha que fazer. Peça perdão pra ele nem que seja de joelhos, ou qualquer coisa, mas, FAÇA e RAPIDO!
--Pai, acho que o senhor não compreendeu a profundidade do buraco...
--Que vá a merda! Pouco me interessa se você vai ficar com vergonha ou não! Se não fizer isso juro que corto sua mesada e o deixo de castigo até o fim dos seus dias! MULEKE INRESPONSÁVEL!!!!!!
Sai de perto dele antes que ele tivesse um AVC. A festa estava se esvaziando, e eu o vi subindo a escadaria com uma senhora lhe dando a mão como se fosse uma criança... Espremi o orgulho de lado e chamei o seu nome:
--Ariel?
Ele virou o rosto e sorriu de leve. Subi os cinco degraus da escadaria.
-- Deixe Antônia. Bernardo pode me acompanhar até o meu quarto... Tem que segurar a minha mão, são regras de papai, espero que não se importe.
-- De maneira alguma. – disse enquanto a governanta me entregava a mão dele. Era engraçado... A mão dele era pequena, macia e quentinha... e eu gostei disso...
Quando a governanta saiu à gente subiu aos poucos a escadarias, foi quando ele disse:
--O que quer me dizer? – e suspirou por fim.
--O que eu devo fazer pra você acreditar que me arrependi? – falei de cabeça baixa.
--Humm... Deixe me ver.... AHHH já sei... Em primeiro lugar nunca julgue as pessoas por qualquer motivo que seja. Pare de ser tão...tão cheio de SI. É muito irritante esse seu senso de superioridade. – falou calmamente.
--Se eu fizer isso você me desculpa? - perguntei
--Sim. Passo uma borracha em tudo, todos merecem uma segunda chance não é? Mas você não deve se desculpas só a mim. Deve também aos nerds, bolsistas, funcionários, professores...
--NEM A PAU!!! – queixei
--Argh! Você é impossível!!! – falou ele virando o rosto pro outro lado.
--OK então. – disse
Estávamos quase chegando ao andar. Foi quando disse:
--Posso te visitar no final de semana? – disse na maior cara de pau
Ele deu uma risadinha e sorriu:
--Eu adoraria – mas ai ele baixou a cabeça e olhos para as nossas mãos que até agora estavam dadas embora a gente tenha terminado de subir os degraus. Estava confortável demais... Ele soltou a minha mão e caminhou até a porta do quarto dele. Mas antes se virou e disse:
--Boa Noite
Desci as escadas de dois em dois degraus com uma sensação muito esquisita. Até a minha mão formigava... E meu pai já tava a minha procura e perguntando o por a da minha cara de cínico. Eu caio até hoje na risada quando eu me lembro disso.
No final das contas, nem fui pra rave. Fui direto pro chuveiro mas antes olhei pra minha mão e cheguei perto do nariz... Estava lá um leve cheirinho adocicado e com flores... Muito bom... Acho que eu bebi uísque demais da conta. Só to pensando besteira... Depois liguei pros meus amigos e contei a história pra eles. O Carlos que estava comendo um hambúrguer teve um acesso de tosse quando contei pra ele a história, e gaguejando por que o pai dele é estagiário no escritório... Resumindo todo mundo estava com o rabinho entre as pernas. Mas o lembrei de que no dia seguinte na escola teria educação física, que era realmente a aula que nós mais gostávamos depois da de muay thai e a de jiu-jitsu...
Já amanheceu e fui pra física. Hoje era vôlei e fiquei no time dos sem camisa ( uma desculpa muito esfarrapada considerando que eu gostava de ficar sem camisa pras animadoras de torcida me verem( É aqui na escola tem isso, e olha que legal tem parênteses dentro de parênteses hehehe) e acreditem elas tiravam até fotos pra postar no face). O jogo continuava em um ritmo brutal até que eu vi uma visão que me deixou seriamente atordoado.
O Ariel de shorts curtinhos de educação física e uma blusa branca... Mas os meus olhares não se dirigiam a camisa mas sim as pernas lisas, branquinhas, perfeitas e sem nenhuma cicatriz. Muito bonitas mesmos e tive que botar na minha cabeça que ele era um carinha e que meu pau não podia ficar duro no meio da educação física. Foi quando a bola de vôlei acertou a minha cabeça e todo mundo começou a rir:
-- Tá no mundo da lua parceiro? – perguntou Carlos... E ele viu o que eu vi. O garoto estava ouvindo musica no IPod e por isso não tava nem prestando atenção em nada. – Rapaz se o ruivinho ali quisesse dar pra mim, eu comeria...
-- Cala boca viado...- disse sorrindo, engolindo o seco enquanto Carlos tirava as palavras da minha boca.
--Vamos voltar pro jogo. – disse o professor.
CONTINUA