Já estava me preparando pra ir dormir quando o Caio entrou no meu quarto.
-E aí, está melhor agora?
-Em partes, sim.
-A escola ainda te deixa mal, não é?!
-É, todo dia ficar ouvindo aquelas piadinhas, é um saco!
-Pode deixar que eu resolvo isso pra você – ele deu um sorriso, como se tivesse um plano.
-Como?
-Você vai ver – ele saiu do meu quarto e me deixou sozinho com a minha curiosidade.
Não tinha ideia do que ele faria para me ajudar, mas não me preocupei, pois a palavra ajuda é para resolver problemas e não causar, então estava tranquilo.
Era sexta feira, último dia da semana, para a minha alegria, teria dois dias de descanso e logo domingo seria meu aniversário, na verdade o Félix nem sabia disso, já ia convidá-lo hoje mesmo.
Fui primeiramente na casa da Alana e fomos pra escola, a convidei para ir na minha festinha domingo, ela como sempre ficou super animada, foi o caminho todo falando disso, já na escola, era aquele transtorno, eu já não era exatamente o assunto do colégio, pois isso já não era notícia quente, mas eu era considerado uma piada, na sala de aula os alunos ainda não falavam comigo, mas alguns já pareciam estar indiferentes.
Não cheguei a falar muito com o Félix, pois a aula já tinha começado, esperaria até o intervalo, depois que o sinal tocou, descemos e conversamos.
Estávamos sentados um do lado do outro, ele estava olhando pra algum lugar qualquer, eu estava com a mão no queixo, sabe aquele momento em que você não quer falar nada, apenas pensar, foi isso, até que lembrei do aniversário.
-Félix? – chamei seu nome para ele prestar atenção em mim.
-Oi amor – ele ficou olhando mim.
-Então… - achei um tanto quanto estranho ele ter me chamado assim, do nada, eu até acho legal chamar de nomes carinhos tipo “mor”, “amor”, “mozi” e etc., mas eu não conseguia, tinha dificuldade – domingo vai ser meu aniversário, vai ter uma festa lá em casa.
-Sério amor? Você não disse nada antes, não comprei nada de presente, vou ver isso hoje.
-Não precisa de presente Félix, quero a presença… - segurei disfarçadamente sua mão, não gostava de demonstrar afeto em público, mas de vez em quando não tem jeito – além do mais, minha mãe está em casa, quero que você os conheça.
-Que ótimo amor! – pausa dramática – Posso perguntar uma coisa?
-Pode, o que foi?
-Porque não me chama de amor também?
-Ahh, é estranho, não consigo.
-Vai fala, fala que eu sou seu amor.
-Para Félix…
-Fala amor, fala! – ele ficou insistindo, ele fazia uma carinha tão fofa.
-Para de bobeira…
-Se você falar eu paro e te dou beijo muito gostoso.
-Assim não vale, é golpe baixo, você sabe que não resisto – demos uma risadinha e eu disse baixinho – você é… - estava com muita vergonha de falar assim – meu amor.
-O que? Não escutei!
Fiz uma cara feia, mas mesmo assim repeti pra ele ouvir, mas dessa vez falei normal, sem vergonha, pra ele não ficar insistindo.
-Você é meu amor, só meu!
-Gostei, vou guardar um beijo pra você!
Fomos pra sala assistir o resto da aula, no meio da aula a professora foi interrompida, ela parou de escrever no quadro e foi falar com alguém na porta, já estava pensando que seria um daqueles caras oferecendo promoção de cursos ou coisa assim, adorava isso, pois eles ficavam uns 15 minutos, menos aula pra assistir…
De repente ouço a professora meio alterada, parecia uma discussão.
-Senhor, você não pode entrar, não pode fazer isso.
-É só um aviso, não vou demorar!
O que? Aquela voz era do… Caio? Então entra o Caio na sala e fica na frente da turma toda parado, ele começou a falar num tom grosseiro.
-Bom, eu vou ser breve, eu sou irmão do Eric, sei que vocês são falsos o bastante para deixarem de falar com ele por causa de uma coisa tão pequena, uma coisa que não fere ninguém, mas aposto que não são idiotas o bastante para continuar com as gracinhas e as ofensas contra ele, pois se algo acontecer com ele, alguém vai se ver comigo… - ele nem falou comigo direito, minha cara estava lá no chão, poderia voltar pro útero da minha mãe, ele estava saindo, até que ele parou na porta e completou – bom saber que todos vocês são maiores de 18 anos…
Os alunos ficaram um pouco assustados com a situação, inclusive a professora, tecnicamente foi uma ameaça, o clima ali ficou tenso, agora mesmo que eles não falariam comigo, o Caio não era tão velho, mas ele era grande, forte, um cara desse, falando daquele jeito, assusta qualquer um.
A aula acabou, estava indo embora quando um dos alunos veio falar comigo, era o Ramon.
-Eric – ele não olhava diretamente pra mim, estava com as mãos no bolso – eu fiquei do lado do Danilo, porque eu sou amigo dele e você sabe como é, percebi como você ficou por causa da Alana, não posso fazer isso com o Danilo também, mas eu não tenho nada contra você, tudo bem?
-Tudo bem – não sabia se o que ele falou era algo verdadeiro ou se era só pra se livrar do meu irmão – se isso quer dizer que você vai parar de ser um otário, estou de boa.
Ele acenou positivamente com a cabeça e foi embora, fui também logo em seguida, lá estava o Caio do lado de fora me esperando provavelmente assustou algumas pessoas, fomos pro carro, mas dessa vez fui no banco de trás com o Félix, éramos namorados, mas por causa das pessoas não ficávamos muito tempo juntos – como namorados, porque nos víamos todos os dias – logo que entramos ele me deu um selinho.
-Esse era o beijo que você estava guardando? – perguntei baixinho, só pra ele ouvir.
-Não! Eu vou te dar coisa bem melhor, a gente podia sair hoje à noite…
-Tudo bem, vou adorar – dei outro selinho nele.
Sabe quando você está falando alguém, conta mil coisas, até as que não eram pra ser faladas, perto de outras pessoas e nem percebe, aconteceu, quando me dei conta, estava Alana e meu irmão nos olhando, meu irmão com uma cara feia e a Alana sorrindo, eu fiquei muito sem graça e meu namorado mais ainda, logo por que ele sabia que o Caio não ia com a cara dele.
Na hora que deixamos o Félix em casa, eu saí também e fui me despedir, demos um beijinho rápido e um abraço e ele estava se afastando e então eu falei.
-Amor, antes de me buscar hoje, me liga.
-Aham – ele fez uma cara de bobo, ele ficou todo contente de ter me ouvido chama-lo de amor por vontade própria.
Deixamos a Alana e então foi logo ela sair que o Caio mandou a primeira do dia.
-Já está assim? Amor? Você já dormiu come ele não é?
-Não entendi a ligação entre as duas coisas, já nos conhecemos um tempinho, estamos namorando tem quase 2 semanas, acho normal chamar ele de amor.
-Dormiu com ele? – essa era a preocupação dele.
-Não senhor – mas como era um ótimo irmão, dei uma implicada – quando acontecer, te conto, se quiser com detalhes.
Ele me deu uma olhada, ele nunca imaginou que eu falaria isso, mas eu estava aprendendo com esse namoro, estava menos tímido, mais corajoso, mais decidido, ou pelo menos achava que estava.
Entrei em casa, estava morrendo de fome, deixei minhas coisas na sala e fui direto pra cozinha, o cheiro estava ótimo.
Fiquei conversando com a Fátima, enquanto ela cozinhava, então ouvi alguém chamando meu nome.
-Eric?
CONTINUA…