Capitulo 9 – Desbravando um novo mundo. B
Aquilo era diferente para Betão. Não por simplesmente esta beijando um homem, por mais incrível que possa parecer não era esse o problema, mas por ele esta beijando com carinho, com sentimento. Todas as mulheres que ele beijou foi apenas por completar o ritual do sexo. Fora as que ele nem beijou. Ali não, ali ele beijava de verdade. Ele era guiado por Ricardo, sentia a língua dele invadir a sua boca, os lábios dele passagearem o dele e mesmo adorando aquilo, em uma ação surgida nem ele mesmo sabe de onde, ele segurou gentilmente o rosto dele com as duas mãos, e como que instintivamente tirou de Ricardo a condução do beijo, ele começou a colocar a língua na boca de Ricardo, os lábios dele massageavam o de Ricardo.
Para Ricardo aquilo foi uma experiencia nova, a maneira de Ricardo beijar era máscula, forte, reta, tinha uma certa urgência, uma certa vontade, tudo misturado e controlado mas era sobretudo deliciosa. Agora ele se entregára completamente ao beijo de Betão.
Para os dois, aquilo tudo era novo e mágico.
Ao fim do beijo Betão descolou o lábios deles, ainda segurando o rosto de Ricardo com a mão, colou as testas deles, e ainda com os olhos fechados respirava ofegantemente. Diferente dele, Ricardo esta de olhos abertos e observava Betão. Era lindo aquele momento e os gestos dele. Até que ele abriu os olhos. Os olhos negros profundos de Betão e os castanhos claros de Ricardo se encontraram nesse momento. Betão ainda mantendo aquela posição abriu um sorriso que foi imediatamente respondido por Ricardo.
Betão ainda com a testa colada na de Ricardo: -Fiz certo dessa vez?
Ricardo: -Dessa vez você foi per-fei-to!
Os dois riram e Betão soltou o rosto dele e se afastou.
Ricardo se apoiou melhor sobre o peito de Betão. A superfície firme e rígida fazia Ricardo até esquecer que aquilo era carne e por isso, sem maldade, esqueceu dos ferimentos de Betão que por sua vez sentia muita dor com o movimento, mas sequer uma feição de dor fez, manteve o sorriso nos lábios, compensava demais sentir aquela dor. Até que ele teve uma ideia.
Betão: -Deita aqui comigo.
Ricardo com ar preocupado: -Sob o lençol?
Betão assentiu com a cabeça.
Ricardo então lembrou que ele estava apenas de short, sem camisa e cueca e ainda com ar preocupado: -Eu não acho que seja uma boa ideia.
Betão com um ar de estranheza: -Porque?
Ricardo: -Não acho devemos transar.
Dessa vez Betão foi quem não resistiu e riu, mas o ato de rir movimentava forte os seus pulmões que já estavam com a sobrecarga do peso de Ricardo e a dor foi forte de mais para esconder no rosto.
Betão entre o riso e a dor: -Cara não me faz rir, dói muito quando eu riu.
Ricardo com uma cara de quem acaba de se lembrar que o estava machucando: -Meu Deus! E eu em cima de suas costelas! Me desculpa.
Ricardo tentou pular para fora do peito de Betão mas ele o segurou e tentou engolir o riso parar sessar o excesso de dor. Ao conseguir olhou para Ricardo e disse: -Você não ta me machucando.
E abriu um sorriso e continuou: -É a primeira vez que você me pede desculpas.
Ricardo: -Eu já falo sobre isso, mas deixa eu sair de cima do seu peito, eu não estou me sentindo bem em ficar aqui.
Betão o soltou e ele continuou: -Não é a primeira vez, quando descobri o fiscal lá na roça eu corri para te pedir desculpas lembra?
A cara alegre de Betão desapareceu, a lembrança da maldade cometida e que agora se arrependeu de ter feito o deixou sem graça. Ricardo percebeu isso e tentou traze-lo de volta para a sintonia anterior: -E qual o motivo da risada mocinho? Só porque falei em sexo?
Betão voltando a sorrir: -Cara eu mal consigo respirar como que vou transar? Só queria ficar deitado, com você colado em mim e a cabeça no meu peito.
Ricardo: -Ah, assim tudo bem!
Ele levantou da cama, levantou o lençol e por um segundo admirou a escultura em músculos sobre a pele tão branca que parecia mármore, se deitou abraçou levemente para não machucar.
Ricardo: -Meu Deus, agora foi eu que precisei me controlar para não transar com você.
Betão sem entender: -Porque?
Ricardo tímido: -Seu corpo Betão, eu já o tinha notado e achado bonito, mas essa foi a primeira vez que olhei para ele como o corpo de um homem que desejo. E seu corpo é algo fora do normal!
Betão fez uma cara triste: -Achou feio não foi? É que vô me manda malhar e treinar muito e eu tomo muito suplemento para ganho de massa, dai fica assim deformado...
Ricardo: -Deformado!? Betão uma coisa que seu corpo não é, é deformado. Você não ouviu o que eu disse? Antes eu achava lindo, agora eu o acho simplesmente que é a definição da perfeição!
Betão sorriu satisfeito com o que ouviu.
Ricardo: -Homens devem olhar para você admirando seu corpo, mesmo os que não são gays. Seu corpo é algo fenomenal!
Betão agora já sem graça: -Para Ricardo, não é pra tanto.
Ricardo: -É sim cara. Quando eu te vi pela primeira vez imaginei que você tivesse 1,85 de altura. Acertei?
Betão: -Quase. 1,88.
Ricardo: -Jesus! Você é muito grande! E pesa uns 100? 105?
Betão sorriu: -Não digo meu peso não.
Ricardo: -Porque? Diz vai!
Betão: -Não, não quero assustar você.
Ricardo agora animado: -Aaah não, agora vai ter que dizer! Quanto? Diz!
Betão baixando a cabeça: -116 quilos.
Ricardo abriu a boca demonstrando o quanto estava impressionado.
Betão: -É muito né?
Ricardo: -Você é um titã!
Betão sorriu por um instante e parou: -Bem, mas já devo ter perdido uns 5 com esse castigo do vô e mais essa situação que tô aqui.
Ricardo: -Pois você continua maravilhoso.
Betão: -Mesmo todo roxo e dolorido?
Ricardo: -Mesmo, mas quando tiver sarado você volta a ser o Titã de sempre.
Betão: -Porque me chama de Titã?
Ricardo abriu um sorriso: -Porque te comparar aos Deuses é uma ofensa, o mínimo aceitável é te chamar de Titã, que eram os pais dos Deuses.
E voltaram a se beijar. Continuaram assim noite a dentro, trocando caricias, falando de coisas engraçadas e leves e principalmente se beijando muito.
Mas já era próximo do 5 da manhã. Ricardo precisava ir porque em breve uma enfermeira entraria no quarto. Se despediram e Ricardo prometeu voltar a noite. E lógico que voltou, só não aquela, como todas as próximas seguintes.
Porém os ferimentos de Betão cicatrizaram e apenas uma costela ainda lhe doía. Era a hora de ir para casa.
Doutor: -Você já ta tão acostumado com essas surras que seu corpo se acostumou a se regenerar rápido viu. Mas nunca vi costelas com tantos sinais de calcificação. Você precisa parar de se meter nessas confusões rapaz!
Betão ignorando o comentário: -Você vai me mandar para casa?
Doutor: -Vou sim, aliais seu avô já esta vindo te buscar, pode se preparar para ir, mas notei uma certa mudança de comportamento seu nos últimos dias. Embora não tenha acontecido das outras vezes pode ser consequência da medicação. Vou recomendar seu avô a te levar para fazer uma tomografia craniana.
A tal mudança de comportamento que ele se referia era o humor de Betão. A anos vendo aquele moleque ir ali para ser remendado as escondidas nunca o tinha visto sorrindo, ou brincando com as enfermeiras. Não sabia que o efeito dessa mudança no humor de Betão tinha nome: Ricardo.
Mas esse humor leve e esse estado alegre de Betão desapareceriam imediatamente com a chegada do seu Avô no quarto só 10 minutos depois do aviso do medico. Ele nem tempo de se arrumar teve, apenas tinha vestido a bermuda de tectel. Tinha acabado de guardar as coisas na sacola quando ele entrou pela porta e deu a ordem.
Cristóvão: Bora bicho, pegas as coisas e vamos embora agora!
Ele só botou o boné que estava sobre a cama na cabeça pegou a sacola, deixou o que estava fora para trás e nem pensou na camisa. Ia seguindo o avô sempre a alguns passos atrás quando o medico o chamou.
Doutor: -Seu Cristóvão, espere por favor.
Cristóvão parou impaciente: -Seu dinheiro será pago como de costume doutor, não se preocupe.
Doutor: -Não é isso, seria interessante fazer uma tomografia no Roberto.
Cristóvão enfezado a cara: -Betão! O nome dele é Betão! Entendeu?
Doutor assuntado pela reação: -Tudo bem, o Betão precisa dessa tomografia. Ele apresentou uma alteração no comportamento, mas pode ter sido pela medicação. Seria interessante só para descartar algum problema, mas acho que não há nenhum.
Cristóvão: -Então não vou perder tempo e gastar dinheiro com exame nenhum.
Doutor: -Senhor é melhor fazer o exame, esse comportamento alterado...
Cristóvão elevando o tom de voz: -Esta me contradizendo doutor!?
Automaticamente Betão largou o que tinha na mão e se pôs ao lado do avó de forma ameaçadora.
Doutor: -Não, de maneira nenhuma.
Cristóvão: -Se eu disse que não precisa, não precisa. E não me contradiga nunca mais, fui claro?
Doutor totalmente passivo: -Sim, com certeza.
Cristóvão: -Ótimo, da próxima vez solto meu bicho aqui em cima de você. Aí você vai aprender a me respeitar. Vambora bicho.
Cristóvão se virou e segui embora enquanto Betão ficou encarando o medico com uma feição de odio até o avô esta em uma distancia segura. Em seguida correu pegou as sacolas e foi atrás do avô. Ainda eu sua postura de salvador de vidas e de zelar pela saúde de seus pacientes, ultima coisa que o medico pensou foi: -Não pega peso rapaz, você ainda não esta totalmente recuperado...
Ainda no caminho entre a porta da clinica e o carro ele deu a boa noticia a Betão:
Cristóvão: -Encontrei a maneira de você se redimir comigo e eu te perdoar pela merda que você aprontou.
Betão sem alterar a feição, mantedo-se sério, quase que de maneira mecânica, mas por dentro ansioso em se ver livre das punições pelo erro cometido, estava disposta a fazer qualquer coisa.
Cristóvão: -Você vai caçar e trazer para mim o tal do Jair e o tal do Alceu. Sabe quem são?
Betão assentiu que sim com a cabeça.
Cristóvão: -Muito bom! Então chegando em casa acertaremos os detalhes.
Naquele momento Betão já não sabia mais o que pensar. Se estava feliz ou se estava triste.
Enquanto isso Ricardo acordava depois do meio-dia. Havia virado habito nós últimos dias acordar tão tarde. Mas sempre com aquele sorriso no rosto. Era a primeira vez que ele se apaixonava de verdade. Sempre que ele conhecia alguém era praticamente para sexo. Betão não, Betão o fazia acordar doido para vê-lo novamente. Um pouco mais de duas semanas e nada de sexo. Quem diria. Todos já tinham almoçado. D. Mariana que estava sentada no quintal ao vê-lo na cozinha levanta e vai colocar o almoço dele. Ricardo já cansou de pedir para que ela não faça isso, mas sabe esses pequenos prazeres que somente avós entendem? Dessa maneira ela fazia questão de servir o almoço dele.
Ricardo: -Hoje vou procurar emprego.
D. Mariana: -Eu acho que você já vai ter muito trabalho quando suas aulas começarem. Devia aproveitar os próximos dois que te restam aqui para descansar. Continue aproveitando suas noites. Deixa o emprego pra depois. Aqui a gente vai dando um jeito nas coisas pra você.
Ricardo sabia que era de coração, mas ele realente precisava trabalhar. Não ficaria a vontade ali sem trabalhar. Depois de comer foi para cidade a procura de um emprego. O problema era que ele havia sido demitido da casa dos Mattos. Não era preciso que alguém da família pedisse para que ele não fosse empregado, a demissão daquele local condenava a pessoa ao desemprego. Ninguém gostava de desagradar a família Mattos.
Já Betão chegava em casa e ia para o escritório com o avô. Aonde Fred aguardava por eles.
Fred dando três tapas de leve no rosto de Betão: -Ta bonzinho né? Prontinho pra outra.
Cristóvão ao ouvir o que ele disse se viro e ficou quase cara a cara com Betão, evitada devida a diferença de altura: -Outra? Outra?
Segurou o rosto de Betão pelo queixo com a mão direita e apertando de maneira violenta o rosto dele: -Se esse merda, esse nada, esse lixo me aprontar outra como a última, não vai ser uma surrinha de merda ele vai levar não...
Apertando ainda mais a mão e com um feição de odio continuou: -Eu tô cansado desse bosta que não consegue fazer nada direito. Minha paciência já esta próxima do fim com você seu inseto...
Agora apertando os dentes e falando com uma voz quase demoníaca: -Eu te odeio seu projeto de homem, eu odeio você com todas as minhas forças e a próxima errada que você me aprontar não vai ser surra de quebrar osso ou costurar carne, eu vou acabar com você de uma vez por todas pra te transformar no que você verdadeiramente é! UM L-I-X-O!
Por mais que Betão mantivesse aquela sua postura firme, seria e encarasse Cristóvão olho no olho por dentro ele estava em completo pânico pelas palavras do avô. Sabia o quanto ele podia ser cruel. Sabia que uma ameaça daquela magnitude seria cumprida. Ele não tinha opção, teria que fazer seja lá o que fosse e fazer certo. Caso contrario o avô poderia acabar com ele literalmente.
Cuspiu na cara dele e soltou o rosto de Betão. Por sua vez Betão não se atreveu limpar o rosto.
Cristóvão deu um tapa violento no rosto de Betão: -Para de me olhar seu bosta e limpa essa cara.
Enquanto Betão obedecia e Fred ria da situação, Cristóvão se sentava e olhava para Betão.
Cristóvão: - Então, já sabe como funciona. Leve os dois para o lugar de sempre. Uma vez lá me avise. Ninguém pode ligar você a isso, entendeu bicho? Ninguém pode saber que você pegou os caras. Sem erros, tarefa simples, até um animal sem cérebro como você pode entender. Cace, prenda, me chame. Simples assim.
Betão: -Entendido Senhor.
Cristóvão satisfeito: -Faça o que mando e esta livre do castigo.
Fred: -Sei não.
Cristóvão: -O que foi?
Fred: -Seu bicho não ta bom ainda. Ainda esta quebrado, não vai dar conta de trazer dois. Ainda mais dois homens grandes e brutos como Jair e Alceu. Homens da roça, fortes de trabalhar no campo. Melhor eu ir junto para garantir que vai dar tudo certo.
Cristóvão olhando para Betão: -Então o bichinho ainda ta dodoí é?
Betão sério: -Eu estou bem senhor.
Cristóvão: -Vai precisar de ajudinha vai?
Betão ainda naquela postura quase que robótica: -Não senhor!
Cristóvão: -Viu Fred? Agora tira a roupa dele, põe a coleira e prende ele lá no porão.
O coração de Betão gelou, mas dessa vez não por ficar preso nu no porão, isso era comum, embora ele odiasse, mas porque no porão não teria a menor chance de ver Ricardo.
Betão: -Mas senhor porque no porão? Eu não estava na área lá fora?
Cristóvão estranhou. Betão jamais havia questionado ele referente ao castigo antes: -Porque eu decido seu castigo bicho e você obedece!
Betão: -Eu preciso analisar os dois, como vou fazer isso tando preso? Preciso malhar também, não to dodoí, mas preciso repor o que perdi.
Fred: -Tô falando, isso ta inutilizado!
Betão se virou para ele e disse em tom ameaçador: -Quer testar para ver?
Fred engoliu seco. Nunca Betão o tinha encarado. Na verdade ele apenas apanhava de Fred sem sequer tentar se defender. Apenas obedecia as ordens do avô, mas Fred sabia que se Betão revidasse, não precisaria mais de dois ou três socos para acabar com a raça dele. Afinal só o braço de Betão era do tamanho da sua cabeça, mesmo ele estando “fora de forma”
Cristóvão rindo solto: -Então Fred, vai ou não tirar a prova?
Fred nervoso olhou para Cristóvão.
Cristóvão com um sorriso satisfeito no rosto: -Tudo bem bicho. Me convenceu. Vou te dar alforria adiantada. Você ta livre. Volte para sua vidinha de playboy, faça seu trabalho. Hoje é terça-feira. Quero os dois no sábado. Estamos entendidos?
Betão encarando Fred com ódio: -Sim senhor. Obrigado pela sua bondade.
Deu alguns passos de costas mantendo o olhar fixo em Fred, pegou a sacola e so na hora de abrir a porta, interrompeu o contato visual.
Fred respirou aliviado e sentou na cadeira em frente a mesa: -Cristóvão eu me garanto, mas contra esse cara o bicho pega. Você tem que ter cuidado.
Cristóvão com um sorriso no rosto: -Esse bicho esta domado. Fique tranquilo. São mais de 20 anos de controle. Não vai mudar assim fácil.
Fred nervoso: -Mas ele me ameaçou!
Cristóvão ainda rindo: -Mas não a mim! Ele tem ordem minhas para não te machucar. Você não tem com o que se preocupar.
Fred um pouco mais aliviado: -Se esse homem sair de controle nos não temos como segurar. Ele se tornou grande e forte demais. Sem contar que você mandou ele pros treinamentos mais punks! Você mandou esse cara pra estudar táticas de guerrilha Cristóvão! Ele tem treinamento militar. Você tem que garantir que controla ele porque a cabeça dele ta muito mexida. Se esse cara der pra ruim pra cima da gente...
Cristóvão fechando a cara: -Cala a boca, eu conheço meu bicho, já te disse. Ta sobre controle.
Fred estava preocupado. Betão nunca o desafiou antes. Ele sentiu que algo tinha mudado.
Enquanto isso Betão subia as escadas em direção ao quarto dois, tês degraus por vez. Estava livre, finalmente poderia sair, fazer o que quisesse! Entrou no quarto e foi direto pro banheiro. Tomou um banho de água quente, longo é demorado. Saiu se enxugou e parou em frente ao espelho. Fez a barba e raspou a cabeça com a lâmina. Foi para o quarto e ao abrir a porta do guarda roupas um sorriso apareceu no seus lábios.
"Finalmente vou poder ficar bonito pro Ricardo"
Parecia ser algo pequeno, mas desde que ele percebeu que estava apaixonado por ele que iria estar vestido decentemente, vestiu uma bermuda, tirou, vestiu outra, tirou novamente, tentou duas calças, e por fim se decidiu por uma terceira. Quem assistisse a cena não acreditaria. Betão experimentando roupas, preocupado em agradar um cara! Chegava a ser engraçado. Vestiu uma regata e como sempre um boné e uma corrente de prata no pescoço, até o relógio ele levou um tempo escolhendo. No fim estava bonito. A estilo dele, mas muito bonito.
Pegou o carro e saiu em direção a roça de Ricardo. Não via a hora de vê-lo fora daquele quartinho.
Mas chegando lá ele deu de cara com D. Mariana sentada na porta de casa.
Betão de cabeça baixa: -Boa tarde. O Ricardo esta?
D. Mariana sorrindo: -Só vou responder se você olhar pra mim meu filho!
Betão meio sem jeito, olhou para ela e tirou o boné.
D Mariana: -Olha como tá bonito! Que bom!
Betão riu de canto de boca.
D. Mariana: -Ele saiu com a prima, foi para cidade. Ela estava precisando dar uma volta e chamou o primo. Ela ainda tá meio triste sabe?
Betão: -Eu vou ver se acho eles.
Se virou e ia saindo quando lembrou de dizer: -Obrigado.
D. Mariana rindo: -De nada meu filho.
Entrou no carro e foi em direção a cidade. Um pouco decepcionado, queria ter encontrado com ele. Rodou a cidade de carro mas não o encontrou e por fim deu de cara com um grupo de amigos. Acabaram indo para o Bar onde Ricardo e Betão se viram pela primeira vez. Pensou que encontraria com ele mais tarde, na roça dele.
Já Ricardo caminhava com a prima pela pracinha.
Ana: -Vamos beber? Eu estou precisando.
Ricardo: -Tudo bem, mas as 22hs preciso deixar você em casa. Tenho um compromisso.
Ana: -Sobre isso, que compromisso é esse? Toda noite! Esta namorando não esta?
Ricardo meio tímido: -Acho que estou.
Ana sabia da orientação do primo, era a única na família que sabia.
Ana: -Você aproveita e me conta essa história. Combinado?
O que Ricardo não sabia era que Betão já tinha voltado para casa e muito menos sabia que ele estaria no bar. Ao entrar pela porta e ver aquelas mesas juntas e Betão no meio Ricardo não sabia o que pensar. Por isso ficou parado na entrada do bar.
Ana: -Vamos embora primo, não queria ficar no mesmo lugar que esse cara.
Foi quando um dos amigos de Betão falou quase gritando: -Olha Betão! O frango ta na porta do bar!
Betão olhou assustado e viu Ricardo ali.
Ricardo: -Vamos Ana, talvez seja melhor mesmo.
E ao que eles se viraram para sair do bar ele se levantou e deu um grito firme: -ESPEREM!
Os dois pararam e olharam para ele.
Betão: -Vem, sentem aqui com a gente.
Ninguém na mesa entendeu nada. Os dois eram conhecidamente pobres e Betão não costumava andar com pessoas como eles.
Ana em voz baixa: -Se a gente não for vamos ter problemas com Betão.
Ricardo também em voz baixa: -Não comente da noite que ele passou lá em casa, entendeu?
Ana assentiu com a cabeça e caminharam até a mesa.
Betão em tom de ordem para os presentes: -Abre espaço pros dois aqui do meu lado.
O mesmo amigo que chamou a atenção de Betão da presença de Ricardo pensou que a ideia dele era aprontar com os dois que chegavam, afinal esse seria o normal de Betão. Então em uma brincadeira adolescente sem graça, no momento que Ricardo sentava, o que fez ele cair direto no chão.
Todos na mesa riram da brincadeira imbecil, inclusive o autor, que envolvido em sua gargalhada nem percebeu quando a enorme mão de Betão agarrou a cabeça dele a a enfiou sobre a mesa. Ele acabou caindo ao lado de Ricardo no chão. O silencio não só na mesa, como também no bar, foi imediato.
Betão com voz irritado: -Qual foi? Não vão rir dessa não?
Ninguém ousou responder. Olhou para Ricardo assustado no chão e falou de uma maneira que Ricardo não conseguiu entender.
Betão sério: -E ae frango? Machucou?
Ricardo sacudiu a cabeça dizendo que não.
Betão ainda sério e sem ajudar Ricardo: -Então levanta ae e senta direito. Cabeça (e apontou para um rapaz sentado do outro lado da mesa), pega esse otário aqui do chão e leva embora.
Betão se sentou, Ricardo se ajeitou, o rapaz foi levado embora, os copos foram servidos, o pessoas deixou para trás os eventos que aconteceram e em alguns minutos voltaram a algazarra que estava antes.
Ana e Ricardo estavam deslocados. Embora próximos a Betão ele não falava com eles. Aliais, Ricardo estava detestando aquele Betão que estava ali. Borsal, grosso, falando de coisas frívolas típicas de filhinhos de papai mesmo. Ricardo pensou que tivesse mudado alguma coisa em Betão, mas começava a pensar que talvez ele tivesse apenas sido o estepe que Betão precisava naquele momento.
Até que de saco cheio daquela situação, afinal quase uma hora se passou desde que chegou, Ricardo se cansou e decidiu ir embora.
Ricardo pegando no ombro de Betão: -Tô indo embora.
Betão olhou com espanto para a mão dele e depois para a cara como uma feição de que não gostou de ser tocado: -Você não vai a lugar nenhum. Vai ficar sentado.
Ricardo achou uma afronta Betão falar com ele daquela maneira: -Sim eu vou embora. Você não manda em mim.
Betão desferiu um olhar de odio para Ricardo: -Te levanta dessa mesa sem eu autorizar se tu é macho.
Ana sem nem dar oportunidade de Ricardo dizer nada: -A gente não vai ainda não, esta cedo. Vamos ficar mais um pouco. Ta Ricardo.
Ricardo ficou quieto e Betão se virou novamente para o lado e retonou o papo que havia sido interrompido por Ricardo.
Ana em voz baixa: -Você ta maluco de enfrentar Betão assim!?
Ricardo: -Eu não tenho medo dele!
Ana: -Pois deveria ter!
Ricardo: -Ele não pode manter a gente cativo aqui!
Ana: -Aí é que está! Ele pode! Ele é Betão, esqueceu!?
Ricardo decidiu ficar ali, calado, virando um copo atrás do outro de cerveja e observando aquele por que tinha se apaixonado se mostrar um estúpido, borsal, em resumo, naquele tipinho que ele odiava.
Foi quase outra hora até Betão decidir ir embora.
Betão se levantando da mesa: -Se liga ae galera, tô me saindo.
Ricardo sentiu um alivio, não via a hora de sair dali.
Betão olhando para Ricardo e Ana: -Os dois vem comigo.
Saiu e não pagou a conta, como costumeiramente a conta inteira da mesa, até do que seria consumido após sua saída ia direto para a conta do pai.
Saiu do bar seguido por Ana e Ricardo, se dirigiu ao carro.
Betão serio: -Entra os dois.
Ricardo: -Pra que?
Betão: -Vou deixar vocês em casa. Agora cala a boca e entra.
O carro saiu e todos estavam calados. Ricardo estava no banco do carona e Ana no banco de trás. Ao saírem da cidade ele encostou o carro no acostamento escuro da estrada.
Betão: -Ana, fica ae, Ricardo sai ae comigo.
E saltou do carro. Ana ficou nervosa com a situação.
Ana tensa: -Primo o que...
Ricardo: -Fique tranquila, se preocupe com ele e não comigo.
Ricardo desceu pronto para soltar tudo que estava preso dentro da garganta quando do nada Betão o agarrou pela cintura, o levantou tirando os pes dele do chão e beijou a boca de Ricardo.
Ricardo até esqueceu da raiva durante o beijo e Ana dentro do carro quase teve uma parada cardíaca ao ver a cena.
Quando soltou o beijo fez aquilo de colar a testa que Ricardo adorava que ele fizesse e disse com a voz rouca: -Que saudade meu franguinho.
Ricardo estava puto, mas ali, no braços de Betão acabou relaxando. Mas ali ele começava a ver que a relação deles seria ainda mais difícil do que ele imaginou.