Gente, não aguento ficar muito tempo longe de vocês, aí vai o primeiro capítulo da temporada...
Me lembro ainda daquela noite, de me pegar pensando na situação: Estávamos em novembro, faltavam 15 dias pra eu entrar de férias, eu trabalhava em dois períodos e era ocupado aos sábados, como eu teria tempo de cuidar de uma criança?!
Uma coisa era certa: Eu não queria uma babá, porque babás devem auxiliar nos cuidados, dar uma folga aos pais as vezes, não tem o papel de criar o filho dos outros, pelo menos como professor e pedagogo eu pensava assim, reconhecia o papel desse profissional mas entendia o papel de ser pai e quem diria, eu um pai, eu que sempre abominei um compromisso desse tipo, era uma coisa que não estava nos meus planos, mas chegou e eu precisava tomar aquela atitude.
Eu até tinha uma solução em meus pensamentos, mas era muito drástica, era muito seria, podia ser muito prejudicial, mas acho que era a única coisa a se fazer, então voltei a dormir.
No dia seguinte, o pediatra me ligou, dizendo que conhecia uma ama de leite voluntária em um hospital publico onde ele trabalhava, ela simplesmente já tinha um filho de um ano, que não mamava, porem o organismo dela continuou produzindo leite, ela sentia muitas dores e varias vezes tinha que jogar o leite pela pia, então ela tinha lido sobre ser ama de leite e tinha gostado da ideia.
Peguei o telefone dela, me interessei muito ela era muito simpática e bem disposta a ajudar, então eu marquei de buscá-la no dia seguinte bem cedo, pra nos conhecermos e tudo mais. Seria 15 de novembro, ou seja, feriado, buscaria ela em casa e levaríamos ela pra conhecer nossa casa e depois para almoçar.
Dito e feito, fui até sua casa, era um lugar bem simples, bem simples mesmo, uma área bem pobre, me apresentei, seu nome era Carla.
Carla: - Você é muito bonito.
Eu: - Obrigado.
Carla: - Quer entrar e eu passo um cafezinho para nós?
Eu: - Eu aceito.
Lá ela me mostrou a casa, simples mas bem limpinha, me apresentou seus filhos, eram 4, todos meninos, eram bem ajeitados, era um choque muito grande de realidade pra mim aquele lugar, era uma família pobre, mas organizada e unida. Quando eu era criança, tinha uma casa boa, limpa mas como uma família desunida graças as inúmeras traições do meu pai e ao fato dele não aceitar alguns trejeitos afeminados.
Ela era voluntaria, mas eu não achava certo ela fazer de graça, então disse a ela que insistíamos em pagar um quantia simbólica pra ela, ela não se fez muito de rogada e aceitou eu preferia assim. Ela explicou que não tinha nenhuma doença nem nada do tipo, depois eu levei ela até minha casa com o filho caçula.
Chegando na minha casa o menino ficou andando de um lado para o outro, brincando com os cachorros, Ricardo que ficou de olho nele. Combinamos com Carla, buscaríamos ela todas as manhãs para amamentar e ela tiraria leite para o resto do dia e a noite levaríamos ele pra ser amamentado de novo e ela tiraria o leite para as madrugadas.
Seria muito cansativo, mas não tínhamos o que fazer já que não tínhamos outra opção. Pelo menos até eu entrar de férias. Ricardo foi se encarregando dessa parte de buscá-la de manhã e levar o Luquinhas pra lá a noite. O problema, era que ele entrava no carro e começava a chorar desesperadamente, dava muita dó, era muito difícil lidar com criança, sempre que ele chorava me dava vontade de chorar, parecia que fazíamos algo errado, mas o médico disse que era normal que era o único jeito dele se expressar, pra fome, medo, susto, dor, essas coisas.
O que era gratificante, era ver ele sorrindo todo sem dentes e principalmente, que ele não me estranhava, ele ficava no meu colo numa boa, dormia aninhado comigo direto. Eu amava ficar com ele, eu amava ele já, em tão pouco tempo, nem sabia que tinha aquele amor em mim. Ricardo dizia que amava ver eu e o Lucas juntos, que era tudo que ele sempre quis.
Toda vez que eu ia trabalhar, que eu saía de casa, eu sentia que faltava uma parte de mim, eu não queria me separar dele, no sábado pra ir pro doutorado eu fui chorando por uma hora, mas eu sobrevivi, eu estava tão apegado a ele que não queria me separar daquela coisinha frágil e perfeita que era o neném, o meu neném.
Quando chegou minhas férias, finalmente eu estava feliz, eu ficaria com o amor da minha vida, mas não era do Ricardo que eu falo, era do Lucas. Por isso eu digo pra vocês, nunca se fechem pra nada, nunca diga nunca, porque eu a partir do dia 16/10 era um novo homem, eu não sabia que eu tinha tanto amor dentro de mim.
A primeira noite de férias, acordei de madrugada pra ficar com o Lucas e já tinha tomado minha decisão, sem pensar nas consequências. Seria no dia seguinte que eu pegaria o meu carro e ia atrás do que eu queria e precisava. Mas primeiro tinha que conversas com o Ricardo a respeito. Aproveitei que ele tinha acordado também e foi até o quarto, quando Lucas dormiu fomos conversar no quarto.
Eu: - Ricky tomei uma decisão muito seria, eu posso me arrepender como também posso não me arrepender.
Ele ficou preocupado.
Ricardo: - Você vai me deixar? – E fez cara de desesperado.
Eu: - Lógico que não.
Ricardo: - Então fala, eu vou te apoiar independente do que for.
Eu: - Você sabe que toda a situação com o Lucas ta bem delicada né? E que não quero que outra pessoa como uma babá crie nosso filho.
Ricardo: - Prossiga...
Eu: - Daí eu tava pensando e decidi que vou largar meus empregos, ano que vem vou me dedicar ao meu doutorado que vai exigir muito mais tempo de mim e ao nosso filho.
Eu já estava deitado e ele estava deitado encaixado bem atrás de mim.
Então eu continuei.
Eu: - A não ser que você acha ruim e fique muito pesado financeiramente. Eu vou continuar recebendo a pensão do governo, mas você sabe que é pouca coisa, então vou ficar mais nas suas costas.
Ricardo: - Lindo, eu dou conta, eu ganho bem o suficiente pra nós, eu nunca pediria pra você largar seu emprego, mas não é pelo financeiro, é porque eu sei o quanto significa pra você, mas se você está disposto a fazer isso pelo nosso filho, você tem meu apoio total.
Ricardo beijou meu pescoço.
Ricardo: - Eu adoro quando você fala assim.
Eu: - O que?
Ricardo: - Nosso filho. É meu maior sonho. Tem certeza, que você vai deixar seu emprego publico?
Eu: - Absoluta, é tudo por um bem maior, também não estava mais aguentando trabalhar com criança, meu lugar é no universo adulto.
Aproveitamos o clima do momento e fizemos amor, bem calmo e silencioso, depois caímos no sono. Ainda bem que ele dormiu aquela noite toda.
No dia seguinte, fui atrás de tudo para minha demissão. Na prefeitura me falaram que eu tinha direito a uma licença de até dois anos, sem remuneração, mas que não precisava pedir demissão. Fiz tudo que a diretora me orientou, ela tinha uns contatos na prefeitura na época então foi tudo aprovado muito rápido. Na faculdade eles disseram que sentiriam minha falta mas que as portas ainda estariam abertas. Eu não entrei muito em detalhes, disse que eram problemas familiares e para me dedicar ao doutorado. O que não deixava de ser verdade.
Quando cheguei em casa, eu estava meio triste, eu amava meu trabalho, mas eu entendia a necessidade da situação, eu não deixaria Ricardo fazer tudo sozinho, até porque ele era muito desligado, sei lá, eu não confiava muito, mas eu não falaria nada a ele. Ricardo viu que eu estava meio triste, então ele ficou abraçado comigo por um bom tempo, só me beijando, até o Lucas chorar e ele ir ver o que o pequeno tinha.
Liguei e contei a minha mãe, ela foi a noite nos ver e ficamos de conversar mais, enquanto Ricardo levava Lucas até a casa da Carla.
Mãe: - Nossa, você ainda me surpreende filho. Não imaginava que você seria realmente capaz de fazer isso.
Eu: - Eu também não acreditava, se me contasse um tempo atrás eu daria risada.
Mãe: - Você é maravilhoso, essa criança está em boas mãos, eu confio que você tomou a decisão certa. Ele não tem mãe, vai precisar de muito carinho, amor e dedicação, e quem melhor pra dar tudo isso que você?!
Ele já tinha até uma poupança, Ricardo tinha feito um plano de previdência no banco que quando Lucas fizesse dezoito anos ia ganhar uma quantia muito alta, o suficiente pra comprar um carro, fazer faculdade e quem sabe até fazer uma viagem. Cuidávamos de tudo pro nosso filho ter um bom futuro. Ele era um neném lindo, tinha olhos azuis que não sei exatamente de onde saíram, mas eram lindos, era branquinho que só, não é só porque é meu filho, mas era perfeito.
Agora eu nunca mais me preocuparia, eu teria tempo de sobra pra dedicar a ele. Sobre o financeiro Ricardo depositaria uma quantia na minha conta todo mês pra eu me manter, gastar de gasolina e tudo mais, além do cartão de credito dele extra que ficava comigo, eu sabia que nunca me faltaria nada, continuaríamos levando a vida que levávamos, só não gastaríamos mais porque não saiamos mais.
A mãe do Ricardo demorou a saber que a Aline tinha deixado o Lucas e toda a história ,quando ela soube, ficou histérica, foi até nossa casa e até falou merda. Ela perguntou se queríamos entregar a criança pra que ela e Gustavo criassem, ou se queríamos que ela fosse todos dias até lá pra educar. Resumindo: Ela queria ser a mãe do Lucas e ficar próxima do Ricardo.
Eu tinha que cortar o barato dela e trazer ela de volta ao mundo real.
Eu: - Silvia, quem vai criar e educar essa criança sou eu, não precisamos de você pra ser mãe. Se quiser ser uma boa avó e presente, sinta-se a vontade, mas o cargo de mãe não vai precisar ser seu.
Ela não gostou nada do que eu falei.
Silvia: - Mas ele vai precisar de uma mãe, você trabalha.
Eu: - Não trabalho mais, eu pedi afastamento, vou ser pai em tempo integral.
Silvia: - Ah, então agora quem vai te sustentar é meu filho também?
Ricardo: - Aí já não é da sua conta, na verdade nada disso é mãe. Quando quisermos nossa opinião, vamos pedir, caso contrario pode guardar pra você.
Eu pensei de novo: Chupa veia, vai lavar louça vai.
Ela ficou muito estressada, deu um beijo no Lucas e foi embora. Mas era bem feito, ela não tinha que se intrometer, nada disso era da conta dela. Ela era avó, ela podia dar conselho e dica, mas quem escolhia se seguir e ouvir ou não, éramos nós.
Ia ser difícil ficar tanto tempo sem trabalhar, mas ficar com o Lucas seria um premio pra mim, um presente, então eu ficaria feliz com o que eu tinha em vez de reclamar o que eu sentiria falta.
No começo, penávamos muito com Lucas, qualquer coisa já ficávamos desesperados e íamos parar no médico. Quando ele tinha febre eu já ia correndo, até o médico por duas vezes falar que era excesso de roupas e me mandar pra casa que ele tinha a saúde perfeita.
Nos tempos livres eu assistia vários programas de como cuidar de bebês, assistia canais de crianças pra me acostumar com desenhos, comprava revistas e lia, eu queria ser o melhor, minha mãe que me disse então que tudo aquilo era o teórico, mas o que valia mais era a pratica e isso com o tempo eu adquiriria. Então passei a relaxar mais.
Nossa vida sexual agora era pouco ativa, mas sinceramente, eu me sentia mais satisfeito em ver meu filho dormir em paz tranquilo, lindo e sereno do que depois de transar e gozar. Minhas prioridades agora eram totalmente outras.
Dessa vez eu tinha certeza que largar o meu relacionamento com o Victor valia a pena, não tinha todo esse drama, mas também não tinha toda essa felicidade, eu nunca chegaria a isso, uma família, uma casa que eu tinha gosto em voltar todos os dias.
A Carla era um anjo na nossa vida, então recompensávamos ela com dois salários mínimos alem de cesta básica, ela era muito boa pra nós.
Gabriel e Bruno apareceram lá, contei minha decisão a eles, que ficaram muito surpresos e felizes com tudo, Bruno se ofereceu pra ficar comigo nos dias que ele não trabalhasse, eu topei na hora já que amava a companhia dele.
Antes tínhamos tantos planos eu e Ricky, como viajar pro exterior, conhecer Nova Iorque esse ano ainda, mas agora nossos planos eram sobre o nosso filho. Estávamos pensando se batizar ou não Lucas em uma cerimônia formal, eu sempre fui totalmente Laico, mas Ricardo não. Então combinamos de fazer, mas só por causa do Ricardo, Gabriel seria o padrinho já que ele era meu melhor amigo desde sempre e a madrinha seria Carla já que ela era tão maravilhosa pra nós.
Quando contei a Carla ela ficou tão feliz, que fiquei feliz com a felicidade dela.
Eu: - Carla, sabe o que é, você é tão boa pro Lucas e pra nós, queríamos que você fosse a madrinha dele na cerimônia de batismo domingo que vem.
Carla: - Ô meu filho, você não sabe o quanto eu fico feliz com seu convite, mas to avisando vocês, eu sou pobre.
Eu: - Não te escolhemos pelo dinheiro, te escolhemos por tudo que você ta fazendo pra ele, acho justo vocês terem um vínculo eterno.
Ela me abraçou e ficou muito grata, então era isso, marcamos na igreja no próximo domingo, na minha casa faríamos uma feijoada pra comemorar, minha mãe que ficou de fazer pra nós, Ricardo ficou todo feliz.
Ricardo: - Já te falei que te amo?
Eu: - Ainda não hoje. Eu sempre acabo fazendo suas vontades né?
Ricardo: - Você é o melhor.
Agora era só eu organizar tudo. Mas nem todo mundo ficou feliz com a escolha dos padrinhos, lógico que a mãe do Ricardo não gostou e veio falar merda, ele que a cortou de novo. Eu ia por um fim na situação, eu queria conversar com ela, então a chamei pra conversar no dia seguinte na hora do almoço, íamos almoçar juntos, se ela quisesse fazer parte da vida do neto, as coisas tinham que mudar.
Agora sim era um recomeço de verdade.
______________________________________________________________________________________________________
Ta aí gente o primeiro capítulo da segunda temporada, espero que vocês gostem sinceramente, em breve posto mais pra vocês. Muito obrigado por todos os comentários e votos, vocês tem sido de mais, amo vocês. Qualquer crítica e sugestão são bem vindas.
e-mail para contato: marcio.casadoscontos@hotmail.com
Até mais ;)
