Continuando...
Com mais alguns dias passados, logo Ricardo voltou a trabalhar, o seu pai lhe ensinou um pouco, ele ainda apanhava muito de toda a burocracia, na verdade agora ele era mais administrador do que advogado, mas os rendimentos do escritório eram muito bons. Ele tinha mais oito advogados,em todas as áreas praticamente e ficava com metade de tudo.
O problema era a ausência do Ricardo, ele não tinha hora pra trabalhar, mas passava o dia inteiro lá e a noite ia pra academia, mas já era tarde, ele chegava em casa muito tarde, mal nos falávamos. Eu até entendia a ausência e o cansaço dele quando ele parava em casa, mas eu sentia falta ao mesmo tempo.
Tavinho começaria a estudar logo, como ele já era formado em Administração ele trabalharia no escritório, no nosso escritório adorava dizer isso. Logo ele passaria o dia e a noite fora. Eu e Lucas ficaríamos mais sozinhos que nunca. Um dia, uma terça-feira exatamente, eu estava cansado de ficar sozinho, depois de levar o Lucas pra ver a Carla e se alimentar como sempre, chamei Silvia pra ficar comigo em casa naquele dia, ela topou de prontidão, já que como juiz o Gustavo trabalhava muito.
No dia seguinte,vi que Lucas estava fazia coco sem parar e chorava muito, mesmo após ser trocado, eu estava ficando desesperado. Ricardo não me atendia, então logo eu peguei ele e resolvi ir ao pronto-socorro com ele, sozinho, eu não gostava de hospital sozinho, mas tive de ir. Chegando lá, já tive meu primeiro impasse, a recepcionista disse que apenas os pais ou avós podiam fazer a ficha dele, eu já me estressei, falei com um superior e fiz questão de deixar claro que era o marido do pai, que era outro pai além de padrasto da criança. Logo, ele aceitou e fui passar com o pediatra. Não era nada grave, mas ele teve de fazer uns exames. Então o medico me contou que Lucas estava com intolerância ao leite materno, mas que não sabia exatamente a causa.
Desconfiávamos que fosse algo relacionado ao abandono por parte da mãe, então encontramos uma “solução”. Leite integral e nan, e outras coisas para complementar a alimentação, sugeriu também que começasse a dar frutas raspadinhas. Em partes, aquilo era bom, pois a Carla teria um descanso e eu também de locomoção. Agora eu podia dar tudo que meu filho precisava mesmo.
Ricardo não retornou a chamada o dia todo, eu liguei no escritório e ele estava “ocupado” disse a secretaria, então vi que não tinha jeito mesmo. Fui com o Lucas até o sacolão pra comprar tudo que o médico disse, era incrível a quantidade de olhares que eu recebia das mulheres, descobri então que pra elas ver um homem com filho por ai, mesmo de aliança, significava que era de família e elas adoravam, pena que eu desapontaria elas.
A noite, foi um pouco de briga pro Lucas comer as frutas, vi que ele gostou mais da pêra e da banana que das de mais. O leite com nan, ele tomou também e gostou. Agora era mais fácil alimentá-lo, quando contei a Carla, ela disse que sentiria muita falta dele, e eu prontamente disse que visitasse-nos quando quisesse.
Fiquei na sala assistindo TV e brincando com o Lucas, eu colocava ele perto dos cães, que vinham cheirá-lo e ele gargalhava, ele adorava o fucinho dos cachorros, ele queria pegar toda hora, e os cães não saiam de perto dele.
Quando eram umas onze horas, fui dormir, pus o Lucas na cama comigo, fiz a proteção dele, deixei o pijama do Ricardo separado junto ao travesseiro pra que ele dormisse no quarto de hóspedes.
Na manhã seguinte, acordei e ele nem estava em casa mais. Soube que ele dormiu em casa apenas pela cama desarrumada e o pijama largado no outro quarto. Tinha até me esquecido que aquele seria o dia que a Maria voltaria a trabalhar das férias, tinha deixado-a de férias mais de um mês. Ela voltou toda empolgada, ela amava o Lucas, então ela limpava e parava pra brincar com ele, pelo menos eu não ficava mais sozinho,tomávamos café, comíamos juntos, era legal de mais ficar com ela.
Eu tinha pensado em colocar o berço do Lucas no nosso quarto, mas como pedagogo sabia que aquilo não faria bem á educação dele, ele precisaria entender que tinha o próprio quarto desde sempre e que os pais precisam da privacidade. Então mudei de ideia rapidamente.
Aquela semana, não vi nem sinal do Ricardo, muito menos do Otávio. Eu estava incomodado, eu entendia o porque do trabalho mas poxa, nem dormir comigo na cama ele dormia, eu me sentia solteiro, parecia que ele era meu pai. Trabalhava o tempo todo, não tinha tempo pra mim, só estava presente financeiramente, quando deixava dinheiro na mesa de cabeceira ou quando depositava minha parte do escritório na conta. Eu sentia falta dele ali.
Na sexta a noite, fiz as malas do Lucas e uma pra mim, deixei o Lucas na casa dos meus sogros que ficariam com ele no sábado enquanto eu ia pra São Carlos. Expliquei direitinho como alimentá-lo, deixei meu carro na casa deles e minha sogra me deixou na rodoviária pra pegar o ônibus. Nem comuniquei nada ao Ricardo. Achei um hotel legalzinho em São Carlos e me instalei lá por aquela noite.
Na aula eu estava cansado, nem me concentrava direito, meus colegas acabaram me repassando tudo, porque eu estava com a cabeça longe dali. Quando saí, precisava muito comer, então fiz minha refeição no hotel, paguei , peguei um táxi e fui até a rodoviária. Quando cheguei em São Paulo, Silvia me buscou e me levou para sua casa, eu dormi lá aquela noite com eles.
O que mais me impressionava, era que Ricardo não me ligava, não queria nem saber onde eu estava, eu podia ter fugido de casa, ter ido pra baladas e ele não estaria nem ai. O mesmo pra mim, ele podia estar saindo por ai com alguém, coisa que não seria a primeira vez. No domingo, ele não trabalharia, então fui pra casa ao encontro dele.
Chegando em casa, vi o carro deles lá, o de Otávio também estava, era de manhã, então pus o Lucas no quarto dele. Ricardo dormia na nossa cama, fui até lá e nem liguei pro cansaço dele. Acendi a luz e tirei as cobertas dele. Ele acordou na hora.
Ricardo: - Bom dia lindo, deixa eu dormir um pouco mais por favor, to cansado.
Eu: - Não!
Ricardo: - Como é?
Eu: - Não deixo. Levanta agora.
Ele obedeceu e veio me beijar, eu como sempre virei o rosto.
Ricardo: - O que foi amor?
Eu: - O que foi? A gente não se vê a dias, você não liga pra saber como ou como seu filho está. Você não liga pra mais nada que não seja seu trabalho.
Ricardo: - É que eu to meio ocupado.
Eu: - Você nem notou que eu não passei a noite em casa, o que ta acontecendo com você?
Ricardo: - Eu imaginei que você tivesse fora, mas minha mãe me ligou dizendo que você passaria a noite de sexta em São Carlos e ontem lá.
Eu: - Porra Ricardo, seu filho passou mal essa semana, sabia?
Ricardo: - Serio? O que aconteceu? Ele já ta melhor?
Eu: - Ele já está ótimo, mas se não tivesse, você não poderia fazer nada agora.
Ricardo: - Desculpa amor, mas eu to cansado, você não sabe o quanto aquilo é puxado e exige de mim.
Eu: - Acontece Ricardo, que na nossa vida, temos uma lista de prioridades, esses tempos você me provou quais são as suas.
Ricardo: - Não é assim. Eu trabalho pra nós e por nós. Pra gente poder viajar mais, pra eu poder te dar todos os luxos que você merece e o mesmo pro Lucas.
Eu: - Mas a gente precisa de você aqui.
Eu já estava chateado.
Ricardo: - O que você quer que eu faça, é só falar.
Eu: - Quero que você encontre equilíbrio, crie um horário fixo de trabalho, de vez em quando, tudo bem passar, mas todos os dias não dá.
Virei as costas e saí andando. Peguei o Lucas, dei um banho nele e fomos pra minha mãe, só eu e Lucas, nem perguntei se Ricardo queria ir ou não. Chegando lá, almoçamos, brincamos com o Lucas, assistimos o jogo e voltamos pra casa a noite. Quando cheguei em casa, Ricardo me esperava no sofá, como sempre só de cueca assistindo TV com o Otávio. Logo que me viu, veio ao meu encontro. Me deu um beijo e pegou o Lucas no colo, ficou com ele, eu me senti um pouco aliviado, assim poderia tomar um banho tranquilo, era muito raro eu passar um tempo sozinho, um banho calmo então, bem raro.
Quando sai do banho, fui comer, depois Lucas dormiu e foi posto no berço. Ricardo chegou no quarto me beijando, me pegou no colo e me levantou, ficamos nos beijando. Ele começou a tirar minha roupa, acabou rolando mesmo, fizemos amor, eu sentia falta daquilo, dele na verdade.
Quando acabamos, fui fazer um lanche de novo. Na manhã seguinte, Ricardo já não estava mais tinha um bilhete.
“Bom dia amor da minha vida, desculpa por tudo. Prometo que hoje eu volto e vamos jantar fora,ok? 19:00 Horas passo pra te buscar. Te amo vida”
Fiquei feliz, até que enfim íamos ter um momento nosso. A noite, eu deixei Lucas com a Silvia, sei que parece folga minha, mas eles adoravam ficar com o Lucas, era o único neto deles.
O jantar foi espetacular, de lá Ricardo queria ir pra um motel, mas não podíamos, pelo horário. Se o Lucas dormisse lá e fossemos buscá-lo de madrugada ele choraria muito, ele era igual o pai, odiava ter o sono interrompido, mas adorava interromper o meu. Acho que aquilo fazia parte de ser pai, por o sono do filho acima do nosso.
Chegando em casa, Otávio ainda jogava aquele videogame. Eu não entendia o vicio deles naquilo, eu até gostava de jogar, mas não era viciado, quando eu precisava fazer algo, eu simplesmente parava o jogo, pros meninos era como se eu pedisse pra eles pararem de viver, mas não, pra isso tem o botão de pausar.
No sábado, tinha prometido fazer fundue lá em casa pro Gabriel, Bruno, Otávio e o namorado que o Otávio queria que conhecêssemos. Então tive de ir pra São Carlos de carro, voltei o mais rápido possível pra preparar tudo, como não tínhamos pressa de jantar, todos esperaram. O namorado do Otávio estava meio atrasado, ainda bem, porque assim dava tempo de terminar de preparar as coisas.
Eu sempre me perguntei, até hoje me pergunto, se existe o acaso, porque as vezes acontece umas coisas com a gente, que não parecem verdade, que parecem algum castigo ou algo que queira estragar sua felicidade. Eu esperava qualquer pessoa, qualquer um podia ser o namorado do Otávio, mas era ele,uma parte antiga do meu passado.
Quando Otávio me disse que seu namorado já estava na sala, fui averiguar, ver quem era a criatura, quando vi, fiquei pálido... era Luan.
Acredito não ter falado dele antes, Luan foi meu primeiro caso, nos conhecemos no colégio, mas eu não era o nerd e ele o popular bonitão que se apaixonou por mim. Nenhum dos dois eram nerds, eu tinha notas bem altas, mas eu gostava de conversar e fazer piada com tudo/todos. Tínhamos 17 anos, era o terceiro colegial, eu não era assumido nem pra minha mãe na época, ficamos muito amigos, fazíamos trabalhos juntos e essas coisas. Um dia que ele dormiu na minha casa, ficamos conversando sobre as coisas, ele me disse que tinha curiosidade de como era beijar um outro cara, eu disse que também tinha, ele me puxou e me beijou. Tinha adorado aquilo, lá eu soube que era gay. Foi meu primeiro beijo, até ai tudo ia bem. Durante todo o ano, sempre que ficávamos sozinhos, nos beijávamos, mas nada mais. Ao entrarmos na faculdade, nos distanciamos muito, perdemos totalmente o contato.
Eu estava apaixonado por ele. Então decidi ir procurá-lo em casa, quando cheguei lá, tive a maior decepção da minha vida, ele fazia sexo com outro rapaz. Aquilo me desmoronou, quando o questionei ele me disse: “Ele me deu o que você não queria, sexo.” Aquilo sim acabou comigo, foi minha primeira decepção amorosa, meu primeiro coração partido.
Não é uma grade história de decepção, mas na época pra mim, foi o fim do mundo e ver ele ali, me lembrou das coisas ruins que passei.
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Bom pessoal, ta aí mais uma parte do conto, não postei antes porque esses dias to meio complicado com horário mas não me ausentei muito tambem. Espero que vocês gostem, sinceramente. Muito obrigado pelo carinho dos e-mails, dos comentários e dos votos. Qualquer crítica e sugestão são bem vindas.
E-mail para contato: marcio.casadoscontos@hotmail.com
Ps: Gabriel, Kel e Álvaro muito obrigado pelo e-mail de vocês. É esse carinho que me motiva a continuar contando minha história.
Até mais ;)