Tá aí o fim ^^
Love is the only game that is not called on account of darkness.
PARTE 08 – A BATALHA FINAL
No dia seguinte…
“Aonde pensa que vai?” Sam repreendeu olhando do livro qual estava estudando e vendo Dean tentando não fazer barulho andando até a cozinha, ele tinha passado quase a manhã inteira dormindo pesado no sofá, nem percebeu as idas e vindas do Pastor Jim mais cedo, mas Sam conhecia seu irmão muito bem e sabia que logo, logo ele acordaria e ia querer sair desse sofá e tentar fazer alguma coisa pela casa fingindo ter esquecido a promessa feita.
“Droga,” Dean pensou. Ele ficou trocando de pé um pouco nervoso, sabendo que aquele tom de voz do irmão mais novo não era feliz. “Fazer o almoço,” Dean respondeu tentando parecer o mais inocente possível e sorrindo para Sam.
O mais novo estudou o irmão por um momento, silenciosamente. Ele parecia exausto, ainda estava muito pálido, tinha olheiras. O machucado no rosto agora estava roxo e azul e Dean tinha marca de dedos nos dois braços, o que fazia o sangue de Sam ferver de raiva, mas ele segurou esses sentimentos, tentando manter a calma pelo irmão mais velho. “Ah não vai mesmo,” ele pegou Dean pelo braço, tomando cuidado para não acertar os machucados feitos pelo pai. “Você está confinado nesse sofá pelos próximos dias.” O mais novo disse novamente levando o irmão para sala.
“Mas eu tô bem agora,” Dean resmungou para o irmão.
“Claro, claro,” Sam falou virando os olhos. “Você está tão bem que nem percebeu as vindas de Jim, dormiu o tempo todo.”
“Mas fazer o almoço não vai me matar,”Dean insistiu.
“Eu faço o almoço,” o mais novo falou empurrando gentilmente o irmão na direção do sofá. Antes que Dean pudesse reagir ou protestar, Sam pegou suas pernas e colocaram esticadas cobrindo com o cobertor. “Você precisa descansar.”
“Mas eu não tô com sono,” o mais velho insistiu mais uma vez, suspirando e falando um palavrão. Ele não queria ter dito tão alto e decidiu que talvez ele estivesse mais cansado do que quisesse admitir.
“Com sono,” Sam riu. “Você está andando muito com essas crianças,” ele brincou. “Não vai mais para nenhuma festa de aniversário.”
Dean lançou o olhar mais mortal que pôde. “Se você afofar mais uma vez esses travesseiros eu vou te afofar com um deles,” ele ameaçou.
“Dean, nós fizemos um acordo,” Sam relembrou o irmão arrumando, em desafio, mais uma vez o travesseiro nas costas dele, “Pode começar a ficar intimo desse sofá, pelo menos nos próximos dois dias... e eu não me incomodo de te levar para o hospital onde eu tenho a certeza que consigo convencer o Dr. Miller para te internar por dois dias.”
“Mas,”
“E só pra constar,” Sam falou interrompendo o irmão, colocando o dedo em seus lábios, “Você parece acabado.”
“Também te amo,”
“Dean, faz isso por mim, tá bom?” Sam exasperou com a insistência do irmão.
“E ajudar Jim? Prometi à Grace ouviria mais das suas estórias já que ela não tem ninguém.” Dean insistiu fazendo bico.
“Jim já avisou seus adoráveis fãs que você está doente. Grace com certeza vai entender bem como os outros. E pode ter a certeza, quando Jim avisar que está doente, vamos ser entupidos de doces de todos os tipos, cookies e outras coisas para você.” Sam disse enquanto sentava na ponta do sofá.
“Mas,” Dean ainda tentou reclamar mais um pouco. Ele sabia que Sam estava preocupado com ele, mesmo não enxergando Dean ainda não conseguia administrar as posições sentadas das pessoas, como altura. Ele não se lembrava muito da sua crise, mas pela preocupação de Sam ele sabia que tinha sido uma muito ruim e então decidiu que Sam faria o que quisesse.
“Sem mas,” Sam interrompeu. “Você se mexe desse sofá e eu mesmo vou te amarrar nele!”
“Promessas, promessas,” Dean olhou sensualmente sem resistir de importunar o irmão.
“Dean,” Suspirou Sam. “A última convulsão que você teve foi uma das piores, eu até pensei que fosse usar o kit de emergência. Eu tive muito medo,” o mais novo falou acariciando a mão do irmão. “Por favor, por mim.”
Dean sabia exatamente a expressão que Sam rinha no rosto e suspirou dramaticamente e deixou que Sam tivesse o que queria. “Odeio quando você usa essa cara de cachorro abandonado,” ele reclamou, mas ainda assim, acariciando a mão de Sam ressegurando que ia aceitar o pedido do irmão. “Mas eu to bem, de verdade.”
“Vamos apenas nos certificar disso, ok?” Sam respondeu teimoso e mudando de assunto e se levantando, indo em direção à cozinha, “Vou fazer algo para nós comermos, sanduíche de queijo tá bom pra você?”
“Sammy, quando vamos falar sobre isso?” Dean perguntou muito quieto. Não que ele tivesse planejando trazer o assunto à tona, na verdade, ele odiava ter esse tipo de conversa, sobre seus pesadelos ou sobre o pai e a batalha final, mas para que eles pudessem passar para uma nova etapa na vida deles, teriam que colocar o passado de vez no lugar dele. Mesmo sendo honesto consigo mesmo, Dean precisava conversar com Sam sobre seus pesadelos e convencer-se ainda mais que queria que esses pesadelos parassem de uma vez por todas. Ele estava farto de se sentir cansado e doente o tempo inteiro, sempre tinha a sensação que suas energias foram arrancadas dele nas últimas duas ou três semanas e queria, desesperadamente, se sentir forte de novo.
Sam parou exatamente onde estava e virou-se para o irmão. Ele sabia que essa conversa estava para vir, mas ainda assim o chocava. Ele achava que Dean esperaria mais alguns dias para que se sentisse recuperado, mas ele devia saber bem - Sam sabia que no fundo, Dean não deixaria essa conversa de lado agora que se lembrava de tudo. Seu coração batia forte e esperava que Dean não conseguisse ouvi-lo. Não sabia o que falar e pela primeira vez, Sam Winchester estava completamente sem palavras.
O silêncio no ambiente gritava contra ele e pela primeira vez, Dean se xingou por não ser capaz de ver o irmão. Ele deduziu que Sam estava tentando deixar essa conversa de lado e sabia que não precisava ver a cara de Sam para saber que expressão estava usando naquele momento – culpa. Dean girou a cabeça um pouco de lado escutando cuidadosamente os barulhos à sua volta. Bloqueou tudo que não era importante e se concentrou em Sam. O mais novo estava trocando de pé repetidamente, nervoso, Dean ouviu até a respiração de seu irmão ficar mais rápida. “Diz alguma coisa, Sammy,” Dean murmurou repentinamente, se sentindo desconfortável com todo aquele silêncio entre eles. “Você sempre foi o meloso da estória.”
Sam rolou os olhos. “Eu realmente não sei o que dizer,” ele tentou falar.
“Eu quero falar sobre isso,” Dean persistiu.
“Quer??” Sam falou sem conseguir conter a surpresa em sua voz.
“Não,” Dean sorriu amargurado. “Na verdade, não. Mas se não fizermos isso, vai nos consumir e eu não quero que aconteça. Eu quero que isso tudo fique no passado, pra que... pra que a gente consiga viver nosso futuro.”
“Dean, talvez seja melhor deixar pra conversar quando você estiver melhor,”
Dean conseguia sentir o medo no tom de voz do irmão e suspirou. “Vem cá,” ele deu um tapinha na ponta do sofá, “Senta aqui comigo.” Dean tentou sua própria cara de cachorro abandonado pro irmão. Ele ouviu Sam suspirar em derrota e sorriu para si mesmo.
Ele traçou todos os movimentos de Sam indo na direção dele e sentiu o sofá se mexer quando o irmão mais novo sentou-se. “Dean... eu ia te contar... eu só não sabia como… Eu sei como se sente com relação ao pai e… simplesmente não conseguira te contar. Você... você já tinha sido tão machucado depois que... acordou no hospital… Estava tão doente e eu… eu não sei… Oh Dean me… me desculpe…” Sam falou de uma vez só sem respirar. “Eu-eu não-” e ficou sem palavras sentindo a garganta seca.
“Sam,” Dean chamou pegando a mão do irmão sentindo que ele movimentava as mãos em sua frente. “Calma, eu não estou com raiva de você.”
“Não está?” Sam perguntou descrente. Ele puxou sua mão surpreso que Dean ainda queria tocá-lo.
Dean enrijeceu por um momento com a atitude. “Cara, claro que não. Por que teria raiva de você ?” perguntou.
“Eu não estava lá quando precisou de mim… como esteve por mim a minha vida inteira, eu deveria estar te dando cobertura e não estava.” Sam admitiu, e sem saber mais o que dizer, preferiu o silêncio. Mesmo sabendo que Dean não podia vê-lo, desviou o olhar. A culpa que sentia o consumia. Ele começou a olhar a parede à sua frente tentando manter-se calmo. Sam sentiu as lágrimas ameaçarem cair e mordeu o lábio. Não agüentaria se Dean o odiasse.
Ele não percebeu que Dean tinha se inclinado na sua direção até o sentirele pegar em seu queixo e lentamente virar seu rosto para ele. “Sammy,” Dean falou segurando seu queixo firmemente. “Não vira o rosto pra mim. Eu sei que não posso te ver, mas não vira o rosto. Quero que olhe pra mim.” Sam lentamente assentiu com a cabeça e lutou para continuar olhando o irmão. “Nada disso foi culpa sua. O pai te drogou até a alma,” Dean falou.
“Mas-” Sam gaguejou.
“Agora é minha vez de falar ‘sem mas’ ” Dean falou firme. Ele soltou o queixo de Sam satisfeito pelo fato do irmão continuar olhando-o. “Você não sabia. Certo?” ele sabia da resposta antes mesmo de perguntar. Lembrou-se da batalha e confirmou o que já sabia. Sam nunca o teria deixado sozinho. Seu pai, por outro lado... Ele balançou a cabeça levemente banindo a imagem que tinha aparecido em sua mente de seu pai ignorado seus gritos de socorro.
“Claro que não, Dean!” Sam disse horrorizado só pensar. “Eu estava pronto pra entrar, mas o pai me mandou voltar pro carro e pegar mais munição. Você sabe disso. Mas aí me senti estranho... meio que flutuando… e… a única coisa que lembrava depois era Joshua me dizendo que você tinha se machucado e que o demônio estava morto. Dean... eu queria ter estado lá, dando cobertura pra você. Te manter seguro. Mas o pai me tirou isso.” Sam falou mordendo os lábios tentando conter as lágrimas. “Eu nunca vou perdoá-lo por isso.”
“Eu sei, tudo bem.” Dean apertou a mão de Sam ressengurando-o.
“Não Dean, não tá nada bem. Eu sabia que o pai ia aprontar alguma coisa idiota como aquela.” Sam falou.
“Ele estava tentando te proteger.” Dean tentou amenizar.
“Ele deveria ter te protegendo também. Por causa dele e da sua porcaria de cruzada você foi... você se machucou. E eu podia ter evitado. Ter te protegido. Ao invés disso eu tava lá drogado na terra do nunca!” Sam retorquiu com raiva.
“Eu sei,” Dean assentiu. “Mas eu não sabia que ele tinha planejado te drogar. Você conhece o pai tão bem quanto eu, ele sempre tem um plano extra. Nunca mostrou suas intenções. Sam, eu sei que se você pudesse estar lá, estaria. E eu sempre soube disso, ok?”
Sam observou o irmão por um tempo, procurando por algum traço de mentira, mas ele sabia que não iria encontrar. Os olhos sem vida de Dean pareciam estar implorando para que visse isso. Sam acreditava no irmão e sabia, sempre soube que seu irmão não o culparia ou sentiria ódio por ele. O mais novo assentiu com a cabeça e sentiu como se tivesse tirado um grande peso das costas.
“Dá um desconto pro ceguinho,” Dean sorriu um pouco e inclinou a cabeça. “Você assentiu, certo?”
“Desculpa,” Sam falou colocando a mão de Dean em um dos lados do seu rosto e assentindo novamente.
“Cara, você vai se dar uma baita dor de cabeça,” Dean o provocou alisando o rosto de Sam suavemente. “Ou então ela vai rolar... e dá pra me virar com um namorado sem cabeça.” Sam riu um pouco e virou a cabeça beijando os dedos de Dean.
“Mulherzinha,” Dean provocou mais uma vez.
“O que o pai disse para você...” Sam falou hesitante e segurando as mãos de Dean, procurando pelas palavras certas. Ele não queria magoar o irmão ou lembrá-lo da crise mais uma vez.
“Antes de eu pirar,” Dean perguntou com um leve sorriso de entendimento.
“Dean,” Sam protestou.
“Tudo bem, Sammy,” Dean virou os olhos. Ele nunca se lembrava das crises e os minutos seguintes sempre eram algo nebuloso e confuso. “Eu não saí atirando para todos os lados, mas acho que ele sabe sobre a gente. Ele falou algo sobre sermos nojentos e irmos pro inferno.”
“Quê??” Sam gritou.
“Até um cego saberia,” Dean sorriu. “Naquele dia do lago... acho que ele seguiu a gente até em casa e deu uma de voyeur na gente. ”
“Ta brincando, né?” Sam disse de queixo caído. Ele se lembrava muito bem daquela tarde e não conseguiu deixar de esboçar um leve sorriso. O amor dele foi gentil, passional e ardente, e era de seu pai achar chocante ver seus dois filhos juntos e obviamente desfrutando daquilo, mas ainda assim não conseguia perdoá-lo por toda aquela dor causada a ambos.
Dean balançou a cabeça. “Não consigo me lembrar o que mais ele falou, mas sei que não foi nada bonito.” Ele instintivamente sabia o que Sam pensava. Ele estava culpando o pai pela crise que teve. “Não foi bem culpa do pai... a… a convulsão,” ele forçou. “Eu tava cansado... e já tinha tido três e você me conhece,” o mais velho sorriu o melhor que pôde. “Sabe que sou um belo de um teimoso e não te escuto quando você todo menininha pro meu lado e quer que eu pegue leve.” Ele sentiu o corpo do irmão ficar tenso e sorriu um pouco.
“Não invente desculpas pra ele. Sabe que não merece.” Sam disse quietamente.
“Tem razão, ele não merece.” Dean consentiu. “Mas não foi só por causa dele... meu pesadelo voltou com tudo. E meu cérebro idiota queria me dar uma lição.” Dean olhou para baixo pegando o cobertor que estava em suas pernas.
Sam odiava ter que perguntar isso, mas precisava saber. “Do que se lembra?” sua voz saiu trêmula. “Não precisa me contar, se não quiser,” ele adicionou rapidamente.
“Não,” o mais velho apertou a mão do amado. “Eu quero... eu preciso.” Ele sentiu Sam se aproximar mais e isso o encorajou. Respirou fundo e fechou os olhos. Suas memórias rodopiavam na sua mente e ele respirou fundo mais algumas vezes e se recompôs. “Quando fomos ao depósito, o pai te mandou de vota pro carro. Agora eu sei por que,” ele apertou a mão de Sam o máximo que pôde e sentiu seu irmão mexer de novo no sofá. “O pai não queria esperar pelos outros e me disse para dar cobertura... e entramos. Estávamos lá por apenas alguns minutos antes que o inferno saísse,” Dean estremeceu um pouco. “Ele gritou alguma coisa pra mim e então desapareceu. E-e-e e-en-tão eu m-me vi-vi rodeado pó-por e-e-essas crianças. Elas me-me d-derru-ba-baram,” Dean gaguejou enquanto as memórias bombardeavam seu cérebro. Dean se xingou mais uma vez e respirou fundo novamente brigando com sua gagueira.
“Tá tudo bem, Dean” Sam ressegurou, odiando ver seu irmão, tão forte, tão devastado. Não queria vê-lo doente novamente. “Não precisa continuar.”
Dean virou seus olhos sem vida na direção do amado e falou determinado, “S-sim eu p-preciso,”. Ele apertou mais forte a mão do irmão, tentando buscar mais forças. “Eu gritei por ele, m-mas ele-ele não me-me ouviu. N-nã-não vo-vol-to-tou pra-pra m-me a-ajud-dar.” Dean fechou os olhos de novo. “Eu ainda pegar alguns filhos da mãe, mas eram muitos e eu não consegui escapar. Eu tentei,” Dean disse finalmente controlando a gagueira. Em sua mente, ele se via gritando pelo pai enquanto tentava desesperadamente se desvencilhar dos socos e chutes dos demônios. Ele estava em agonia e sozinho. Ele ouvia as crianças demoníacas o atormentando, zombando enquanto gritava pelo pai. Se via gritando de novo e de novo e mostrou medo ao ver a bota vindo em direção da sua cabeça. Então veio uma dor insuportável e depois a escuridão.
Com a respiração pesada, Dean abriu seus olhos para a mesma escuridão. Seu corpo começou a tremer e ele soluçou um choro antes de se deparar com um abraço aconchegante. “Tudo bem,” Sam sussurrou em sua orelha. “Já acabou. Tá tudo bem. Eu tô aqui,” abraçando ainda mais forte o corpo estremecido do irmão. “Estamos juntos é isso que importa, nada mais.” Sam sentiu Dean assentir a cabeça em seu peito.
“Sabe qual foi a última coisa que eu vi?” Dean soluçou mais uma vez se aconchegando mais nos braços de Sam.
“Não,” Sam respondeu acariciando os cabelos do irmão. Ele não sabia mais o que dizer e sabia que Dean precisava daquele momento. Precisava dizer.
“A porcaria de uma bota de um dos demônios,” Dean finalmente soluçou chorando. “Não foi nem seu rosto. E eu quero tanto te ver de novo,” ele disse se afastando e colocando as mãos no rosto de Sam. “Eu não quero só te tocar Sammy, eu quero te ver. Ver seus sorrisos... seus bicos... tudo. E eu nunca mais… nuca mais Sammy. E eu odeio ele por isso.” Dean falou pressionando o rosto contra o sofá. “Eu odeio isso. Odeio essa escuridão. Eu… eu quero que ela vá embora.” Dean soluçou de novo olhando na direção do amado. Sam via as lágrimas se formando nos olhos de Dean. “Eu nunca vou me acostumar com isso... e… e eu só quero ser eu mesmo de novo.” Sam assistiu uma única lágrima cair no rosto de Dean, e depois outra e depois outra.
Sam não agüentava mais. “Shhhh” Sam disse puxando Dean para perto de si de novo e deixou que suas próprias lágrimas caíssem. Ele nunca perdoaria John Winchester e Sam decidiu que devia um murro na cara dele por ter magoado Dean daquela forma. Por magoá-los. E estava determinado a fazer o pai pagar por isso.
“Eu o odeio.” Dean murmurava sem parar e deixou ser abraçado e acalentado por Sam.
PARTE 09 – CONTINUANDO
4 horas depois...
Levou mais de uma hora para os ânimos se acalmarem. Sam, como sempre, conseguiu persuadir Dean, que concordou relutantemente, a deitar na cama deles, com a única condição de Sam se juntar a ele. Os dois se deitaram em posição de concha e Sam envolveu o irmão em seus braços, até que tivesse finalmente dormido por conta da exaustão. O sono chegou apenas para Dean, seu irmão não conseguia dormir, então ficou apenas acordado escutando a respiração e alguns murmúrios que Dean soltava em seu sono. Sua mente não descansava. John queria vê-los e Jim sugeriu sua casa como um campo neutro. Jim, também, deixou essa decisão para os dois irmãos, para não pressioná-los, coisa que Sam ficou grato. 1 hora depois, Dean acordou e Sam contou sobre o pedido do pai. Os irmãos se abraçaram e conversaram sobre o que exatamente falariam para o pai. Ambos chegaram à conclusão de que se o pai não convivesse com o relacionamento deles, eles poderiam viver sem ele. Eles gostavam da nova vida e não estavam prontos para deixá-la. Não muito contente Sam informou a Jim que iriam encontrar com John na casa dele.
“Tem certeza de que quer fazer isso?” Sam perguntou enquanto iam para a casa do pastor, ele olhou de lado para o irmão, observando suas reações. Sam ainda conseguia ver a linha de exaustão que passava no rosto de Dean e as olheiras. As últimas semanas foram terrivelmente desgastantes para seu irmão e Sam não conseguia deixar de se preocupar com a saúde dele. Dean não era frágil de nenhuma forma, mas mesmo assim não agüentaria tanto e Sam estava apavorado que outro encontro com seu pai pudesse ultrapassar todos os limites. “Sim,” Dean respondeu. Ele queria colocar as últimas semanas para trás e estava determinado a encarar seu pai novamente. Eles precisavam fazer isso para o próprio bem deles. Os dois eram fortes juntos e Dean sabia que não importava o que acontecesse, sempre estariam lá um para o outro. Esse pensamento o deixou mais confiante. “Faremos isso e colocaremos um ponto final continuando nossas vidas.” Dean disse se apoiando no braço de Sam. Ele não usava a sua vara quando sabia que podia usar o braço de Sam, era uma boa desculpa para tocar seu irmão em público. Ninguém suspeitaria de uma pessoa cega sendo guiada por seu irmão. Dean sentia o calor do corpo do seu irmão por cima do casaco. Esse calor fazia com que ele se sentisse mais forte e hoje eles precisavam dessa força e de segurança.
“Chegamos, essa é sua última chance.” Sam anunciou. Ele sabia que Dean estava nervoso e também estava. Ele apalpou o bolso do seu casaco sentindo a caixinha com o kit de primeiros socorros que ele tinha colocado mais cedo no caso de haver algum incidente. Sam não queria arriscar que Dean tivesse outra crise.
Dean se virou um pouco e deu um leve aceno com a cabeça. Ele tinha que falar uma coisa pra Sam e respirou fundo. “Sabe que eu te amo certo?” ele murmurou. “Eu sei que eu não falo muito isso, não muito chegado nessas coisas melosas que você tanto gosta. Mas não importa o que aconteça, eu te amo, ok?”
“Eu sei,” Sam disse contraindo o rosto com o comentário de Dean. Então ele se tocou – seu irmão pensava que seu pai poderia mudar sua cabeça, fazer com que ele fosse embora e ele sabia que se isso acontecesse, John o levaria para o centro de reabilitação de novo. “Você acha que eu vou mudar de idéia e te deixar?” Dean deu de ombros uma vez e se virou de novo. “Dean, me escuta,” Sam falou virando seu irmão de novo para encará-lo. “Eu te amo. Não importa o que aconteça, eu nunca vou te deixar.” O mais novo alisou o rosto do irmão. “Por nada e por ninguém. Cara, cê se ferrou, tá grudado em mim. Ok?” Sam ressaltou cada palavra para Dean para que não houvesse nenhum engano na cabeça dele.
Dean sorriu um pouco, “Acho que isso quer dizer que você também tá grudado em mim.” Ele disse.
“Com certeza.” Sam respondeu enquanto pegava o braço de Dean de novo. O mais novo abriu a grade da entrada do pastor e guiou seu irmão até a entrada de trás da casa. Jim obviamente tinha procurado por eles e apareceu na porta de trás com um olhar preocupado. “Sam. Dean.” Ele disse.
“Ele não está aqui, está?” Sam resmungou enquanto ajudava Dean a entrar na casa.
Jim baixou a cabeça e a balançou em negação. “Desculpe, filhos.” Ele murmurou.
“Ele foi caçar de novo?” Dean perguntou. O silêncio de Jim respondeu à sua pergunta.
“Eu não acredito!” Sam exasperou jogando as mãos para cima. “Ele pede pra encontrarmos com ele e... e faz com que a gente mude de julgamento faz com que a gente venha aqui,” Sam falou tentando conter a raiva em sua voz. “E o filho da mãe nem se dá o trabalho de estar aqui. Eu desisto.”
“Eu sinto muito mesmo.” Jim se desculpou. “Eu tentei pará-lo, mas… bem vocês conhecem o pai de vocês melhor que eu.”
“É, conhecemos.” Dean concordou. “Não é sua culpa Jim,” ele esticou sua mão para onde ele sabia que Jim estaria e deu um tapinha no seu braço. “O pai e suas caçadas... bem, nada é mais importante para ele do que isso, eu acho.”
“Entrem de toda forma eu fiz café,” Jim encorajou abrindo a porta. “Acabei de coar e tenho alguns cookies também,” ele disse ao ver Sam balançar a cabeça furioso com a atitude do pai. O pastor quase jurou ver o corpo de Sam exalar vibrações violentas de raiva.
“Mas o demônio de olho amarelo está morto,” Sam protestou enquanto andava de um lado para o outro.
“Eu sei, Sammy,” Dean disse o mais calmo que pôde. “Mas caçar é tudo que o pai sabe.”
A raiva que estava quase contida de repente se soltou e cobriu o mais novo. “Está inventando desculpas para ele de novo,” Sam respondeu raivosamente. “Quando vai parar de fazer isso? Cara, você se ferrou todo por causa dele. Ele deixou que te chutassem e espancassem, nem se deu ao trabalho de levantar um dedo pra te ajudar,” Sam gritou enquanto parava na frente de Dean. “Você tem fortes dores de cabeça que nem mesmo agüenta. Sem mencionar as convulsões. E você está cego... e isso… e isso é tudo culpa dele… e você inventa desculpas para ele. Como um bom soldadinho que ele te transformou.” Sam gritou novamente.
Dean recuou ao ouvir aquelas palavras abrindo e fechando os pulsos tentando controlar a calma. Ele sabia que Sam não estava com raiva dele, mas ele não conseguia fazer com que aquelas palavras não machucassem. “Eu vou pegar o café,” ele murmurou esticando o braço para onde ele achava que Jim estava. “Entre quando achar que está mais calmo.” Ele disse dando as costas para Sam entrando na casa. O mais velho sentia seu corpo tremer com o esforço de se manter a calma e trincou os dentes.
Jim entendeu o recado e pegou Dean pelo braço, levando-o para dentro. Ele sentiu os tremores do corpo do mais velho e olhou por cima do ombro para Sam. “Acalme-se Sam. Não é culpa de Dean,” ele disse olhando severamente para o mais novo.
“Mas ele acha que é,” Dean disse quando a porta fechou.
Sam mordeu o lábio inferior e começou a andar de um lado para o outro. Ele ouviu o tom de derrota na voz de Dean e agora ele estava com raiva de si mesmo por ter magoado o irmão com suas palavras cruéis. Ele esperava que Dean o perdoasse por esse comportamento horrível. Sam soltou um longo suspiro – ele estragou o momento e devia milhões de desculpas para Dean. Mas por agora Sam só queria andar e pensar em várias formas de matar seu pai.
Dez minutos depois Sam se sentiu recomposto o suficiente e entrou procurando por Dean e uma caneca de café. Ele encontrou o irmão e Jim sentados na cozinha tomando café e um prato de cookies em frente a eles.
“Está mais calmo ou vou ter que jogar um balde de água fria em você?” Jim perguntou sorrindo um pouco.
Sam riu um pouco, “Não... estou mais calmo Jim,” ele assegurou se sentando em um banco do lado do irmão.
“Um café saindo,” Jim se levantou e foi até o balcão pegando a garrafa de café para Sam sorrindo. “E eu acho que todos nós precisamos de algo forte em nosso café hoje,” ele foi até a porta. “Volto em um minuto.”
Sam sabia que Jim estava deixando eles sozinhos de propósito e não ia desperdiçar a oportunidade. Ele cutucou o ombro de Dean gentilmente. “Desculpe,” ele murmurou. “Fui um idiota de novo.”
“Você deve tá passando muito tempo comigo,” Dean respondeu suavemente enquanto cutucava o ombro de Sam de volto.
“Eu não quis dizer nada daquilo,” Sam disse pegando a mão de Dean e apertando um pouco. “Nada disso é culpa sua, é que... É que o pai me deixa com tanta raiva que eu acabo falando demais. E eu magôo a pessoa que eu mais amo nesse mundo, mais que qualquer coisa.”
“Tudo bem Sammy,” Dean disse apertando a mão de Sam também. “Eu sei que não quis dizer nada daquilo. Eu sei que estava puto com o pai e não comigo.” O mais velho falou roubando um beijo. Sam sabia que já tinha sido perdoado, mas ainda assim ele queria se desculpar mais com Dean. Ele se inclinou para o irmão e sussurrou em seu ouvido, não contente ainda lambeu o pescoço dele e soprou em sua orelha.
Dean estremeceu e se afastou. “Sam!” Dean falou horrorizado com a sugestão que o mais novo tinha acabado de sussurrar. Era puramente sexual e erótico e ele mal podia esperar para chegar em casa. “A gente tá na casa do pastor.”
Sam riu um pouco e colocou sua mão levemente na coxa de Dean. Jim escolheu exatamente esse momento para reaparecer. “Coisa boa!” ele disse colocando a garrafa na mesa.
“Eu aceitaria um copo disso,” uma voz familiar falou. John Winchester estava na porta. Ele deixou mala com armas pesadas cair dos ombros para o chão fazendo barulho. Ele pegou uma caneca que estava no balcão e colocou uma boa dose para ele tomando de uma só vez. “Coisa boa,” John concordou com Jim.
“Então decidiu vir e nos ver,” Sam não conseguiu evitar a grosseria. “Ou a caça acabou mais cedo do que planejado?”
“Sammy,” Dean alertou colocando sua mão em cima da de Sam em sua coxa.
John notou o movimento e soltou um resmungo. “Isso é nojento,” ele disse. Dean manteve sua mão no mesmo lugar, ele apertou a mão de Sam tentando mantê-lo calmo, mas ele sabia lá no fundo que dessa vez ele iria falhar.
“Não se atreva,” Sam ameaçou enquanto olhava o pai. “Eu toco Dean do jeito que eu quiser.”
“O mesmo aqui.” Dean disse desafiante.
John deu de ombros e tomou outro gole de sua bebida. “E você,” ele apontou com a cabeça na direção de Jim. “Sentado aí... aceitando esse… esse comportamento pecaminoso. Você é um padre, pelo amor de Deus. É nojento e imoral. Eles são irmãos.”
Jim balançou a cabeça. Ele não conhecia John Winchester mais. Ele mudou tanto do homem que era quando o conheceu há mais de vinte anos. “Sam e Dean já são homens feitos,” ele disse firmemente e sorriu para os irmãos olhando para John de novo. “E desde quando você virou tão cristão?”
“Eles são meus filhos,” John interrompeu. “Eu tenho todo o direito.”
Jim balançou a cabeça de novo. “Então aja como se fosse pai deles e tente entender,” Jim respondeu. “Pelo menos uma vez nessa sua vida miserável, seja pai deles e não general. Ladrar ordens não vai ajudar dessa vez.”
“Então, agora, eu devo ignorar,” John disse enquanto batia a caneca no balcão. A adrenalina da caçada ainda não tinha passado e circulava pelo seu corpo. Ele estava com raiva. Raiva do mundo. A raiva e a fúria fluíam do seu corpo como o sangue nas suas veias deixando-o forte. Um caçador formidável. John Winchester não conhecia mais nada, não tinha mais nada. Não tinha mais ninguém para amar e ele estava insanamente com ciúme dos seus filhos, que acharam o amor que ele perdeu há tanto tempo.
“Eles não estão machucando ninguém,” Jim raciocinou. “E se eles precisam um do outro, está tudo bem pra mim. E eu escolho deixar eles serem quem eles quiserem. Não julgá-los.”
John fez barulho de escárnio. Ele andou em volta da mesa, lançando olhares para cada um. “Eu vi eles trepando.” Ele falou lembrando da cena dos dois filhos nus, e fazendo amor. “Parece que Sammy gosta de comer o irmão.” Ele deu uns tapinhas no ombro do filho mais novo. “Gosta de enfiar o pau no cu de Dean.” Ele acusou sem nenhum pudor. Sam tirou a mão do pai de seu ombro, permanecendo calado. Ele estava desesperadamente tentando se controlar, mas sentia a raiva subir ameaçando estourar.
“John!” Jim gritou se levantando. O olhar de Dean e Sam foi o suficiente para ele querer dar um murro no amigo. “É o bastante.”
John fez uma cara feia para Jim e o ignorou, “E Dean aceita,” Ele foi até o filho mais velho e tocou em seu braço. Dean recuou com o toque. “Eu vi você montando no pau de Sammy. Gosta de ser comido por ele?” John zombou perto o ouvido do filho. Dean travou os dentes contra as palavras do pai, determinado a não dar o gosto de satisfação ao pai.
“É isso.” Sam explodiu enquanto perdia o controle. Ele e seu pai não conseguia ficar no mesmo lugar por mais de dez minutos sem discutir, mas hoje Sam tinha sua raiva justificada.
“Sammy,” Dean protestou enquanto tentava segurar a mão do irmão. Mas Sam estava furioso. Ele soltou a mão do aperto do mais velho e se levantou segurando John pela gola da jaqueta e o empurrando até a parede.
John riu enquanto sua cabeça batia na parede. “Acha que pode comigo?” ele sorriu confiante.
“Sim,” Sam rosnou se aproximando do pai.
“Sam!” Dean gritou se levantando. Ele foi até os dois. “Por favor.”
“Não.” Sam respondeu por cima do ombro. “Ele tem feito isso por muito tempo e nunca mais vai nos machucar de novo.” Ele disse se virando para o pai. Sam não reconhecia o homem que estava na sua frente. Seu pai mudou tanto. John Winchester nunca foi muito amável, mas também não era o homem cruel que estava ali. Ele sabia que a caça o tornou um homem obcecado e sua vingança o tornou desse jeito, destruindo tudo que ele já foi um dia.
“Acha que é homem o suficiente?” John provocou.
“Já chega vocês dois!” Jim disse colocando a mão no ombro de Sam.
“Isso é entre meu filho e eu,” John respondeu empurrando Jim com força fazendo-o tropeçar perdendo o equilíbrio e caindo para trás. Ele soltou um gemido de dor quando sua cabeça bateu na quina da mesa e caindo no chão em seguida.
“Jim!” Dean disse desesperado e frustrado pela sua incapacidade de enxergar e saber o que estava acontecendo. Ele queria ajudar Sam e queria ajudar Jim. Ele tomou uma decisão e se focou no amigo. Ele sabia que Sam conseguia se virar sozinho, ele colocou as mãos na frente e foi tateando até achar o pastor. “Você está bem?” ele perguntou ao achar Jim quando tropeçou nele sem querer.
“Mmmmm” Jim murmurou enquanto tentava ajudar sua visão em Dean. “Você está? E Sam?” ele conseguiu falar.
“Estamos bem,” Dean respondeu, “Embora Sammy esteja um pouco ocupado no momento.”
Atrás de si, Dean podia ouvir Sam e seu pai discutindo. “Eu já volto.” Dean disse batendo no braço de Jim e se levantando.
Sam assistiu horrorizado seu pai empurrar o amigo. Jim não merecia isso. Ele pegou o pai e o empurrou pela cozinha. “Deixa Jim fora disso,” ele gritou.
John riu e andou em direção ao filho mais novo. Sam recuou um pouco, ele tentou acertar um soco no pai, mas John segurou seu braço e o torceu nas costas do filho. Sam soltou um gemido de dor e usou toda a sua força para empurrar o pai, ignorando sua dor. Surpreso com essa tática, John soltou o braço de Sam que aproveitou a situação e se moveu rapidamente, empurrando o pai para fora da casa. O mais novo chutou o calcanhar do pai que soltou um grito de dor antes de dar um soco na cara do filho.
“Você se deu ao trabalho de pelo menos procurar por nós?” Sam gritou enquanto seu punho acertava em cheio e com força o estomago de John e limpava o sangue de seu lábio.
John soltou outro gemido de dor. “Você não queria que eu procurasse,” ele respondeu. “E agora eu sei por quê.” John falou mais uma vez dando outro soco no rosto de Sam.
Sam fez um barulho de dor e conseguiu desviar do segundo soco proferido pelo pai. “Nós nos amamos!” ele gritou para John. Se recompondo, Sam se jogou em John, agarrando-o e acertando um gancho no seu queixo.
“Isso é errado e nojento,” John disse tropeçando e caindo de joelhos. “Você é tão inteligente Sam, devia voltar para a faculdade. E Dean... Bem, ele tem problemas no cérebro, cego... Está te prendendo.”
“Nããããããão!!” Sam gritou mais uma vez se movendo na direção do pai, querendo machucá-lo por suas palavras tão cruéis. Ele chutou John no estomago. John, já esperando pelo ataque, segurou a perna do filho próximo a si. Ele torceu a perna de Sam fazendo-o cair no chão de madeira. Ambos se agarraram e começaram a tentar bater um no outro, rosto, estômago. Ainda presos um ao outro e lutando para dominar a situação, rolaram para o pé da escada, ambos resmungando algumas dores que sentiram ao bater nos degraus. Ao caírem por completo, pararam de brigar por um tempo para recuperar o fôlego.
Sam foi o primeiro a ficar de pé, ele respirou fundo e esticou o corpo, balançando a cabeça de um lado para o outro. John estava de pé logo em seguida. Eles andaram em circulo com os punhos à mostra. John e Sam estavam ensanguentados, mas ignoraram o fato se concentrando e esperando o primeiro golpe.
John tomou iniciativa e investiu primeiro, ele bateu em Sam no estômago fazendo-o cair de joelhos com as mãos em volta do corpo. O pai riu triunfante. Ele quase pôde sentir o gosto da vitória e até ignorou o pouco de culpa que sentiu por estar machucando o filho.
A risada fez com que Sam levantasse, ainda que cambaleando. John tentou bater no filho de novo. O mais novo desviou do golpe e acertou um gancho, pegando o pai de surpresa bem no meio do rosto. Com um urro de dor John levou a mão no rosto e segurou o nariz tentando conter o sangue. O pai rosnou e partiu para cima do filho que já estava pronto para o golpe do pai e o atingiu mais uma vez no rosto. John cambaleou mais uma vez e caiu para trás no chão.
Sam se jogou em cima do pai e continuou as investidas de briga tanto com socos e chutes. Eles respiravam forte, rápido, ignorando o gelo que estavam as suas roupas por conta da neve. A luta não se tratava apenas das coisas do presente, mas também com coisas do passado. Tanto pai quanto filho sabiam disso e não quiseram dar o braço a torcer nem dar o gosto da vitoria para um ou o outro. A intensidade de seus chutes e socos estavam cheios de raiva, ressentimentos e dor.
John empurrou Sam e tentou se equilibrar de pé. Enquanto o mais novo tentava se orientar, o pai deu mais um murro, acertando seu olho. Sam cambaleou de novo, mas conseguiu socá-lo de volta acertando o maxilar de John. Sam ainda estava sentindo as dores dos golpes quando seu pai resolveu tomar vantagem da situação e torceu seu braço para trás das costas, intensificando sua dor e enchendo seus olhos de lágrimas. Sam tentou se esquivar da chave de braço e começou a chutar a perna de John que soltou um grito de dor, mas continuou firme em sua investida.
“Já teve o bastante, Sammy?” John zombou. Sam soltou um resmungo por conta do apelido de infância usado. Ele balançou a cabeça e conseguiu pegar seu pai com a guarda baixa. Ele o empurrou com força e John perdeu o equilíbrio, os dois caíram no chão e continuaram a briga, porém pararam ao ouvir um barulho de tiro. Eles se viraram e encontraram Dean recarregando uma arma.
“Se você encostar nele de novo, eu vou explodir sua cabeça,” Dean falou apontando a arma na direção de John; Ele sabia que Sam estava muito próximo do pai e precisava que ele falasse para poder saber exatamente onde estavam.
“Dean,” Jim falou saindo apressadamente da casa. Depois que ele se recuperou totalmente, foi procurar o filho mais velho que tinha desaparecido misteriosamente. Quando viu que sua arma tinha sumido, entrou em pânico, ele saiu de dentro para encontrar Dean com a arma apontada para o pai. “Não é assim que você vai resolver,” ele falou mais uma vez se aproximando do garoto.
“Ele acabou com a minha vida,” Dean murmurou. “E ele está tentando me tirar o Sammy,” Dean virou-se para o pai mais uma vez segurando a arma com firmeza.
“Dean,” Sam disse calmamente. Jim se aproximou do mais velho. Sam fez menção para ele não se aproximar, o amigo entendeu e se afastou. “Eu não vou a lugar algum. Eu prometi que não faria isso e não vou fazer. Somos eu e você, tudo bem?”
Dean virou para a direção de Sam. “Você ta bem?” ele perguntou se xingando por não poder vê-lo. “Ele te machucou?”
“Não,” Sam mentiu, “Só um pouco ensanguentado. Nada que eu nunca tenha ficado antes.”
“Abaixa essa porcaria de arma,” John disse se levantando impaciente. Ele limpou seu jeans e jaqueta e tirando o sangue do rosto. “E pare de agir feito um idiota, Dean.”
Sam se virou para olhar feio para o pai, “Ta querendo ter sua cabeça estourada ou tem um desejo de morte contido?” ele falou grosseiramente.
“Ele é cego,” John disse com desdém. Ele não notou que Dean tinha apurado seus ouvidos e agora o ouvia atentamente. Dean sentiu exatamente onde Sam e Jim estavam e agora também sabia onde estava o pai. Ele apontou novamente a arma com confiança, ele não iria acertar o irmão e o amigo por engano.
“É, e agora ele sabe exatamente onde você está.” Sam explicou assentindo com a cabeça para Jim, que entendeu imediatamente o que o mais novo dizia e não se moveu mais, permanecendo em silencio. “E eu te garanto que ele não acertar nem em mim nem no Jim.” Sam já tinha visto seu irmão em ação várias vezes e ele sabia como Dean fazia essas coisas.
“E-Eu po-posso t-ter pro-pro-problema n-no ce-erebro pra você,” Dean falou agitando a arma para John, “M-mas eu-eu n-não vou err-errar.” Ele detestava gaguejar, especialmente na frente do pai e as lágrimas que agora caíam dos olhos não ajudavam também.
“Pelo amor de Deus,” John exasperou.
Por algum motivo, John não conseguia ver o risco que estava correndo e ignorou a situação, como era de praxe, mas Sam conseguia ver o perigo, ele podia ver que Dean estava no limite e temia que o irmão atirasse no pai. Sam olhou feio para John mais uma vez, “Quer calar a boca e ficar parado?!” ele gritou. “Se você se mover de onde está eu vou estourar sua cabeça.” John ia responder, mas alguma coisa que dava sinal de perigo nos olhos do filho mais novo o fez parar. Ele ficou de boca fechada e olhou para o chão, evitando os olhos do filho.
Satisfeito com o silencio do pai, Sam foi se aproximando com cuidado do irmão. “Dean,” ele murmurou. “Me dá a arma. Jim tá certo, não é assim que tudo vai ser resolvido.”
“E-Ele tir-rou minh-nha vi-ida,” Dean colocou pra fora. Sam viu o dedo do irmão apertar o gatilho. “E-E-Ele de-deix-xou que-queme me machu-u-cas-sem. Ne-em se-sequer me-me aj-judou. Po-por que ele-ele na-não me-me aju-judou?”
“Eu não sei,” Sam disse baixinho, mesmo sabendo que no fundo eles tinham consciência do motivo real. Eles não eram importantes para o pai, como o demônio que ele tanto quis matar era. “Mas ele devia ter te ajudado,” o mais novo disse o mais calmo que pode. Seu coração batia forte e ele podia sentir o suor escorrendo no seu pescoço apesar do vento frio. “Como você sempre ajudou a ele. Deu cobertura. Como ele deveria ter me deixado fazer isso por você.” Sam se virou para o pai e rosnou, “Ele deveria ter protegido nós dois.”
“E-eu ode-eio ele.”
“Eu sei,” Sam tentou acalmá-lo. Os olhos cegos de Dean estavam tão cheios de vulnerabilidade, dor e sofrimento que Sam tinha vontade de ir até o pai e bater nele até pedir misericórdia, mas agora, a prioridade era Dean. Sam ignorou todo o sangue com ira percorrendo em suas veias, ele sabia que seu irmão não ia suportar viver se atirasse no pai, então colocou tudo que sentia de lado e decidiu que Dean não iria sofrer mais nas mãos do pai. “Mas agora a gente tem uma vida nova. Uma bem melhor. Juntos. Certo?” Sam falou se movendo para cada vez mais perto.
Dean olhou na direção do irmão, assentindo com a cabeça. “Ele nunca vai deixar a gente em paz,” ele conseguiu dizer, aliviado que a gagueira tinha deixado ele em paz. Ele mordeu o lábio e brigou contra as lágrimas que queriam cair.
“Sim, ele vai.” Sam disse firmemente. “Ele nunca mais vai voltar aqui. Eu prometo.” Dean ficou rígido por um tempo. Sua cabeça doía, ele estava machucado e confuse. Ele queria tanto a vida que tinham agora, ele amava tanto Sam, mas seu pai estava tentando separá-los a todo custo e ele sabia que não ia conseguir viver sem o irmão. Dean se focou na voz de Sam, tentando tirar forças dali. “E você nunca vai se perdoar se você atirar nele.” Sam disse quieto já a alguns passos do irmão mais velho. Pelo canto do olho, ele viu Jim prender a respiração, tenso. Ele também podia ver o pastor olhando na direção de John, pronto para qualquer reação estúpida que ele pudesse ter. Jim assentiu para Sam que olhou de novo para Dean, se desligando de tudo a sua volta e se concentrando apenas no irmão.
“Vai me fazer sentir melhor,” Dean disse com convicção. Ele tinha uma alma de caçador e era forte. O mais velho queria desesperadamente se sentir completo de novo, mas ele sabia que era impossível. Ele estava preso ali, cego para o resto da sua vida. Ele estava cansado e exausto demais para seu gosto e isso o deixava confuso. Sam o fazia se sentir completo e o amava do jeito que era sem se importar com sua cegueira ou convulsões e Dean amava a nova vida naquela pequena cidade. Ele amava ajudar Jim. Ele tinha até feito alguns amigos. Talvez Sam estivesse certo e ele afrouxou o dedo do gatilho.
Sam conseguia ver as emoções passando nos olhos do irmão. Ele via que o seu corpo mostrava hesitação. “Dean, por favor.” Ele sussurrou.
Dean ouviu o pedido do irmão e tomou sua decisão. Já era hora de retomarem a vida deles e deixar o passado para trás. Para sempre. E ele sabia que por mais que odiasse o pai, atirar nele não ia resolver. O mais velho respirou fundo e tirou o dedo do gatilho. Ele deixou seu braço cair de lado ainda segurando a arma e virou na direção do pai. “Eu nunca vou te perdoar,” ele sussurrou enquanto uma lágrima caia no seu rosto.
John encarou o filho mais velho. Seus olhos sem vida olhavam em sua direção sem mostrar nenhuma reação, mas dentro dos verdes deles, John pôde sentir o ódio com uma ponta de tristeza e arrependimento. A culpa começou a penetrar no seu corpo, ameaçando arrancar sua vida, e foi ai que percebeu como se um raio caísse em sua cabeça que ele tinha realmente perdido os filhos por conta da sua estupidez. A raiva o deixou mais forte, o fez quem era e sugou tudo dele, fazendo se sentir seco e vazio por dentro. Jim estava certo, ele deveria deixar os filhos em paz e ter sua vida juntos. John assistiu Dean desviar sua atenção, era como se ele soubesse o que estava pensando.
Sam agiu instintivamente enquanto Dean deixou a arma cair de lado. Seu irmão mais velho tinha aparência pálida e exausta demais pro seu gosto e cambaleava levemente. Sam pegou a arma e escutou Jim respirar aliviado. Ele entregou a arma para o pastor e envolveu Dean em seus braços enquanto Jim colocava a arma em um lugar seguro.
“Tá tudo bem, Dean” Sam sussurrou em seu ouvido. “Vamos entrar.” Ele sugeriu guiando o irmão. O mais novo dos Winchester podia jurar que, apesar de Dean parecer chocado ele ainda tinha aquele brilho de determinação e força de voltar a ser o Dean de antes. “Eu aceitaria aquele drink agora.” Dean acentiu levemente com a cabeça e colocou seu braço envolto do de Sam.
Dean soltou um suspiro quando veio em sua mente que depois desse incidente Sam ia parecer uma galinha chocadeira cuidado dele nos próximos dias. “E você tem que se limpar,” o mais velho disse ao achar que o mais novo deveria estar todo sujo por conta da briga. Ele encheu seu tom de voz de preocupação para que Sam percebesse que ele estava bem e que ia cuidar dele tanto quando o mais novo.
“Garotos,” John falou indo em direção aos filhos.
Sam soltou Dean por um momento e se virou antes que seu irmão pudesse dizer ou fazer algo. Sam pegou John de surpresa e deu um soco o mais forte que pode no rosto do pai, fazendo seu nariz sangrar novamente. John soltou um gemido de dor quando Sam bateu nele outra vez e o fez voar até o monte de neve mais próximo caindo perto da grade da casa de Jim.
“Terminou?” Dean perguntou inclinando a cabeça para o lado.
“É, acabei.” Sam respondeu para o irmão. “E não volte mais,” ele disse para John por cima do ombro, “Você não é bem-vindo aqui.”
Jim reapareceu dando para Dean a mochila de armas de John. Dean se virou e jogou a mochila na direção do pai que caiu aos pés dele. “Vai procurar alguma coisa pra caçar.” Ele disse secamente pegando o braço de Sam de novo. Os dois irmãos deram as costas pro pai e foram andando lentamente para dentro da casa, seguidos por Jim. Nenhum deles olhou para trás.
“Parece que eu perdi toda a diversão,” Bobby falou passando pela grade da casa e vendo John todo ensanguentado. Ele viu a expressão de derrota de John e suspeitou o que pudesse ter acontecido. John Winchester finalmente perdeu os filhos por conta da sua cabeça dura e atitude. Bobby balançou a cabeça em desaprovação. “John Winchester. Você é um grande idiota.” Ele suspirou e passou por cima de John e de sua mochila entrando na casa de Jim para tomar aquele café que ele sabia que o estaria esperando.
FIM.
Obrigado à todos que acompanharam! Agradeço a cada comentário e noto de cada um, agradeço a quem teve a paciência de esperar eu postar e... É isso... Ah, não vou passar meu msn porque tenho um pouco de receio enquanto à isso, pois sei que amigos meu frequentam o site, desculpa! Mas adicionem meu amorzinho aí, já que ele gosta de conversar com alguns...
Rafael_Guimaraes_Frattin@hotmail.com
... Abraços e até a continuação de "Tentativas Frustradas de Voltar a ser hétero".
O que acharam do final?