Capitulo 14 - A whole new world.
Dois dias se passaram desde todos os eventos que culminaram na “libertação” de Betão. Dois dias nos quais Ricardo nem ouviu falar dele, dois dias nos quais ele teve que ouvir Alceu contar e recontar a falsa historia da briga de boteco para não preocupar D. Mariana. Dois dias que ele estava tenso sem saber o que estava acontecendo na familia Mattos, mas acima de tudo, dois dias nos quais ele apenas se irritava com Betão. Ele estava magoado, e com razão.
Tudo bem, Betão desde que se entende por gente era domado, preso, castigado e só obedecia a um homem, homem cruel, impiedoso e maldoso. A grande verdade é que a cabeça dele estava estilhaçada, agora que perdeu o seu referencial de existencia e que poderia passar a existir da maneira que quisesse, ele simplesmente não sabia como viver.
Era por volta das 19hs e uma garoa fina que caia sobre a roça. Ricardo já havia jantado e saiu para a varanda na parte da frente da casa e descascava uma laranja, ao olhar para frente viu aquele vulto lentamente caminhando nas sombras ate que a luz refletisse sobre a pele branca.
Ricardo se levantou e colocou o prato e a laranja sobre a cadeira que estava sentado e caminhou lentamente ate ele que havia parado a meia distancia da casa. Ricardo estava disposto a dizer tudo que estava preso em sua garganta nesses últimos dois dias, ao se aproximar pode ver a expressão pesada no rosto de Betão, algo que remetia a tristeza, mais ainda assim estava disposto a não se deixar abalar.
Ricardo em tom irônico: -Então? O senhor decidiu que já esta na hora de conversar comigo?
Betão fechou os olhos e abaixou a cabeça. Nada falou, permaneceu mudo. Agora sim o coração de Ricardo apertou.
Ricardo em ar preocupado: -O que aconteceu?
Betão ainda assim ficou calado, apenas deu alguns passos a frente e abraçou Ricardo. Embora ele não tenha retribuído, pode sentir os enormes braços envolvendo o corpo dele e o tórax húmido colando com o dele. Assim ele permaneceu assim por alguns segundos ate que Ricardo finalmente retribuiu o abraço. Ali ficaram por alguns minutos, enquanto a garoa caia sobre eles.
Ricardo: -Em algum momento você vai precisar falar comigo.
Betão apenas apertou mais o abraço.
Naquele momento, toda a raiva que ele sentiu nos últimos dois dias pelas atitudes de Betão, simplesmente desapareceu e ele se entregou ao abraço molhado de Betão.
Apos cinco minutos finalmente palavras saíram da boca de Betão.
Betão: -Eu não sei o que fazer...
Ricardo: -Sobre o que?
Betão não respondeu.
Ricardo: -Seja o que for, junto a gente vai achar solução.
Betão soltando o abraço e olhando para Ricardo com um ar perdido: -Jura?
Ricardo rindo de maneira simpática: -Juro sim.
E voltaram a se abraçar.
Ricardo: -Você veio andando ate aqui?
Betão assentiu com a cabeça.
Ricardo: -Você já comeu?
Betão negou balançando a cabeça.
Ricardo soltou o abraço, pegou ele pela mão: -Vem, vem comer alguma coisa.
E puxou Betão para dentro da casa de sua família. Ao chegar na porta D. Mariana se levantou assustada da cadeira.
D. Mariana: -Meu Deus, vocês estão ensopados!!!
Ela correu para o quarto e voltou com duas toalhas grossas, as quais usou para enrolalos. Vocês precisam de um banho quente agora seão pegaram uma gripe!
Ricardo puxou ele ate o banheiro e ligou o chuveiro.
Ricardo: -Bem, hoje você tem que tomar banho sozinho, minha avó estranharia se eu ficasse aqui com você.
Betão assentiu com a cabeça entendendo que Ricardo tinha razão. Ricardo saiu do banheiro quando ouviu a avó dizer que estava esquentando a sopa para os dois tomarem. Após Betão Ricardo tomou um banho e ao sair do banheiro achou engraçada a aparência de Betão usando as roupas de Jair, que obviamente estavam apertadas nele. Após comeram D. Mariana sabiamente os deixou a vontade para que conversassem.
Ricardo: -Então, vai me contar o que esta acontecendo?
Betão serio e com ar triste: -Eu não sei o que fazer agora. Eu nunca quis ser assim, desse jeito sabe? Foi mais por sua causa que eu quiser ser.
Ricardo: -Como assim? Ser assim como?
Betão: -Assim, sem ele pra me dizer o que fazer, como fazer. Eu, é, eu não sei o que fazer agora.
Ricardo: -É normal se sentir um pouco perdido no inicio, mas isso vai mudar. Mas antes de nos aprofundarmos nesse assunto eu preciso perguntar. Você teve alguma noticia de Cristovão.
Betão assentiu com a cabeça.
Ricardo: -E então?
Betão: -Ele ta internado na capital. Pai ta fazendo tudo pra manter em segredo, não sei porque.
Ricardo: -Seu pai sabe o que você fez?
Betão mais uma vez assentiu com a cabeça: -Eu acabei falando.
Ricardo: -E como ele reagiu?
Betão: -Ele não me disse nada, só pegou o carro e foi la atrás deles.
Ricardo: -E Fred?
Betão agora com ar de raiva: -Esse ta fugido, mas eu ainda vou encontrar ele pra terminar o que comecei.
Ricardo achou por bem mudar o tópico, claramente a raiva de Betão por Fred ainda era grande: -Betão, seu avó vai ficar bem?
Betão: -O medico acha difícil. Ele deve ficar sequelado. Esse é que é o problema.
Ricardo: -Como assim?
Betão: -Ele não vai mais poder me dizer o que fazer, entende?
Ricardo: -Betão, você não precisa de alguém para dizer o que você tem que fazer.
Betão abaixou a cabeça.
Ricardo: -É serio! Eu entendo que você esteja confuso, você passou anos só seguindo ordens e agora você não precisa mais, por isso que esta perdido. Mas você vai ver como é melhor a vida quando podemos fazer o que nos queremos e não o que nos madam.
Betão olhava agora com interesse no que Ricardo dizia.
Ricardo: -E o melhor, sem medo, sem se preocupar com castigos ou punições. Você vai ver, como sua vida vai ser bem melhor.
Betão: -Fazer o que eu quiser ne?
Ricardo: -Isso ai.
Betão se levantou: -Eu quero ir pra casa.
Ricardo estranhou um pouco o rompante: -Tudo bem, você pode ir, ate porque lá não tem mais nada que te de medo de voltar lá. Não é verdade?
Betão: -É sim.
E foi caminhando para a porta. Ricardo levantou e foi atrás dele e antes dele passar pela porta perguntou: -Você já vai? Nem vai me dizer nada?
Betão olhou para tras serio: -Mas eu volto, só vou fazer umas duas ou três coisas e volto para te pegar. Eu tô mesmo devendo uma desculpa pra você.
E saiu pela porta.
Essas atitudes de Betão eram o que preocupavam Ricardo. Ele já tinha visto Betão oscilar seu estado de espirito antes, mas isso acontecia apenas quando recebia uma ordem de seu avô. Agora sem essas ordens esse estado estava ocilando de maneira herratica e imprevisível. O Betão que saiu pela aquela porta não era o Betão tristonho e perdido que entrou e menos de uma hora havia se passado.
Mas idependente de qualquer coisa, só uma certeza existia. Ricardo estava irremediavelmente apaixonado por aquele homem.
Betão retornou cerca de uma hora e meia depois, dessa vez de carro. Saltou e veio buscar Ricardo na porta. Estava arrumado, de calça jeans, camiseta de marca e o inseparaval boné. Ricardo não gostava do boné, o achava muito mais bonito sem, mas era coisa demais para se alterar em tão pouco tempo.
Ricardo: -Ta bonito.
Betão abriu um sorriso ao ouvir as palavras de Ricardo.
Ricardo: -Eu vou precisar me trocar também não esperava você todo gatinho assim.
Ricardo pos uma calça, uma camisa polo e voltou para o encontro de Betão que o aguardava encostado no carro.
Ricardo: -E então para onde vamos?
Betão: -Entra ai que te conto.
Betão arrancou com o carro e parou aguns metros depois de sair da roça. Saltou do carro, abriu a porta do carona, puxou Ricardo pela sintura e beijou a boca. Beijo truculento, demorado, molhado e que Ricardo adorava.
Betão: -Desculpa pelas coisas que te falei, eu tô meio confuso ainda, as vezes fico perdido, as vezes acho coisas que, sei la como explicar, que posso tudo, as vezes que não posso nada. Eu...
Ricardo calou ele beijando ele novamente. E mais uma vez o beijo de Betão forte, reto, como Ricardo gostava daquele beijo.
Ricardo: -Chega disso por hoje. Eu quero tanto curtir você, só isso.
Betão assentiu com a cabeça enquanto abria um pequeno sorriso: -Vamos, vou te levar para jantar. Depois te trago de volta.
E quando ele ia se afastando Ricardo o segurou pelo braço. Betão interrompeu o movimento e olhou para ele.
Ricardo: -Eu não quero voltar para casa depois de jantar.
Betão: -Tudo bem, para onde você quer ir?
Ricardo: -Para seu esconderijo.
Betão fez uma cara de quem não entendeu: -Fazer o que lá?
Ricardo: -Quero passar a noite com você.
Betão riu: -Como fazíamos quando eu estava internado?
Ricardo com uma cara de malicioso fez que não com a cabeça: -Não, não quero parecido, quero passar essa noite com você.
Betão ficou confuso, não entendia o que Ricardo queria passar para ele.
Ricardo riu: -Tudo bem, na hora você vai entender.
Betão então fez a volta e entrou no lugar do motorista e começou a mover o carro lentamente quando freio novamente. Olhou para Ricardo e perguntou: -Você ta falando de passar a noite pra fazer o que eu tô pensando?
Ricardo: -Depende, se você estiver pensando a mesma coisa que eu.
Betão sem jeito: -Eu tô pensando de que você fala de eu usar você.
Ricardo: -Usar?
Betão: -É, usar, sabe?
Ricardo arqueou a sombrancelha: -Usar?
Betão ainda mais sem graça: -É fazer você de minha mulher.
Ricardo caiu na gargalhada.
Betão ainda sem graça: -Falei alguma bobagem não foi?
Ricardo: -Não, é isso mesmo que eu estava pensando, mas eu pensava mais de maneira como sexo, transar, ate mesmo (fez aspas no ar) “fazer amor”, mas usar como minha mulher realmente me pegou de surpresa.
Betão abaixou a cabeça.
Ricardo passou a mão e tirou o boné dele enquanto alisou a cabeça careca dele: -Eu achei bonitinho.
Betão olhou para ele com um sorriso sem graça, tomou o boné da mão dele e calçou na cabeça: -Bem, se você quer ser minha mulher tudo bem, eu vou te fazer de minha mulher e te deixar feliz.
Ricardo virou a cabeça dele pxando pelo queixo: -Eu não quero ser maltratado.
Betão serio: -Eu nunca maltrataria você.
As palavras dele arrancaram um sorriso satisfeito de Ricardo.
Betão respirou fundo e segurou no volante: -Então, vamos jantar
Ricardo: -Mas eu já jantei.
Betão: -Mas eu não, só aquela sopinha não matou minha fome.
E arrancou com o carro.
O fim daquela noite iria sacramentar a relação deles dois.
