Continuando...
No primeiro dia de aulas dos meninos, Well me acordou cedo, até de mais, porque não queria se atrasar, então eu tinha feito o itinerário na minha cabeça, levaria primeiro Will porque ele entrava as 7:00 e depois Well que entrava 7:15. Na hora de buscar, buscaria primeiro Will que saía mais cedo, depois Well e Marcelo, pois é, Marcelo tinha sumido no mês de julho, viajando com minha mãe.
Na hora de deixar Will na escola, acabei atraindo muita atenção pra ele, acho que pelo meu carro. Ele não gostava de chamar atenção, mas a culpa não era minha que ele quis continuar na mesma escola. Well quando chegou no colégio novo ficou todo bobo com o tamanho e com as coisas que tinha, pedi que o Celo levasse ele até sua nova sala e ele me deu um beijo de despedida, Well não ligava pra essas coisas, ele me dava beijo direto. Depois do beijo ele falou:
Wellington: - Tchau pai, bom dia.
Eu fiquei bobo com aquilo, foi o ápice de felicidade, fiquei sorrindo á toa. Depois de deixá-lo no colégio fui pra academia. Mais tarde, fui pra casa ajudar Maria a dar uma adiantada no almoço, Denise chegou pra ficar com o Lucas. Na hora do almoço segui minha jornada de buscar os estudantes nas escolas. Era engraçada a diferença da saída dos colégios, na escola do Will, era desorganizado, grandes grupos saindo, indo aos pontos de ônibus e conversando na porta. No colégio do Well, era uma fila enorme de pais buscando os filhos e peruas/vans escolares.
Na hora de buscar Will, ele pediu que eu abaixasse o vidro pra conversarmos.
Will: - Ei, tem como dar carona pros meus colegas?
Eu: - Claro, entra aí.
Eles entraram, duas meninas e um menino. Eles moravam até que próximos, deixei-os em casa e depois fui buscar Marcelo e Wellington.
Wellington não parava de falar da escola nova, dos coleguinhas, dos professores, da quadra, da lousa, das carteiras. Ele estava apaixonado pelo colégio, o que era um bom sinal, eu queria incentivá-los ao estudo.
Eu: - Will, ainda da tempo de ir pro colégio do seu irmão.
William: - Não, to bem lá mesmo.
Eu: - Sabe Will, tava pensando, o que você acha de fazer um cursinho agora até o fim do ano?
William: - Não sei, posso pensar?
Eu: - Claro que pode, só não demora muito pra não perder os prazos, ok? Só pensa bem na universidade que você quer fazer.
William: - Se eu não quiser fazer faculdade, tem algum problema? Tipo, não ano que vem sabe? Esperar mais um pouco.
Eu: - Não, a decisão é sua, não posso te obrigar, eu só te aconselho pra aproveitar a oportunidade, não precisa ser necessariamente uma faculdade, pode ser um curso, só não queria que você ficasse trabalhando sem fazer nada, sem perspectiva.
William: - Pode deixar, vou pensar.
Eu: - Well, que tal você fazer inglês com o Celo de tarde?
Wellington: - Nossa, que legal, eu falando inglês, eu quero.
Eu: - Tudo bem, vou hoje lá então levar o Celo e faço sua matricula. E você Will?
William: - Não to afim não, muito obrigado.
Eu: - Ok.
William era assim mesmo, meio afastado, meio quieto, eu entendia, ele com certeza tinha passado por muitas coisas na vida.
A tarde, depois de ter levado os meninos no inglês (Well faria uma aula pra conhecer e etc) fui conversar com o Will.
Eu: - Will, o que ta acontecendo com você que você tá meio distante? Pode conversar comigo o que quiser.
William: - Eu não sei como falar isso, sabe? Tem coisas que não posso te pedir, não tenho esse direito.
Eu: - Pode falar, eu vou entender, eu sei o que é não ter compreensão.
William: - Eu queria visitar minha mãe... na penitenciaria, sabe? Eu não a vejo há 10 anos e o Well nem conhece... Mas eu não quero magoar você, não quero causar problemas por isso.
Eu não sabia o que dizer.
Eu: - Olha... esse é um direito seu. Ela vai ser sempre sua mãe no fim do dia e é o que importa. Se você quer, eu te levo no domingo, que tal?
William: - Valeu, de verdade. – E me abraçou.
Era inevitável eles quererem saber o paradeiro dos pais. Eu entendia aquilo o máximo que podia. A noite, no meu quarto, conversei com o Ricardo.
Eu: - Ricky, eu conversei com o Will hoje e... ele quer conhecer a mãe.
Ricardo: - Vixi, difícil hein. E agora?
Eu: - Me comprometi a levá-lo no domingo.
Ricardo: - Tem certeza?
Eu: - Não, sinceramente não. Só to fazendo o que ele me pediu.
Ricardo: - Olha lindo, você tem meu apoio, como sempre, mas não vai sair machucado dessa historia, tudo bem?
Eu: - Prometo tentar.
No sábado, eu comecei o doutorado, ou melhor, continuei na nova universidade. Achei bem melhor, mais acessível, os professores lá não se achavam superiores aos alunos, ao contrario, eram bem descontraídos, eu tinha amado.
No domingo, um frio na barriga, mas cumpri com o prometido, me arrumei e fui até a sala, William já me esperava. Wellington também, só que ele tava de pijama.
Wellington: - Pai, eu não quero ir. Não quero. – Eu já tinha me acostumado a ser chamado de pai, mas eu gostava de ouvir sempre.
Eu: - Tudo bem, fica calmo então eu vou com o Will.
Eu e Will fomos, no carro ninguém falava nada, eu não queria forçar ele a falar, queria deixar já que a mente dele devia estar uma bagunça. Lá é bem difícil, porque ao contrario do presídio masculino, não tem muitas visitas, a maioria das visitantes são as mães das presidiárias e alguns filhos, mas pelo que fiquei sabendo lá, os maridos/namorados nunca iam, era muito raro. Fui revistado, até de mais pro meu gosto.
Foi emocionante de mais, ver o reencontro entre mãe e filho, ele não tinha magoa dela. Eles choraram muito, ela se lembrou dele, ela era bem lúcida, muito ao contrario do que eu soube sobre ela. Eles conversaram muito, foi muito lindo e triste ao mesmo tempo,na hora de se despedir, foi mais triste ainda, ele disse que voltaria e tudo mais. Eu nem conversei com ela, aquele momento era deles. Quando fui me despedir ela me deu um abraço e disse “Muito obrigada por olhar por meus filhos, que Deus te abençoe, você é um anjo”. Eu disse a ela que voltaria na outra semana pra conversarmos a sós, ela concordou.
Depois, durante o resto do dia Will ficou quieto, chorava de vez em quando, mas parecia estar chorando de alivio ao invés de dor. Well nem quis saber como foi lá, eu entendi e passei um tempo com ele também. Ele era criança, não entendia o abandono, apesar que até muitos adultos não entendem.
A noite, Will foi até meu quarto conversar.
William: - Posso entrar?
Ricardo: - Entra ai filho.
William: - Primeiro, eu queria te agradecer. – Disse olhando pra mim.- Por tudo que você tem feito, de verdade, pelo amor e tudo. E eu queria te dizer que eu aceito o cursinho pré-vestibular, eu sei que você quer o melhor pra mim.
Eu fiquei feliz.
Eu: - Fico muito contente. Vou com você fazer a matricula amanhã, só te aviso, é meio longe, você vai ter que ir de metro e trem, se você não se importar...
William: - Lógico que não...
Dormi contente aquela noite. A semana passou sem acontecimentos importantes, fiz a matricula dele na segunda, resolvi tudo que precisava e no domingo fui conversar com a mãe deles, Maria das dores, mas conhecida mesmo como Maria.
Maria: - Que bom que você veio, fiquei tanto tempo sem visitas.
Eu: - Pois é.
Maria: - Muito obrigada filho, você é um anjo. Não é qualquer um que pega filhos dos outros, ainda mais dois de uma vez e grandes já.
Eu: - Eu sei disso, por isso mesmo que o fiz. Quis dar outra chance a eles.
Ela me contou o porque ter sido presa, contou sobre a vida, disse que estava sem drogas há anos, que estava melhor e que sairia em no máximo dois anos. Que trabalhava lá dentro e etc.
Maria: - O pequeno não quer me ver né?
Eu: - Por enquanto não, ele é muito pequeno, não entende sabe? Mas se e quando ele quiser, eu o trago aqui.
Maria: - Brigada fio, pode falar, eu sei que você veio aqui por algum motivo alem de me conhecer.
Eu: - Desculpa, mas é inevitável, eu queria saber, sobre o pai deles, sabe? Eu queria saber quem é, pra se um dia eles me perguntarem, eu saber dizer.
Maria: - Eu não sei quem é.
Eu: - Não sabe? Mesmo?
Maria: - Tem coisas e pessoas, que é melhor não lembrar. Não quero falar sobre ele...
Eu: - Eles tem o direito!
Maria: - Eu não quero falar sobre isso. – Disse meio que gritando comigo.
Eu: - Bom, eu vou embora...
Maria: - Tudo bem, você merece alguma satisfação.
Ela me falou o nome do dito cujo, eu fiquei muito grato, fui embora com a ideia martelando na minha cabeça. Mas eu tinha decidido tentar achá-lo, ver o que eu descobria, de repente, ele nem sabia que tinha os meninos, não sabia o que pensar. Fui até um rapaz, que nem um detetive, passei as informações que eu tinha e paguei os honorários iniciais e ele entraria em contato caso soubesse algo.
Em casa, não contei a ninguém. Disse apenas que tinha ido visitá-la pra conhecer a história dela e dos meninos. Não queria causar confusão com Ricardo por nada e nem dar falsas esperanças ao Will.
Eu não sabia bem no que estava me metendo, mas colocava na minha cabeça que era pro melhor. Mal sabia eu...
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Bom gente, ta aí mais uma parte espero que vocês gostem. Muito obrigado pelos votos e comentários, além do carinho espetacular que tenho recebido de vocês. Qualquer crítica e sugestão são bem vindas.
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Até mais ;)