Continuando
- pai você não vai acreditar no que aconteceu…
- o que foi que aconteceu? Estas a preocupar-me…
- pai, eu vi o Jotapê…
- como assim? Quem é este?
- é um dos rapazes que estava com o grupo de rapazes que me espancou.
- o quê? Como assim o viste.
- ele é da mesma escola que eu?
- oh meu Deus, e ele reconheceu-te?
- não eu reconheci-o. Ele foi nomeado pelo diretor para ser o meu mentor durante esta primeira semana até conhecer bem o colégio.
- e tu o que fizeste?
- eu disse-lhe quem eu era e que não tinha medo nem dele nem de mais ninguém.
- Lucas, tu não podes relacionar com este rapaz ele é perigoso.
- Não pai, não é…
-como assim não. Esqueceste do estado em que eles te deixaram?
- não pai, claro que não. Mas não posso viver a minha vida inteira preso a isto.
- não foi o que eu quis dizer…o que quero dizer é que ele pode querer vingar de ti novamente.
- não ele não vai, ele está arrependido de tudo o que fez. Tanto a mim como a todos aqueles que fez mal antes de mim, na escola. E além do mais ajudou a polícia a prender os membros do grupo que me bateram.
- mas, e porque ele não está preso?
- na verdade ele foi apenas uma vítima deles. Naquele dia era eu ou ele. Aquele grupo já havia feito muita coisa errada e quando ele me deixou caído naquele dia depois de os ter expulsado ele foi a polícia para se entregar e pedir ajuda, mas quando chegaram já não estávamos ali.
- bem, parece que já o perdoaste…
- sim pai, já o perdoei a muito tempo…desde o dia em que me adotaram a mim e ao meu irmão. Se calhar se não fosse eles não nos tínhamos conhecido.
- sim, pode até ser. Mas também não foi a melhor circunstância para ajudar alguém, eu queria que fosse de outra forma.
- eu também, mas foi assim pai. Não podemos fazer nada.
- agora percebo porque estavas triste ontem…
- sim era por causa disso, mas
-mas…há mais alguma coisa que eu deva saber, Lucas Miguel?
- sim…é que eu acho que gosto dele
- o quê? Não posso acreditar…
- já não bastava ele ter-te magoado fisicamente agora também o coração!
- eu acho que ele também gosta…
- não, vocês…
- não pai, claro que não.
- mas não sei até quando vou resistir…
- eu entendo filho mas não quero que te magoes…
- é eu tenho medo, além do mais eu nunca me apaixonei por um rapaz. Sempre achei que isso não fosse acontecer. Sabe é que na verdade eu me sinto atraído por ambos os sexos.
- eu sei que é confuso. Afinal eu passei por isso, mas quando gostamos de alguém e ele gosta da gente tudo pode ser superado.
- mas…ainda não aconteceu nada entre a agente. E eu também não estou preparado para isso.
- quando sentires que é o momento certo, então dás o primeiro passo.
- pai, eu e ele temos um trabalho de grupo para fazer, e o melhor trabalho além de contar para nota…podemos ganhar um fim de semana no campos juvenil.
- a sério? Mas, como assim têm que fazer um trabalho juntos. não havia outra pessoa?
- eu fiquei espantado, mas foi o professor que escolheu as duplas.
-esta bem.
- só que começamos hoje as três
-assim tão depressa?
- sim, ficamos de escolher o tema e fazer o esquema.
- bem vamos almoçar e falamos disso durante o almoço.
- mas o mano vai estar lá e eu quero que isso fique entre nós.
-ok então depois falamos, mas agora vamos comer.
Desceram para a cozinha mas tiveram uma surpresa.
Jotapê estava sentado na sala com o seu irmão e brincavam animadamente e ele dizia:
- o mano está no quarto com o meu pai mas, eles já vêm.
- eu espero, nós temos que fazer um trabalho. E tu estás a gostar do colégio?
- sim muito, já fiz muitos amigos. E fico contente que o meu mano já tenha um também, pois ele chegou triste em casa e pensei que era porque ainda não tinha nenhum amigo.
-mas agora tem a mim, e não vai ficar mais triste… – disse Jotapê e olhou para a cimo da escada e viu Lucas e Stive ali parado observando a cena. Deu pra perceber que ele ficou vermelho de vergonha e levantou-se. Lucas terminou de descer as escadas e perguntou-lhe:
- o que fazes aqui. Nós combinamos a três.
- é…mas quando cheguei em casa não estava ninguém então…vim mais cedo. Desculpa se estou incomodando – disse olhando para Stive que disse:
- não incomodas nada, já almoçaste?
- na verdade não…
- então almoças connosco. Lucas pede a Jacintha para por mais um prato na mesa…
- na verdade ela já pôs – disse Gabriel – ele disse que era amigo do Lucas, então pensei que podia comer connosco, desculpa pai.
-não tens que desculpar filho, fizeste muito bem. Então vamos. Já lavaram as mãos?
- vamos Jotapê lavar as mãos – Gabriel agarrou a mão do rapaz e puxou-o para o banheiro. Ele olhou para Stive que fez sim com a cabeça e sorriu para Lucas que ficou ruborizado. Meu Deus, como ele foi capaz de aparecer assim sem avisar.
- o teu irmão já o elegeu…
- acho que agora vai ser difícil mandá-lo embora…
- tu não o vais mandar embora, ele é nosso convidado.
Lucas olhou para Stive com incrédulo. Como é que poderia aceita-lo assim, sem mais?
- e não me olhes com esta cara, eu sei que tu não o queres fazer.
- pai…
Lucas afastou a rir em direção a cozinha e Stive seguiu-o sorrindo para si. Instantes depois apareceu Gabriel e Jotapê a correr a rirem. Este quando percebeu que Lucas e Stive já estavam a mesa ficou meio sem jeito, mas Stive disse:
- fica a vontade, rapaz senta-te aqui.
Ele sentou-se ao lado de Gabriel e de frente para Lucas. Durante o almoço lançava olhares para Lucas que ficava vermelho que nem um tomate e mal conseguiu comer também conversou muito com Gabriel e Stive chegou a conclusão que tal como Lucas lhe havia dito ele não era mau rapaz. Depois do almoço Stive despediu-se e que precisa de ir trabalhar.
- bem meninos tenho que trabalhar, juízo?
- pode deixar pai, que eu ficou de olho neles – disse Gabriel e todos riram.
- eu sei filho e tu também não te esqueças de fazer o teus deveres de casa e deixar o teu irmão e o amigo trabalharem certo? – esta última parte disse com mais enfase e sorriu para o filho.
Quando Stive saiu Gabriel agarrou a mão de Jotapê e disse:
- vem vou mostrar-te o meu quarto.
- Gaby não estejas a chatear o João Pedro, nós temos que trabalhar.
-mas só dez minutos não faz mal afinal eu cheguei cedo –disse Jotapê e seguiu Gabriel pela escada acima, mas antes virou-se para Lucas e piscou-lhe o olho.
Lucas sorriu envergonhado.
Meia hora depois desciam as escadas a rir animadamente.
Lucas já estava impaciente no sofá a espera. Só não foi lá para não se mostrar muito ansioso.
- desculpa, é que o Gabriel é bom de papo e a gente não se deu conta do tempo passar.
- eu nem me dei conta que tinha passado tanto tempo – mentiu Lucas que depois dos dez minutos estava em pulgas.
- esta bem então vamos fazer o nosso trabalho. Até logo Gaby – Lucas admirou-se da intimidade que já se tratavam.
-até Jota, vemo-nos no lanche.
enquanto dirigiam para o quarto de Lucas ele disse:
-já estão tão íntimos assim? E já combinaram de lanchar juntos?
- o teu irmão é o cara, mas não precisas de ficar com ciúme no meu coração há sempre lugar para mais um.
- ciúme? Achas?
- diz-me tu, então porque esta ansiedade?
- esquece vamos ao trabalho
E entraram no quarto de Lucas. Jotapê olhou para tudo com curiosidade e disse:
- maneiro o teu quarto, mas cadê a cama? –perguntou curioso.
- O meu quarto é tipo um mini apartamento. O quarto é do lado de lá – disse Lucas apontando para a porta.
-humm, legal. Quer dizer que aqui tens total privacidade – disse ele irónico.
- pode-se dizer assim. Para mim o meu quarto podia ser normal. Bastava uma cama e uma secretária para estudar, mas os meus pais quiseram assim.
- legal os teus pais, né. Eu queria uns pais assim – disse Jotapê sorrindo.
- bem, eu acho que pais são todos iguais só muda o endereço, mas o meus são legais sim – disse Lucas sorrindo também.
-caraca!!! Cara, tu toca bateria? Hi!!! Legal esta guitarra, posso?– perguntou curioso.
- é, dou toques… claro que sim
- me mostra…
- nem pensar. Eu não gosto de tocar para público.
- cadê? Disse ele olhando para os lados – que eu saiba sou a única pessoa aqui.
- mesmo assim…
- vá só um pouquinho, por favor – suplicou Jotapê.
- já disse que não vai rolar…
- ok, tudo bem… então me acompanha nesta música - e Jotapê -começou a tocar a Ruedan – Ser Sin Ty ( Fisica O Quimica vol.2-Ost-ES de Diego Martin) – para quem quiser ouvir.
Os acordes da música chamou atenção de Lucas e este foi até a bateria e começou a tocar acompanhando Jotapê que neste momento cantava a música em espanhol olhando nos olhos Lucas que sorria para Jotapê. Lucas estava fascinado com a voz dele. Já o tinha ouvido a cantar em inglês mas não imaginava que a sua voz ficava tão sensual a cantar em espanhol. Embalou no som da música e nem se deu conta quando Jotapê acabou de cantar. Este parou e ficou a olhar para ele e sorrir. Quando ele terminou de fazer o último som, Jotapê aplaudiu e este acordou do seu transe e ficou vermelho que nem um pimento e disse Jotapê.
- para quem não gostava de público deste um show. Tu toca muito cara. Podíamos fazer uma dupla.
- não brinques…
- tou a falar sério. Achas que ia brincar com uma coisa dessas?
- nem pensar…vamos ao trabalho… disse Lucas levantando apressadamente da bateria e tropeçou num dos tambores e quase que ia caindo se Jotapê não o tivesse amparado. Ao sentir o toque de Jotapê amparando-o o seu corpo enrijeceu ficando tenso. Ficou um clima silencioso entre eles e Lucas olhou para cima e encontro com o olhar de Jotapê que também respirava com dificuldade. O clima estava a ficar quente demais. O coração de Lucas batia descompassadamente e Jotapê o podia sentir. As suas cabeças foram-se aproximando lentamente quando o celular de Jotapê tocou arrancando-os daquele momento mágico.