A vida na medicina é muito complicada... leva muitos anos para se formar... e precisa continuar a vida estudando, mas em alguns casos a situação é tão comum que não precisa de explicação ou segunda opinião.
- Como ela está?! – gritou Pedro tirando com dificuldade a gravata borboleta do pescoço.
- Não sei... eles não falaram nada... – disse Priscila chorando.
- Eu vou tentar descobrir alguma coisa. – falou Mauricio indo por uma outra porta.
- Eu sabia que havia algo errado... estava se queixando de dores. – disse Priscila.
- Calma... isso não é hora de apontar culpados... precisamos saber o que ela tem. – disse Pedro tentando mostrar uma tranquilidade que não existia. – Você... você já avisou para o papai?! – perguntou.
- Sim... ele disse que o Phelip não está em casa... e o celular dele não atende. – disse Priscila chorando.
Sim. Aquela não seria tranquila para a família Soares. Na praça da cidade, Osvaldo e Fernanda estavam tendo uma noite agradável, eles perceberam alguns pontos e comuns, desenvolvendo uma conversa bacana.
- Quer dizer que você saltou de bung jump pelado?! – perguntou Fernanda.
- Hum rum. Nunca mais eu faço isso. – ele disse tentando tomar o sorvete e falar ao mesmo tempo.
- Legal. Olha... o Phelip e o Duarte... meninos!! Aqui!!! – gritou Fernanda.
- Você vai chamar eles?! – perguntou Osvaldo.
- Sim... tem algum problema para você?
- Não... não muito.
- Osvaldo... eles são gays sim, mas os dois são maravilhosos. Acho que um jovem como você não deveria ter esse tipo de pensamento.
- Que tipo de pensamento?
- Oi gente!! – disse Phelip sem perceber o clima.
-Oi Fê. – falou Duarte sentando.
- E ai gente... decidiram sair da toca? – brincou Fernanda.
- Ei Viados!!!! – gritou um rapaz do outro lado da praça.
- Idiotas. – disse Fernanda revoltada.
- Quem falou isso?! – gritou Osvaldo se levantando e quase derrubando a mesa.
- Ei Osvaldo... para com isso! – disse Phelip segurando-o.
- Quero saber quem foi esse otário!!! Vem cá viadinho... fala na nossa cara!!! – gritou.
Todos na praça ficaram olhando a confusão. Demorou alguns minutos para Osvaldo se acalmar.
- Não sei como vocês aguentam!! Eu quebrava logo a cara de um filho da puta desse!!!
- Não é dessa forma cara. – disse Duarte.
- Porra mano... por isso que vocês apanham por aí!!! – disse Osvaldo saindo e deixando todos pra trás.
- Nossa! – disse Duarte passado.
- Eu... eu... – Fernanda não conseguia construir uma frase.
- Vem... te levamos para casa. Deixa eu pegar a chave na minha mochila. – Phelip falou enquanto buscava a chave. –
Nossa 15 chamadas no meu celular. É a Priscila e do Papai... será que aconteceu algo?
Na sala de exames Paula tentava relaxar e seguia os mandamentos do Dr. Edson.
- Não se preocupe Dona Paula... qualquer problema que a senhora tiver essa beleza vai identificar e vamos trabalhar juntos para a sua saúde se restaurar. – falou o médico.
- Obrigada.
Paula fechou os olhos e lembrou vários momentos de sua vida. Parece que estas experiências com doenças deixam as pessoas mais acessíveis as memórias do passado.
Phelip chegou no hospital no momento em que sua mãe de criação saia da sala de exames. Os três filhos e o marido de Paula ficaram apreensivos com os resultados. Dr. Edson entrou no quarto e trouxe uma notícia que mudaria a vida da família Soares.
- Bem... infelizmente trouxe notícias desagradáveis... – disse ele.
- Calma! – disse Pedro falando para si mesmo.
- Depois de fazer e refazer a mamografia as minhas suspeitas foram confirmadas... a senhora está com câncer de mama.
Naquele momento o chão de todos caiu. Ninguém acreditava no que saia da boca de Edson. Era uma realidade dolorida, mas que era verdade.
- E o que vamos fazer agora Dr. Edson? – perguntou Mauricio segurando firme a mão de Pedro.
- O quadro da Paula está agravado... está afetando a estrutura óssea, então precisamos começar um tratamento intensivo de quimioterapia. – ele falou.
Todos ficaram assustados com o que estava acontecendo. Em nenhum momento Rodolfo saltou a mão de sua esposa. Seu coração estava despedaçado, ele desejava que a doença passasse para ele evitando dessa forma o sofrimento daquela que tanto amava.
- Eu vou morrer? – perguntou Paula controlando as lágrimas.
- Não posso te afirmar isso... depende muito do tratamento, mas se isso fosse diagnosticado mais cedo... talvez houvesse .... – disse o Dr. Edson se calando em seguida.
- Mãe... porque a senhora não avisou antes? – perguntou Priscila se aproximando.
- Eu estava com medo minha filha. – disse Paula chorando.
- Não se preocupa mãe... daremos um jeito de enfrentar tudo isso. – disse Pedro beijando fortemente sua mãe.
Fernanda, Duarte e Carlos não conteram o choro. Paula era querida e admirada por muitas pessoas naquela cidade. Era um exemplo de classe e determinação.
- Vamos superar isso. – disse Pedro se aproximando e pegando na mão de sua mãe.
Ele sentiu a mão de sua mãe gelada, as mesmas mãos que o pegaram no colo, que deram de comer, que acalentaram quando estava triste. Pedro chorava por dentro, mas manteve-se firme na frente de sua mãe.
- Gente... eu odeio ser indelicado, mas a Paula precisa descansar. Peço que todos aguardem na sala de espera. – falou o Dr. Edson.
- Eu agradeço a presença de todos... realmente eu preciso dormir... os remédios estão fazendo efeito agora. – disse Paula sonolenta.
- Eu te amo. – disse Phelip abraçando a mãe de coração.
- Fica bem mãezinha... – falou Priscila abraçando a mãe.
- Força... vamos ser fortes juntos... eu te amo muito. – disse Pedro.
Todos se despediram de Paula e foram para a sala de espera. Dra. Alexia se assustou quando encontrou todos na sala de espera. Mauricio explicou tudo à médica que chamou o Dr. Edson em seu escritório.
- Quero o melhor tratamento para a Dona Paula, estamos entendidos?
- Sim senhora.
- Qual é o quadro? – perguntou a médica tirando os óculos do rosto.
- Complicado, ela escondeu por quase um ano a doença... e o câncer está se espalhando. Precisaremos fazer uma biopsia... espero que Deus a ajude. – falou pedindo licença e saindo da sala.
Aquela noite todos ficaram no hospital. Parecia um jogo de silêncio. Mauricio e Pedro estavam de smokings sentados no chão, Priscila estava sentada ao lado de Caleb com o nariz vermelho de tanto chorar, Phelip e Duarte estava em pé próximo de Fernanda. Poucos minutos depois chegaram Luciana, os pais de Mauricio e algumas amigas de Paula.
- E como ela está? – perguntou Antônia aflita.
- Bem na medida do possível. Está descansando... mas... mas... – disse Pedro chorando, abraçando a sua sogra.
- Calma meu filho... vai dar tudo certo... sua mãe é uma mulher forte... – falou Antônia apertando o seu genro.
- Gente... isso é surreal... não acredito. – disse Luciana sentando ao lado de Priscila.
- Eu também não acredito amiga... eu também não acredito.
- Mas precisamos ter fé... – disse Mauricio chamando a atenção de todos. – A vida da Paula não vai ser mais simples...
sérias decisões serão tomadas a partir de amanhã e todos precisam estar preparados para o que vai acontecer... se não... ela vai se desesperar e o tratamento contra o câncer não vai funcionar... precisamos ficar unidos...
- Ele tem razão... 50% do avanço em tratamentos de câncer vem da família... e a dona Paula não vai ter problemas nesse quesito. – falou Vinicius tentando alegrar as coisas.
- Eu sei que muitos não são fieis, mas podemos fazer uma oração... uma oração importante para nossa vida ela está em Mateus capitulo 6 e fica nos versículos 9 ao 13. – disse Antônia segurando a mão de Mauricio.
- Claro mamãe. - falou Mauricio segurando firme na mão de Pedro
“Pai nosso que estás no céu
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Vosso nome.
Venha a nós o Vosso Reino.
Seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu.
O pão nosso de cada dia nos daí hoje.
Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
E não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém”
Todos ficaram emocionados durante a oração. Afinal a pessoa que estava passando por necessidade era alguém especial, solidária, amiga de todas as horas, mãe exemplar e avó carinhosa. Dentro de um só coração muitas qualidades se misturavam e dessa vez ninguém podia fazer nada para parar... a não ser esperar pelo amanhã... e isso... é pior do que toda a dor que podemos ter na vida.
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