• 5 – Grandes tempestade
Três dias difíceis e cheios de surpresa se passaram e Eu ainda me sentia um pouco péssimo, Eu estava tenso; pelo José, pelo Acácio, pela Sofia e por mim mesmo. Os fatos recentes atormentavam minha cabeça em qualquer lugar que Eu estivesse: seja na rua, em casa, na escola e até mesmo em meus sonhos e devaneios. Ao menos, nesses últimos três dias minha cabeça estava sendo ocupada pelas brincadeiras de meus amigos – Grande parte devida à Celina – e pelas aulas de Box que o Marcos me indicara para aliviar a tensão.
Era uma quinta-feira à noite e Eu já me arrumara para ir à academia. Enfim, estava fazendo algo valer a pena em minha vida. Minha rotina mudara completamente desde que José pediu-me para não caminhar pelas madrugadas. Graças ao José e, principalmente, ao Marcos descobri que academia é várias vezes melhor que uma simples caminhada. A academia me mostrava bem mais resultado. Além do mais, com as aulas de Box Eu me tornara uma pessoa resistente, forte e... Feliz. Sim, feliz. Acho que todo esporte é bom quando nós damos o seu devido valor.
Logo quando Eu cheguei à academia, meu professor pediu-me para que Eu fizesse uma série de alongamentos e depois me mandou ir para a corda. Meu professor era um homem de seus 1,76 e 80 quilos, mais ou menos, devia ter 45 anos de idade e gozava da boa saúde. Ele era realmente um homem bonito e, para a sua idade, parecia-me jovem. Logo depois da corda, fui aquecer-me para os exercícios e pegar peso. O personal da academia tratou de me indicar séries para dois grupos musculares. Logo em seguida, dirigi-me para a nutricionista que tirou minhas medidas; Eu havia “engordado”. Fato! Porém, Eu havia aderido massa muscular e perdido a pouca gordura que tinha. Minha barriga ganhava gominhos mais resistentes e minha cintura agora se tornava mais máscula, sem deixar as minhas curvas de lado. Eu realmente estava adorando aquele lugar. Aquilo tudo me fazia muito bem. Depois fui treinar o Box com o meu amigo Eduardo (Um garoto que conheci de lá mesmo, porém estudava na mesma escola que Eu frequentava) e com o Marcos, que não tirava os olhos de Acácio.
Quando dei por conta do horário, já se passavam das 21h30min. Liguei para papai e pedi para ele buscar-me. E ele foi. Chegou lá, cumprimentou meus amigos e professores e depois se direcionou para o carro. Eu havia notado certo desconforto no olhar de meu pai. Aquele não era seu semblante. O Geraldo que estava ali na minha frente era totalmente outro daquele que Eu costumara conhecer/ conviver.
– Está acontecendo alguma coisa, papai? – Ele não me respondeu. – É com o senhor e com a mamãe? – Ele apenas assentiu que sim com a cabeça.
Eu sabia que alguma coisa havia acontecido para meu pai ter ficado daquele jeito. Logo, prossegui:
– O que o senhor fez? Estão brigados?
– Nós estamos bem. Ao menos sua mãe fingi estar bem. – Ele falou rodando a chave no carro e dando partida. – Eu recebi uma noticia que não a agradou.
– E que noticia seria essa, Sr. Geraldo?
– Você quer mesmo falar sobre isso?
– Não quero ficar perguntando a toa, papai. Diga-me logo! Estas me matando de curiosidade.
– Eu não sei como falar isso para você, filho. Mas... É que... Seu irmão mais velho virá morar conosco. – Até esse momento, Eu não sabia que papai tivera uma família antes de mim e de minha mãe. Ele nunca comentara. Eles nunca comentaram.
Papai, vendo minha cara de quem não entendeu nada, prosseguiu:
– Sua mãe teve a mesma reação. Pois bem. Antes de conhecer sua mãe, Eu já havia tido uma família, mesmo sem saber; porém, a mãe da garota que Eu amava na época decidiu mudar-se para a capital, levando sua filha comigo. Logo após o ocorrido, Eu encontrei sua mãe, e dois anos depois de nosso relacionamento você nasceu. Uma das causas de minha separação com a sua mãe fora a família da moça que havia me informado de que ele estava criando um filho, sozinha, e que precisava de apoio. Como Eu já era concursado na época, senti-me na obrigação de ajudar as minhas famílias. Para não fazer sua mãe sofrer, permaneci na capital e pedi para que ele voltasse a Colônia Porém, antes que você me martirize, Eu não mantive nenhuma relação sexual com aquela moça. Dediquei-me aos estudos, ao trabalho e as minhas famílias. Hoje tudo o que tenho Eu adquiri com meu esforço. Desculpe-me filho!
– O senhor não me deve desculpas, papai. – Abracei-o e percebi um sorriso em seu rosto. – Eu só não sei onde meu irmão entra nessa história.
– A mãe dele morreu essa semana. Ele é maior de idade, porém envolveu-se com pessoas que não devia. A avó dele está desesperada e como solução, pediu-me para que cuidasse dele. Não poderia dizer não ao meu filho, ainda mais nesta situação. – Uma lágrima caiu dos olhos de meu pai. – Sua mãe não aceitou a ideia, e agora ela encontra-se com raiva de mim, por Eu ter omitido, por tanto tempo, a verdade.
– Eu achei justo o que o senhor fez, papai. Quanto à mamãe, não se preocupe! Eu conversarei com ela e tentarei convencê-la. Mas responda-me! Quando meu irmão chega?
– Provavelmente amanhã. E se não houver problemas, irei matriculá-lo em sua escola. Por favor, Walmir, apresente-o aos seus melhores amigos e não o deixe ficar perto de más influências.
– Sem problemas. Não vejo uma má influência naquela escola.
O carro caminhou mais um pouco pela a estrada e depois de alguns minutos chegamos a casa. Desci do carro e fui direto para meu quarto, enquanto papai estava a guardar o carro na garagem.
Ao chegar ao quarto, peguei meu celular e mandei uma mensagem para José o avisando sobre o que aconteceu. Direcionei-me ao banheiro e tomei um banho bem relaxante. Quando Eu saí da ducha havia uma mensagem do José dizendo que ele viria para a minha casa ver o meu irmão e que não perderia aquilo por nada. Por fim, deitei em minha cama e adormeci.
Era uma sexta feira e Eu havia matado aula para esperar meu consanguíneo. Decidi que iria à escola apenas para treinar os animadores. Aproveitei minha “folga” para conversar com mamãe que me afirmara que tentaria ouvir meu pai. A ansiedade em vê-lo apertava meu coração juntamente com a dor que Eu sentia por causa de meus amigos e por causa da saudade que Eu sentira do José.
Por volta das 10h30min o meu irmão chegou. Meus olhos não acreditavam no que vira; meu irmão era um garoto alto, mulato baixo, aparentado ter 1,80 e tinha o porte de “Garoto de Academia”. Mamãe e Eu estávamos estáticos vendo ele e papai tirando as malas do carro. Papai abraçou mamãe e apresentou-a para o meu irmão:
– Suzana? Esse é meu filho, Rafael. – Rafael estendeu a mão e mamãe o abraçou.
– Estou feliz por ter você em minha casa. Geraldo? – Mamãe falou olhando para meu pai. – Depois conversaremos.
– Okay! – Papai afirmou sem olha-la.
– Rafael? Esse é o seu irmão. O Walmir. Não vai cumprimentá-lo? – Estendi minha mão para Rafael, porém esse não a pegou.
– Eu não vou apertar a mão de um veadinho. – Nós ficamos abismados ao ouvir aquilo. – Aliás, papai, como o senhor admite uma aberração dessas em sua casa?
– Não fale assim com ele, Rafael! – Papai falou aborrecido. – Eu não criei um filho preconceituoso.
– Antes preconceituoso que veado. Aliás, prometo lhe dar netos. Coisa que esse daí nunca lhe dará. – Eu apenas ouvia o que meu irmão falava. Raiva? Eu não estava sentindo. Para mim, o que saia daquela boca era um monte de merda.
– Relaxa, papai! – Eu falei tentando acalmar os nervos. – O que Eu menos preciso é de uma discussão em família. Seja bem-vindo, Rafael. – Falei mostrando meus dentes perfeitos e brancos em uma demonstração de afronta.
– Você ainda tem que aprender muita coisa, garoto. – Falou minha mãe direcionada ao Rafael, que nada respondeu.
– Vamos guardar as malas, Rafael. Precisamos conversar. – Papai falou. Os dois entraram em casa e mamãe os seguiu.
Fiquei por alguns minutos ainda em frente ao portão de minha casa até que recebo uma mensagem, era o José dizendo que estava no jardim me esperando. Até hoje não consigo descrever a emoção que senti ao receber aquela mensagem. Corri... Corri... E não encontrei nada. Apenas percebi um vulto se aproximando.
– O veadinho está perdido, é?
– Você o chamou de quê? – Ah! É claro. As coisas poderiam piorar.
Antes que Rafael pudesse responder, José acertou-lhe um soco forte e violento que fez com que Rafael tropeçasse e caísse no chão. Rafael ainda tentou levantar-se, porém José o surpreendeu com mais um soco na barriga e sequências de soco na cara.
– Repete o que você falou, seu merda! – O semblante de José havia se tornado de puro ódio. Rafael nada respondera, ainda tentava se recuperar da surra.
– José, acho melhor você ir embora. – Agora Eu sussurrava em seu ouvido. – Esse é o meu irmão, Rafael. Papai não irá gostar de saber que você o bateu.
– E se ele te machucar, Baixinho? – Ele respondeu, também, sussurrando.
– Ele não vai. Agora vá embora!
E ele se foi, sem antes demonstrar qualquer tipo de afeto por mim; não era hora, tampouco momento. Meu irmão ainda tentava se recuperar da briga. Por fim, vendo toda a dor que ele sentia, acudi-o.
– Levanta, Rafael!
– O que foi que aconteceu? Cara, Eu não vi nada.
– Você apenas me chamou de algo errado, na hora errada. É melhor ir descansar agora.
– Putz cara! Não. Eu tenho que descobrir quem fez isso comigo.
– Vai por mim, não vai adiantar nada você descobrir isso. – Falei com um sorriso esplendoroso no rosto.
No fundo, Eu havia gostado da surra que o José o aplicara. Subi com o Rafael até um dos quartos de hóspedes e o deixei lá. Deitei-me na cama tentando esquecer o ocorrido, porém o celular tirou-me do meu “momento silencioso”.
– Quem é? – Perguntei na esperança de que fosse o José.
– Amigo? – Falava uma voz triste no outro lado da linha.
– Sofia é você? O que está acontecendo? – Perguntei preocupado com medo de sua resposta.
– Amigo? Eu perdi o meu bebê. Eu estou sangrando...
Nem esperei ela falar o resto da frase; desliguei o celular e pulei da cama para arrumar-me e ir busca-la onde sei lá ela estivesse.
...
Em minha cabeça, Eu ainda tinha esperança.