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Lucas também começou a chorar por se lembrar de tudo o que lhe havia passado. Mas chorava mais ainda de raiva. Sim, raiva, de si mesmo por estar ao lado de pessoa que lhe tinha mais mal na vida e não conseguir odia-lo. Pelo contrário sentia-se atraído por ele. Tudo o que lembrava era daqueles olhos verdes cheios de lagrimas. Implorando o seu perdão. Não que, não o tivesse perdoado, mas o seu orgulho lho impedia de dizer para não se mostrar fraco.
Chegou na sala e não falou com ninguém. Ficou ali até a aula em silêncio e para seu agrado Márcia não se aproximou dele para saber o que se tinha passado. Depois da última aula foi buscar o irmão e Matheus já estava a espera deles. O irmão estava empolgado a contar como foi o seu primeiro dia de aulas que não teve que conversar muito até chegar a casa. Quando chegou a casa foi direto para o seu quarto e deitou a cama e chorou até adormecer.
Sonhou com Jotapê ajoelhado a pedir-lhe perdão, chorando. Ouviu-o chamar seu nome e acordou assustado. Olhou para o relógio e já eram quase cinco horas. Só então se deu conta que não tinha almoçado e por isso estava com muita fome. Tomou um banho e desceu para comer qualquer coisa.
Encontrou Jacintha na cozinha que lhe perguntou:
- então o teu primeiro dia de aula foi assim tão mau ao ponto de não quereres almoçar?
- não, apenas estava muito cansado.
- humm, está bem mas esta carinha triste que tens é porque então?
- não é nada não. só estou mal disposto por ter dormido muito.
Jacintha viu que ele não estava disposto a continuar a conversa então deixou-o em paz.
Novamente pensou em Jotapê, no seu olhar triste e choroso. Não conseguiu tirar a sua imagem da cabeça. Depois lembrou-se dele a sorrir. Realmente tinha um sorriso lindo. Pena ser quem ele era. E decerto, não havia nenhuma chance de acontecer nada entre eles. Bonito como era tinha a mulherada do colégio inteiro a seus pés.
Pensou será que ele tinha sido sincero ao pedir-lhe perdão? Ou ele só queria ficar bem consigo mesmo?
Imaginou-o nu a correr no dia em que foi agredido. E riu-se para consigo. Ele não se lembrava de nada, apenas do que Stive lhe contou, pois neste momento estava quase inconsciente no chão.
Afastou estes pensamentos e decidiu ir fazer os trabalhos escolares para esquece-lo um bocado. Aliás repreendeu-se por estar a pensar nele.
Depois de terminar os trabalhos ligou o computador para ver os mails. Ao abrir o facebook encontrou um pedido de amizade de Márcia que aceitou logo e de outras pessoas do colégio que decidiu não aceitar até conhecê-las bem. Entre eles estava um pedido que estranhou muito e tinha uma mensagem. Era de uma tal João Pedro. Quando abriu a mensagem é que se deu conta que era Jotapê:
“Eu sei que não mereço o teu perdão, mas mesmo assim é preciso dele para continuar a viver. A minha vida perdeu sentido desde aquele fatídico dia, nunca mais me consegui olhar no espelho sem me lembrar do mal que eu te fiz. Se algum dia me puderes perdoar serei eternamente grato por isso. Eu já pedi aos meus pais para me mudarem de colégio ou para a parte da tarde para não perturbar a tua paz. Sei que sou a última pessoa que queres ver neste mundo. Mas ainda falta-me uma coisa para fazer e amanhã depois de fazê-lo vou-me embora para sempre e não terás que me suportar mais”.
Ao terminar de ler a mensagem Lucas chorou pois, não imaginava que o seu perdão fosse assim tão importante para ele. Mas ele já o tinha perdoado não lhe tinha dito. Queria vê-lo sofrer para que sentisse um pouco da dor que ele sentiu nos últimos meses. Também não deixou de pensar qual seria a última coisa que ele tinha dito querer fazer amanhã para depois deixar o colégio.
No outro dia acordou cedo e quis ir cedo para o colégio. Quando desceu as escadas Stive estava se preparando para ir acorda-lo e ficou surpreendido.
- o menino hoje caiu da cama? Ontem conheceu alguém que quer ver cedo na escola?
- nada disso pai, só não quero chegar atrasado.
- ok. É bom ver a tua dedicação – disse Stive irónico – então podes ir tomar o pequeno - almoço que vou buscar o teu irmão.
- Aqui estou eu - disse Gabriel no cimo das escadas.
- estou a gostar de ver que os meus filhos são pontuais.
Tomaram o pequeno-almoço cheio de pressa e logo saíram com o Matheus. Quando chegaram no colégio não tinha quase ninguém. Mas uma faixa no corredor do ensino médio chamou a atenção de Lucas. “me perdoem, por favor”. Só podia ser Jotapê. Mas nem ligou e entrou na sala. No quadro estava escrito aula no auditório. E dirigiu-se para lá. No caminho encontrou-se com Márcia que depois de o cumprimentar perguntou:
- onde vais a estas horas? A sala é para ali.
- eu sei, só que no quadro está escrito que a aula é no auditório.
- porquê será?
- só vamos saber se formos até lá.
- verdade, então vamos lá.
Quando chegaram no auditório, admiraram-se por verem ali todas as turmas do colégio. Todos falavam uns com os outros sem nada entender.
Também no palco do auditório estava o mesmo cartaz com a frase que estava na entrada.
O sinal estava quase a tocar quando no palco surgiu Jotapê sozinho com uma guitarra a tiracolo. Olhou para todo o auditório como se estivesse a procura de alguém em especial, e Lucas ao aperceber-se disso encolheu-se na cadeira mas já era tarde. Os seus olhares encontraram-se e Lucas teve a certeza que não o odiava. Ele estava lindo com umas calças de gangas rasgado no joelho e uma t-shirt preta com a mesma frase. Aproximou-se micro e começou a falar.
- bom dia gente, eu sei que estão a estranhar a vossa presença aqui, mas pedi ao diretor e ele deu autorização para isso. Também devem estar a perguntar o porque desta frase, mas passo a explicar. Eu nunca fui um bom colega e um bom aluno para todos vós. Infernizei a vida dos professores e dos meus colegas só para causar impressão e marcar o meu lugar, pois me sentia inseguro. Achava que só assim me respeitariam. Muito dos meus colegas me idealizaram e quiseram ser como eu. E hoje percebo o mal que lhes fiz, e queria perdir-lhes perdão por isso. Alan, Jorge, Gustavo, Leonardo, eu sei que por minha causa tornaram-se o terror dos professores e dos alunos principalmente os mais novos. A vocês também caloiros e ex-caloiros dos quais infernizei a vida e a todos que de uma forma ou de outra fiz algum mal, por favor me perdoem. Para mostrar o meu arrependimento vou deixar este colégio e nunca mais me verão e assim poderão viver em paz sem a minha indesejável presença – dizia olhando especialmente para Lucas. Esta canção que vou tocar é dedicado especialmente para todos vós. Eu sei que para muitos será difícil me perdoarem, mas ser-vos-ei eternamente grato se o fizerem.
Ele começou a tocar e quando começou a cantar toda a gente ficou maravilhada com a linda voz que ele tinha. Na verdade nunca havia tido coragem para o fazer a frente de tão grande público sempre se escondeu por detrás da máscara de bad-boy e nunca mostrou o seu talento. A música era sobre o perdão e era linda. O coração de Lucas começou a bater mais forte e voz de Jotapê entrava nos seus ouvidos como uma melodia mais linda, que jamais escutara.
Ao terminar a música estava chorando e todo mundo admirou-se por ver a cara mais duro do colégio a chorar e ouvia-se:
- meu Deus, ele está a chorar! Que lindo dizia uma menina na cadeira atras.
Outra dizia:
- ele precisa de colo
- esse cara só pode estar maluco se humilhar desse jeito na frente de todo mundo: disse uma voz que Lucas reconheceu logo. Era Alan.
- tu não sabes o que isso significa para ele não é Alan? Tu és mesmo burro - dizia outro. Eu sempre soube que Jotapê tinha bom coração e o que fazia era para chamar atenção.
- mas daí fazer isso…
- se é a forma que ele achou para se desculpar agora que vai deixar o colégio, eu como seu amigo vou apoia-lo.
E o rapaz levantou-se e começou a bater palmas, todos ficaram a olhar para ele depois um a seguir a outro começou a levantar-se dos professores ao último aluno. Lucas porém, continuou na cadeira sem saber o que fazer. Entretanto Jotapê disse:
- eu ainda não terminei. Vou contar-vos uma história que se passou comigo a mais ou menos um ano que me tem torturado e me fez mudar um bocado e eu sei que vocês o notaram.
- há uns meses atras eu conheci um grupo radical através de um amigo de fora do colégio e começamos a andar juntos. Saíamos a noite, fazíamos festas e eu achava aquilo tudo muito fixe até ao dia em que descobri também assaltavam pessoas e lojas. Mas com o tempo fui-me acostumando com aquilo e eles diziam que tiravam das pessoas aquilo que lhes sobrava.
Mas num dia a noite encontramos um grupo de homossexuais e eles começaram a xingá-los bateram-lhes e diziam que eles mereciam morrer. Também começaram a bater em jovens prostitutos e naqueles que de forma ou de outra procuravam uma forma de sobrevivência na rua. E o meu pesadelo começou numa dessas noites. Voltávamos de uma das nossas festas quando vimos um rapaz que fazia biscates na rua e um dos meus colegas dirigiu-se a ele e esbarrou-se nele de propósito e pôs-lhe qualquer coisa no bolso e depois acusou-o de roubo e para que eu fosse admitido no grupo definitivamente disseram-me para dar uma surra no rapaz. O seu olhar era assustador e suplicante e dizia não ter feito nada. E o pior de tudo é que sabia. Como estava hesitante disseram-me que ou bati-lhe ou iam-me bater até não me conseguir levantar. Fiquei muito assustado e comecei a bate-lo depois veio outro e outro neste momento eu parei e eles disseram que agora era com eles, pois eu tinha provado que era um deles. Foi neste exato momento que chegou um cara que parou o carro e socorreu o rapaz. Mesmo assim fui obrigado a enfrenta-lo mas ele era mesmo bom de luta, e deu uma surra na gente. Quando olhou para o rapaz no chão todo ensanguentado obrigou e tirar a minha roupa para ele vestir e levou-o consigo e cuidou dele. Eu fiquei traumatizado com aquilo e dizia para mim mesmo que eu não era igual a aqueles rapazes, mas uma voz interior me dizia sempre que sim, pois tinha feito algo horrível. Passei muitas noites sem poder dormir ouvia os gritos de dor daquele rapaz nos meus ouvidos. Então, decidi que ia abandonar o grupo, mas se o fizesse era bem capaz de ser morto. Então fui a polícia de denunciei-os e eles me propuseram livrar da cadeia ou do reformatório se os ajudasse a prendê-los. Eu concordei e disse-lhe que os meus pais não poderiam saber. E eles concordaram. Então numa noite em que eles iam fazer uma grande assalto telefonei a polícia e eles foram todos presos. Hoje eu sei que eles estão todos presos e não podem fazer mal a ninguém. Foram acusados de vários crimes e não sairão da cadeia tão cedo. Eu pensei que isto me faria sentir melhor mas, nem por isso. Passei a sair a noite na esperança de encontrar o rapaz e pedir-lhe perdão. Procurei por muito tempo mas nada. Cheguei a pensar que ele havia morrido e então a consciência não me deixava descansar acusando-me de o ter morto. Mas recentemente descobri que não morreu e que está bem. Mas recusa-se a me perdoar e eu compreendo depois de todo o mal que lhe fiz. Por isso vou-me embora para que ele não tenha o desprazer de me encontrar e lembrar-se de tudo o que viveu por minha causa.
Esta é a última canção que cantarei e vai especialmente para ele. Podem estranhar o facto de dedicar uma canção a um rapaz mas quero que saibam também que apesar de minha fama de pegador eu sou bissexual e ele mexeu com o meu coração desde aquela noite.
Depois desta declaração ouviu-se um, ohhhhhhhhhhhhhhhh de todo o auditório. Márcia olhava para Lucas espantada.
- mas este rapaz só pode ser tu, Lucas! – disse ela admirada.
- estás maluca? Eu? Não com certeza deve ser outra pessoa qualquer.
- não, eu bem vi a forma que ele te olha, e não é um olhar de vingança.
- Márcia não sejas ridícula…além do mais não há qualquer chance entre mim e ele.
- mas ele acabou de dizer que mexeste com o seu coração.
- ele disse o rapaz e não eu em particular.
- mas, e se for você?
- não quero saber
- mas ele vai-se embora
- que vá…
- mas vais perdoa-lo?
- eu nunca o odiei, e já lho perdoei faz tempo e só não lhe disse ontem por orgulho e queria que sentisse aquilo que senti na altura.
- então diz-lhe agora – incentivou Márcia.
- não de jeito nenhum. Jamais.
- shiuuuu, ele vai começar a cantar – ouviu-se alguém dizer atras.
ele começou a cantar uma canção de Bryan Adams “Please Forgive Me”. Cantava com os olhos cheios de lágrimas e todos começaram a cantar com ele. Olhava diretamente para Lucas e este percebeu que a canção era para ele. Márcia olha para Lucas e disse:
-ainda tens alguma dúvida?
Lucas levantou sem dizer nada e fugiu da sala a correr. Todos estavam a cantar que a exceção de Márcia mas ninguém deu-se conta.
Quando saiu do auditório começou a chorar amargamente. Aquilo não podia estar a acontecer. Agora que estava tudo bem. Porque meu Deus? Ele não merecia passar por aquilo novamente. O que tinha feito para merecer tão grande castigo?
Perdeu a mãe e o pai abandonou a ele e ao irmão e não sentiu tamanha dor. Porque no fundo sabia que eles não os amavam. Eles sempre foram uns estorvos nas suas vidas sem regras que eles levavam. Por isso disse a si mesmo que ia cuidar do irmão custa o que custasse e conseguiu até ao dia em que foi espancado. Então se deu conta que sozinho não ai conseguir, mas apareceu Stive e Stuart que lhe mostrou que também tinha o direito de ser amado e de ter alguém que cuidasse deles. Apaixonar-se pelo Jotapê que, fora culpado de tudo era uma traição a si mesmo, ao seu irmão e aos seus pais. Não definitivamente, não. Foi arrancado dos seus pensamentos pela voz de Márcia que disse:
- procurámos-te por todo o colégio.
Lucas levantou a cabeça assutado, e o que viu fez o seu coração bater descompassadamente. Ficou completamente sem chão quando olhou nos olhos de Jotapê que ainda estavam vermelhos por ter andado a chorar. Não conseguia articular uma palavra sequer, limitou-se a baixar o olhar e Márcia disse:
- bem vou deixar-vos a sós. Têm muito que conversar.
O QUE QUER JOTAPÊ? SERA QUE LUCAS VAI OUVI-LO? TEREMOS QUE ESPERAR PELO PROXIMO CAPITULOL.