CAPÍTULO I – Há males que vêm para o bem
Era dia 02 de Fevereiro, vulgo “primeiro dia de aula” do ano letivo. Aquele dia em que todos os estudantes têm um gás maior do que o normal para ir ao colégio, mas eu não. Estava indo para um novo colégio, e adaptações são sempre complicadas; principalmente comigo, que não faço amizades facilmente e sempre fui reservado, na minha. Eu estava com 15 anos, mas, como sou um pouco adiantado, iria começar a cursar o primeiro ano do Ensino Médio.
Acordei bem cedo, afinal, morava a 50 km de distância da escola, e iria de Escolar com mais 10 pessoas: três meninas que aparentavam ter a minha idade (ou um pouco mais novas), quatro adultos e três meninos, todos com aparência de 17 ou 18 anos. Ouvi o soar da buzina da VAN e entrei: nem imaginava que estava dando o primeiro passo para o ano que mudou minha vida. Ops! Já ia esquecendo-me de me apresentar. Meu nome é Pedro e tenho 17 anos. Sou branco com um corpo normal (um pouco definido), tenho cabelos negros e curtos e olhos castanho-claros. Possuo cerca de 1,65 m de altura e peso uns 60 kg. Não sou um deus grego, mas chamo a atenção. Voltando ao conto...
Entrei na VAN, coloquei meu fone de ouvido e sorteei as músicas no Ipod, saindo justamente a minha preferida: Livin On A Prayer, do Bon Jovi, que é também meu cantor favorito. Como tive dificuldade para dormir na noite anterior (depois de meses e meses dormindo 04h da matina, deitar às 22h é bastante complicado) acabei adormecendo. O trajeto até a escola durava umas duas horas; sendo assim, passei essas duas horas repousando. De repente, senti algo encostando em mim. Acordei. Quando olhei para o lado, estava um dos meninos do Escolar sorrindo. Na época eu não entendi o porquê, mas ver aquele garoto branquinho de cabelos negros, magro, com olhos verdes e consideravelmente alto me encarando e sorrindo para mim me deu uma sensação duvidosa, quase como se eu estivesse atraído por ele. “Acorda rapaz. Já chegamos à sua escola”, foi o que ele disse, me tirando do “transe” em que me encontrava e fazendo afastar aqueles pensamentos “idiotas”.
Agradeci a ele por ter me despertado e saí da VAN, me dirigindo à portaria da escola. Desastrado que sempre fui, bastou dar alguns passos no interior do colégio e acabei derrubando alguns livros que se encontravam em minhas mãos, propiciando risadinhas para alguns babacas. Aprendi desde cedo a não dar atenção para esses caras, mas admito que essas “zoações”, por menor que fossem, me irritavam profundamente.
Aqueles garotos rindo do meu jeito um pouco destrambelhado me fizeram lembrar o Leonardo, um garoto da minha antiga escola. Estudei com ele durante quatro anos, e durante todos esses anos estudando juntos sempre nutrimos uma espécie de inimizade um pelo outro. Leo, como ele era chamado, não cansava de me atormentar: me empurrava nos corredores, jogava minhas coisas no chão, fazia piadinhas sobre meu jeito um pouco “nerd”. Eu não era nenhuma donzela indefesa, mas nunca gostei de brigas, então acabava deixando pra lá.
Algumas pessoas podem até pensar que tudo isso não passam de “brincadeiras” e que esse tipo de comportamento não afeta ninguém; contudo, para um garotinho de dez anos, aquilo era motivo de ficar com muita raiva e também tristeza. A crueldade do garoto chegou a ponto de me fazer implorar para os meus pais a transferência daquele colégio, e acabaram me atendendo, chegando, então, ao ponto onde eu estava naquele momento, andando no corredor e chegando à minha sala, que tinha o número “101” estampado na porta.
Entrei e logo fui procurando um lugar na frente para me sentar (coisa de quem presta atenção na aula), mas as carteiras estavam todas ocupadas, então tive que recorrer a um lugar no fundo. Após arrumar minhas coisas na mesa, sentei e fiquei aguardando as aulas começarem. Fiquei pensando se a vida seria diferente nesse ano e se eu eventualmente faria alguma amizade, o que não era de meu feitio. Entretanto, fui acordado dos meus devaneios com uma visão que me deixou incrédulo e atormentado ao mesmo tempo. Era um garoto de cabelos loiros, bem alto, musculoso e de olhos azuis entrando pela porta da minha sala. Era Leonardo.
CONTINUA...