Lá vai o 3o capítulo... Espero que estejam gostando... Muito obrigado por todos os comentários
CAPÍTULO 3 – Incógnitas
“Leonardo, que havia ficado ainda mais forte do que quando o tinha visto pela última vez, estava naturalmente mais “preparado” do que eu, que nunca havia brigado com ninguém; logo, no seu segundo soco, o garoto já tinha me deixado extremamente debilitado. Bastou mais um único soco para que tudo escurecesse, seu rosto sumisse e com ele todas as vozes ao nosso redor: eu havia desmaiado.”.
Sabe aquela sensação de que você está sendo observado, mas não sabe por quem? Acordei em uma cama, parecida com a de um hospital, com essa impressão, aliado a uma dor quase insuportável na cabeça, que se refletia na minha expressão agonizante. “Calma, as enfermeiras já vêm trazendo alguns remédios para dor”, ouvi uma voz delicada e ao mesmo tempo terna, mas desconhecida, ecoar pelo cômodo. Fazendo um esforço tremendo, me virei de lado até que meus olhos se deparassem com uma garota de olhos e cabelos castanhos, muito magra e alta. “Quem é você?!”, indaguei em tom de dúvida e surpresa simultaneamente. “Sou Letícia, prazer. Sou lá do Centro Educacional João Rosa, da mesma sala que você. Não pude deixar de assistir a sua briga com o outro garoto. A coisa foi feia, hein?” Confirmei balançando a cabeça, curioso para saber onde a garota, que era até então uma incógnita, se encaixava nessa história.
“Depois que você desmaiou, ele saiu transtornado, muito nervoso, e sem aparentar nenhum tipo de remorso. Durante uns 5 minutos ficaram todos preocupados ao seu redor, mas sem tomar nenhuma atitude. Como eu sabia que o olhar de pena de ninguém curaria você, resolvi te trazer aqui na enfermaria.”, esclareceu a moça. “Mas você conseguiu me trazer até aqui sozinha? Que força!”, exclamei de forma cômica. “Não, não. Tive que trapacear e pedi uma ajudinha para um tal de Professor... Luiz. Conhece?”, falou Letícia entre risadas. “Ainda não conheço ninguém dessa escola”, disse um pouco triste. “Agora conhece alguém, que para sua sorte é a melhor pessoa dessa escola”, brincou Letícia.
Passamos alguns minutos conversando naquela pequena e improvisada clínica, e o astral da garota era tão elevado que havia me esquecido do fato de que pouco tempo atrás estava com uma dor dilacerante na cabeça. A verdade é que me simpatizei com ela, tornando fácil o fato de nos relacionarmos em um período tão pequeno, indo totalmente contra aquilo que geralmente acontecia comigo. Descobri algumas coisas sobre ela, assim como ela descobriu algumas coisas sobre mim. Letícia, assim como eu, tinha acabado de sair de outra escola e entrado nessa, por motivos os quais ela não quis comentar naquele momento. A agradável menina tinha à época 16 anos e não estava gostando muito das pessoas da nova cidade, o que contrastava completamente com meus pareceres; até ver Leonardo entrando por aquela porta, eu acreditava de verdade que poderia ser feliz naquele novo ambiente e tinha achado, até então, as pessoas dali muito simpáticas.
Nossa conversa foi interrompida quando entraram pela porta duas mulheres, as enfermeiras, e seguido deles um rapaz jovem, baixo e com um porte físico invejável por todos os homens e rapazes e desejável por todas as mulheres e moças. Fiquei me perguntando mentalmente quem era ele por alguns segundos, até que Letícia me respondeu essa dúvida involuntariamente ao chamá-lo pelo nome para agradecer sua presença. Era o tal Professor Luiz que havia me levado até a enfermaria, então tive a obrigação de também agradecê-lo.
As enfermeiras me deram os medicamentos e deixaram o quarto, enquanto Luiz indagou se eu estava melhorando. Após responder de forma positiva sua pergunta, ele deixou a sala alegando estar atrasado para sua aula, pois já ia começar o 3º horário. Foi então que olhei para um grande relógio analógico pendurado na parede do pequeno aposento e realizei que passei as primeiras duas horas do dia da aula inaugural numa cama dura de enfermaria. Como não sentia mais aflição alguma, resolvi encarar aquilo que teria que conviver e me acostumar o resto do ano e me levantei. O “pseudo-médico” da escola disse que eu estava liberado, então fomos eu e minha mais nova amiga para a sala.
Tentei parecer o mais natural e soberbo possível quando entrei pela porta da sala. Não pude evitar perceber que cada um dos alunos ali sentados me acompanhava com o olhar, provavelmente surpresos com toda a situação, que também era uma incógnita para mim mesmo. Como passei do aluno certinho e comportado para o aluno que se mete em confusão no primeiro dia de aula? A resposta tinha nome e endereço, e se encontrava me encarando naquele momento enquanto eu andava até chegar ao meu lugar.
Pude perceber um sentimento diferente do ódio de uma hora atrás em seu olhar. Algo parecido com... Arrependimento? “Impossível, esse idiota não se arrepende nunca das palhaçadas que faz”, foi o que veio em meus pensamentos. Após me sentar e ser perguntado pelo professor e por alguns colegas (com os quais não havia trocado nem ao menos um “bom dia”) se havia melhorado – notícias assim sempre se espalham muito rápido –, um garoto moreno que sentava do meu lado me mostra um pequeno pedaço de papel rasgado e dobrado e me fala que o destinatário do mesmo sou eu.
Como ninguém ali me conhecia, raciocinei que só podia ser o Leonardo ameaçando me “pegar na saída” (sim, ele falava coisas do tipo) ou fazendo alguma piadinha sobre o olho roxo que o próprio havia deixado em mim, mas, para minha surpresa, o recado se resumia em uma única e pequena expressão que para mim foi extremamente surpreendente e um verdadeiro enigma naquele momento, especialmente vindo do meu tão adorado “amigo”. O papelzinho trazia escrito – com uma letra quase ilegível – um pedido: “Me desculpa”.