• 15x03 – Conhecendo o amor
Entrei em casa todo bobo e sorridente, pois, querendo ou não, Eu era o noivo da pessoa mais bonita e cobiçada da cidade. Porém, além disso, ele era uma pessoa maravilhosa sentimentalmente. Mesmo o José sendo um cara todo trabalhado na brutalidade, ele sabe muito bem como me conquistar; ele me conquista a todos os dias que passam.
Ao chegar à sala, cumprimentei mamãe e papai e subi para o meu quarto. Antes de chegar ao mesmo, barroei em Rafael. Abracei-o e cumprimentei-o. Rafael deu-me um beijo na testa e sussurrou um “Cuide-se!”.
Direcionei-me ao meu quarto, tomei banho e voltei para a minha cama. Pus meu celular para carregar e vi algumas chamadas perdidas e mensagens do José e da Silvia. Abri a caixa de mensagens e havia uma de José que dizia: “Quem ama de verdade nunca vai embora. Nunca abandona. Te amo, Baixinho”. Eu sorri e mandei outra mensagem que dizia: “Te amo mais, meu Grandão”. Depois olhei a mensagem da Silvia que dizia: “Assim que ver essa mensagem, retorne para o meu celular”. Fiz o que me fora solicitado rapidamente.
– Walmir? – Balbuciou, com uma voz chorosa, Silvia.
– Oi linda! – Exclamei feliz sem saber o que se passava. – O que está havendo?
– O José, Walmir... O José sofreu um acidente enquanto voltava para casa. – Ela falava tudo gaguejando. Depois daquilo Eu não ouvi mais nada.
O celular correu em minhas mãos e caiu na cama. Naquele momento Eu estava sem chão, já prevendo o pior.
– Mãe! Mãe! – Gritei desesperado.
Ouvi passos fortes e rápidos, pude perceber que não era a mamãe.
– O que aconteceu, Walmir? – Perguntou Rafael, preocupado, abrindo a porta.
Ao ver o meu estado, Rafael correu, jogou-se na cama e abraçou-me. Porém, nada me acalmava. Comecei, em um ato impensável, a bater fortemente no Rafael.
– Ele disse que não me deixaria, Rafa. Ele me prometeu... – Falei entregando-me ao choro.
– O que você está falando? – Ele perguntou gritando.
– O José... Sofreu um acidente. – Falei soluçando e gaguejando. – Rafa, me ajuda!
– Onde ele está? – Ele não obteve resposta, pois apenas movi minha cabeça em negativa.
Rafael pegou meu celular e começou a digitar alguns números. Saí correndo da minha cama e fui direto em direção à porta de casa. Papai ainda tentou perguntar para onde Eu estava indo, porém Eu fui mais rápido e saí correndo. Naquele lugar só havia um hospital bom, e Eu sabia onde era. Eu corri o quanto pude, até que, rapidamente, fui alcançado por um carro de luxo prata.
– Entra Walmir! – Ordenou Rafael e assim o fiz sem pestanejar.
Eu estava tenso, monossilábico; algumas vezes sequer respondia as perguntas do Rafael. Quanto ao meu palpite em qual hospital o José estava, Eu havia acertado, e já estávamos indo para lá. No meio do caminho, uma cena me apertou o coração: Era o carro do José todo amassado e sendo guinchado. Se antes Eu já me encontrara com o coração na mão, a cena que Eu havia presenciado me fez amassar o coração, assim como todas as esperanças que Eu ainda tinha de o José estar vivo.
Chegamos ao hospital e percebemos certas movimentações; havia médicos, enfermeiras e maqueiros andando de um lado para o outro. Parecia algo urgente. Presumi que, naquele dia, José não fora a única pessoa a sofrer um acidente. Avistamos, ao longo do trajeto, Silvia e Senhor Antônio e os cumprimentamos.
– Ainda bem que você chegou Walmir! – Exclamou, tentando parecer tranquilo, Senhor Antônio. – O José não parava de chamar por você.
Ótimo, só o fato de o José ter falado algo já me alegrara.
– Como ele está, Senhor Antônio? – Perguntei um pouco mais aliviado.
– Olha, Walmir! Você deve ser forte; não por você, mas sim pelo José. – Senhor Antônio falava e Eu ficava atento em cada expressão, e não era uma das melhores. – Ele vai passar por uma bateria de exames, mas ao que tudo indica é que ele vai ficar à base medicação, ou seja, sedado por alguns dias. E, ao que parece... – Senhor Antônio fez uma pausa de alguns segundos. – Ele terá de passar por uma fisioterapia para recuperar seus movimentos. – Aquele momento fora uma queda para mim. Então o acidente havia sido realmente grave.
– Não fique tão preocupado, Walmir... – Tentou falar Silvia.
– Como você me pede uma coisa dessas? – Falei alterado.
– Mantenha a calma, Walmir! – Manifestou-se, o até então calado, Rafael.
– Como ficar calmo perante essa situação? – Perguntei calmo, choroso e indignado ao mesmo tempo.
– A fisioterapia não é algo confirmado. É apenas uma suposição. – Silvia, por fim, concluiu seu pensamento. – A bateria de exames, e a recuperação de José, são fatores que irão determinar se ele irá precisar ou não do tratamento.
Eu estava sem chão com toda aquela informação. Eu apenas queria poder tocar meu noivo. Poder abraça-lo e dizer o quanto o amava. Eu queria beija-lo e queria dizer que sou só dele. Eu queria... Eu desejei, a todo instante, ter sofrido aquele acidente no lugar dele.
– A causa da batida ainda não foi confirmada. – Falou uma mulher com a bata branca. – Nenhum dos feridos apresentava sintomas de embriaguez.
– Doutora Helena! – Exclamou Senhor Antônio, chamando a atenção da moça. – A senhora está cuidando do caso do meu filho, certo? – A mulher apenas acenou em sinal de positivo. – Como ele está? O que denuncia a bateria de exames? – Ele perguntou calmo. E pela primeira vez Eu via meu sogro chorar.
– Não é possível dizer nada, no momento. – Respondeu a Doutora nos transmitindo mais calma. – Vamos esperar que o José acorde e tome plena consciência das coisas.
– Como assim? – Perguntei nervoso. – Plena consciência de quê?
– Ele pode ficar com traumas desse acidente. Consequentemente, pode não responder muito bem a algumas coisas. Eu só posso adiantar que ele está bem; José é um garoto forte e isso o ajudará. Ele vai precisar do apoio de vocês nesse momento. Daqui a pouco liberaremos o quarto de paciente para visitas. – Ela falou tornando seu olhar para Antônio e Silvia. – Eu só peço que não transmitam euforia para o nosso paciente. Ele precisa manter-se em um ambiente calmo e sem barulho. Estamos entendidos? – A doutora perguntou voltando seu olhar a todos os presentes na sala.
Ficamos estáticos, por horas, na sala. Apenas esperávamos uma noticia a mais sobre o caso do José. Eu ainda não acreditava em tudo aquilo que estava acontecendo. Nós tínhamos estado tão bem logo pela tarde. Por alguns instantes, pensei em nosso momento no parque, o piquenique, as promessas... Tudo. Eu não queria que o José fosse embora de tal maneira. Ele ainda era tão jovem, tenaz, interativo; ainda havia mais coisa para viver. Ele não podia me deixar só. Não naquele momento. E Eu não iria abandona-lo; independente do que acontecesse, Eu ainda iria ama-lo, dar carinho e assistência. Nada mudaria; independente do rumo que a vida desse a todos nós.
Por volta das 23h30min, a doutora liberou a entrada de pacientes. Silvia e Senhor Antônio foram os primeiros a entrar no quarto. Eu estava aflito; as horas foram passando... Passando... E nada de eles darem qualquer sinal de vida para mim. Rafael, a todo instante, tentava me animar. A todo instante meu irmão me dizia que tudo iria ficar bem. Que nós iriamos ficar bem, de novo. Em mim, a esperança não havia morrido. Estava fraca, porém estava lá.
Quando o relógio anunciava 02h15min, fui chamado ao quarto. Antônio e Silvia saíram mais aliviados do quarto e aquilo me animava. Afinal, Eu iria ver o meu Grandão de novo e isso já me era o bastante.
Ao chegar ao cômodo, deparei-me com uma cena que moveu o meu coração: José estava em cima de uma cama pequena, que era vestida apenas com um colchão pequeno e fino. Seu corpo mal cabia ali. Fui chegando mais perto... Mais perto. Deparei-me com o meu Grandão com alguns ferimentos e aparelhos ligados a todo seu corpo. E a cada passo que Eu dava em direção à cama, o meu coração acelerava; e, aos poucos, o coração apertava.
– Olá! – Saudou-me uma enfermeira jovem e bonita. – O paciente José Otávio ainda permanece desacordado, mas está fora de risco. – Nessa hora alegrei-me um pouco mais. – Só lhe peço que faça o mínimo de barulho e que converse bastante com o paciente. Os médicos creem que ele pode ouvir o que você fala e pode sentir o seu toque. Porém, evite falar algo que vá fazer mal ao estado de recuperação do paciente. – Ela falou sorrindo e virando as costas para mim. – Ah! – Exclamou chamando a minha atenção. – Você será o acompanhante dele. O pai dele foi quem me solicitou, logo, você pode dormir no quarto. E lembre-se do que lhe falei: Não faça nada que possa machucar a parte psicológica do nosso paciente!
– Obrigado! – Fora a única coisa que consegui proferir naquele momento.
A enfermeira saiu do quarto nos deixando, José e Eu, a sós. Aproximei-me um pouco mais de meu homem e toquei-lhe a face.
– Oi Grandão! – Saudei-o mesmo sem saber se ele me ouvia ou não. – Sou Eu, o Walmir. Eu vim te ver, meu amor. – Nessa hora as minhas lágrimas eram inevitáveis, porém, na minha voz, Eu não deixava transparecer a minha tristeza. – Você está bem, meu lindo? Se não estiver, Eu exijo que fique, pois Eu ainda quero dizer muito que te amo. Quero poder te beijar, te abraçar... Quero ficar em nossa nova casa esperando meu marido chegar do trabalho para saúda-lo e fazermos amor. Quero construir uma vida nova com você. Quero cuidar do nosso filhinho que vai nascer. E quero... Quero muito ter bastante filhos com você, Grandão. Eu te amo demais. Eu nunca vou deixar você, tá bom? – Falei deitando por cima da cama, num espaço bem pequeno. – Eu quero que você se recupere o mais rápido possível para a gente aproveitar os nossos momentos juntos. Eu prometo que nunca mais largo de você. Prometo dormir, todos os dias, na mesma cama que você. Eu quero estar, passar e morrer ao seu lado. Eu quero ser só seu.
Naquele momento, deitei por cima do José – Não em cima de ele. – e dei-lhe um beijo. José não correspondia, mas Eu sabia que ele podia sentir meu toque e a maciez com a qual meus lábios tocavam os seus. Mesmo ele não correspondendo ao momento, Eu permaneci ali; beijando-o, acariciando-o e passando toda a confiança que Eu tinha nele, naquele momento.
Eu estava com o meu homem e aquilo era o que importava.
Depois de toda aquela declaração, puxei uma cadeira para próximo ao José e cantarolei uma música qualquer. Minha voz estava falha, cansada, e a maioria das notas saia em Head Voice; não em um tom alto, chegava a ser choroso. Transpareci todos os meus sentimentos na letra da música.
A noite inteira Eu não adormeci; apenas ficava olhando as respirações pesadas do José. Ele não se movia; o que era estranho já que, todas as vezes que dormíamos juntos, José sempre acabava deitando por cima de mim, consequentemente me sufocando.
...
Por volta das 09h35min, Silvia chegou para ser a acompanhante de José.
– Pode ir Walmir. Eu cuidarei da saúde dele.
– Não! Eu não vou! – Falei baixo, porém indignado.
– Vai sim. – Ela respondeu-me em tom de ordem. – Ainda bem que o José não acordou, pois Eu aposto que se ele te visse com essas olheiras ele te deixaria. – Mesmo com toda a situação, a cretina (apelido carinhoso) ainda conseguia fazer piadas e me fazer sorrir. – Vá dormir Walmir! Descanse e fique bonito, pois, a qualquer instante, o José pode se acordar, e você deve estar no melhor de si. Vai se cuidar e me deixa cuidar desse trator.
– Obrigado Silvia. – Falei, com uma voz cansada, abraçando-a. – Obrigado por tudo. – Nessa hora Eu já estava me desfazendo em lágrimas e a Silvia estava as enxugando.
– Cuide-se! – Ela pronunciou.
Sai do quarto e pedi para que Rafael viesse me buscar, mas, para minha surpresa, quem chegou fora um dos motoristas de mamãe. É. Eu havia esquecido que estávamos em aula. Peguei o meu atestado de visitante e fui guiado até em casa. Meus olhos não piscavam, e qualquer pessoa que me visse poderia me comparar a um zumbi.
Cheguei a casa, saudei mamãe e subi para meu quarto. Joguei minha roupa da noite anterior no balde de roupas sujas e tirei meu pijama do guarda-roupa. Direcionei-me ao banheiro e deixei que a água tirasse todas as “mazelas” de meu corpo. Eu estava tão pesado... Tão cansado. Sai do banheiro e troquei-me rapidamente. Por fim, deixei que a dor, tanto física quanto psicológica, tomasse conta de mim.
Adormeci aos prantos.
...
Acordei, ainda naquele dia, por volta das 20h00min. Realmente, Eu havia dormido demais. Acho que o cansaço físico e emocional foram os principais fatores para me fazerem dormir tanto assim. Higienizei-me com certa pressa e pedi para que papai me acompanhasse até a porta do hospital. Papai prontamente ajeitou-se e partiu com rumo ao hospital. Eu tinha uma pontada de esperança que o José já estivesse melhorado.
Papai levou-me ao hospital e pediu para que Eu desse as saudações, por ele, a quem lá estivesse. Subi, apressadamente, as escadas do hospital e direcionei-me ao quarto.
– Olá Walmir! – Saudou-me Senhor Antônio. – Não esperava te ver aqui.
– Como? – Perguntei incrédulo.
– Eu pensava que a Silvia havia ligado para você te informando que hoje Eu serei o acompanhante do José. De qualquer maneira, pode ir.
– Não! – Responde com firmeza. – Não antes de Eu ver o José. Por favor, Senhor Antônio! – Pedi manhoso.
– Você tem... – Ele fez uma pausa olhando para o relógio. – meia hora para conversar com ele. Aliás, ele já apresenta algumas melhorias. A enfermeira vai te explicar.
Melhorias. Era de noticias assim que Eu estava precisando. José, rapidamente, se recuperava, e era isso o que importava, naquele momento.
Entrei, receoso, no quarto e avistei a mesma enfermeira que havia me dado as instruções no dia anterior.
– Boa noite! – Saudei-a com o meu melhor sorriso naquele momento. – Alguma boa noticia? – Perguntei curioso.
– Sim. Ele já responde ao toque das pessoas. E sim, ele entende o que nós falamos. Mais do que nunca ele precisa de todo otimismo de vocês. Essa fase é bastante decisiva para a recuperação dele. Se ele continuar do jeito que está, logo-logo ele estará bem. – Ele falou sorrindo para mim e Eu sorrindo para ela. Ao menos, depois de tudo o que aconteceu, uma noticia que realmente valia a pena. – Bom, vou deixar vocês a sós. Daqui a pouco Eu volto para aferir a pressão dele.
– Obrigado por tudo. – Fui o mais cortês possível.
Saber que o meu Grandão estava melhorando era algo que já alegrava o meu coração. Por mais incrível que pareça, vê-lo naquele estado me fez amá-lo mais ainda. Ele me passava calmaria, paciência... Enfim, ele me passava tudo o que precisava naquele momento.
– Boa noite, amor. – Falei tocando a sua mão. – Consegue me ouvir? – Como resposta ele apertou, bem de leve, a minha mão. Nessa hora fora impossível conter minhas lágrimas. E, diferente do dia antecessor ao que estávamos vivendo, Eu chorava de alegria. – Quer conversar comigo? – Dessa vez ele não apertou minha mão. Era como se quisesse evitar algo. – Saiba que Eu não vou deixar você, tá? – Ele chorou. Pela primeira vez ele mostrava alguma reação. – Você vai me amar pra sempre, também? – Ele apertou minha mão o mais forte que pode naquele momento. Parecia um aperto que um recém-nascido dá no dedo indicador de sua mãe. – Eu vou ficar deitado ao seu lado, tá bom? – Ele apenas apertou, mais uma vez, a minha mão e derrubou mais uma lágrima. – Não chora não! – Falei passando minha mão em seu rosto e beijando-o. Mais uma vez, ele não correspondia. Estava cedo demais para ele começar a mexer todos os músculos. – É estranho beijar assim, não é? – Como resposta ele me apertou de novo.
Sentei-me aos e pus-me a conversar amenidades com ele. Relembrei o dia do parque e todos os outros dias que foram importantes em nossas vidas. Comentei sobre ele ter cuidado de mim no dia em que contraí pneumonia e que agora a situação era inversa. “Cuidarei para sempre de você”, sussurrei em seu ouvido antes de, a contragosto, abandonar a sala.
Ao sair da sala, os médicos me fizeram uma espécie de interrogatório e eles puseram-se a perguntar qual tipo de melhoria o meu José apresentava. Falei sobre ele ter tentando apertar, com mais força, a minha mão e sobre os dois pingos de lágrima que ele derramou enquanto conversamos. Os médicos me advertiram dizendo que ele não poderia passar por grandes emoções e que Eu o privasse do máximo de informações.
...
Era uma quarta-feira, dia de integral; – aulas de educação física e língua estrangeira. – e Eu não estava com a mínima vontade de ir à escola. Eu sabia que todas as pessoas iriam tentar me confortar com palavras bonitas, porém, sabia, também, que nada iria adiantar. Eu só queria que tudo que passamos na segunda-feira tivesse sido um sonho-pesadelo. Eu preferia pensar que as coisas bonitas que o José me falara fossem mentiras do que vê-lo numa cama de hospital e não poder fazer nada.
Quando avisei a mamãe que não iria à escola, esta ficou uma fera e obrigou-me, ligeiramente, a arrumar-me e rumar ao colégio. Meio a contragosto fiz o que mamãe me solicitou e fui à escola. Chegando lá, todos os meus amigos (Tanto os nerds – Celina, Acácio e companhia – quanto os populares – Marcos, Plinio e Sofia) saudaram-me e me deram cartas onde puseram todos os votos de fé e esperanças para o José.
Na sala, sentei-me isoladamente de meus amigos e principiei a ler as cartas. A que mais me tocou o coração foram as do Plinio e do Marcos. Eles sim sabiam o que falavam. Nas cartas, eles provaram que a amizade deles valia, realmente, a pena.
As aulas da manhã passaram-se rapidamente e meus amigos preferiram não aproximar-se. Ao menos isso mostrava que eles me entendiam. Nem na hora do intervalo Eu saí da sala. É. Eu realmente estava numa fase um tanto ruim em minha vida. E Eu não via saída alguma. Era viver aquilo ou viver aquilo. Mais do que nunca Eu precisa do José.
Na aula de língua estrangeira, – no período da tarde. – a professora pediu-me para que Eu cantasse uma música, mas Eu estava tão frágil naquele momento que recusei o seu pedido. Acácio cantou por mim e para mim. A música realmente tocou-me. A todo o momento Eu apenas pensava no José. E as lágrimas, como sempre, inevitáveis.
Quanto à aula de educação física, sequer participei. Apenas olhava, de longe, o pessoal fazendo a coreografia, ou, no caso do Acácio, jogando Dodgeball – Sim, ele praticava, juntamente comigo, esse esporte.
Cheguei a minha casa às 17h30min e mamãe avisou-me que ninguém poderia visitar o José, exceto Silvia e Antônio, pois o mesmo iria passar por uma nova bateria de exames.
Mais uma vez, fiquei no aguardo.
...
Era quinta-feira e decidi que não iria para a escola. Eu já havia programado tudo. Queria ver como o José estava, o que denunciou a bateria de exames, saber quando ele iria receber alta e entregar a carta dos amigos na mão dele. Rafael, para a minha surpresa, também não fora para a escola e prontificou-se de levar-me ao hospital. A viagem inteira nós fomos conversando amenidades. Não posso mentir, Eu me diverti muito ao lado do meu irmão. Em questão de piada ele era ótimo. Rafael sempre fora uma boa pessoa. No começo era difícil de lhe dar com ele, mas quando descobrimos os verdadeiros motivos e verdadeiras intenções dele, conseguimos enxergar o garoto maravilhoso que ele era.
Rafa deixou-me na porta do hospital, deu-me um beijo na testa e rumou para casa. Achei estranho o movimento no hospital estar um pouco fraco. Aliás, há alguns dias atrás o hospital estava um caos.
Ao entrar no andar onde hospedaram o José, percebi que não havia ninguém lá. Presumi que Silvia e Senhor Antônio haviam ido tomar café. Entrei no quarto onde o José estava hospedado e caminhei até a beirada da cama. Deixei as cartas – que havia colocado num bauzinho – em cima do criado-mudo e fui para mais perto do José.
– Bom dia, Grandão! – Saudei-o como sempre fazia. – Tudo bem? – Falei tocando a mão dele.
– Bom dia, Baixinho! – Ele falou com a voz falha e os olhos fechados, porém me dando um baita de um susto.
Em um ato reflexo, soltei meu corpo para trás.
– Oh Meu Deus! – Exclamei, surpreso, levando a mão direita até a minha boca.
– Relaxa, Baixinho! Eu já estou melhor. E bem melhor agora que você está aqui. – Ele falou com o sorriso no rosto. – Vem cá me dá um beijo! Vem?!
Aproximei-me de ele; mesmo sem acreditar no que estava havendo, abaixei-me e beijei-o e, pela primeira vez, ele me retribuiu.
– Como? – Perguntei ao me desprender do beijo.
– Eu sou bem mais forte do que imaginava. – Ele falou ainda com o sorriso no rosto e os olhos fechados – Por incrível que pareça, o acidente me deixou sem nenhuma fratura. A bateria de exames não denunciou nenhum problema. Amanhã já poderei ser tratado em casa. E adivinha por quem? – Ele perguntou virando o rosto para mim, porém com os olhos ainda fechados.
– Por alguma enfermeira gostosa? – Perguntei com cinismo, tentando fazer piada.
– Não, seu bobo. Por você. Se você quiser, é claro.
– Eu vou sempre cuidar de você. – Falei aproximando-me de ele e segurando-lhe a mão. – Eu te amo. – Falei, por fim.
– Eu sei disso. Eu amo muito você, Walmir. Dá-me mais um beijo, vai?! – Ele falou já segurando minha cintura e me pondo próximo a ele.
Mais uma vez, deitei-me por cima de ele e comecei a beija-lo. Percebi que o canalha já estava melhor quando o mesmo começou a apalpar, com muita força, – Porém, não a de antigamente. – a minha bunda.
– Cafajeste! – Exclamei ainda com meus lábios presos aos dele.
– Que saudades de ouvir você falando isso. Que saudade disso aqui. – Ele falou pondo a mão em minha bunda novamente.
– Para José! Aqui não.
– Eu quero. – Ele falou jogando-me por cima de ele e dando-me beijos e mais beijos.
Não preciso nem dizer que estávamos super excitados e entregues ao momento. José apalpava a minha bunda, enquanto Eu segurava com bastante força o seu peito. José começou a gemer, descontroladamente, e se debater por alguns instantes. Fiquei com medo e sai de cima de ele.
– O que foi? Tá doendo alguma coisa? – Perguntei o apalpando e com medo da resposta.
– Eu gozei. – Ele falou sorrindo. – Vem cá! – E puxou-me, de novo, para mais outro beijo.
Teríamos transado alí, se Silvia não aparecesse e estragasse nosso momento.
– Vejo que está se recuperando muito bem, José. – Ao ouvir aquilo, prontifiquei-me a sair de cima de José. Este, por sua vez, colocou um travesseiro para esconder o seu volume. – Bom dia, Walmir! – Como sempre cortês, Silvia. – Minha nossa, José! – Ela exclamou surpresa e Eu fiquei sem entender. – Você é um superdotado. – Agora Eu havia entendido tudo.
Silvia e suas manias de me deixar encabulado. Dessa vez não só a mim, ao José também. Despedi-me dos dois e fui, mais sorridente do que nunca, para casa. Avisei a todos que ali moravam sobre a melhora e a noticia de alta do José. Todos ficaram felizes e disseram-me que iria vê-lo no outro dia.
...
Na sexta-feira pela manhã, arrumamo-nos cedo e, por volta das 09h30min, já estávamos no hospital. Ao chegar lá, vi uma grande movimentação; pessoas com faixas, bilhetes e troféus estavam alí. Sim, todo o pessoal da escola havia faltado aula para ir ver o José saindo do hospital. Quando a multidão afastou-se, pude ver José, Silvia e Senhor Antônio.
A cena que destruiria o coração de muitos, alegrou o meu coração de um jeito único: José estava sentando numa cadeira de rodas recebendo o presente de todos. O homem que, há alguns dias, Eu pensava que iria morrer, agora estava mais vivo do que nunca.
Eu tinha o meu Grandão de volta.