Congelei com a mão na porta. Não era segredo que eu era gay, a muito tempo tinha passado dessa fase, mesmo sendo discreto e nunca me assumindo publicamente os mais próximos a mim já sabiam disso. Mas não me sentia pronto para que ele soubesse daquilo. Temia afasta-lo, assusta-lo, por experiência própria é comum que homens heteros não gostem de ter amizade com gays. Por isso naquele momento não sabia como reagir.
Soltei a chave da porta e me virei para ele respirando fundo.
Antes de falar qualquer coisa ele veio andando em minha direção com um sorriso, parou na minha frete e segurou minha cabeça pelo topo com a mão enorme que ele tem e sacudiu ela de leve falando:
André: -Relaxa cabeça!!!
E em seguida me abraçou forte por um instante e me largou.
André: -Fica frio que tá tudo sussa.
Antes mesmo que eu pudesse tecer qualquer comentário ele me atropelou com as palavras.
André: -Cara tô varado de fome!
Eu ainda meio atordoado com o que tinha acabado de acontecer respondi meio bobo.
Marco: -Vamos na cozinha comer alguma coisa.
Seguimos ate a cozinha e lá comecei a apontar aonde ficavam as coisas em quando me sentava.
Marco: -Então é isso, fica a vontade ai.
André riu após eu terminar de falar.
Marco: -O que foi?
André: -Nada, é que esse protocolo social é foda, tipo, se você me mandar ficar a vontade de novo na sua cozinha vou fazer como lá no quarto de hospedes e ficar é nu hein!
Eu ri da piada dele.
Marco: -Desculpe, você esta certo mas é isso, já sabe onde estão as coisas, faz ai qualquer coisa pra você comer, pode mexer onde quiser ai, ah! e quer saber?, fica a vontade cara.
Ele riu novamente e eu também, mas a pergunta estava em minha cabeça, enquanto ele abria a geladeira e olhava o que tinha nela precisei perguntar.
Marco: -Porque você disse que sou gay?
Ele respondeu com a cara enfiada dentro da geladeira.
André: -Porque você é!
Marco: -Como você chegou a essa conclusão.
Ele fechou a porta da geladeira com um monte de coisas na mão.
André: -Ah! Essa é a pergunta!
Pôs tudo sobre a bancada.
André: -Quer um sanduíche também?
Marco: -Tá, quero, continua o que você estava dizendo.
André: -Sim, então, você foi um desafio, porque você é caladão, todo na sua, discreto, então de cara não matei a charada, mas foram três pista que você deu que terminou no resultado.
Marco: -Três pistas?
André: -Isso, uma na praia, outra aqui e a ultima que matou a charada no camarote.
A primeira coisa que passou pela minha cabeça: “ele percebeu que fiquei de pau duro na praia e aqui em casa”, me bateu uma vergonha gigantesca ao perceber isso.
André: -Não pense que eu tava tentando descobrir isso desde que te conheci não, as peças só se juntaram a umas horas atrás, nesse ponto parabéns, você é muito na sua, só porque sou observador que percebi que você era, uma cara mais na dele e desavisado morre sem saber qual a sua.
Eu comecei a me encolher na cadeira, estava completamente sem graça, não pelas palavras dele, mas por ter sido tão obvio que eu estava de pau duro por causa dele. Foi então que ele disse algo, não sei se proposital para me aliviar daquela vergonha ou se sincero, se aquela era a verdade.
André: -Quer saber quais as pistas que tu me deu?
Marco: -Diz.
André: -Assim, a primeira, a da praia foi com a Michele, a nega se abriu toda pra você. Pegou na sua perna e tudo e para você foi como se ela nem existisse.
Verdade. A menina era uma graça e eu a ignorei completamente, alem de não ser a minha, eu estava muito animado por ter acabado de encontrar ele. Mas então ele continuou.
André: -Mas isso não era o suficiente né cara? Beleza que eu já meti tanto naquela buceta que já ate perdeu a graça, mas derrepente a mina não fazia o seu tipo. Ate porque você é um cara de 40 anos...
Marco: -38!
André: -Ok, 38, então você podia ter uma exigência maior, querer alguém de outro tipo, sei lá. Ai chegamos na sua casa e peguei a segunda pista.
Eu pensei, é agora, e abaixei a cabeça.
André: -Essa sua casa é muito organizada e cheia de frufru pra ser de um solteirão pegador. Você morando só, e tudo tão arrumadinho, decoradinho, porra muito suspeito, mas ainda assim, beleza, o cara é assim mesmo, vai ver é um dos raros homens que são organizados não é?
Me aliviei e pensei, graças a Deus, ele não percebeu minhas ereções por causa dele. E então ele continuou daquela maneira leve que estava falando e montando o tal do sanduíche quando mais uma vez me surpreendeu.
André: -E a terceira você pode nem acreditar foi a que te entregou legal, nem pense que só saquei porque você ficou de pau duro umas duas vezes quando me viu hoje porque isso ai acontece.
Eu arregalei os olhos e soltei alto.
Marco: -COMO É!?!?
Ele riu um pouco.
André: -É cara, você na praia ate disfarçou legal, mas aqui na sua casa, na hora que tirei a toalha parecia que seu pau ia explodir sua calça.
Eu abaixei minha cabeça na mesa e a cobri com as mãos, eu me senti extremamente envergonhado.
André: -Mas isso ae não te denunciou não, eu já reparei que isso acontece com os caras mesmo que não são gay, tipo depois do futebol, quando a gente vai pro banho, tem uns caras que quando me veem pelado armão logo a barraca, daí ficam sem graça, se sentam e coisa e tal, e são os caras que eu conheço, que sei que gostam de mulher, mas eu me ligo que bate o olho em mim, porra cá entre nós, eu sou gostoso pra caralho e pra piorar o cara ver o picão grandalhão pesadão, ae os caras lembram logo daqueles filmes pornô e acabam ficando de pau duro. Por isso que digo que não foi isso o que denunciou você.
É ai que me perguntei se o que ele dizia era verdade ou se ele disse só para me retirar parte daquele embaraço que eu estava sentindo. Ele se virou e colocou o prato com meu sanduíche na minha frente e se sentou com o prato dele com nada mais que três sanduíches.
André: -O que denunciou você foi a ciumeira violenta que você ficou do coroa.
Marco: -Eu com ciúme daquele mané?
Ele sorriu.
André: -Cara você estava tão enciumado que qualquer pessoa notaria, mesmo que não fosse observador como eu. Você estava um poço de ciúmes. Antes dele aparecer você era um, depois você mudou completamente. Ficou de cara amarrada, sem se alegrar com nada, em fim, puro ciúme.
Marco: -Você tá louco! Ciúmes de você?
André riu solto.
André: -Relaxa cabeça, já disse pra você que tá de boa, a gente não controla nossas emoções, a gente é gente, não é maquina, fica de boa que eu tô de boa.
Desse momento em diante eu não sabia mais o que falar, nem como me portar, fiquei ali, desconcertado, calado, empurrando o sanduíche para dentro. Ainda bem que quando ele começou a comer emudeceu, parecia só concentrado em devorar o lanche dele.
Acabei de comer e fiquei assistindo a ele terminar o dele. Depois disso o assunto mudou, ele disse estar com sono, acompanhei ele ate a porta do quarto, ensinei a ligar o ar condicionado e sai, fui para o meu quarto, tomei um banho que demorou quase 30 minutos repassando na cabeça o que tinha acabado de acontecer, me joguei na cama e rolei nem sei por quanto tempo ate enfim adormecerAcordei eram 9 da manhã, o que era estranho porque quando me deitei já passava da 5, mas toda aquela conversa me fez ter um sono intermitente e fraco. Me levantei e passei pelo corredor. A porta do quarto de hospedes estava aberta, ele não ligou o ar condicionado. Entrei no quarto e espiei ele deitado. Ele estava de bruços semi-coberto e deu para perceber claramente que por baixo da coberta ele estava nu, pois parte da cintura dele aonde deveria estar a cueca estava exposta. Foi o que precisei para voltar para o meu quarto e tocar uma punheta violenta pensando naquela cena. Após gozar, me joguei na cama e consegui dormir novamente.
Voltei a acordar assustado com minha cama sacudindo. Ele tinha se jogado com tudo do meu lado na cama.
André: -ACOOOOORDA MULEQUE!!!!
Eu todo assustado me sentei na cama e olhei para ele que estava rindo.
André: -Meio-dia já cara, vamos, tá na hora de acordar!
Marco: -Cara que susto!
Ele riu e ficou fazendo força pra que eu levantasse, disse que iria ao banho e ele emendou:
André: -Beleza, eu vou descendo pra fazer um café.
A primeira coisa que notei foi se ele estava vestido, e pode se dizer que sim, estava usando uma cueca boxer. Embora eu tivesse visto ele pelado na noite anterior, como aconteceu muito rápido eu não pude observar o pau dele, mas depois da frase “picão grandalhão pesadão” ao ver ele de cueca eu não conseguia não olhar para tentar ver a tal ferramenta. Mas nesse momento não consegui observar isso. No banho outra punheta e depois uma reflexão de como eu deveria agir daquele momento em diante.
Desci para cozinha e ele já tinha adiantado tudo, cafeteira ligada, mesa posta e ele no fogão fritando ovos. Eu optei por ignorar a conversa da madrugada, esperei ele dar o próximo passo.
André: -Eita banho demorado, que punheta longa foi essa?
Ele era brincalhão e tinha o dom de me deixar sem graça. Tive então uma reação que não era de mim, nunca me vi dando uma resposta daquelas e nem sei ate hoje da onde veio aquilo.
Marco: -Cara você pula de cueca na minha cama o que você esperava? Tome outra punheta na sua intenção.
Ele riu solto e demorado.
André: -Ta certo, mea culpa, desculpa ae, nem reclamo mais da sua demora. Sou foda de gostoso mesmo. Foi mal cara.
Marco: -E sobre tudo humilde.
André: -Humildade pra que? Hipocrisia babaca? Sou gostosão mesmo, malho pra caralho, me cuido e o bom Deus me deu essa cara e essa genética vou ficar de humildadezinha besta? Sou bom mesmo e daí?
Arqueei as sobrancelhas mas não ia descordar dele, ele era bonito mesmo e embora parecesse borsalidade dele na hora interpretei como uma demonstração de sinceridade. Meio fora de hora já que estava conhecendo ele ainda, alguém que passasse e ouvisse aquilo poderia interpretar justamente assim, mas convivendo com ele se aprende que o maior defeito de André é a sua incapacidade de mentir. Ele não sabia como mentir e era extremamente sincero em tudo.
Eu puxei a cadeira da mesa e me sentei quando ele se virou com a frigideira de ovos pude finalmente fitar o pau dele sobre a cueca boxer. Estava bem marcado e mostrava-se ser realmente a ferramenta que ele tinha propagandeado. Mesmo mole o tamanho e largura marcado impunham respeito, assim como o volume dos seus bagos. Olhei por alguns segundos e desviei o olha para a frigideira na qual ele servia os ovos.
André: -Então, qual é tua programação para hoje?
Marco: -Nenhuma, eu só preciso...
Antes de completar a frase o celular tocou, era Marcia.
Marcia: -Onde você anda menino?
Marco: -Eu estou em casa.
Marcia: -A montanha de músculos esta com você?
Marco: -Sim, estou com o André aqui comigo.
Marcia: -Aaaaaiiii meus Deus não me diz que rolou
Eu tentei disfarçar.
Marco: -Não, não.
Marcia: -Olha a gente já esta se preparando para ir embora.
Marco: -Tudo bem, eu tenho que voltar ai para fechar minha conta e levar o André.
André: -Cara por minha causa não, eu só volto hoje para lá se você não me quiser aqui com você.
A frase dele mexeu com minha cabeça. Mil coisas começaram a passar por minha mente. Depois do papo da madrugada, da postura dele dormindo nu, pulando na minha cama, passeando de cueca pela minha casa, mais a brincadeira de alguns segundos atras, e agora aquela frase. Ele estava mandando algum sinal? Alguma mensagem? Mais tarde naquele dia eu teria essa resposta.