Gente, adorando demais os comentários cheios de análises e dicas de vocês. Fico fascinado quando percebo o quanto uma história como essa pode alcançar. Espero estar superando as expectativas ao fugir do óbvio. Obrigado a todos e boa leitura...
A aula passou rápido e eu voltei rapidamente pra casa. Voltaria, se não tivesse visto o que vi.
Ele estava jogado no chão, rodeado de curiosos e bastante machucado. Uma quantidade de sangue ao seu lado e estremeci quando vi seu rosto.
- Leandro?
Ele estava acordado, mas atordoado. Por análise inicial, ele havia sido vítima de uma bela surra. Cheguei perto dele com dificuldade, já que havia várias pessoas o cercando e antes que eu pudesse agir, uma ambulância se aproximou e fui empurrado mais pra trás.
Eu não estava entendendo aquela situação, só sabia que ele havia sido espancado e precisava de cuidados médicos. Ainda o vi balbuciar meu nome, mas nada mais. Fui em direção à ambulância e pude saber ao menos em qual hospital ele estaria.
Mas antes que eu pensasse em ir atrás dele, eu precisava ir pra casa e me preparar com dinheiro e afins. Porém, tive uma surpresa ao entrar no apartamento e ver Bruno sentado no sofá, com a mão machucada, respirando pesado.
Ele me olhou com certa fúria e não demorou muito para eu juntar as peças e me assustar:
- Bruno, me diz que não foi você que fez aquilo com o Leandro?
- Num arrependo de nada não. O largadão lá mereceu.
Ele se levantou impaciente e eu estava incrédulo, o acompanhando com os olhos:
- Como você teve coragem?
- Eu sou um ogro, esqueceu?
- Não consigo... você faz questão de me lembrar.
Fui rapidamente ao quarto, peguei um dinheiro que tinha, coloquei um biscoito na mochila e já fui saindo.
- Onde você vai?
- Vou pro hospital, saber o tamanho da merda que você fez.
- Quer dizer que o idiota te coloca pra fora, te humilha e ganha sua compaixão? Quem só tem feito merda é você.
- Bruno, você não tinha esse direito. Você nem sabe o que aconteceu.
- Sei sim! Sei que ele merecia um castigo pelo que fez a você, ele te machucou.
- Muito menos do que você tem me machucado.
Aquela situação estava me deixando louco. E eu tentava o tempo todo não ser a vítima da história, mas não podia ficar inerte à essa situação.
Algum tempo depois, cheguei ao hospital e aguardei certo tempo na sala de espera. Ele havia sido sedado, depois de ter feito os devidos curativos. Segundo uma enfermeira, ele havia levado seis pontos no supercílio, havia ralado o braço pela queda e algumas marcas no rosto, mas nada grave.
Ainda não tinha entendido direito a reação do Bruno, mas sabia que ele havia descontado muitas coisas que talvez ele devesse descontar em mim, mas ele não tinha coragem pra isso.
Fiquei aguardando por um tempo até poder vê-lo. Ele estava dormindo, mas seu rosto já parecia menos inchado. Ainda assim, estava bem machucado. Bruno havia pegado pesado. Que ogro!
Ele iria demorar acordar. Escrevi um recado, apenas para dizer que sentia muita vergonha pelo ato de Bruno e que voltaria para vê-lo em breve.
Voltei pra casa, esperando mais uma conversa tensa com Bruno. Peguei o ônibus e cheguei minutos depois, vendo Bruno atender seu telefone, sem que minha presença fosse notada. O celular ficou no viva voz e por um instante tive a impressão que ele havia planejado que eu ouvisse o papo.
- Fala mano. Tudo bem?
- Tranquilo Brunão. Vai fazer o que agora a noite?
- Nada demais, acabei de tomar banho. Qual a boa?
- Tá afim de ir pra uma baladinha top daqui a pouco? Lá é meio caro, mas vale a pena.
- Topo demais Guga. Quando eu tiver saindo te dou um toque. Até mais.
Guga? Quem era Guga? Segui para a cozinha ainda processando a quantidade de informações do dia. Mas meus ciúmes não me deixavam pensar muito.
- Quem é Guga, Bruno?
- Num to sabendo que ainda te devo satisfação não...
Ele estava se arrumando, apenas de toalha. Era como se seu corpo me convidasse, mas sua grosseria cortava qualquer clima.
- Só fiquei curioso. Vai sair né?
- Vou sim. Você vai sair também?
- Não. Quero dormir bastante pra ajudar o Leandro amanhã.
- Tenha uma ótima noite de sono Carlos.
Ele estava acabando de se arrumar e eu ainda pensando numa forma de fazê-lo mudar de ideia. De fato, eu tinha medo dessas saídas. Isso poderia mudar a cabeça dele, já que, ao meu ver, o fato dele ter batido em Leandro, mesmo que seja uma idiotice, demonstrava algum sentimento de amor por mim, já que seria como vingança. Mas a barreira que eu mesmo criei estava mais que esse amor, e só eu poderia quebra-la.
- Bruno, fica aqui essa noite? Vamos conversar direito, de uma forma que a gente nunca fez.
- A gente devia ter conversado antes, agora não adianta mais. Você fez suas escolhas cara. E não me force a fazer mais do que estou fazendo pra aguentar olhar na sua cara depois do que você fez.
- Quer saber Bruno? Você é muito infantil! Ao invés de conversar feito homem, vai fugir como um moleque. De que adiante me jogar pedras, se você é pior. Criança.
Só senti quando seu soco fez com que eu desmoronasse. Aquilo sim era o fim!
Se antes eu era o vilão, agora eu era o mocinho.
CONTINUA...