Marcelo saiu de casa e não sei onde ele se meteu. Não dormiu em casa. A primeira vez em cinco anos. Só de lembrar os martírios que passei com esse vai-e-vem durante dois, eu sinto calafrios e ameaço chorar. Eu sou forte! Eu consigo superar isso!
Depois de tudo isso, decidi procurar ajuda do patriarca da família: minha mãe. Eu sei o que vocês pensaram, mas não daria certo conversar com meu falecido pai.
(Marina) – Eu não vou interferir na sua vida amorosa!
(Dominicky) – Mãe, não estou pedindo intervenção! Quero um conselho. O que eu devo fazer?!
(Marina) – Tente conversar ou então dê um tempo a ele!
(Dominicky) – Será que fingir que não me importo vai adiantar?!
(Marina) – Isso só o tempo pode responder!
Segui o conselho da minha super-mãe. Deixei ele de lado. Cuidava da minha vida, minha filha e da empresa. Trabalhava compulsivamente. Mas o resultado não foi o esperado.
(Marcelo) – Agora você só quer saber de trabalho! Quem é o marmanjo que está dando em cima de você naquela empresa?
Eu não aguentei: desferi um tapa com todas as minhas forças. Minha mão ficou ardendo por uns cinco minutos. O tapa doeu mais em mim que nele. Como ele teve coragem de insinuar isso.
(Dominicky) – Lave sua boca imunda para falar de mim! Eu dediquei meus últimos anos a você. Nunca saí do seu lado. Nunca fiz nada sem o seu consentimento. Sempre fui honesto e fiel a você e o que eu ganhei?! Fui comparado a uma prostituta! Me respeite! Eu não sou o que você pensa!
(Marcelo) – Você é que nem todos os outros! Você também não presta!
(Andressa) – Pelo amor de Deus, parem com isso! Lembrem-se que isso é uma casa de família e há uma criança nesta casa. Seria pedir muito que vocês mantivessem o nível da discussão?
(Dominicky) – Foi o estúpido do seu irmão que me ofendeu!
(Andressa) – Eu ouvi! Marcelo, o que deu em você?! Eu não estou te reconhecendo!
(Marcelo) – Vai defender o meu querido maridinho, é?!
(Andressa) – Se você continuar com suas ironias, vai receber outra bofetada! O que está acontecendo com você? Você não é assim!
Ele simplesmente fechou a cara e saiu batendo a porta. Também não voltou aquela noite. Eu precisava desabafar. Eu precisava me aliviar. Levantei-me cedo e fui visitar alguém que há anos não visitava: meu pai.
Diante de sua lápide, eu abri meu coração.
(Dominicky) – Espero que o senhor tenha me perdoado por tudo o que eu fiz! Eu tenho tantas saudades do senhor! Gostaria de sentir seu abraço, ouvir seus gritos, ver o senhor entrar pela porta e me dar boa noite. Sinto sua falta! Como eu queria que estivesse comigo. Papai, o que eu posso fazer?! Como vou superar esta crise?! Se o senhor conseguir me ouvir e tiver me perdoado, dê-me um sinal.
Enquanto minhas lágrimas regavam o chão próximo aos meus pés, uma suave e constante brisa soprou sobre mim. Pude sentir o aroma dos lírios que acabara de deixar sobre o sepulcro. Lírios. As flores favoritas dele. Ele sempre me disse que elas simbolizavam o amor eterno. Ele sempre dava lírios à minha mãe. Como ele a amava. Como ela o amava. Eu destruí um casal, minha família. Sentia o peso de toda a culpa sobre mim.
(Vigia) – Tenho certeza de que ele o estará guiando, senhor!
(Dominicky) – Há quanto tempo está aí?!
(Vigia) – O suficiente para ver um filho amoroso e vítima da maldade pedir perdão ao seu pai.
(Dominicky) – Desculpe-me por isso!
(Vigia) – Espere! Ouça a brisa!
Sentia o vento deslizar sobre mim. Como se uma mão acariciasse meu rosto. “Sempre estarei com você, meu filho!” foi o sussurro que ouvi, arrepiando dos pés à cabeça. Agradeci a compaixão do vigia do cemitério e fui trabalhar.
Quando cheguei a minha doce casa, fui ajudar minha filha com seu ensaio. Jantamos e ela foi fazer sua lição de casa. Eu não tinha cabeça para nada e fui para a sala de ensaio, minha companheira de todas as horas.
“I wake up in the morning
Put on my face
The one that's gonna get me
Through another day
Doesn't really matter
How I feel inside
'Cause life is like a game sometimes
But then you came around me
The walls just disappeared
Nothing to surround me
And keep me from my fears
I'm unprotected
See how I've opened up
Oh, you've made me trust
Because I've never felt like this before
I'm naked
Around you
Does it show?
You see right through me
And I can't hide
I'm naked
Around you
And it feels so right”
(Eu acordo de manhã e
Coloco minha máscara
A que vai me fazer passar
Por outro dia
Realmente não importa
Como eu me sinto por dentro
Porque a vida às vezes é como um jogo
Mas então você chega perto de mim
As paredes simplesmente desapareceram
Nada para me cercar
Nem me proteger dos meus medos
Eu estou desprotegido
Veja como eu me abri
Oh, você me fez confiar
Porque eu nunca senti nada assim antes
Eu estou nu
Perto de você
Dá pra perceber?
Você vê através de mim
E eu não posso esconder
Eu estou nu
Perto de você
E isso parece tão certo)
Não notei quando uma certa pessoa entrou pela porta.
(Marcela) – Bela música, mas não acredito que o cara mais forte que eu conheço está se deixando levar pela melancolia! Rock nunca combinou com você, Dom!
(Dominicky) – Morena! Que saudade de você!
(Marcela) – Sua mãe me procurou e eu vim o mais rápido que pude. O que está acontecendo?
Desabafei com ela. Falei sobe tudo: a frieza do Marcelo, problemas na empresa, a falta que sentia do meu pai. A presença da Marcela me ajudou a lavar a minha alma. Nunca me senti tão bem quanto naquele dia. Era hora de voltar a realidade! A vida continua. Com ou sem o Marcelo.