(Augusto) – Incrível como você ainda se lembra de tudo o que eu te ensinei!
(Dominicky) – Vovô?! O que o senhor está fazendo aqui?! Como conseguiu me encontrar?!
Augusto começou a gargalhar, divertindo-se à custa da minha inocência.
(Augusto) – Você, meu querido neto, se esquece de que é a cópia fiel do seu pai. Acho que você não sabe que fui eu que dei esta casa a ele. Ele sempre vinha aqui quando precisava pensar. Deduzi que você queria estar mais perto dele e minha intuição paterna não falhou.
(Dominicky) – Não acredito nisso. Isso chega a ser engraçado. O senhor contou a mais alguém sobre vir aqui?!
(Augusto) – Não. Eu sabia que você precisava de um tempo, por isso demorei a vir. Temos que conversar!
Começamos a andar pela casa, rumo ao jardim que tinha uma piscina. Próximo a ela havia uma mesa com algumas cadeiras. Tudo belamente decorado.
(Dominicky) – Sobre o que o senhor gostaria de conversar?
(Augusto) – Marcelo é o resumo do assunto. Mas antes, preciso que me diga o que sente depois de tudo o que aconteceu.
(Dominicky) – Eu não sei dizer. O senhor diz que me conhece e me faz essa pergunta?
(Augusto) – Eu te conheço, mas prefiro ouvir da sua boca. Sei que fui um avô relapso e nunca te dei a atenção merecida, mas estou disposto a recuperar o tempo perdido. Poderia me contar?
(Dominicky) – A verdade é que eu não sei o que sinto, pois estou dividido entre dois sentimentos muito fortes: amor e ódio. Eu não sei o que fazer. Eu prefiro ficar longe dele e de tudo isso.
Ao falar com ele, juntei minhas pernas junto ao corpo abraçando meus joelhos. Sempre faço isso quando me sinto vulnerável. Coloquei minha mão direita sobre meu cordão, apertando o pingente.
(Augusto) – Vejo que você realmente gostou do presente!
(Dominicky) – Quando o uso sinto meu pai perto de mim! Ele tinha razão sobre a pedra. Ela afasta os sentimentos ruins!
(Augusto) – Espero que você esteja preparado para o que vou lhe contar!
(Dominicky) – Também espero!
(Augusto) – Depois que você sumiu, eu fui a sua casa. Acabei descobrindo do seu desaparecimento e lembrei-me deste lugar. Por incrível que pareça, meu antigo mordomo havia me ligado contando que Marcelo tinha visitado sua avó.
(Dominicky) – O que aquela prostituta tem a ver com o que aconteceu?!
(Augusto) – Suponho que ela tenha envenenado o sentimento que Marcelo nutria por você. Francisco me disse que eles discutiam sobre uma suposta traição sua. E é aí que as coisas ganharam uma proporção caótica!
(Dominicky) – Como assim?!
(Augusto) – O estresse natural da carreira aliado ao que a vadia da Lídia fez tiveram um resultado surpreendente. Ele acabou desenvolvendo esquizofrenia.
(Dominicky) – Esquizofrenia?! Quer dizer que…
(Augusto) – Ele está mentalmente perturbado. Ele foi preso sim, mas em seguida foi encaminhado para um hospital psiquiátrico para tentar se tratar. Não se sabe ao certo o que acontecerá com ele, mas ele está internado. Andressa e Marina estão desconsoladas. Sua família precisa de você. Você precisa voltar.
(Dominicky) – Eu sei disso! Mas preciso de mais um tempo. Tenho que acertar as contas com a vovó e depois resolver minha vida com o Marcelo. Obrigado pela companhia! Aceita almoçar comigo?
(Augusto) – Sinto muito! Preciso voltar! Ligue para sua mãe.
(Dominicky) – Sim senhor, Capitão!
(Augusto) – Idêntico ao pai!
Passei aquela tarde toda pensando no que eu havia descoberto. O estupro não foi intencional. Isso me aliviava, mas mesmo assim as coisas ainda eram muito delicadas. Ao anoitecer, liguei para minha mãe.
(Marina) – Dominicky Montefiore Lopes Prado, onde você está?
Minha mãe sempre diz meu nome completo quando está possessa de raiva. Eu desapareci por uma semana e larguei todos na expectativa. Não tirava a razão dela.
(Dominicky) – Eu estou bem e é isso o que interessa. Só liguei para tranquiliza-la. Em breve estarei voltando, mamãe. Meu avô me encontrou e me contou como as coisas estão por aí.
(Marina) – Eu deveria enterrar seu avô e você vivos, mas isso não resolveria o problema. A situação é grave. Ele já está fazendo o tratamento. Volte logo. A Paula está desconsolada!
Aquilo foi a gota d’água.
(Dominicky) – Não se preocupem! Volto amanhã mesmo!