Quando ficamos velhos... sim, infelizmente todos nós um dia ficaremos... percebemos que a vida passa muito rápido. Amamos, sofremos, rimos... muitos sentimentos misturados e pouco tempo para tentar encontrar a real felicidade de viver. Acordei naquela manhã chateado, pois, estava me sentindo gordo e velho. O Mauricio, as crianças, Isabel e Dora passaram 40 minutos me escutando reclamar de um fio de cabelo branco que apareceu na minha cabeça.
- Pai, mas nem aparece nada. – disse Paulinho cavucando minha cabeça com suas pequenas mãos.
- Amor... para de drama... ainda é cedo... – disse Mauricio sem tirar os olhos do jornal.
- Drama... drama... vocês são injustos... quando vocês tiverem que lavar as minhas partes intimas... quero ver quem vai fazer drama...
- Como? – perguntou DJ.
- É DJ... quando seu pai estiver gordo e flácido, sem conseguir tomar banho... quero ver quem vai ser dramático.... – falei visivelmente chateado.
- O senhor é novo pai... – disse Paulinho tentando me alegrar.
- Ok... o que seria de mim... sem vocês? Dora... não esquece de colocar na lista de compras... um pacote de tintura para cabelo... um não três... – falei mudando o assunto completamente.
- Amor? Você não está sendo um pouco dramático? – perguntou Mauricio.
- Mauricio... Mauricio... quantas vezes... eu já reclamei do meu cabelo? – perguntei cheio de direito.
- Hummm... no dia em que eu sem querer fiz a tua barba errado e cortei um pouco dele. – falou Mauricio.
- No dia em que eu joguei chiclete na sua cabeça. – falou DJ.
-No dia em que troquei as embalagens dos nossos shampoos... – disse Judith.
- Ou... igual... aquele dia em que o Senhor pensou que estava ficando careca... – falou Isabel.
- Então é um complô contra mim? – perguntei contrariado.
- Não... apenas você ama seu cabelo... – disse Paulinho.
Ninguém aguentou e caíram no riso. A minha família estava me ridicularizando, mas acabei entrando na brincadeira de qualquer jeito. Era incrível como éramos realmente uma família. Eu, Mauricio e as crianças... Judith e DJ estavam se adaptando, mas eram crianças espetaculares. Paulinho já estava um homenzinho, os gêmeos já estavam andando e brincando e falando bastante.
Phelip havia chegado mais uma vez tarde da balada. Abriu os olhos e ficou pensando na vida. Ele ligou a televisão e reconheceu a música que estava tocando. A mesma que Ezequias tocou na praça no dia anterior.
- Quem... quem será esse garoto?! – perguntou ele. – Para... você já se apaixonou por um homem e olha o que aconteceu... não viaja... fica assim mesmo que está bem...
- Filho... a Fernanda está te esperando. – falou Paula ao bater na porta do quarto de Phelip.
- Estou indo mãe... vou me arrumar...
No carro, ele e Fernanda conversam sobre vários assuntos. Depois da partida de Duarte... os dois ficaram ainda mais amigos... afinal Duarte era o melhor amigo de Fernanda.
- Ei... sabe quem eu encontrei na praça lá perto de casa? – perguntou ele.
- Quem?
- Um rapaz loiro, bonito, mas um pouco nerd... ele estava tocando violão.
- Phelip Soares... e a história de nunca mais se envolver com homens? – perguntou Fernanda.
- Eu... eu... onde já se viu... apenas quis te contar... quer saber... a partir de hoje não te falo mais nada... nada....
- Olha... para de drama... amigo... não tem problemas você se apaixonar novamente... eu gostava de você... terminamos... eu sofri... e hoje estou feliz da vida com o Osvaldo... – disse Fernanda.
- Eu sei, mas estou curtindo ficar com mulheres...
- Eu não acho... pega uma diferente toda noite... pensa que somos o que? Bonecas infláveis...
- Verdade... acho que vou ficar com bonecas infláveis... não falam ou reclamam... – ele disse rindo.
- Grosso... – disse Fernanda fechando a cara.
- Chata....
No hospital, eu e Emilly estávamos atarefados com a chegada dos novos equipamentos de ressonância magnética. Eram de uma empresa do exterior e deveríamos fazer um comercial explicando sobre os novos equipamentos.
- Gente... esse troço é muito grande. – falei impressionado.
- Poderíamos fazer uma simulação computadorizada. – falou Emily.
- Pode ser... daria menos trabalho... o que eu faria sem você? – falei.
- Com licença. – falou Mauricio batendo na porta.
- Olá? – disse Emily enquanto fazia copias de alguns papeis.
- Se importa se eu roubar o seu chefe por alguns minutos? – ele perguntou.
- Não... ele é todo seu. – disse Emily.
- Depois eu volto amiga... – falei sendo praticamente carregado por Mauricio.
Mauricio me levou até uma área do hospital onde os atendentes de plantão dormiam. Ele trancou a porta e começou a me beijar.
- Amor.. aqui... é....
- Aqui é perfeito... eu quero você... e quero agora....
Ele me beijou lentamente. Enquanto ia tirando a minha roupa. Ficamos completamente pelados naquele quarto e eu olhei para aquele corpo, sinceramente eu tinha vergonha. Ele é perfeito... cada músculo daquele corpo... meu...me dava tesão só de pensar neste fato.
- Pedro... você foi feito para mim... para de falar que está ficando gordo... feio... velho... esqueceu que eu sou poucos anos mais velho que você...
-Amor... mas você é perfeito... é bonito... elegante... me sinto tão feio quando estou perto de você... – falei fazendo charme.
-Hunf... e você acha que eu não me sinto um velho... ao seu... tão jovem... e bonito. – ele disse me virando de costa e me penetrando.
Ele me colocou contra a parede e aumentou a velocidade das estocadas. Depois de alguns minutos gozamos com uns minutos de diferença.
- Está vendo? Dois velhos... fariam isso que nós fizemos? – ele perguntou cansado.
- Acho que não... nossa foi incrível...
- Você é incrível...
-Nós somos incríveis... vovó... nós somos... – falei o beijando.
- Precisamos de uma férias só nós dois... sem crianças... amigos... parentes... – falou Mauricio.
- Podemos marcar para depois do carnaval... é baixa temporada... – falei.
- Pode ser, mas vamos para Bahia... já confirmei com o Carlos e o Caleb. – falou Mauricio.
- Ohhh Jesus... vocês ainda com essa ideia de curtir o carnaval na Bahia... ano passado a nossa ida ao Rio de Janeiro... não foi nada agradável... 6 horas em pé para conseguir uma fantasia...
- Pelo menos nós brilhamos na avenida amor...
- Dentro de um carro... onde ninguém via a gente... – falei me levantando e vestindo a calça.
- Mas, este ano vai ser diferente... você vai ver...
- Assim... eu espero... ahhh... eu preciso de ajuda... quero saber o que aquela HXWN – 3000 faz...
- Você quer dizer a WNHX – 300? – perguntou ele colocando o uniforme do hospital.
- Tanto faz... você me entendeu. – falei colocando a blusa.
- Ai amor... só você mesmo. – ele disse rindo.
- Vai ficar me zoando mesmo? – perguntei olhando fixamente para ele.
- Jamais... não...
No orfanato, as coisas estavam indo bem. Novos meninos e meninas chegaram. Larissa realmente estava começando a se apegar aos pequenos. Naquela manhã DJ não teria aula e foi brincar com os amigos.
- Que sorte você teve de ser adotado pelo Mauricio e o Pedro... – disse José.
- Verdade... eles são demais... acho que não poderia encontrar pais melhores.
- Mas, se eu fosse adotada gostaria que fosse por um homem e uma mulher. – disse Gari, um novo interno do orfanato.
- Ninguém pediu a tua opinião garoto. – disse Olivia. – Você não conhece o Mauricio e o Pedro... são duas pessoas maravilhosas.
- Eu só digo o que é verdade... eles são gays... não é certo...
- Mas, eles me deram uma casa, uma família... não me importo que sejam brancos... negros... azuis... homens ou mulheres... importa é que eles ma amam do jeito que eu sou... – disse o menino.
Mauricio que estava de visita ao orfanato ouviu toda a briga e ficou orgulhoso ao ver seu filho o defendendo. Apesar de toda emoção, ele procurou Larissa para saber como estavam as coisas por lá.
- Chegaram três novos internos... são meninos que estavam vivendo em situação de risco... agora o conselho tutelar é todo nosso amigo... eu não entendo... afff... – disse ela rindo.
- Percebi... havia um pegando no pé do DJ... por ele ter pais gays...
- Eu sei quem é... o nome dele é Gari, pois, foi encontrado vasculhando o lixão da cidade... sem pai... mãe... identidade...
- Que triste... – falou Mauricio. – Vi também que já contratou o ajudante.
- Sim... o nome dele é Martin... – ela disse rindo.
- Bem conservado o Martin... não é? – perguntou Mauricio rindo. – Vou te contar um segredo... os primeiros homens que eu fiquei eram todos coroas...
- Sério... e terminou com um rapaz mais novo que você. – ela disse rindo. – Mas, realmente ele é um homem atraente... apesar da idade....
- Igual a minha cunhada... o Caleb é muito mais velho que ela... e ele não aparenta ter 47 anos... quero chegar aos 50 igual ao Martin...
- Eu que vou chegar aos 50 em um caixão se não emagrecer... – ela disse.
- Para com isso Larissa... eu sei que todos devem dizer isso, mas você é uma gordinha bonita... poderia ser modelo plus size... olha... se pintassem o seu cabelos de loiro... colocam uma lente nos seus olhos... você seria igual a Adele... dava para fazer coslpay... – disse o meu marido rindo.
- Bobo... eu não pareço a Adele.
- E tudo também é questão de roupa... tem que parar de se vestir como velha... usar mais roupas soltas... floridas... mais com a sua personalidade. – disse Mauricio.
- Olha quem está me dando dicas de moda...
- Posso falar com o Pedro... e vocês dois vão ao shopping... só tem que parar de esconder o seu corpo e começar a ama-lo. – disse ele.
- Obrigada...
- Bem... tenho que ir... minha próxima cirurgia é em 20 minutos... hoje ainda não trabalhei... e eu quero muito aquela vaga de diretor... beijos...
Priscila e Vinicius se encontraram de manhã no refeitório e decidiram tomar café juntos.
- Minha mudança começa na próxima semana... vai me ajudar né? – perguntou ela.
- Claro, mas a tua mãe aceitou na boa? – ele perguntou.
- Sim... espero que sim... – ela falou.
- Legal... lembro quando falei para a dona Viola que eu mudaria para cá... ela fez o maior drama... chorou e tudo mais...
- Mas no fundo a minha mãe está triste, pois, todos os filhos estão crescendo... até mesmo o Bernardo... ele já tem 16 anos... ou seja, a mamãe vai ficar solitária novamente...
- Quem sabe ela não adota outro? – perguntou ele rindo.
- Tú é louco é? Já vou dividir a herança com 4... está bom esse número. – ela disse rindo.
- Você é uma graça...
- Eu só estou com medo de morar com o Caleb... tipo... eu quase não paro em casa... então ele não pode esperar uma dona de casa perfeita...e a única coisa que eu sei fazer é miojo ou ovo frito...
- Isso vai de casal para casal... contrata uma empregada... mas, se existe amor... vai dar certo... não se preocupa...
Na faculdade era o Dia do Trote. Alunos de vários cursos faziam brincadeiras com os novatos. O curso de administração era comandado por Phelip... considerado o mais radical de todos. O grupo dele realizou brincadeiras bobas, como por exemplo, balão com tinta, farinha de trigo, mel e penas de galinha. Era apenas diversão. Mas,algumas coisas passavam do limite.
Enquanto, ele, Fernanda e Osvaldo descansavam próximos a uma árvore. Passou um grupo, amarrado e correndo.
- Nossa que povo sem noção. – disse Fernanda. – É de onde? – perguntou ela.
- Medicina... – disse Osvaldo.
- Esses teus amigos hein... – falou Phelip.
- Ei... não me inclua nessa... eu nem estou participando e na semana do trote faltei todos os dias... não gosto... o pessoal de medicina pega pesado...
Ezequias que era do curso de teologia, esqueceu da semana do trote e como seu curso não participa foi “convidado” pelos alunos de medicina. Ele foi jogado no chão e tiraram a sua roupa, ficou apenas de cueca. Ele foi amarrado aos outros estudantes, jogaram neles uma mistura de óleo e corante de várias cores. Eles já estavam correndo há uma hora quando Ezequias começou a se sentir mal.
- Moço... eu não me sinto bem... – ele disse caindo e fazendo o grupo parar.
- Desamarra ele. – falou um dos estudantes. – Já cansou florzinha? – disse ele chutando Ezequias.
- Ei... estão agredindo aquele menino... – disse Fernanda correndo para cima.
- Fernanda!!! – gritaram Osvaldo e Phelip correndo em direção dela.
Osvaldo deu um soco no rapaz que caiu no chão. Fernanda tirou o nó da corda e Phelip segurou Ezequias em seus braços. Quando ele abriu os olhos, Phelip ficou hipnotizado com os olhos azuis do rapaz.
- Oi... – disse Phelip.
- Oi... – falou Ezequias.
- Me chamo Phelip...
- Sou Ezequias... eu... não me sinto bem... poderia me levar para o hospital. – ele disse desmaiando.
- Precisamos levar ele ao hospital. – disse Osvaldo correndo em direção ao estacionamento e pegando o carro de Phelip.
Sentado no banco traseiro. Phelip ia olhando para o corpo de Ezequias. Ele sentia um misto de prazer e arrependimento. Ele não queria passar pela mesma experiência do Duarte. Seu coração estava fechado...
- Para onde estamos indo? – perguntou o jovem acordando.
- Para o hospital...
- Ahh tá... pensei que já estava no céu...
- Ezequias... acorda... acorda... – disse Phelip sem sucesso.
Ao chegar no hospital, Phelip foi atendido pela irmã. Ele contou toda a história e Priscila levou Ezequias para a sala de exames. Cheguei no saguão e me deparei com Phelip.
- Está tudo bem? O que aconteceu? – perguntei aflito devido ao histórico da nossa família com aquele lugar.
- Está tudo ótimo... um amigo meu que passou mal no trote da faculdade e passou mal...
- Entendi... eu lembro do meu trote... até hoje sinto o cheiro do ovo que tacaram em mim. E você o trouxe sozinho?
- Não... o Osvaldo e a Fernanda estão ai... ele atacou o cara que fez a brincadeira com o nosso amigo. A tia dele está olhando o machucado dele...
Priscila voltou depois de alguns minutos. E trouxe as boas noticias, ele estava bem... só tinha pegado insolação devido ao óleo de cozinha.
- Brincadeira mais imprudente... tinha que ser obra dos alunos de medicina daquela maldita faculdade. – falou a minha irmã.
- E vocês já avisaram a família dele? – perguntei.
- Eu só sei que o nome dele é Ezequias, mas não sei nada sobre ele. – falou Phelip.
- Vamos esperar ele acordar. – disse Priscila. – Se você quiser vê-lo?
- Vou sim... com licença.
Phelip se aproximou da cama vagarosamente. Pegou na testa de Ezequias e o admirou por alguns minutos. Ele olhou para os músculos e desejou.
- Vocês foram meus heróis hoje... – disse Ezequias abrindo os olhos.
- Ahhh para com isso... teríamos feito de qualquer forma... precisamos do número dos teus pais para reclamar o corpo... – disse Phelip rindo.
- Você pode avisar eles para mim? Tem uma caneta para eu anotar? – ele perguntou.
- Claro... um segundo... – ele disse pegando na mochila caneta e papel.
Enquanto ia à administração do hospital, Phelip pensou em mim possibilidades de beijos na boca de Ezequias. Mas, em seguida ele lembrava de Duarte.
- Eu não posso me prender a ele mais... eu tenho que seguir...
- Seguir para onde? – perguntou Fernanda.
- Nossa cara que susto... – disse Phelip.
- Seguir para onde? – ela perguntou novamente.
- Para a administração ligar para a família do Ezequias... sabe o que é mais engraçado? – ele perguntou.
- O que? – ela perguntou.
- Ele é o rapaz da praça que eu te falei... que coincidência.
- Logo... você vai conhecer os seus sogros hoje. – ela disse rindo. – Mas, que bom... ele ficou bem... a Dra. Alexis vai ligar para a faculdade e falar do ocorrido.
- Que bom... vamos logo...
- Está com pressa para conhecer seus sogrinhos...
Sim... amamos, sofremos, rimos... muitos sentimentos se misturam em nossos corações... mal sabia o meu irmão que aquela seria uma experiência pior do que a com o Duarte. Mil vezes pior.
MSN - contosaki@hotmail.com