O Raphael já tinha capotado na minha cama, de roupa e tudo. Tirei seu tênis, fiquei pensando em tirar a calça dele e a camiseta, mas pensei melhor, de certa maneira eu não tinha essa intimidade com ele, então não o fiz. Limitei-me a cobri-lo com o lençol. Fui tomar um banho, voltei, me deitei do lado dele, ri ao pensar: “acho ele mais simpático quando está dormindo” .Tentei dormir, demorou, mas peguei no sono.
Acordei com um som alto, fui na varanda do meu quarto e vi a parentada toda fazendo churrasco na piscina. E lá estava de sungão vermelho e óculos escuros, Raphael, ensinando passos de funk para minhas primas e primos. Eu ri sozinho. Havia me esquecido que em janeiro minha casa virava um cabaré. Vesti uma bermuda e uma camisa de time de futebol e desci. Mamãe estava deitada na espreguiçadeira, na sombra, usando um enorme chapéu e óculos escuros também enormes, fazendo o estilo “diva do cinema”.
– Bom dia Jacqueline Kennedy! – falei em tom de gracejo, beijando sua mão.
– Vejo que está de bom humor hoje.
– Sabe como é ne mãe, ta no inferno abraça o capeta, onde está meu digníssimo pai?
– Foi comprar mais carne pro churrasco, estava pensando, porque você não leva seu primo para conhecer Pipa?
E ela começou a dissertar sobre como adorava Pipa, que bom mesmo era nos anos 70.
– Ta, ta mãe! Já entendi, vou ver se o Raphael quer ir.
Pipa é uma praia no RN, muito bonita, em que todo mundo adora ir, toda a high society, todos os reggaeiros, todos os raves, é cheia de gringos também. Enfim, Pipa é uma viagem. Recomendo a todos irem.
Eu sentei do lado da minha mãe. E fiquei vendo o Raphael, tinha esquecido como ele era gostoso, E aquele jeito dele rebolando, aquela bunda redonda
Meu celular tocou. Era a Gabi.
– Feliz ano novo Dr. Cedeño.
– Feliz ano novo doutora!
– Então, você abandonou mesmo a cidade maravilhosa? Ela não é mais tão maravilhosa sem você.
– Que isso, assim eu acabo acreditando..
– Pois bem, liguei pra ouvir sua voz de novo, espero que você volte, beijinhos
– Pode deixar beijos.
Desliguei e minha mãe me olhava por cima dos óculos escuros.
– Quem era Doda?
– Branca de neve mãe, queria saber se eu tinha visto um dos sete anões. Parece que ela perdeu o Zangado.. – minha mãe tinha o péssimo hábito de querer saber tudo sobre minha vida amorosa. Ela nem se preocupava o que eu fazia profissionalmente, ela queria era saber as fofocas de com quem eu estava com que eu andava ficando, desde adolescente era assim. E eu, claro, nunca falava nada, nunca fui de apresentar namoradas, ela apenas deduzia que eu estava namorando alguma garota, quando a menina passava a ligar lá pra casa.
– Ai que garoto chato! – resmungou, recolocando os óculos escuros.
Fui me servir de comida. E o Rafa veio falar comigo.
– Leeeeeeekkk tua família é dez. Fazia tempo que não me divertia tanto
– É, percebe-se, você já esta ensinando boladona pra todo mundo! – falei, sem conseguir controlar o riso.
– Se quiser te ensino também. – ele falou com aquele sorriso de malandro
– Não obrigado. – falei com tom irônico
– Ahh é mesmo, esqueci que você é do Rock ahuahauh grunge né? Quem diria, o doutorzinho era da geração perdida.
– Pois é ainda bem que hoje já me achei ne?
– Sim. Tenho uma parada pra te contar, to voltando pra facul.
– Olha só, ficou com medo de perder a mesada é?
Ele mostrou a lingua em tom de desaforo.
– Resta saber qual curso você vai voltar à fazer.
– Jornalismo, já tinha me decidido, e depois que conversei com tua mãe, aí putz! Ela deu maior apoio.
– É, por ela eu seria terapeuta holístico, mas enfim.
Ele se encostou perto de mim por trás, sentir o perfume dele, e o mormaço que subia do corpo dele, e o safado passou o braço de leve pela minha cintura, pra alcançar uma batata-frita do meu prato.
– O que tem pra comer?
Me virei e ficamos próximos, nos olhando, aquela boca rosada, que dias atrás havia chupado meu pau. Cara que delícia ele era. Meu pau subiu na hora, quando lembrei da nossa transa. Respirei fundo e sai pra geladeira dizendo:
– Olha aí pô...
Me sentei no banco alto da cozinha e comecei a comer na bancada.
– É Rafa, minha mãe disse pra eu te levar pra passear...
– Vou precisar botar coleira?
– Até que não seria má ideia, palhaço to pensando em te levar pra conhecer Pipa, uma praia fora de Natal. Lá é bem badalado e dá pra surfar.
– Pô, já é? Quando vamos?
– Podíamos ir hoje, se você tiver afim, ficamos numa pousada lá...
– Beleza, vou arrumar minhas coisas. Lek, ce num ficou zangado por eu ter ficado com a Taty não ne?
– Não - falei, mas acho que minha cara me traiu.
– A gente só se beijou – ele falou meio sem graça.
Ficamos em silêncio comendo. Depois fui brincar com meu cachorro, enquanto o Rafa separava as roupas pra levar à Pipa.
Peguei o carro da minha mãe e partimos quando o sol começou à esfriar. Meus primos não quiseram ir, preferiam ficar na minha casa tocando o puteiro, ou seja, bagunçando tudo. Fomos Rafa e eu. Na estrada eu havia esquecido de pegar meu case de cds, só tinha os da minha mãe, ou seja Fado, Chanson, mpb, Maria Callas, Bob Dylan e Rolling Stones (sim, minha mãe ama os Stones). Procurei uma radio legal, mas não tinha nada. Daí o Rafa saca um cd da mochila, era o preferido dele Jack Johnson, mais perfeito pra Pipa, impossível! E lá fomos nós.
Chegamos em Pipa ao entardecer, com algumas luzes da cidade já acesas. Sempre achei Pipa meio mágica, a vibe de lá e de noite a cidade se transforma, com todas as luzes acessas, colorida de gente, eu achava que era parecida com uma vila élfica moderna.
Pegamos uma pousada, quarto duplo, com duas enormes camas de casal. Rafa estava muito gato, uma bermuda cargo creme, camiseta do Hard Rock Café London (ele colecionava as camisas do Hard Rock por onde já havia passado, isso era tão, kitsch, mas todo mundo tem seu lado brega né?), o óculos escuro Spy segurado no pescoço, e boné. Quando entramos no quarto e fechamos a porta, fui me aproximando dele
– O que foi Lek, alguma coisa errada? – ele perguntou.
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