Me despedi de meu pai e desci com Luke até a portaria, ele estava lindo mas dessa vez mais descontraído, com uma polo big pony e um blue jeans. Na portaria cumprimentei um casal de vizinhos, que tinham uma galeria de arte no Flea Market do Brooklyn, eles tinham coisas bem legais por lá, gostava dos dois. Luke fez questão de me beijar e Janet piscou pra mim, rindo.
- Você precisa mesmo me dar um beijo toda vez que vê alguém novo por perto? - disse eu, rindo.
- Todos precisam saber que você está comigo, além do mais, não faço questão nenhuma de esconder - disse Luke me agarrando e dando-me um beijo de tirar o fôlego.
- Preciso de um pouco de ar fresco - disse eu, indo para a porta.
Assim que cheguei na calçada não consegui segurar o riso, Luke logo atrás cochichou em meu ouvido:
- Gostou?
- Limo Luke? Sério? - disse eu, rindo ainda mais.
- Você não gostou? - disse ele, visivelmente decepcionado.
- Luke, ainda que você viesse montado em um camelo seria o melhor veículo do mundo, só acho over, mas vamos lá, entrarei no clima de Sheik - eu respondi, rindo.
Luke veio atrás, emburrado, provavelmente porque eu não tinha gostado. No carro tinha uma garrafa de Pol Roger no balde de gelo e duas taças.
- Você ainda não tem 21, mas ouvi dizer que no Brasil a maioridade é 18 anos, se você não me delatar acho que estou seguro - ele me disse, enchendo as taças.
- Fique tranquilo, seu segredo está seguro comigo - respondi - mas não dá boa sorte beber sem um grande brinde.
- Está certo - respondeu Luke - ao nosso amor, que nunca acabe!
- Ao meu amor por você, que nunca vai acabar - eu disse, erguendo a taça.
Bebemos, conversamos, rimos, nos beijamos... eu não fazia a menor ideia de onde era esse novo club, mas a julgar pelo tempo que fazia que estávamos naquele carro deveria ser bem longe, o problema é que ainda estávamos na Upper Manhattan, o que não fazia o menor sentido.
- Luke, por que é que esse motorista está andando em círculos?
- Para nós dois termos um tempo aqui, antes - ele me respondeu.
- Um tempo? - perguntei.
- Sim, um tempo...
- E como vamos gastar esse tempo? - perguntei, novamente.
- Da melhor forma possível, pode ter certeza - ele disse, vindo e me beijando.
Eu e Luke já tínhamos uma empatia impressionante, quando estávamos juntos não éramos mais duas pessoas, nos tornávamos um. O toque de suas mãos não era estranho, seu corpo era como se fosse o meu, e sentia como se meu corpo fosse o dele. Seus lábios tocavam nos meus lábios, e sua respiração e a minha eram sincronizadas. Nós éramos um.
Continuamos ali, nos beijando e abraçando por mais algum tempo, quando o carro parou, na Mulberry St.
- Chegamos - anunciou Luke.
- Preciso de alguns minutos para me recompor - eu respondi, rindo - você me amassou todo.
- Você continua tão lindo como estava antes, eu só dei o toque final - ele respondeu.
- É, e eu adoro esse toque... - eu disse, o beijando.
Nós saímos da limo e estavam nos fotografando. Em Manhattan qualquer inauguração era um evento amplamente coberto, sobretudo pelos pequenos jornais da cidade. Fotografarem eu e Luke? Saindo de uma limo... aquilo não ia prestar. Luke segurou em minha mão e me arrastou pela entrada, onde ele parou, posou para algumas fotos e entramos, não entendi o porquê de ele não ter me beijado, mas não o questionei.
O ambiente era lindo e opulento. Veludos púrpura, cerâmicas ricas e ornamentos dourados completavam o ambiente. Dançarinas com bandejas de chá em suas cabeças faziam performances por todo o ambiente, todos dançavam e se divertiam, nos trouxeram alguns petiscos deliciosos, embora até hoje eu não saiba o que era aquilo. Um homem veio nos receber e nos levou para uma mesa em um espaço mais reservado, arrumada para dois. Luke e eu conversamos a noite toda, comemos, dançamos, estava tudo simplesmente perfeito, e na verdade seria igualmente perfeito ainda que nós dois tivéssemos ficado no carro, a noite toda.
Durante toda a noite pessoas vieram cumprimentar Luke, em sua maioria casais de aproximadamente 30 anos, que, para ser sincero me irritam. Abrindo um parênteses aqui.
Não tenho nada contra pessoas mais velhas, nem pessoas casadas ou que namorem, mas esses casais de 30 anos me irritam. Levam uma vida medíocre, sem diversão, sem novidades, sem NADA! Uma vida 'plana', sem aventuras, enfim, isso nunca me agradou. Fecha parênteses.
Eu já estava super cansado quando Luke me pergunta se eu quero ir para a casa, e, para ser sincero, ainda que eu estivesse super cansado, eu não queria, ficar ali com ele seria tudo o que haveria de melhor, mas como eu teria de ir para o apartamento de Gianni, na manhã seguinte, assenti.
Luke me levou até em casa e nos despedimos com um longo e carinhoso beijo. Subi para o apartamento, tomei um banho rápido e me deitei, poderia dormir só umas poucas horas.
No dia seguinte acordei cedo, fiz minha higiene matinal e terminei de arrumar as coisas. Comi uma coisa qualquer em casa e desci com as malas, junto de meu pai e Gianni, e o carro já estava nos esperando. Paramos em frente a um apartamento no Brooklyn, onde Gianni passava as temporadas que estava em NYC, e me despedi de meu pai e Gianni me ajudou com as malas, afinal o elevador não funcionava. O apartamento de Gianni, na verdade, não era um apartamento, era um studio, com uma iluminação fantástica, mas como tal não tinha quarto, na verdade a cama ficava em um 'entresol' (alguma ajuda a traduzir?), uma estrutura intermediaria entre o chão e o teto. A decoração era interessante pois combinava o minimalismo com um quê urbano.
- Você pode ficar em meu quarto Marc, eu durmo aqui no sofá - me disse Gianni.
- Nada disso Gianni, você fica em seu quarto, eu durmo em qualquer lugar - respondi, resoluto.
- Fique a vontade, tenho um go-see para a Marc by Marc Jacobs, devo voltar logo - respondeu, pegando umas coisas e saindo.
Era sábado, eu certamente não queria ficar sozinho, liguei para Luke.
- Amor, estou aqui sozinho no apartamento de Gianni, vem ficar comigo?
- Tenho uma ideia melhor, por que você não vem ficar comigo, essas duas semanas?
- Falei para meu pai que iria ficar aqui com Gianni, além disso vai ser bom eu passar um tempo com ele, afinal mal nos conhecemos.
- Ok, estou indo para aí.
Passei o endereço pra ele e desliguei. Eu estava incomodado, ficar sozinho na casa de alguém que mal conhecemos é algo horrível! Fiquei com sede e fui procurar alguma coisa para beber, tinha Cherry Coke, peguei uma lata e bebi, longa e demoradamente. Meu celular tocou era Luke, eu tinha esquecido de passar o número do apartamento para ele, desci até a portaria.
- Meu amor, não aguentava mais de saudades! - disse, correndo aos seus braços e o beijando.
- Nossa, você estava com saudades mesmo - ele respondeu, rindo - você já comeu?
- Já, mas ainda estou com fome, vamos andar pelo bairro? - sugeri.
- Claro, vi um café a duas quadras daqui - disse Luke, enquanto caminhávamos a caminho do café.
- Eu estou preocupado - disse eu, divagando.
- O que te preocupa Marc? - Luke me perguntou.
- Tudo. Nós, você, seu pai, sua imagem...
- Não vai ser tão ruim assim para os negócios, além disso temos muitos clientes gays, haverá uma identificação - Luke disse, me abraçando.
- É sério Luke, você sabe que não vai ser fácil.
- E o que é fácil hoje em dia? - ele me perguntou.
- Nada é fácil hoje em dia - concordei - e na verdade, acho que nunca foi, mas passar por cima de tudo isso vai ser difícil...
Mal terminei a minha frase e eu encontro Betsey, que grita e vem correndo em minha direção.
- Betsey! Faz séculos que não te vejo!
- Céus, tem razão, mas eu te vi essa semana, onde foi mesmo? Ah é, no jornal com esse príncipe aí - ela disse, rindo e apontando para Luke.
- É, eu achei um dos últimos exemplares de Manhattan - brinquei.
- Não, eu que tive sorte de encontrar o menino mais especial de toda ilha - disse Luke, me beijando no rosto.
- Onde vocês estão indo? - perguntou-nos Betsey.
- Procurando um lugar para comer - eu respondi - tem um café ali na frente, não tem?
- Bobagem! Vou levar vocês no melhor carrinho de hot dogs da cidade - ela disse pegando nós dois pelas mãos e saindo.
Betsey (procurem 'Betsey Johnson no Google) é uma estilista incrível daqui, ela tem um bom humor contagiante e muita energia, que contagia a todos que estão por perto. Ela nos levou até o carrinho de hot dogs e comemos os três. Ela me disse que estava abrindo mais duas lojas e me convidou para o cocktail de abertura. Luke se adiantou e disse que nós dois iríamos, ela riu e disse que ele sempre seria bem vindo, onde quer que ela estivesse, piscando para ele. Rimos os três.
Convidei Betsey para ir ao apartamento de Gianni mas ela disse que estava com pressa, sempre está com pressa, e despediu-se de nós dois. Eu e Luke voltamos ao apartamento onde passamos algumas horas abraçados e conversando, nos beijando...
(continua)