Como Cauê havia conseguido o emprego no Carrinho Cheio Supermercados durante o dia, teve que optar por terminar o último ano de escola à noite. Ele não tinha gostado, pois deixaria sua turma bem no meio do ano e à noite não se aprendia muita coisa.
Entrando na sala ele viu sua nova turma: velhos, apáticos, cansados. Sentiu um enorme desespero e uma vontade louca de correr quando sua atenção se jogou para um aluno lá no fundo, debruçado sobre a carteira ouvindo música.
Não era possível! Joaquim estava naquela classe.
Cauê se acomodou longe de Joaquim e focou na aula. Mas vez em quando não resistia à tentação de dar uma espiadinha no colega de serviço. Sempre que olhava, ficava imaginando aquele corpo todo nu. Aquele garoto todo gostoso em sua cama saciando seus mais profundos desejos.
Sentia o brinquedinho endurecer quando espantou o delicioso pensamento. Tudo bem gostar de homens, mas do Joaquim? Não! Nunca! Ele era estúpido, grosso e mal educado.
O sinal bateu e entrou um professor de matemática inusitado. Baixinho, cabelo cumprido preso num rabo de cavalo, moreno, devia ter seus 45 anos. Assim que entrou, todo radiante, já foi fazendo a chamada.
Depois de muitos “presente!”, ele chegou ao nome:
- Joaquim!
Silêncio.
- Joaquim! Ué, o Joaquim não veio?
- Veio, sim. Tá ali atrás – disse uma aluna.
O professor foi até a carteira de Joaquim e o cutucou:
- O que foi? - respondeu bocejando.
- Eu só quero saber se você veio à escola.
- Tenho que responder, mesmo?
- Claro!
- Se estou aqui significa que eu vim, não é?
- Não. Estar aqui não significa nada. Talvez responder a chamada signifique alguma coisa.
- Presente, então.
- Ótimo! Eu espero – disse virando-se para a classe – não me arrepender de ter deixado meu pitbull sarado e selvagem carente em casa pra vir aqui dar aula para um bando de desinteressados. Ah! – exclamou ao ver Cauê – temos um amigo novo! Qual é o seu nome, delícia?
- É Cauê.
Joaquim se transfigurou em susto.
- Vamos dar as boas vindas ao Cauê?
- Seja bem vindo, Cauê! – disse toda a classe num coro.
- Eu sou Bruque. Espero que possamos ter um ótimo ano! – disse a Cauê.
Joaquim fez uma bolinha de papel e jogou em Cauê.
- Tá me seguindo? - sussurrou quando Cauê se virou para ver de onde vinha a bolinha.
Cauê ficou sério e voltou-se para frente.
Bruque começou a aula:
- Quero que se sentem em duplas para resolver os exercícios de hoje, ok? Escolham seus pares e vamos dançar!
Antes que Cauê piscasse Joaquim já estava do seu lado.
- Então seu nome é Cauê. Muito educado se apresentar.
- Eu tentei, mas o Senhor Absoluto não deixou. E eu ainda falei pra Janaína com quem, se não me falha a memória, você iria ao cinema agora à noite. – disparou sem tirar os olhos da lousa.
- Ai, droga! Me esqueci totalmente. Ela vai ficar muito bolada. E agora, o quê que eu faço? Hein, ô, Cauê? Ôu, olha pra mim!
- O quê que é, hein? - estourou Cauê – Eu te conheci a menos de dez horas, você foi um idiota e agora vem me pedir conselhos como se fosse meu amigo?
- Olha, pra mim não existem regras pra conversar com alguém. Isso é frescura, gueizisse total. A gente fala quando dá vontade e pronto.
Cauê ficou em silêncio.
- Que é, ficou mudo?
- A gente fala quando dá vontade e pronto.
Depois de muito tempo em silêncio, Cauê pergunta:
- Você não traz caderno pra escola?
- Não.
- E como vai resolver os exercícios?
- Trabalho em dupla, esqueceu?
- Então no caso a dupla somos eu e eu?
- E eu. Bom, nesse caso seria um trio.
- De jeito nenhum.
- Eu vou ser tipo um segurança. Vou cuidar pra que nada atrapalhe seu precioso raciocínio e interfira na nossa nota. Ah, e só pra constar, você é nerde, não é? Pelo menos tem cara de inteligente. Se realmente for é o par perfeito.
- Toma - Cauê lhe entregou o caderno – resolve a metade que falta.
- Mas já? Você não é normal.
- É. Assim você tem tempo de sobra pra terminar.
- Não vou resolver.
- Então sai daqui.
- Vai me obrigar?
- Resolve o maldito exercício!
- Não!
- Por quê?
- Porque não quero.
- Será mesmo?
- Alguma dúvida?
- Só uma certeza: você não sabe.
- É, não sei. Não preciso disso.
- Então admite que é burro?
- Eu não sou burro.
- Tão absoluto em muitas coisas, mas não consegue resolver um exercício de matemática.
- Isso é besteira. Não preciso de estudo. Consigo tudo o que eu quero. Inclusive notas. Olhe pro Bruque. Ele me deu dez no semestre passado. E sabe como consegui?
***
- Aaaaaaaiiiiiiiiiii! Bate mais! Vai, meu aluno nota dez!
- Vamos inverter os papéis. Agora o professor sou eu e eu dou as ordens.
- Sim, senhor!
- Agora eu quero que diga o que quer.
- Pica!
- Mais alto, diga várias vezes.
- Pica! Pica! Pica!
- Aonde?
- Bem aqui, ó – disse deitando na posição de frango assado apontando para o cú.
- Aqui tem nome, qual é?
- No meu cuzinho! Ain, vem, tô me afogando em desejo.
Joaquim aperta o rosto de Bruque e em seguida o esbofeteia.
- Cachorra! Safada!
- Aaaaaaahhhhhh! Bate mais, meu professor gostoso! Vem! Coma-me!
- Repete o que você quer.
- Pica! Pica! Pica!
- Bem! O Doutor Pica está dormindo agora. Precisa que alguém o acorde – disse tirando o Doutor Pica pra fora molinho.
- Pica! Pica! Pica! – o professor Bruque parecia um louco enquanto babava e fazia gestos frenéticos com as mãos como quem queria pegar alguma coisa. E ele queria.
- Espera! O Doutor Pica só gosta de ser acordado pela boca da Aline Moraes.
- Posso fazer muito melhor que ela.
- É o que vamos ver!
Assim que Bruque agarrou o Doutor Pica, Joaquim quase caiu pra trás.
- Ah, está muito fraco. Aline Moraes está rindo de você... Aaaahhhhh... Vamos com isso! Chupa esse pirulito com vontade! Assim é bem melhor... Ah, puto safado... Isso! Lubrifica bastante se não quiser que seu cu pegue fogo!
- Ziiiiiiiiii! Delíciaaaaa! – gritava Bruque – Ai, que delícia!
Joaquim tira o pinto e logo lhe dá outro tapa.
- Puta boqueteira! Precisa melhorar! Agora de quatro! Vamos ver se assim você surpreende. Hummm... Bundinha seca, essa sua... Tô quase desistindo!
- Não! Me come, por favor!
- Vou dar uns tapinhas pra ver se ela incha.
Pá!
- Ai!
Pá!
- Aai!
Pá!
- Aaaaii!
- Parece que tá resolvendo...
Puff! Joaquim cuspiu no anel e enfiou o dedo... Bruque chorava.
- Vixi... Se já tá chorando com os dedos, vai acabar morrendo com meu pau no seu rabo. Que tipo de bicha você é?
- Eu aguento! Vem!
Joaquim segurou bem forte as duas partes da bunda e socou de uma vez.
- Aaaaaaaaaaiiiiiiiin! Professor!
- Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Tá me surpreendendo…
- Professor gostoso! Vai, mete mais! Vai, vai fundo!
- Você quem pediu! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Caralho de bunda gostosa!
- Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Aaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiii!
- Oh! Oh! Oh! Oh! Agora diz… Quem é o melhor professor, diz!
- Joaquim!
- De novo, mais alto. Quem é o melhor professor?
- JOAQUIM!
- De novo!
- Joaquim!
- Abre a boca, vou gozar!
- Delícia, vem, aaaaaaaa...
Shiiiiiiiiiu. Joaquim ficou dez segundos gozando na boca de Bruque.
Bruque engoliu tudo.
- Hum! Que delícia! Agora me dá um beijo, desejo...
- De jeito nenhum – Joaquim se esquivou – E se forçar a barra, nosso casinho vai parar na diretoria – continuou vestindo a roupa – Vou indo e, ah, não se esqueça, me esforcei muito, portanto mereço um dez. Fui!
***
A história fez Cauê gozar nas calças.
- Hum! Sinto cheiro de porra! Gostou da história, não é, safadinha? Queria estar no lugar do professor?
- Engraçado, parece que ouvi você me dizendo hoje que odiava gays, mas é um. Uau! Nossa amizade evoluiu muito.
Joaquim se dando conta da besteira que fez tenta consertar.
- Não, eu só comi ele, nem cheguei a beijar. Eu não gosto de homens.
- Não beijar, só “comer” não significa que você esteja livre de ser gay. Pra mim você é um, mas enrustido.
- Olha aqui, eu não sou gay como você. É de mulher que eu gosto. Não tente me confundir porque eu sei o que sou e não vou ser seu namoradinho – disse Joaquim entre os dentes, arrancando-se da cadeira em seguida.
O sinal tocou.
- Gay... – sussurrou Cauê enquanto Joaquim se afastava.