Acordei e o vi ali na cama, mas agora longe. Ele observava o teto, um olhar distante, pensativo, vago. Sem olhar pra mim e com uma voz chorosa ele disse: Tomei uma decisão, não quero te magoar...
CONTINUA....
PARTE 6
Toda vez que nos entregamos, sofremos depois meses sem se ver. E isso dói, machuca. Não quero isso pra minha vida. Quero enfrentar o mundo, quero fazer o que me dá vontade, quero alguém que me complete, não me importa se é um homem, quero a felicidade, você é ela. Quero te fazer sorrir, te arrancar suspiros, quero fazer parte dos seus sonhos, quero te amar sem reservas, quero você! Fica comigo tipo, pra sempre?
Meu coração ali disparou, eu o amava sim, mas eu não sabia se esse amar era o suficiente, nos conhecíamos ha tempos, porém essa nova forma de contato entre nós era algo ainda recente, nessa hora na minha cabeça formou um turbilhão de pensamentos. Cenas passadas passavam na mente somando às cenas do que poderia acontecer se eu o aceitasse, um nó ficou preso na garganta e uma queimação no estômago me atingiu em cheio, logo em seguida veio a falta de ar e o coração começou a bater descompassado, em meio a todos esses pensamentos me pego novamente sendo fitado por aquele mesmo olhar. Esse seu jeito de encarar nos olhos continuava a me hipnotizar como todas as vezes, uma onda de desespero bate e mim e eu digo à ele: Desculpa, por mais que eu sinta o mesmo que sentes por mim, isso é errado, eu não quero minha vida diferente, não posso me permitir enfrentar o mundo sendo que tenho medo dele - nessa hora seus olhos enchiam de lágrimas, mas continuei - eu não sei esconder, eu não sei disfarçar quando eu amo, eu não posso, não posso, não posso - agora eu também chorava - desculpa, mas vamos seguir como era antes.
Ele então me indaga perguntando se esse seguir como era antes, seria como sendo somente amigos. eu sem conseguir olha-lo digo que devemos seguir como éramos antes de nos conhecermos.
Sento na beira da cama com as mãos no rosto. Percebo-o pegando suas coisas, eu não conseguia fitá-lo e continuava com a cara abaixada. Escuto um choro baixinho e um abrir e fechar a porta.
Neste instante chorei tudo aquilo que guardei tentando demonstrar ser forte, eu tinha feito a escolha certa, por mais que tenha sido difícil e doloroso, eu tinha convicção que eu não estava pronto para assumir perante meus familiares e também náo aguentaria enfrentar seus familiares com seus preconceitos absurdos.
Bom, basicamente segui a vida, não fiquei com a Pam após aquele episódio, ela se afastou de mim, no começo fiquei triste mas quem saiu perdendo foi ela.
No meu íntimo ainda o amava, desejava até mais um dia como aquele em minha casa. Acabei ficando caseiro e me afastando um pouco do pessoal, pois ele fazia parte da turma, e ve-lo não me ajudaria no plano de esquecê-lo.
Certo dia numa tarde ensolarada, estava eu e duas primas minhas aproveitando a piscina do clube. Como sempre, até pela idade, começamos a guerrear na água. Bom, não lembro do que ocorreu, só me lembro de ter acordado em um quarto de hospital com meu pai ao lado. Ainda meio sonolento começo a observar o ambiente tentando decifrar o que estava acontecendo. O quarto era de um hospital particular muito bonito, tinha uma tv grande,paredes bem pintadas, as camas elétricas (tinham duas), lembro de ver um outro garoto ao lado, dormia com a perna enfaixada e engessada em uma pequena parte. Mais tarde vim descobrir que havia sido atropelado, nada de muito grave.
Meu pai me observava sem falar nada, nunca fomos próximos. Criando coragem perguntei a ele o porque de eu estar naquele lugar. Ele me conta que me afoguei na piscina quando levei um pancada na cabeça debaixo d'agua brincando com minhas primas. Ainda me disse que estava ha dois dias sedado por precaução, pela pancada que levei e pela quantidade de água que foi para o pulmão. Não lembro do que mais conversamos, apenas que dormi de novo. Acordo agora com a minha mãe ao lado, claro ela como de habito já começou a me dar o sermão, mas incrivelmente preferia ela brigando comigo do que a presença do meu pai. Então começa a explicar tudo o que os médicos disse a ela, os cuidados que terei que tomar por alguns dias, os remédios. Disse também que foi meu pai que passou as duas noites ali comigo e as visitas que tive, mas uma em especial me fez gelar numa emoção esquisita. Disse que o Le ficou quase que o tempo todo ali na recepção, só saía pra ir à escola, me contou que ele apresentava um semblante muto triste e preocupado. Claro que percebi que minha mãe tinha sacado, estava muito na cara, porém se ela queria comentar algo ela guardou pra si.
Tenho alta dois dias depois e vou direto pra casa, que saudade estava da minha cama.Acesso o msn e vejo um monte de mensagens de meus amigos, mas dele nenhuma, achei bem estranho visto que ele não desgrudou do hospital até eu acordar.
Uma semana se passa e volto pra escola, da sala de aula mando um sms pra ele me encontrar em uma pracinha um pouco deserta. Pouco presto atenção na aula, as horas não passam de jeito algum.
Finalmente deu o horário e então bem a noite caminho em direção à pracinha, minha boca já se encontrava seca tamanho o nervosismo. Esse lugar era meio incomum, pois normalmente praça é envolta por ruas, porém essa ficava entre dois terrenos e apenas um lado pra rua. Chegando devagar pra ver se não havia nenhum mau-elemento por ali, o vejo sentado em um banco, de costas, debaixo do eucalipto mexendo em seu celular. Simplesmente estava lindo. Cabelinho espetado pra cima com gel, uma camiseta de mangas compridas branca e colada ao corpo e ma calça jeans acizentada.
Meu corpela saindo pela boca, vou me aproximando aos poucos, como todas as vezes, sinto de longe seu perfume, o barulho das folhas sendo pisadas o faz perceber que cheguei. Ele vira para o lado e me olha, se levanta e ira pra mim. Chego de frente pra ele e agora também sinto seu cheiro me inebriando. Já de primeira pego sua mão e digo a ele: Eu quero, quero te amar, quero ser amado, quero que seja meu porque meu coração é só seu, Eu o abracei mas ele continuou do mesmo jeito. Um silêncio perdurou parecendo uma eternidade..
CONTINUA....