Parte 02 – Ela Queria Apenas um Pouco de...
Mesmo com a vontade de fechar a porta, correr até o quarto, colocar uma roupa decente pra só então voltar e atender sua vizinha, Fernanda teve que usar da boa educação; usando de palavras que não possuía, ela resmungou que a vizinha não a atrapalhava de forma alguma.
- Ótimo! – a loira sorriu, só então mostrando uma caneca que trazia consigo. Ou a tal caneca estivesse à vista o tempo todo; Fernanda é que não a viu, já que o generoso decote daquela tentação de mulher era algo muito mais interessante do que uma caneca de porcelana. – Eu estava pra fazer um bolo quando percebi que meu açúcar acabou. Você não teria um pouco pra me emprestar?
- Cla-claro. – Fernanda disse, fazendo menção de apanhar a caneca. Mas a vizinha, sem se importar em não ter sido diretamente convidada, passou por ela, entrando em seu apartamento. – Fique à vontade. – ela logo emendou, pra não parecer muito mal educada.
Ela sempre fora educada até demais. Só estava sem palavras diante daquela aparição repentina. A vizinha não usava uma regata branca e calcinha vermelha, claro, mas em compensação... aquela calça de ginástica não deixava muito à imaginação.
E ela tinha mesmo um belo traseiro... tão belo quanto aqueles suculentos seios, que a tentavam todos os dias.
- Sei que nos vimos algumas vezes, mas nunca tive chance de me apresentar. – a loira disse assim que Fernanda fechou a porta, voltando-se para encará-la. – Meu nome é Marina.
- Muito prazer, Marina. – Fernanda disse, aceitando a mão que a mulher lhe estendia. E que mão macia... quentinha... por que tudo o que vinha daquela mulher lhe dava ideias? Libertinas, pervertidas e eróticas ideias? – Meu nome é...
- Fernanda. – Marina completou, sem soltar a mão de Fernanda. Ali, diante dela, tendo sua mão segura por aquela que era tão macia, a jovem mulher constatou que os olhos de Marina não eram castanho escuro, como antes deduzira. Eram escuros sim, mas eram cinzentos. De um incomum tom cinzento. – Perguntei ao síndico sobre você. – Marina riu diante da expressão confusa de Fernanda.
- Ah, sim. – ela pigarreou, puxando sua mão de volta. Precisava agir com ao menos um pouco de normalidade, por Deus! – O síndico.
Que comentário mais espirituoso...
- Sim, o síndico. – Marina confirmou, parecendo se divertir com a situação. – Queria me aproximar antes, mas fiquei um tanto quanto receosa. Ele me disse que você é do tipo solitário.
- Cumprimento você todas as manhãs. – Fernanda falou, de repente. E chutou-se mentalmente por tê-lo feito. Mas, como não podia simplesmente desdizer o que saíra por seus lábios, ela mordeu o inferior com um pouco de força antes de completar. – Você nunca responde.
- Ah, aquilo era um cumprimento? – Marina se surpreendeu, rindo gostosamente depois. E, céus, como seu sorriso era lindo! Parecia iluminar toda a sala. Fazia pulsar mais rápido o coração de Fernanda; o maltratado coração de Fernanda. – Sério, eu pensei que você estivesse apenas pigarreando pra limpar a garganta ou algo do gênero.
- É, o síndico estava certo. – Fernanda deu de ombros, com um sorriso trêmulo. – Não sou muito boa com as pessoas. – ela então estendeu sua mão até Marina, que arqueou uma sobrancelha enquanto a questionava com os olhos. – O açúcar. – Fernanda lembrou, fazendo com que Marina sorrisse de leve em resposta.
- Claro, o açúcar. – ela então passou a caneca à Fernanda, que novamente mordeu o lábio diante do olhar fixo que a vizinha lhe lançava. – Por que mais eu viria aqui, não é mesmo?
Sem ter o que responder-lhe, Fernanda apenas apertou a caneca em sua mão e seguiu para a cozinha; Marina não a seguiu. Respirando fundo, ela contou até dez de forma pausada enquanto procurava a lata de açúcar, despejando os cristais na caneca.
Como alguém podia se preparar pra algo como aquilo? Certo era que Fernanda lidava com pessoas todos os dias, mas era da porta pra fora; nunca, antes, alguém entrara em seu apartamento.
Aquele era seu lugar no mundo. Sua fuga. Ali, ela podia ser quem de fato era; sem recriminações, sem preconceitos, sem consequências impiedosas.
Apenas ser quem ela era.
E então a vizinha, a quem ela desejava e muito, vinha até sua porta, pedir um pouco de açúcar. Como se não bastasse desfilar toda aquela gostosura diante de si todas as manhãs, ela ainda tinha que vir até seu apartamento atormentá-la.
Respirando fundo novamente, Fernanda voltou pra sala. Mas lá não havia ninguém.
A porta estava semiaberta e a sala vazia. Onde Marina se enfiara? Era justamente o que Fernanda se perguntava enquanto ficava ali, no meio do cômodo, com a caneca de açúcar em sua mão, olhando ao seu redor feito uma idiota.
E foi nessa rápida olhada que ela encontrou. Não Marina, claro; esta, havia mesmo saído sem a caneca. E sem se despedir.
Na verdade, Fernanda não encontrou. Se ela encontrou, foi à própria ausência.
Seu laptop. Ele não estava ali.
Num primeiro momento, Fernanda quis gritar. Depois, descobriu que não tinha forças pra isso. Tanto era que ela precisou depositar a caneca em um dos móveis ao seu redor, sentando-se na poltrona mais próxima; suas pernas estavam trêmulas demais.
Seus contos estavam naquele maldito laptop!
Sim, seus sonhos com Marina. Dormindo ou acordada, tudo o que se passara em sua mente ela anotara naquele maldito laptop! E agora ambos desapareciam; Marina e seu computador pessoal. Não precisaria ser um gênio para chegar à conclusão mais lógica.
Marina levara seu computador.
- Ok, ok... – Fernanda disse a si mesma enquanto respirava fundo vezes seguidas, mantendo seus olhos fechados, tentando se acalmar. – Ela pode não ter lido nada... não pode?
Não. Ela tinha lido. Era justamente por isso que Marina levara seu computador consigo. Decerto que o pegaria e a denunciaria ao síndico, mostrando-lhe quão pervertida era sua vizinha. E quão homossexual ela era também.
Não, ela não podia permitir tal coisa. Tinha que fazer algo.
Reunindo em si forças que não possuía, Fernanda levantou-se e rumou até a porta. Prendendo a respiração, ela levantou sua mão em punho e bateu na porta do apartamento de Marina, que estava fechada.
Uma, duas, três batidas, curtas e secas. Quase pôde ouvir a movimentação do outro lado da porta antes que esta fosse aberta. Mas, ainda assim, não estava preparada praquele confronto.
- Sim? – Marina questionou com um sorriso torto em seu belo rosto, encarando-a com aqueles intensos olhos cinzentos. Era como se ela não tivesse roubado o laptop de Fernanda. Ela agia tão naturalmente que Fernanda até mesmo se perguntou naqueles segundos se ela não sonhara tudo aquilo... – Você quer alguma coisa, Fernanda?
- Meu... meu... – Fernanda gaguejou, sentindo aquele olhar cinzento pesar sobre si. Ela não entendia nada do que acontecia ali. – Você, por acaso, viu meu laptop?
- Sim, eu o peguei. – Marina respondeu, encostando-se ao umbral da porta enquanto cruzava ambos os braços diante de si mesma. Tal gesto só fez com que seus seios saltassem aos olhos de Fernanda, que se sentiu salivar, apesar da situação.
- E por que você fez isso? – ela gaguejou, engolindo em seco logo em seguida.
- Você o deixou aberto sobre a escrivaninha. – Marina esclareceu, ainda sem demonstrar vergonha ou arrependimento pelo ato. Ela apenas estava ali, confessando. – Vi de longe que você escrevia algo e fiquei curiosa. Bendita curiosidade... – Fernanda prendeu inconscientemente o fôlego quando Marina mordeu o lábio rosado, deixando seus olhos tão intensos deslizarem por seu corpo. Um claro sinal de desejo. Desejo... por ela? – Me diga, Fernanda... você sonha mesmo todas as noites comigo?
- Você leu? – Fernanda questionou, incrédula e levemente horrorizada. Ok, talvez nem tão levemente. Certamente, nada levemente; ela estava muito, muito horrorizada.
A lésbica discreta que se recusou a lutar por seus direitos estava ali, exposta. E Marina tinha, em mãos, material suficiente pra expô-la ainda mais.
- Oh, eu li. – ela sorriu, desencostando-se do umbral e se aproximando um passo de Fernanda. A mão que antes apertara a sua subiu até seus cabelos ainda úmidos, ajeitando alguns fios que tinham saído do lugar. – Li sim. Queria ter lido mais, porém você interrompeu minha leitura. – como se fosse o gesto mais natural do mundo, Marina deslizou seus dedos além dos fios de cabelo, acariciando o braço desnudo de Fernanda que sentiu seu corpo todo arrepiar. Antes que ela pudesse ter qualquer reação, a loira a puxou com certa firmeza, fazendo com que seus corpos quase se chocassem, tamanha a proximidade. – Eu estava quase na melhor parte.
- Que... que parte? – Fernanda balbuciou, hipnotizada pelos movimentos daqueles lábios tentadores. E seu hálito batendo em seu rosto... ah, que vontade de beijá-la ali mesmo!
- Bem, deixe-me ver... – Marina fingiu pensar enquanto aproximava ainda mais seu rosto, aspirando o perfume dos cabelos recém-lavados de Fernanda, que fechou seus olhos afim de curtir aquele momento. Era um sonho; só podia ser um sonho. – Eu passei pela parte onde eu me divertia com esses seus mamilos suculentos ainda por cima da roupa. – ela sussurrou de encontro ao seu ouvido enquanto suas mãos, atrevidas, subiam até seus seios, roçando ambas as palmas sobre seus mamilos. Fernanda não pôde conter o gemido que saiu por seus lábios; correndo em suas veias, naquele momento, era fogo líquido. – Eu os beijava, mordiscava, beliscava e puxava assim. – Marina ia sussurrando enquanto seus dedos se encontravam com os sensíveis mamilos de Fernanda, beliscando-os e puxando-os por cima do fino tecido da camiseta. Fernanda, por sua vez, levou uma das mãos até a boca afim de abafar os gemidos; se aquilo fosse um sonho, ela não queria acordar. – E enquanto eu te beijava... – Marina disse, afastando seu rosto afim de olhar nos olhos de Fernanda. Ela viu nos olhos da loira o brilho do desejo se intensificar quando esta encarou seus olhos; no mínimo, ela encontrou o mesmo desejo nos seus. – Eu invadia suas roupas em busca de sua fenda molhada e macia, invadindo-a com meus dedos.
Foi sem pensar; num rompante de coragem, Fernanda atacou a boca de Marina. Simplesmente segurou em ambos os lados de seu rosto e atacou sua boca, cobrindo-a com a sua. Antes que pudesse pensar, sua língua pedia passagem enquanto seus lábios esmagavam os da loira.
Marina, por sua vez, não se fez de rogada. Com um dos braços, abraçou o corpo de Fernanda bem junto ao seu enquanto a mão livre se embrenhava camiseta adentro, encontrando em meio às suas pernas o que tanto lhe interessava.
O pulsante sexo de Fernanda, que encharcara toda sua calcinha de algodão.
- Não podemos... – Fernanda meio que gemeu, meio que sussurrou enquanto os lábios de Marina desciam por seu pescoço, sua mão milagrosa maltratando seu ponto mais sensível, que pulsava entre seus dedos. – Estamos... no corredor...
- Não seja por isso. – Marina rosnou, puxando Fernanda pra dentro de seu apartamento.
Fernanda nem mesmo desconfiara a um primeiro olhar quando sua vizinha fora até seu apartamento em busca de açúcar, mas... se Marina queria algo doce para comer, esse algo era a boceta molhada de Fernanda.