Camila andava pelos corredores do supermercado local, empurrando um carrinho empanturrado de enlatados. Quando passou pela sessão de laticínios, reparou que um homem deu uma boa conferida em cada centímetro do seu corpo, antes de receber um tapa na nuca, dado pela mulher que o acompanhava. Enquanto ele apontava para a prateleira, tentando se desculpar, a mulher o repreendia. Camila gostou daquilo, adorava o fato de que todo o homem que passasse perto dela a admirasse, e muitas vezes, até mesmo as mulheres. Mesmo com a vestimenta simples que trajava, era impossível não admira-la. Ora, na verdade, talvez a vestimenta contribuísse. Ela estava vestindo uma blusinha rosa com a cabeça da Miney estampada, que além de destacar seus grandes seios, deixava à mostra o seu umbigo e a barriguinha que começava a se definir, com as idas a academia. Seu short jeans mais parecia um cinto do que um short propriamente dito. Sua bunda ficava absolutamente destacada, com contornos que enlouqueciam qualquer um que os visse. E por fim, havianas brancas nos pés. Ela achava curioso o fato de que todos os homens olhavam principalmente para seus pés, e ela aproveitava-se disso. Sempre tratava muito bem de seus pés.
Quando dirigia-se para o carro do pai, empurrando o carrinho de compras, o seu celular tocou. Do outro lado da linha, Mariana pediu para que voltasse ao apartamento às pressas. E foi o que fez. Depois de cerca de cinco minutos, debaixo de uma chuva de palavrões em alusão a sua principal característica como motorista, ser uma mulher, ela chegou até o prédio onde a amiga morava sozinha. Bom, não tão sozinha ultimamente. Abriu as portas do corredor e do apartamento com as cópias que Mariana havia lhe dado e se deparou com uma cena no mínimo curiosa. Um pequeno rapaz, totalmente despido, com as mãos amarradas atrás das costas, estava sob as pernas da amiga, que sentada no sofá, batia impiedosamente em seu traseiro. – Seu bostinha... se você... tentar fazer isso de novo... quem vai te castigar... vai ser a Camila, e ela não vai pegar... leve que nem eu, entendeu!? – O intervalo de algumas palavras era tudo entre uma porrada e a que se seguia.
Camila riu por dentro com a cena, mas recusava-se a demonstrar qualquer tipo de contentamento na frente do homem. Queria que ele a temesse, e, com esse objetivo em mente, aproximou-se dos dois sem dizer uma palavra e agarrou o homem pela cabeça, puxando-o do colo de Mariana direto para o chão. Virando-o de cabeça para cima no processo. – O que foi que você fez, em seu merda? – Ele se limitou a continuar a derramar as lagrimas que antes já inundavam seu rosto, aos soluços. Ela jogou para o lado suas havaianas e colocou um dos pés sobre sua face. – Eu te fiz uma pergunta – O tom dela era imperativo, e, a julgar pelo semblante do homem, ela tinha conseguido fazer com que o medo se infiltrasse em cada centímetro do seu corpo. Mas não houve respostas, ou os soluços as escondiam. Ela esfregou o pé sobre a face do homem – Qual o problema? Parece um gatinho medroso. A Mari judiou muito de você? Sorte sua que não era eu aqui – ela finalizou com dois tapinhas com a sola dos pés na bochecha do homem, e um esfregar em seu peito, para secar a humidade das lágrimas.
- Ele tentou vir pra cima de mim quando desamarrei ele – disparou Mariana – Logo em mim, que desde o princípio só queria ajuda-lo. Agora sua vida vai ficar complicada, pode acreditar em mim tiozinho. – Camila observou que mesmo ao tentar amedrontar o homem, Mariana soava como uma mãe. Aquilo era engraçado. Como uma mãe dando um esporro no filho que acabara de fazer alguma besteira.
- E como que foi isso? – Perguntou Camila, ironicamente. O resultado final era óbvio. Afinal de contas, o homem estava no chão, aos prantos e com vergões vermelhos no traseiro.
- Ele pediu para que eu o desamarrasse, e quando eu o fiz, ele tentou me jogar no chão. Ele esqueceu do tamanho que tem. Fui eu quem o jogou no chão, torci o braço dele pra trás, que nem aquele golpe que a gente aprendeu na aula de jiu-jitsu... como se chama mesmo? Bom, não importa. E depois eu amarrei esses bracinhos finos dele ai. E não pretendo soltar mais, idiota! – Ela pisou em sua cabeça, assim como Camila havia feito. – A gente tinha tudo pra se dar bem, mas nããão! Você tinha que ser um completo idiota! – Camila estava prestes a explodir em gargalhadas. Mas respirou fundo, e não esboçou se quer um sorriso. E Mariana continuou – A gente tem que decidir o que vai fazer com ele. Ele promete que vai se comportar se a gente soltá-lo, mas é um puta mentiroso. Aposto que se o soltarmos ele vai direto na polícia.
- Não seja estúpida. Quem é que vai acreditar que um tiozinho foi sequestrado por duas adolescentes? Não, não, não... É a nossa palavra contra a dele. E olha pra gente. Eu acho que a gente consegue convencer qualquer delegadinho, né? - Tudo estava indo conforme o planejado. Um acidente de trânsito, que significaria um castigo tremendo caso seus pais ficassem cientes, estava se tornando o dia mais divertido pelo qual já passava. Ela notava, pouco a pouco, que adorava torturar psicologicamente o homem. Ela era boa naquilo. A sim, como era. Ela observava o rosto dele e se deliciava com seu medo. Ele até agora, não conseguira formular uma única palavra. Estava completamente humilhado. Mas uma coisa a incomodava. Apesar de ter certeza que ele a temia, ele estava no estado em que estava, principalmente por conta da surra que Mariana lhe dera. Ela também queria um pedaço do bolo. Puxou os cabelos do homem, forçando-o a se erguer – Anda, levanta! Vamos ter uma conversinha agora, só nós dois. Você vai aprender qual é o seu lugar. – O homem mal conseguia ficar em pé. Estava tremendo, e apesar da idade, ali naquela situação, aparentava passar dos 80 anos. – Anda, vamos lá pra baixo – Ele não andou. – Eu mandei você andar! – Ela deu um chute em suas costas. Ele cambaleou para frente, mas Mariana não o deixou cair. – Porra, você é surdo? Se você não vai andar, eu te levo então – Camila o abraçou por trás, comprimindo as costas do homem contra seus grandes seios. Os pés do homem saíram do chão e ele arfou, procurando oxigênio. Ela andou até as escadas que levavam ao porão e desceu, com as pernas dele balançando de um lado para o outro. Essa era a hora de pegar a sua fatia do bolo. Ela iria fazer com que ele se arrependesse de ter descido daquele carro, na noite passada.