Galerinha, estou melhorando aos poucos... Já to me alimentando melhor! Essa é a penúltima parte do conto e os mistérios se abrindo. Meus objetivos estão sendo conquistados e isso é o que mais me deixa feliz. Valeu por todos comentários até aqui e... boa leitura. Espero que gostem.
Cheguei à sala e Murilo estava deitado com a cabeça no colo da minha mãe. Ele parecia calmo, mas ainda choroso. Não aguentei...
- O que você ainda tá fazendo aqui?
Sua atitude me assusto e ao mesmo tempo me deu pena. Ele se ajoelhou diante de mim e segurou minhas pernas, olhando pra baixo e falando em tom de voz meio alto:
- Carlos, me perdoa por favor. Eu conto tudo, mas eu não sou um monstro. Me perdoa!
- Então vai Murilo. Fala tudo. Anda.
Meu tom de voz era alto, mais que o que ele havia usado.
- Eu conto. Mas só quando estivermos sozinhos.
- Luciano, mãe, deixa a gente a sós.
Luciano ainda tentou argumentar, mas não deixei. Ele saiu e minha mãe foi para a cozinha.
- Pronto Murilo. Estamos sozinhos. Começa logo com isso.
- Eu vou começar do começo Carlos. Presta atenção e não me julga ainda, deixa eu contar tudo.
- Anda Murilo.
- Carlos, eu tinha dez anos de idade quando minha mãe se casou de novo. Você sabe que meus pais sempre brigaram muito e eu sempre fui muito apegado ao meu pai. Doeu muito em mim quando ela disse que ele iria embora e eu não pude fazer nada. Sequer dei o último abraço nele porque eu não sabia, mas ele já havia ido. Eu já te contei que ele já tinha outra mulher no Rio de Janeiro e foi por isso que ele e minha mãe separaram.
- Eu sei disso.
- Mas eu não sabia e isso me deixou irado com o casamento da minha mãe com outro cara. Se coloque no meu lugar. Um menino de onze anos vendo sua mãe se casar com outro depois de só seis meses que se separou do seu pai.
- O que isso tem a ver Murilo?
- Calma. A minha relação com meu padrasto sempre foi horrível. Desde pequeno ele me tratava como um empregado dele, mas minha mãe não via, ou fingia que não via. Não foi atoa que eu dei um jeito de sair do interior e vir estudar em BH.
Eu não aguentava mais.
Ele chorava muito e falava bem rápido. Estava difícil entender a ligação de todas as coisas, mas acabei me envolvendo com a história.
- Eu fui descobrindo que meu padrasto era a pior pessoa do mundo. Ele bateu na minha mãe algumas vezes e era um alcoólatra incontrolável. Quando eu tinha 14 anos ele me bateu muito porque joguei uma garrafinha dele de pinga fora. Eu fiquei cheio de marcas e quando minha mãe chegou do trabalho ela simplesmente fingiu que não viu.
- Murilo, você disse que ia contar sobre o Lucas.
- Carlos, além de me bater, ele abusou de mim!
- O quê?
- É... O meu padrasto abusou de mim durantes dois anos, pelo menos uma vez por semana. Eu cansei de dizer pra minha mãe tudo que eu passava, mas ela dizia que era melhor eu me calar senão poderia ser pior. Eu me calei, eu fugi, e aquele cara continua lá, batendo na minha mãe e provavelmente abusando do meu irmão mais novo.
- Eu nem sei o que dizer.
- Eu sou um covarde... Eu não fiz nada com ele. Até hoje eu tenho medo dele, do que ele pode fazer com a minha mãe, com meu irmão. Mas eu não queria que o Lucas fosse como eu...
- Eu ainda não entendi o que o Lucas tem a ver com isso.
- Fui eu! Fui eu quem matou o padrasto dele. O menino não teve nada com isso. Eu atirei naquele monstro.
- Você?
- É. Fui eu.
Seu olhar passou de choroso para vingativo.
- Eu precisava resolver isso. O menino não podia ser como eu. Ele não poderia se tornar um covarde como eu me tornei.
- Você é um assassino?
Eu recuei. Estava diante de um assassino... Ele já havia sido meu amigo, meu namorado, já fui apaixonado por ele e agora sentia nojo por ele ter matado alguém de forma tão torpe. Murilo percebeu que estava me perdendo cada vez mais, como amigo, colega, confidente, tudo!
- Não. Calma. Eu matei sim, mas você tem que entender... Eu salvei o Lucas. Eu tomei uma atitude. Eu ia ajudar ele se ele não tivesse se matado.
- Não Murilo. Você matou um cara. Independente dos seus motivos, você matou.
- Eu matei sim. Mas minha vontade era matar meu padrasto.
- Desde quando você se tornou isso, Murilo?
- Desde sempre. Desde que aquele cara me tornou esse assim.
Eu respirei fundo e me sentei. Precisava continuar...
- Você sabe de mais coisa. Fala mais Murilo. Por que o Lucas se matou?
- Eu acho melhor eu ir embora.
- Não. Você disse que ia falar e você vai falar. Anda, desembucha.
- Ele se matou por medo. O que eu fiz não adiantou nada. Eu fiz de tudo pra ele se tornar corajoso, se sentir vingado vendo aquele corpo no chão, segurando a arma. Eu queria que ele se sentisse como se ele mesmo tivesse matado. Queria que ele tivesse o poder que eu não tive até hoje.
- Murilo, o que você fez...
Eu não conseguia não me emocionar. Parecia tudo muito surreal. E ele não parou:
- Mas o garoto surtou. Eu disse tantas vezes pra ele que ele é que tinha matado o cara pra ver se ele se sentia bem, mas ele começou a se achar assassino.
- Era você quem devia ficar com essa culpa.
- Eu não matei nenhum inocente.
- Mas o Lucas morreu por uma culpa que era sua!
- Ele fugiu de tudo e veio pra cá com a arma. Eu sabia que ele ia te procurar e tinha que ser rápido. Liguei pra Adriana e ela planejou tudo.
- Tudo o que?
- O flagrante. Caso o Lucas contasse tudo, a Adriana me instruiu a colocar a culpa em você, dizendo que você orientou ele a matar o padrasto. Mas foi pior. Ele foi fraco, como eu fui fraco. E quando ele se matou eu tive que manter tudo e colocar a culpa em você mesmo.
- Por quê? Eu não fiz nada pra você, nem pra Adriana.
- Foi bem lógico Carlos. Você não tem antecedentes. Estava envolvido com o garoto e eu ficaria acima de qualquer suspeita. A Adriana tem os motivos dela, mas eu nem sei direito. Só sei que ela foi diretamente negociar com a mãe do menino e eu só segui as ordens dela pra não me complicar.
- Peraí. A Adriana acertou o que com a mãe do Lucas?
- Eu não sei Carlos. Isso é com ela. O certo é que elas sairiam bem da história se a culpa ficasse com você.
Eu estava estarrecido. As revelações do Murilo batiam direitinho com a história e eu só conseguia confiar no que ele dizia.
Sua história de vida explicava muito do seu desequilíbrio, mas não me comoveu. Ele percebeu minha raiva e implorou novamente:
- Mas Carlos, eu contei isso tudo pra você entender meu lado. Pra você me perdoar, pra você...
- Pra eu quebrar a sua cara também? Você me usa de bode expiatório pra um crime seu e quer meu perdão? Você pensa que eu sou quem, Jesus Cristo? Murilo, eu não sou tão bom assim.
- O que você quer que eu faça pra você me perdoar? Eu preciso de você...
- Nós vamos pra delegacia agora.
- Tá. Nós vamos. Só vou ao banheiro antes.
- Vai logo.
Ele saiu e eu fiquei pensando em tudo que ele contou. A mãe do Lucas e a Adriana me escolheram pra destruir minha vida.
Olhei para o sofá e lá estava o celular de Murilo.
Eu iria me divertir antes de entregar todos à policia.
Peguei o celular e enviei uma mensagem pra Adriana: “se encontra comigo na clínica”.
Liguei pro Luciano e expliquei da confissão do Murilo... Pedi que ele buscasse Murilo e levasse pra delegacia. Ainda expliquei sobre meu plano na clínica com Adriana e ele entendeu tudo.
Murilo voltou e eu me fiz de amigável:
- Murilo, eu vou até a clínica pegar o telefone de um advogado pra você. O Luciano tá chegando pra te levar pra delegacia.
- Mas eu quero ir com você.
- Confia em mim. Eu vou buscar só o nº do advogado e te encontro lá. Eu vou te ajudar.
Ele me olhou nos olhos e me abraçou forte. Que nojo! Luciano chegou de viatura e o levou pra delegacia. Peguei um taxi e cheguei na clínica. Acendi apenas algumas luzes e fiquei aguardando ela chegar. Avisei Luciano que já havia chegado e ele colocou sua parte em ação.
Me sentei no consultório de Murilo e a esperei. Em cinco minutos ela chegou. Escutei o abrir da porta principal e me posicionei atrás da porta do consultório.
- Murilo... Murilo... o que você quer?
Ela já chegou gritando e, ao entrar no consultório, eu fechei a porta bem forte, fazendo-a se assustar:
- O que é isso?
- Tá assustada vagabunda? Tá devendo é?
Eu estava usando todo meu cinismo... E meu sangue da barata pra não resolver de outra forma.
- O que você tá fazendo aqui?
- Drica, querida... Num sei se você lembra, mas isso aqui é meu! Mas que bom que você veio.
- Cadê o Murilo?
- Aquele assassino? Tá na delegacia... Deu saudade?
Ela arregalou os olhos e eu aproveitei a deixa pra ir me aproximando dela.
- Preparada pro meu contra ataque?
Antes que ela respondesse eu fiz o que qualquer um faria no meu lugar: dei um tapa em sua face e deixei de lado toda minha boa educação.
Eu estava só começando...
CONTINUA...