- Paulo!!! Fala comigo... vamos... reage!!! - gritei chorando e balançando o corpo do meu irmão.
- Filho... para... para.... - gritou meu pai.
- Não. Ele está vivo! Ele está vivo! - falei.
- Pedro... amor... amor... olha para mim. - disse Mauricio também chorando, mas se mantendo firme.
- Faz alguma coisa. Eu... eu... não posso... não dá.
- Pedro. Eu to aqui. Não vou a lugar nenhum, precisamos ser fortes. Tua mãe... teu pai. Por nós.
- Mauricio. Você está louco? O Paulo está vivo. Não precisamos ser fortes. Precisamos acordar ele. Por favor... por favor...
- Chega Pedro!!! - gritou meu pai. - Chega!!!! Podem levar o corpo dele.
- Não... não.... parem... parem... ele não está morto... ele não está morto.... - gritei e levantei.
- Para... para... eu to aqui... - disse Mauricio me abraçando e me fazendo ficar quieto.
- Nãoooo!!!! - gritei acordando de um novo pesadelo.
- O que? - disse Mauricio acordando assustado.
- Nada... foi... foi... um pesadelo. - falei levantando e saindo do quarto.
Desci as escadas e abri a geladeira. Apesar de estar com frio fiquei suado rapidamente. Peguei um copo de suco e o resto de uma torta. Assustei-me com o Mauricio.
- Está tudo bem? - ele perguntou me passando um copo.
- Sim... só esses pesadelos que me perturbam. - disse entregando o copo cheio.
- Paulo?
- Sim... em cada sonho é um momento diferente. Mas, é tão real. Será que ele quer me dizer algo? E se o Márcio não for algo bom? E se ele continuar podre por dentro?
- Eu nunca deixaria ele fazer mal a você. Minha família é o que eu tenho de mais precioso. - ele disse pegando um pedaço da torta e colocando em minha boca.
- Obrigado.
Eram 2 horas da manhã. Eleonora a mãe de Ezequias saiu de casa e foi até o Centro da cidade. Mulher puritana, se surpreendeu com as mulheres e homens que andavam na rua.
- Nossa. - ela pensou.
- Deseja alguma coisa tia? - perguntou um garoto de programa.
- Não... não... se converta! - repreendeu a mãe de Ezequias.
- Desculpe.
- Jesus me ajude. Que lugar eu vim me meter... credo...
- Está perdida titia? - perguntou um travesti.
- Jovem senhora me responda? Onde eu encontro a boate Trix?
- Jovem senhora.... bem... siga-me. Só tome cuidado com algumas pessoas. - falou. - Ahhh e a propósito me chamo Luaine Lohaynne... com três enes.
- Tudo bem Luaine. - disse Eleonora segurando a bolsa.
Até que ponto iria uma mãe que mesmo machucada... queria ver o bem do filho? Eleonora se meteu em um novo mundo, onde nunca viu. Se surpreendia a cada nova esquina.
- Quem a senhora procura? - perguntou Luaine.
- Procuro o Bruno Carvalho. Ele é...
- O dono da boate.
- Sim... nossa é sempre barulhento aqui? - perguntou Eleonora.
- Demais. Mas, espera... - disse a travesti pegando dois algodões da bolsa e colocando nos ouvidos de Eleonora.
- Obrigada querida. Onde eu acho esse homem?
- Vamos. Ele está ali. Eiii... Bruno!!! - gritou Luaine.
- Fala gostosa. - gritou o homem.
- Essa senhora queria falar com você. Acho que ela quer um par de ingressos para a Trix.
- Tudo bom senhora?
- Então seu Bruno... meu filho vinha fazer um teste para tocar na sua boate. Ele é um ótimo músico, mas sofreu um acidente. Ele está se recuperando, mas gostaria que ele fizesse uma apresentação na sua boate.
- Bem... já contratamos o vocalista...
- Moço ele é muito bom... sabe... não é porque ele é meu filho, mas... ele toca e canta bastante.
- Bem. Ele pode tocar sábado, mas não prometo nada. O novo vocalista é um idiota. - falou Beto.
- Obrigada seu Roberto. - disse Eleonora o abraçando.
- Como sabe meu nome? - perguntou ele.
- Porque meu sobrinho insiste em se alto chamar Beto e acho Roberto um nome lindo.
- Ok. Dona Eleonora até sábado... pegue meu cartão. Me ligue. - abraços.
- Consegui. - falou Eleonora feliz abraçando Luaine.
- Que bom! Quero muito ouvir seu filho tocar.
- Menina se você quiser pode ir na minha casa. - falou Eleonora.
- Claro... me passa o teu telefone. - falou Luaine.
- Esse aqui é o meu. - disse Eleonora entregando um papel para o travesti.
- E parabéns... não é toda mãe que faz isso por um filho. Até mais... vou te deixar no ponto de táxi.
Vinicius e Jean estavam realmente envolvidos em criar uma liga LGBT na cidade. Eles viram coisas boas em sua viagem para a Irlanda. E trouxeram várias propostas para a cidade.
- Ei... vamos fazer assim... você será o presidente. Eu o vice, o Pedro, Mauricio e a Rosana fazem parte da diretoria. - falou Vinicius.
- Pode ser, mas precisamos votar em um nome. Tem que ser algo sério. Nada de baitolagem. - falou o saldado.
- Bobo... que tal Rouxinol? - perguntou Vinicius.
- Não... nada gay... é muito redundante... é como chamar uma pizzaria de mussarela.
- Vamos pensando em algo legal... afinal... é algo inédito para nós... quero fazer tantas coisas.
- Fiquei animado com as coisas que eu vi lá. - falou Jean.
- Caramba... se conseguirmos implantar aqui 30% já é uma grande vitória. Lembra o que aconteceu com o Duarte? Coisas como aquela não aconteceria. - disse Vinicius.
- Que tal... grupo... pôr do sol?
- Que lindo... pode ser... sempre haverá um novo dia. Esse vai ser o nosso slogan.
- Eu já disse que te amo? - perguntou Jean.
- Sim... mas, é bom você me relembrar.
Márcio tinha um segredo. Ele retornou para a prisão para dar baixa em seus documentos. Ele passou pela porta e respirou fundo. Márcio cumprimentou alguns guardas e pediu para ver uma pessoa.
- Oi? - perguntou ele.
- Você demorou... - respondeu o homem de longe.
- Desculpe, mas tive que procurar um trabalho... consegui um apartamento bacana para a gente... e...
- Você trouxe o que eu pedi? - perguntou o homem não deixando ele terminar sua frase.
- Sim. Mas, preciso ir no banheiro. - falou ele.
- Está esperando o que?! - disse o homem batendo na mesa.
- Já volto. - ele disse saindo.
- E ai? - perguntou outro detento. - O teu amorzinho trouxe o jantar?
- Não bagunça. Ele é o nosso passaporte para longe desse inferno.
- Inferno que a gente criou... e cria a cada dia. - disse. - Luciomar... somos farinha do mesmo saco... o sistema precisa pagar... todos precisam.
- É... Rian!!! - gritou o homem desferindo um soco no detento.
- Calma aí... mano... só porque tu manda em tudo aqui, não significa que é mais forte. - disse o homem o jogando contra a parede.
- Eles vão pagar... todos eles... enquanto estamos morrendo aqui nesse esgoto... eles vivem a vidinha pacata... mal sabe eles... o fim está próximo... a guerra se aproxima. Agora saí!!! - ordenou Ryan.
Depois de alguns minutos Márcio retorna e entrega um aparelho celular para Ryan.
- Desculpa a demora. - pediu Márcio.
- Puxa bebê... não se preocupa... agora vem cá... vem... fica de joelho.
- Estava com saudades?
- Sim... e aposto que você não teve trabalho com o celular... afinal... a gente treinou bastante. Me chupa logo vadia!!! - gritou Ryan baixando Márcio com violência.
- Tudo bem, mas não bate em mim não...
- Se você aguentar sem chorar... penso no teu caso.
Sim... Márcio estava apaixonado e para ele não importava, no seu coração Ryan o amava. E esse 'amor' traria sofrimento para muitas pessoas inclusive ele.
Judith e Bernardo decidiram fazer uma peça no orfanato. Eles conversaram com Larissa e decidiram produzir o espetáculo "O Gato de Botas".
- Adorei a ideia. - falou Larissa.
- Sim... é maravilhoso. - disse Judith sorrindo.
- E vamos treinar os meninos... e ministrar um pequeno curso de Teatro. - falou Bernardo.
- Depois faremos um teste de elenco e escolheremos os personagens. - falou Judith.
- Meninos confio em vocês. Sei que farão um belo trabalho. - garantiu Larissa. - Vou pedir para arrumarem uma sala ou até mesmo quem sabe fazer um mini-teatro? Vou falar com o avó de vocês... no caso... teu pai Bernardo.
- Tenho certeza que ele vai adorar. - garantiu o menino.
- Vamos colocar o plano em ação? - perguntou Larissa.
- Vamos!!! - gritaram os dois juntos.
Vinicius me ligou e fomos procurar um endereço para a sede do movimento Pôr-do-sol. A maiora deles era velho ou ficavam localizados em um bairro perigoso, mas o dinheiro que levantamos foi suficiente para o aluguel.
- Nossa gostei bastante o da rua Oscar Silva... mas, tem aquele também da Avenida Teixeira. Podemos escolher um deles. - falou Vinicius.
- Sim... - falei distante.
- Pedro? Pedro?
- Oi? Tudo bem?
- O que você tem? - questionou Vinicius.
- Nada.
- Distante desse jeito? Conta logo.
- Eu... eu... venho tendo sonhos com meu irmão. - falei.
- E o que acontece?
- Na verdade são fragmentos... tipo... lembranças... dele no hospital...
- Nossa. Amigo... será que ele está tentando dizer algo? - perguntou Vinicius assustado.
- Como assim?
- Lá na Irlanda... quando um parente morto aparece em sonho é sinal de mal presságio.
- Acho que não. Não acredito nisso. - falei entrando no carro.
- Mas, certas coisas é preciso ter cuidado. - ele disse entrando.
- Será?
Sim... Vinicius me deixou bastante assustado com aquele comentário. Estava tão feliz com a minha vida que não queria outra desgraça em minha vida. Porém, os sonhos me pareciam tão reais e assustadores.