- Declaro o réu culpado!! - ordenou o juiz.
Com essas palavras iniciou um verdadeiro pesadelo na vida de Márcio. De repente, toda sua vida passou diante de seus olhos. Ele não disse nada. Apenas foi levado pelos policiais até uma pequena sala na tribunal. Sua mãe chorava copiosamente e pedia desesperadamente para que soltassem seu filho, mas Márcio sabia de sua culpa e resolveu aceitar o castigo.
Enquanto era praticamente violentado por Ryan, Márcio se perdeu nos pensamentos: - Como cheguei a esse ponto?. Desde pequeno Márcio conseguia tudo o que desejava. Brinquedos, viagens, carros e homens, ele nunca se assumiu formamente. Vivia escondido... afinal... ele conseguia tudo. E quando não conseguia... ahhh... o Márcio de antigamente não conhecia a palavra 'Não'.
São Paulo - 15 anos antes -
- Filho... estou indo para uma reunião. O teu irmão ainda está na escolinha depois o motorista irá pegá-lo.
- Tudo bem mãe... ei... me dá 500 reais. - ele pediu estendendo a mão.
- Esse menino pensa que dinheiro nasce em árvore. - falou a mulher tirando cinco notas de cem da bolsa.
- Obrigado. - ele disse subindo as escadas.
Márcio aproveitou que o motorista estava de folga e foram juntos até o shopping da cidade. Especificamente em uma livraria. Ele comprou vários livros sobre vestibular e medicina. Ele retornou e encontrou Mauricio que na época trabalhava como jardineiro da casa.
- Ei peão... quero ter uma conversa contigo lá em cima. - disse em tom de arrogância.
- Claro... só vou me lavar. - falou o jovem Mauricio.
- Não. Venha assim mesmo. - ordenou.
Ao entrar na sala, Mauricio foi praticamente atacado por Márcio. Nessa época, ele ainda não sabia o que queria da vida, mas gostava de receber atenção do Márcio.
- Ei... tenho uma surpresa para você lá no meu quarto...
- Sério? O que?
- Vamos lá. - ele disse puxando Mauricio.
- E então? Qual é a surpresa? - perguntou Mauricio.
- Olha na mesa.
Os olhos de Mauricio brilharam quando viram os livros sobre o vestibular e medicina.
- Mas...
- Você me disse um dia desses que queria fazer medicina. Então... como eu sei que as escolas públicas são patéticas... decidi comprar pra você estudar em casa.
- O...obrigado.
- Porém, isso não sai de graça... vou querer algo seu também.
- E o que?
Márcio baixou as calças de Mauricio e lhe fez sexo oral. Ele não esboçou nenhum tipo de movimento. Apenas fechou os olhos e se entregou.
- Isso!!! Vai vadia!!! - gritou Ryan batendo na bunda de Márcio com violência.
- Para... aii... assim não... devagar. - reclamou ele.
- Que porra nenhuma... mas... porra vadia... cagou no meu pau de novo? - ele perguntou jogando Márcio contra a parede.
- Eu já te disse!! Odeio isso!!! - gritou Ryan enquanto chutava o parceiro.
- Para... para... eu fiz tudo o que me pediu... para de me bater... - pediu Márcio chorando.
- Desculpa. Desculpa amor... eu não... porra... você sabe que não deve me deixar com raiva... não sabe? - perguntou ele se abaixando e abraçando Márcio.
- Eu sei... me desculpa.
- Da próxima vez... prometo que vou devagar... pode ir... e obrigado pelo telefone. - agradeceu Ryan subindo as calças e saindo da sala.
Decidi fazer algo diferente... fui caminhar pela cidade. Me perdi nos pensamentos... a maior parte dele me levavam ao meu irmão Paulo. Mas, outra parte me lembrou o sofrimento que foi minha vida por causa do Márcio.
São Paulo - 14 anos antes
- Vou te deixar na escola... quando sair da faculdade, eu te pego. - falou Paulo.
- Não precisa.
- O Márcio está passando dos limites com essas chacotas... se... eu... pegar ele.
- Você vai preso. Já é de maior... - falei tentando acalmar meu irmão.
- Não interessa... se uma surra for o jeito... então será. - ele disse pegando alguns livros de cima da mesa.
Corri e o abracei. Naquele momento os meus irmãos eram as únicas pessoas que eu podia contar. Afinal, minha mãe ainda estava em choque por ter um filho gay e o meu pai nem falava comigo.
- Obrigado.
- Ei. Não chora. Escuta só... você é a melhor pessoa que eu já conheci. Uma coisa é certa... o futuro do Márcio vai ser triste. Quem vive para ver outra pessoa infeliz... não vive... mano... você é melhor do que ele.
- Obrigado mesmo. - falei o abraçando por alguns segundo... ahhh se eu soubesse... não o teria largado mais.
Na escola, poucas pessoas falavam comigo... era a vitima preferida da turma do Márcio. O único momento que eu tinha paz era no banheiro, mas até isso estava começando a mudar.
- Olha só quem está aqui? - disse Márcio ao me ver lavando as mãos na pia do banheiro.
- Márcio... não enche. - falei tentando sair.
- Ei... ei... espera um pouquinho. Não quer um pouco disso?! - ele perguntou colocando minha mão em seu pênis.
De repente um menino entra no banheiro. O que ele precisava para me humilhar e conseguir denigrir a minha imagem.
- Viado de merda!!! - ele gritou me empurrando. - Tá louco?! Agora sim... a escola está cheia de viados... vocês todos vão pro inferno.
- O que aconteceu aqui? - perguntou outro rapaz.
- O viadinho tentou agarrar o meu pau. Ele viu... não foi?
- Sim. Quando eu entrei o Márcio estava lutando para tirar a mão dele de cima... - confirmou o menino.
Minha única reação foi sair correndo. Fiquei 'doente' por muitos dias. Quase reprovo por faltas, mas meu irmão conversou com a diretora e conseguiu aliviar minha barra. Ele decidiu me levar para uma festa. Fiquei com medo, pois, o Márcio gostava de ir para esses eventos.
- Cola em mim. O Márcio é um covarde. Ele não vai se aproximar. - disse Paulo.
- Agora vai ser o meu guarda-costas? - perguntou me deitando ao lado dele.
- Sempre... costas... frente... lado... você é meu irmão e fiz uma promessa a você. - ele disse me abraçando.
- Você poderia ter nascido gay também... - disse acariciando a barriga dele.
- Mas, quem daria um herdeiro aos nossos pais? - ele perguntou rindo.
Ao chegar na festa, percebi que Márcio já estava lá com seus amigos. Um grupo grande. Márcio tinha fama de machão, mas nas baladas, algumas pessoas... quer dizer a maioria já havia dado ou comido ele. Mauricio estava lá também, os nossos destinos estavam traçados desde sempre.
- Pedro... vai querer alguma coisa? - perguntou Paulo.
- Quero um refrigerante. Mas, deixa que eu vou pegar. - falei indo até o bar.
- Ei.. eu quero uma vodcka. - pediu Márcio ao Mauricio.
- Eu pensei que viéssemosmaul para ficar juntos. Você nem falou comigo.
- Escuta. Eu quero apenas que você sorria e balance a cabeça. Tem que fazer as coisas que eu mando. Agora vá lá no bar e traga o maldito refrigerante.
- Ok.
- Nossa Márcio que filezinho hein. - falou um jovem.
- Peguete da semana... geme como uma vadia no meu pau. - disse ele rindo.
- Com licença. - falei chamando a atenção do atendente.
- Pois não.
- Um refrigerante de laranja. - pedi.
- Opa... moço... me vê uma vodcka. - pediu Mauricio.
Como a vida funciona. Se eu tivesse desviado o meu olhar para a esquerda pelo menos por cinco segundo, talvez meu caso com o Mauricio tivesse começado mais cedo. Peguei o refrigerante e esbarrei nele. Pedi desculpa sem olhar, pois, vi o Márcio olhando em minha direção. Pedi desculpa e segui.
- Nossa esses filhinhos de papai mal educados... depois os pobres que são rudes. - pensou Mauricio.
Quando terminei de correr, percebi que já era tarde. Decidi tomar um sorvete para esfriar a cabeça. Do outro lado da cidade, Eleonora e Phelip forçavam Ezequias a ir em um salão.
- Mas, mãe... não quero cortar o cabelo.
- Amor... estou tentando... você precisa cooperar. Por favor.
- Tá bom. - ele falou cruzando os braços.
- Amor. Vai ficar bonitão. - falou Phelip.
Quando chegaram no salão... pediram para cortar as madeixas de Ezequias e dar uma cor aos fios loiros. Depois foram comprar algumas roupas para o jovem. Depois de horas e horas de compras, eles voltaram para o apartamento.
- Gente é sério. Já estou legal... cortei o cabelo... roupas novas... o que mais vocês querem? Que eu use lente? - perguntou.
- Pode ser uma boa ideia. - disse Eleonora olhando para Phelip.
- Sim. Ele pode também...
- Chega!! - gritou Ezequias deixando Phelip e Eleonora calados.
- Calma amor...
- Gente... quero que gostem de mim pelo o que eu sou... e não por quem vocês querem que eu seja. - ele disse olhando no espelho.
- Pode ser... eu só queria ajudar... faço tudo errado. - disse Eleonora saindo correndo.
- Mãe. Espere.
- Eleonora... - falou Phelip correndo atrás da sogra.
- Você viu como ele me tratou? - perguntou ela chorando.
- É dificil para ele... mas, você está fazendo a coisa certa.
- Estou mesmo?! Bem... qualquer coisa me avise. Deixa eu ir.
- Ei... você é uma mãe maravilhosa, vejo que tenta nos aceitar mesmo com suas ideologias. Obrigado. - falou Phelip.
- Obrigada a você Phelip.
Phelip subiu e encontrou o namorado chorando no sofá. Ele deitou ao lado dele e o abraçou sem dizer nada. Eles ficaram ali aproveitando o calor um do outro.
- Eu sou feio?
- O que? - perguntou Phelip.
- Eu sou tão feio assim? - perguntou novamente.
- Claro que não... você é lindo... por dentro e por fora. Eu fico louco quando alguém olha para você.
- Então porque vocês querem tanto mudar o meu visual? - questionou Ezequias.
- Amor... quando você toca e canta uma luz ilumina o mundo. Mas, o pessoal da boate procura um certo tipo de músico... queremos apenas que você realize seu sonho. - falou Phelip o beijando.
- Mas, porque as coisas precisam ser assim?
- É injusto... mas, o mundo funciona dessa maneira. - falou Phelip.
De tarde, Eleonora recebeu uma visita um tanto que especial. Era Luaine, ou melhor dizendo Juliano.
- Boa tarde? - perguntou Eleonora. - Desculpe, não quero ser inconveniente, mas não quero comprar nada.
- Eleonora? Você não está me reconhecendo? - perguntou o homem.
- Desculpe, mas... deveria?
- Sou eu... Luaine... - disse o homem afinando a voz.
- Deuuuus!!! - gritou a mulher.
- Nossa que susto... realmente não me conheceu? Me achou mais bonita de mulher? - perguntou Juliano brincando.
- Desculpa... eu... eu... preciso ir agora... deixei uma carne no forno. - disse Eleonora fechando a porta assustada.
Decepcionado ao perceber o preconceito de Eleonora. Juliano se aproximou da porta e disse: "- Pensei que você fosse diferente... tenho pena do seu filho". A mãe de Ezequias abriu a porta.
- Pena? Quem deve ter pena de quem? - perguntou ela revoltada.
Mas, Juliano já não estava mais em frente a casa de Eleonora. Sim... ela por algum motivo ficou triste.