“Às vezes na vida nos deparamos com um momento, e esse momento paira e dura, por muito mais de um momento. E o som para, o movimento para, por muito, muito mais de um momento. E então, esse momento se vai” – One Tree Hill
Eu vi essa frase uma vez em um seriado, desde então nunca esqueci. Aliás, sempre procurei na minha vida um sentido para essa frase, mas nunca achei.
Deixe-me apresentar. Meu nome é Leonardo Araújo. Tenho 16 anos e estou prestes a começar o primeiro ano do ensino médio. Moro em uma cidade no interior de Minas Gerais, estudo em uma escola normal, considera uma das melhores da cidade. Meu corpo não é dos melhores nem dos piores. Embora eu não seja excessivamente gordo, não sou magro nem malhado, quase não tenho bíceps. Meu rosto é um pouco melhor. Meus cabelos são lisos e sempre bagunçados. São castanhos bem claros, assim como meus olhos. Minha pele é branquinha, minhas bochechas são um pouco rosadas. Isso me dá uma carinha de criança. Mas não se engane, sou mais adulto que muita gente por ai.
Alguns fatos sobre mim: Cor favorita: Verde. Animal favorito: Tigres. Animal doméstico favorito: o primo do tigre (vulgo gato). Banda favorita: MPB (todas as bandas desse estilo). Música favorita: Janta do Marcelo Camelo. Meu hobby: Jogar RPG. Seriado favorito: House, sem dúvidas. Além do mais, tocava piano, muito bem por sinal.
Bom, o nome do meu conto tem muito pouco a ver com o conto homônimo de Machado de Assis. Eu coloquei esse nome devido ao ambiente que é mais comum aos jovens. É nesse lugar em que se fazem os amigos, é nesse lugar que se aprende coisas importantes para ser alguém na vida. E é nesse lugar que tudo começou.
Vamos ao que interessa.
Eu sempre fui uma pessoa muito calma, passiva (não pensei besteira, nessa época eu ainda era inocente). Nunca briguei na escola. Minto, quando eu estava na terceira série eu briguei por causa de um brinquedo que eu gostava.
Na escola eu me destacava bastante. Segundo professores, era um dos alunos mais brilhantes que já passaram por aquelas cadeiras. Mas não era só inteligência, era muito comprometimento.
Mas esse comprometimento tinha nome: falta de amigos.
Na minha vida inteira eu pude contar quantos amigos eu tive utilizando apenas uma mão. Na minha rua eu tinha um amigo até os meus 10 anos. Matheus era seu nome. Nós éramos muito amigos, muito mesmo. Contávamos todos os nossos segredos, nossas artes e etc. Mas sua família teve que mudar para os EUA e eu nunca mais falei com ele. O meu outro amigo era o Gabriel, vulgo Biel.
Biel era, talvez, o pior amigo que eu podia ter, mas era a única pessoa que havia aceitado ser meu amigo. Talvez até por minha culpa. Mas, das únicas vezes que eu tentei fazer um amigo novo, eu tomava na cabeça.
Me recordo uma vez em que um novo aluno havia chegado na minha sala. Ele se sentou do meu lado. Durante uma aula conversamos bastante. Achei que seria um amigo de verdade. Mas me enganei. Um dia eu chamei Guga (Gustavo) pra ir em minha casa pra gente jogar vídeo-game. Ele disse que tinha compromisso. No outro dia descobri que ele havia ficado em casa sem fazer nada. Mas tudo bem, as vezes as pessoas não querem sair. Até eu ver a sms que ele mandou para uma colega falando sobre meu convite, contendo a seguinte frase “coitado, ele acha que eu vou ser amigo dele... ele é muito franguinho kkkkkkkkk”.
Depois dessa me fechei para novos amigos. Mas ai, veio Biel.
Biel é o cara mais gato que eu conheço. Ele não é malhadão, mas tem um corpo bem legal. Seu cabelo é um tom de mel espetacular. Seus olhos são da mesma cor do seu cabelo. Seu rosto é quadrado. Cara de macho, sexy. Talvez seja por isso que eu aceitei essa amizade.
Enfim, conheci Biel em uma festa de aniversário de um colega em um sítio. Estava um sol forte, estavam todos na piscina, menos eu, que estava sentado só observando a paisagem da fazenda (era espetacular, eu sou louco por paisagens), escutando música no meu fone. Eu estava gostando, até que uma mão puxa meus fones e se senta ao meu lado alguém totalmente desconhecido por mim.
- Cara, porque que você ta aqui sendo que todos os seus amigos estão na piscina se divertindo. – Dei um risinho. Duas coisas: Não eram meus amigos, eram meus colegas e conhecidos. Outra: eu estava me divertindo. Mas só falei a segunda.
- Bom, eu estou me divertindo. E nem gosto muito de piscina. Aliás, daqui a pouco começa o por do sol, do jeito que o dia ta hoje, não perco por nada. Hoje é lua cheia. – Ele pareceu um tanto quanto intrigado.
- Você acompanha o calendário lunar? Que doido e falta do que fazer. – Ele deu uma risadinha.
- Acompanho sim. Pode ser útil as vezes. E sim, não tenho nada pra fazer durante minha semana. No meu tempo livre eu gosto de fazer coisas inúteis. Tipo, ontem a tarde eu tava aprendendo a língua élfica que Tolkien criou. – Ele riu. Neste momento percebi que poderia ser um grande amigo. Mas não me deixei enganar. Já havia pensado isso uma vez.
- Legal. Mas aqui, vai pra piscina depois do seu “glorioso por do sol com lua cheia”. – Sem uma resposta, levantou e saiu para a piscina.
Antes de voltar com o fone, fiquei escutando ele voltar correndo, pular na piscina e ficar lá contando para os outros minha “maluquice de ficar vendo a lua”. Mas nem liguei, já estava acostumado. Recoloquei meus fones, deitei na grama mesmo e acompanhei o mais espetacular pôr-do-sol. Além do belo luar que se seguiu.
Após algum tempo apreciando o lugar, resolvi enfim, entrar na piscina. Não tinha ninguém, todos estavam fazendo outras coisas.
Voltei para casa no outro dia. Assim que cheguei em, casa vi uma notificação de novo amigo no facebook. Era dele. Mera cordialidade, mas aceitei.
Depois desse dia, começamos a conversar um pouco daqui, um pouco dali, até que fomos virando amigos. E viramos. Mas ele era uma pessoa muito popular, ainda mais cidade pequena, onde os “famosinhos” coordenam a moda. Ele era um desses “famosinhos” da cidade.
Antes eu disse que ele era o pior amigo que eu poderia ter. Motivo: eu sempre sentia que só eu entrava na relação como amigo. Ele me tratava como um conhecido. Embora eu de vez em quando dormia na casa dele (meninas tinha inveja de mim por causa disso), tinha uma excelente relação com seus pais (não que isso importe de verdade) e jogássemos RPG juntos (ele preferia manter isso o mais discreto possível, pois, segundo ele, era coisa de nerd), ele raramente conversava comigo sobre sua vida. Sempre saia com seus amigos mas nunca me chamava, as vezes dava churrascos em sua casa mas nunca me convidava.
99% das vezes que Biel me chamava pra ir na casa dele, envolvia explicar alguma matéria que ele não havia entendido ou ajudá-lo com algum dever. Ele provavelmente não copiava todos os meus porque nós estudávamos em escolas diferentes.
Mas mesmo assim, era a pessoa mais próxima que eu tinha. Sempre que eu precisava de um conselho, ou desabafar, ele escutava, de má vontade julgo eu, mas escutava.
E essa era minha vida social. Mas isso iria mudar em muito breve.
Até o fim da oitava série, foi exatamente desse jeito. Mas ela acabou, passou-se as férias de um jeito muito monótono. Não viajei, quase não sai, quase não fiz nada. Exceto ler, estudar e jogar. Maior emoção das férias: escolher meu caderno do ano seguinte.
As férias acabaram, e no outro dia seria o primeiro dia de aula.
Igual a todos os dias de aula, acordei. Tomei um banho, coloquei uniforme, tomei café e fui pra escola ansioso, esperando um novo colega legal. Não que eu não tivesse, mas eu queria um colega que me achasse legal.
Chegando lá só serviu pra descobrir que eu estava errado. Minha sala só havia saído uma pessoa e entrado outra. Uma menina mais feia que bater em mãe. Coitada.
Haviam mudado alguns professores. De um modo geral a escola continuou a mesma. Eu continuei sendo a “lenda” da sala. Mesmo sentado no fundo, era o mais aplicado e disparado o mais inteligente.
Aulas de apresentação é um saco. Principalmente quando você conhece todo mundo. Mas logo chegou o intervalo. Dei um tempo na sala e sai para ver como estavam as pessoas na escola.
Na hora que eu sai, alguém me chamou a atenção. Havia um menino, um pouco alto, magro. Corpo esbelto. Ele estava com uma calça jeans surrada, uma blusa de moletom do colégio com as mãos nos bolsos da blusa. Ele tinha um cabelo em um tom negro bem escuro. Seu cabelo era todo atrapalhado. Seus olhos eram verdes. Seu rosto era fino, sexy, enigmático. Porém ele tinha uma expressão bem serena. Me deu paz.
Na hora que eu o vi, por um momento, nossos olhares se encontraram. E o som parou, o movimento parou. Por mais de um instante. Essa pessoa fez um aceno com a cabeça, eu retribui e então ela desviou o olhar.
“Às vezes na vida nos deparamos com um momento, e esse momento paira e dura, por muito mais de um momento. E o som para, o movimento para, por muito, muito mais de um momento. E então, esse momento se vai”
Pela primeira vez na minha vida, essa frase tinha um significado.