Adoro dias chuvosos, não vou mentir, se pudesse moraria na Europa, pois, sou apaixonado por dias frios. Ainda mais quando estou com meu esposo. Nossa cidade é muito louca, tem dia que chove, outro faz sol e madrugas geladas. Em um desses dias, pude aproveitar a companhia do Mauricio.
- Eu poderia ficar aqui abraçado com você. - falei o admirando.
- Pedro... sabe... é dificil falar o que eu sinto por você... sabe... quando eu fiquei com o Márcio... pensava que a minha vida seria aquilo... ele me daria as coisas, jogoria na minha cara e me usaria. Pensei que ser gay era aquilo...
- Também pensei a mesma coisa. Mas, chegou um anjo na minha vida. - falei o beijando.
Ele me abraçou e fiquei com a cabeça encostada em seu peito, adorava sentir o perfume do Mauricio. Adorava sentir a respiração dele, devagar... aquilo me acalmava.
Naquela tarde começamos a preparação para a Parada Gay. Reunimos todos os membros da ONG e colocamos o plano em ação.
- Precisamos de um carro de som... também de faixas, camisetas e principalmente objetos rosas.... - falei.
- Não vamos generalizar... porque rosa? - perguntou Jean.
- Verdade. - falou Mauricio disfarçando a voz.
- Eu gostei. - disse Vinicius me defendendo.
- O Mauricio também gostou. - falei.
- E que tal usassemos todas as cores? Afinal... é o arco-iris... nenhuma cor predomina. - opinou Márcio.
- Boa ideia. - falou Jean.
- Pode ser. - disse Mauricio sem esboçar qualquer reação.
- É. - falei.
- Então é isso... vamos fazer esse evento bombar. - falou Vinicius.
- E vamos fazer planfetos avisando dos atendimentos para os jovens. - lembrou Mauricio.
- Verdade... - falei.
- Bem. Gente, preciso ir. - avisou Márcio.
- Tchau. - falamos todos juntos.
Até aquele momento não entendia o que o Márcio fazia ali no meio de nós, mas não tinha coragem de perguntar. Se fosse eu, creio que não teria coragem de fazer o mesmo.
Minha mãe e Eleonora foram as compras com Luaine, sua nova amiga. A mãe de Ezequias ainda se sentia mal por estar indo contra os seus preceitos, principalmente contra a vontade de seu marido. Afinal, Luís nem desconfiava das aventuras de sua esposa.
- Gente que vestido lindo. - falou mamãe.
- A-do-ro. - disse Luaine.
- É bonito. - comentou Eleonora.
- Aiii Elê... em você ficaria um arraso. - falou Luaine.
- Não... não... é muito ousado.
- Eleonora... é para experimentar. - disse minha mãe.
- Paula... não insista.
- Veste...veste...veste...
- Ok... vocês me venceram pela chatisse.
Depois de alguns minutos, Eleonora retornou radiante. Paula e Luaine ficaram impressionadas, sumiu aquela mulher rispida e surgiu uma senhora renovada.
- Ohh... Je... Sus... quem é você? - perguntou Luaine.
- Eleonora você está linda. Realmente.
- Será? Nossa ficou linda. - ela olhando no espelho.
- Se eu fosse você levaria. - disse Paula. - O Luís pode gostar.
- Vou levar, mas é porque realmente gostei da roupa. - garantiu a mãe de Ezequias.
Falando no músico, era a noite da apresentação dele. Cabelo cortado, lentes de contatos postas e roupa trocada. Phelip o ajudou com os equipamentos eletrônicos. No momento do show, estavamos todos lá. Mauricio, eu, Fernanda, Osvaldo, Carlos, Luciana, meus pais, Priscila e Caleb.
- Está nervoso? - perguntou meu irmão.
- Sabe... eu achei que estaria, mas esperei tanto tempo por essa oportunidade. - ele disse se aproximando e colocando sua testa junto a de Phelip.
- Que bom. - meu irmão falou fechando os olhos.
- Eu tive o melhor incentivador de todos. Obrigado.
Casa lotada. Expectativas a mil. O dono da boate subiu ao palco e agitou o público presente. Todos aplaudiram e ele anunciou.
- Nossa, ele trouxe uma torcida e tanto. - disse o empresário.
- Ezequias!!! Ezequias!!! - gritamos.
- Com vocês... Ezequias!!!
Meu cunhado subiu ao palco, um pouco nervoso, mas com um sorriso nos lábios. Ele pegou o violão e dedilhou algumas notas.
- Bem... boa noite...
- Boa noite!! - alguns gritaram.
- Eu sofri um acidente... algumas semanas atrás e infelizmente não pude me apresentar, mas graças a pessoas especiais para mim, hoje estou aqui. Preparei algumas canções para vocês, algumas nacionais, outras internacionais.
- Vai lá gato!! Arrasa!!! - gritou Luaine.
Ezequias olhou em volta e não viu seus familiares. Ele engoliu seco e voltou a dedilha a música "Aonde quer que eu vá".
"Olhos fechados... pra te encontrar... não estou ao seu lado... mas, posso sonhar... aonde quer que eu vá... levo você... no olhar"
A luz refletia nos olhos de Ezequias, e os deixava com uma cor bonita. Do nada, ele vê sua mãe ao lado de Luaine e controla para não se emocionar. Ela estava com o vestido azul turquesa que comprou mais cedo.
- Nossa meu filho está tão lindo Luaine. - falou Eleonora.
- Está sim... amiga... - disse Luaine a abraçando.
Ezequias sabia que para sua mãe aquilo era a coisa mais difícil do mundo, ele dedicou outra canção para ela.
- Gente... eu não acostumava a acreditar em milagres, mas nos últimos meses a minha vida deu uma guinada de 360 graus. Tenho um namorado, uma família que me aceita, em termos. Mas, independente de tudo, eles querem minha felicidade. Mãe... obrigado! Phe... te amo!
O show foi um sucesso e todos aplaudiram Ezequias em pé, fiquei orgulhoso dele, um jovem nerd, saiu da caixa e brilhou grandiosamente. O dono da boate fechou o contrato na mesma noite. Ele se apresentaria quarta, sexta-feira, sábado. E o salário não era mal. Decidimos sair para comemorar.
- Filho... adorei sua apresentação. - disse Eleonora.
- Obrigado... ver a senhora aqui me deu mais coragem. - ele disse a beijando. - Obrigado por não me abandonar.
- Para não chora. Hoje é dia de celebração. Aproveite com seus amigos. Preciso ir pra casa.
- Vamos mãe! - pediu Phelip.
- Não filho. Preciso ir descansar. Tenho algumas tarefas pendentes na igreja. - ela disse o abraçando e pegando um taxi.
- Pelo menos ela veio. - disse Luaine.
- Oi amiga. - falou Ezequias.
- Até hoje eu espero os meus pais... mas, vamos tirar esse baixo astral... vamos para a Party!!! - gritou o travesti.
No boate, aproveitamos para anunciar o nosso projete da primeira parada gay da cidade. O público LGBT gostou e comprou a causa. Dançamos bastante e comemoramos com os amigos.
- Ei... sabe? Ainda damos pro gasto. - falei para o Mauricio.
- Somos coroas gostosos. - ele disse me beijando.
- Ei... com licença. - pediu um garçom chamando a atenção de Ezequias. - O nosso chefe soube do seu show na boate aqui ao lado e ele pediu sua ajuda. ele quer fazer uma serenata para a esposa dele.
- Bem... - disse Ezequias sem saber o que dizer.
- Pode ir. - falou Phelip, sem aparentar a chateação.
- Volto daqui a poucos minutos. Só uma canção.
Sim. A partir de agora, assim seria a vida de Phelip, o trabalho de Ezequias exigia muito dele. E a cada dia ele ficava mais conhecido na noite da nossa cidade. Era um bom músico, carismático, bonito e principalmente tinha boa voz. Ele aproveitou todas as oportunidades para cantar.
- Alô? - perguntou Márcio atendendo o celular.
- E ai belezinha? Conseguiu aquele contato? Olha amor... nossa fuga depende de você. - falou Ryan.
- Sim...
Márcio voltou ao passado e lembrou os dias de cadeia. Naquela época, ele era refém da situação. Depois de ser violentado por todos os colegas de cela, Márcio deitou ao lado de Ryan.
- Minha vida vai ser isso? - ele perguntou.
- Se não gostar pode ir para outro lugar, mas garanto que não tem pessoas que irão te proteger.
- Ryan... o que você fez para estar aqui? - ele perguntou.
- Muitas coisas... drogas... tráfico... assassinatos...
- Entendi.
- E você... fala a verdade... matou ou não matou aquele rapaz?.
- Indiretamente... sim... eu estava possesso, na verdade o alvo era outro cara... ele tirou o meu namorado. Na verdade... ex-namorado... o nome dele é Pedro.
- Do teu ex? - questionou Ryan.
- Não... do meu alvo... meu ex se chama Mauricio. Eles têm um filho.
- Sabe... eu queria ter uma família também, mas infelizmente não são todos que tem essa sorte. E o que esse cara faz? - perguntou Ryan.
- Médico.
- Olha....
- Mas, infelizmente na época eu era um idiota e não dei valor. - falou Márcio se aproximando de Ryan.
- Ei... porra... não sou viado... - gritou Ryan socando o rosto de Márcio.
- Desculpa. - ele disse chorando. - Me desculpa... desculpa...
- Eu já te disse porra... só te quero quando conseguir uma calcinha e sutiã. - ele disse levantando e desferindo socos em Márcio.
- Para! Não... pará... aiii... aiiiii... paraaaaa... paraaaaaa.... - pedia Márcio.
- Ei gente... amaciei a carne... querem um segundo round.
Naquele momento o mundo parou para Márcio, deitado no chão sujo, banhado de sangue, ele só ouvio um zumbido em seus ouvidos. O primeiro subiu em cima do jovem, e o violentou. Ryan olhava e gostava de ver o parceiro daquele jeito. Ele sorriu e pediu espaço.
- É a minha vez.
- Pega o lubrificante. - falou um homem.
- Eu quero um pano. - ele pediu.
- Tá aqui. - falou o mesmo homem oferecendo o tecido.
Ryan penetrou Márcio com o pano, para limpar qualquer tipo de lubrificação. Ele se posicionou em frente ao jovem e o penetrou de uma única vez. Márcio estava tão cansado e massacrado que soltou apenas um grito abafado.
- Ei amor... - disse Ryan pelo telefone.
- Fala... desculpa me distraí.
- Obrigado pelo contato... e quando você vem aqui me visitar? Não esquece daquelas coisas que eu preciso. - pediu o mal caráter. - O dia de ficarmos juntos está próximo... está muito próximo.
- Mal posso esperar. - falou Márcio.
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