- Pedro... acorda.
- O que?! - falei tentando abrir os olhos, mas sem conseguir devido ao forte sol.
- Acorda mano.
- Paulo?! - falei tentando reconhecer.
- Não... idiota.. sou eu Phelip. Levanta daí.
- Onde estamos? - perguntei levantando.
- Isso que eu queria saber... a noite de ontem foi punk. Estamos na praça da cidade. - ele disse me ajudando a ficar em pé.
- E cada o Mauricio? O Ezequias?
- Isso que eu queria saber... vamos pra casa. - ele disse me auxiliando.
- Juro que não lembro de nada. - falei pra ele.
Mauricio acordou em cima de uma árvore, assustou-se com a situação e caiu.
- Droga. - ele disse.
- Mauricio! Ei... Mauricio! - gritou Ezequias de dentro uma lixeira.
- Hummm? O que você está fazendo aí? - perguntou meu esposo.
- Eu to... eu... eu... eu to pelado. - ele disse ficando vermelho.
- Jesus. Acho que nunca mais quero beber.
- Me ajuda.
- Espera. - disse meu esposo tirando a camisa.
O dia estava começando a ficar quente, as pessoas nos olhavam como se fossemos ladrões, criminosos, mas a verdade é que parecíamos. Quando dobramos a esquina encontramos Mauricio e Ezequias. Seria trágico se não fosse tão ridículo. Começamos a rir. Tirei minha camiseta e dei para Ezequias, pois, ele usava a camisa de Mauricio como tapa sexo. E meu irmão tirou sua camisa também.
- Juro que não lembro o que aconteceu. - falei abraçando meu esposo.
- Nem olha para mim. - ele disse sorrindo.
- Acordei pelado dentro de um lixeiro. Prefiro não saber. - falou Ezequias.
- Eu também não quero. - falou Phelip rindo alta.
Luís e Eleonora começaram a discutir sobre a preferência de Ezequias. O pai ainda estava ressentido com a escolha do jovem.
- Agora você também está infiltrada no mundo gay. - gritou o homem.
- Deixa de bobagem Luís... são pessoas que só querem respeito.
- Eles te seduziram... com roupas e maquiagem. Eu não to lhe reconhecendo mais.
- E nem eu a você. Escuta. Acho melhor eu passar uns dias na casa de Ezequias, com Daniele viajando é melhor... não tenho preferência por ninguém, apenas respeito e desejo a felicidade deles. - falou Eleonora subindo as escadas.
Sim... o clima na casa de Luís não estava legal e ele afastava todos os entes queridos com sua postura. Em casa, meus pais se orgulhavam a cada dia com Bernardo, deixando até alguns filhos com ciúmes.
- Mãe... mãee? - perguntou minha irmã entrando em casa.
- Aqui amor! - gritou minha mãe da cozinha.
- O que está acontecendo aqui?
- Nada, eu e Bernardo estamos fazendo o almoço. Seu pai viajou e ficamos apenas nós dois hoje.
- Hummm... Bernardinho é o preferido da mamãe agora? Perdi o posto há muito tempo... primeiro o Phelip... depois ele. Eu quero ser a menina da mamãe. - ela disse rindo.
- Ai minha filha... todos tem espaço no meu coração.
- A mamãe ama a todos. - disse Bernardo.
- Ahh vocês viram as fotos dos meninos? - perguntou Priscila.
- Não... - responderam os dois juntos.
Vejam. Falou minha irmã mostrando as fotos pelo celular. Todos riram.
- Meu Deus... eles ficaram muito doidos. - falou Bernardo.
- Desliga isso... que exemplo é esse para o meu filhinho. O seu Pedro... hummm... - disse minha mãe.
Chegamos em casa e eu praticamente desmaiei. Graças a Deus, os meninos foram participar de uma expedição da escola e voltariam apenas no domingo. Sonhei novamente com o acidente do Paulo. A cada sonho, ficava mais real. Acordei suado, o sol estava laranja. Levantei e olhei para o horizonte. Senti aquela respiração forte no meu pescoço e sinto aquelas braços firmes me abraçando.
- Seus olhos ficam lindos no pôr do sol. - Mauricio falou.
- Os seus também.
- Dança comigo? - ele perguntou me colocando de frente pra ele.
- Claro. - falei.
Dançamos sem música, mas ao olhar os olhos de Mauricio a música tocava no fundo do meu coração. Ele era a minha rocha, meu porto seguro. Creio se o perdesse ficaria louco.
Fernanda e Osvaldo decidiram jantar fora. Eles ligarem para Phelip e Ezequias para jantar fora. Mas, infelizmente o namorado do meu irmão iria trabalhar. Phelip tentou não se importar com a situação, pois, ele sabia que apoiar seu parceiro seria primordial.
- Tudo bem Fernanda. A gente marca semana que vem. - disse meu irmão desligando o celular e atendendo a porta, pois, a companhia havia acabado de tocar.
- Oi. - disse Eleonora.
- Eleonora? Está tudo bem? - perguntou Phelip.
- Sim. Briguei com o Luís. Posso entrar?
- Claro. Fique a vontade... deixa eu pegar sua bolsa.
A mãe de Ezequias chegou no sofá e começou a chorar. O meu irmão não sabia o que fazer, sentou ao seu lado e a abraçou.
- Eu sei que a culpa é nossa. - disse Phelip. - Obrigado por ficar ao nosso lado.
- Eu sei... mas, as coisas poderiam ser mais simples. - disse ela.
- Eleonora sei que somos de idades diferentes, o seu tempo é outro, mas as coisas nunca são fáceis... ontem... hoje... amanhã. Mas, pessoas como você fazem valer a pena.... quer saber? Vamos fazer a noite dos solteiros... o teu filho foi trabalhar... vamos assistir a um filme?
- Mas, eu posso escolher? - ela perguntou.
- Pode sogrinha... pode...
No restaurante, Fernanda e Osvaldo conversavam sobre vários assuntos. A jovem jornalista andava e via pautas em todos os lugares. O que atrapalhava um pouco a relação dos dois.
- Sabe amor... eu fico pensando... um dia quero mudar para alguma capital... será bom para nós dois. - disse ela.
- Eu queria ficar por aqui um pouco.
- Mas, se você vai ser médico o melhor é você ir fazer especialização fora.
- Mas, todos os médicos do hospital fizeram o curso aqui. - ele falou.
- Puxa Osvaldo. Você sempre frustrando os meus sonhos... credo.
- Amor? Aqui é um lugar seguro... longe das drogas... traficantes.
- Essa é a sua preocupação? Você está limpo há anos. - ela disse segurando as mãos de Osvaldo.
- Nunca se sabe quando teremos um recaída. Eu amo você, não quero te fazer sofrer.
- Ok. Eu entendo, mas se ficarmos com medo de tudo... não iremos a lugar algum. - disse.
- Ei. Vamos com calma. Você começou agora... eu to estagiando. Vamos com calma. - disse Osvaldo a beijando.
- Vamos devagar... né? - perguntou Fernanda.
Vinicius estava indo até o apartamento de Márcio e sofreu um pequeno acidente de trânsito. Ele me ligou e pediu para eu ir até a casa de Márcio. No inicio fiquei meio indeciso, mas acabei aceitando. Teria que levar uns folders para a distribuição na rua.
- Coragem Pedro. - falei em frente a porta do apartamento de Márcio.
Toc Toc
- Olá? Pedro? O que você está fazendo aqui?
- O Vinicius não pode vir e eu trouxe os panfletos para a distribuição. Afinal... falta tempo para a festa e ainda estamos na divulgação.
- Pode entrar. - ele disse.
Entrei desconfiado... o apartamento dele era pequeno, mas bem arrumado. Acho que com os anos de prisão, ele acabou se acostumando com pequenos espaços. Márcio me ofereceu um copo de café e eu tomei. Ficamos em silêncio por um bom tempo.
- Porque? - perguntei.
- Bem... acho que era inevitável essa pergunta... Pedro... eu fui um menino que tive de tudo... menos o amor do meu pai... quando eu era pequeno ele me pegou transando com meu primo. Ele ficou revoltado e saiu de casa. Fiquei com raiva, pois, até então não estava fazendo nada de errado. Comecei a machucar os outros...
- E porque você escolheu a mim?
- Você sempre teve tudo como eu, tinha um irmão maravilhoso... e seus pais aceitavam você. Morria de inveja.
- Inveja?! - falei levantando. - Inveja? Você sabe o que eu sofri e sofro por causa da sua inveja? Porra!!! Eu perdi meu irmão. - falei o socando.
Márcio não reagiu, ele deixou eu bater nele. Na hora, o sangue subiu e lhe dei vários socos no rosto. O rancor e odeio de toda a minha vida foram transferidos para a minha mãe. Márcio caiu no chão e eu desferi vários chutes neles. Olhei para a minha mão e havia sangue. Me assustei e cai no chão chorando.
- Satisfeito? - ele perguntou com o rosto irreconhecível.
- Me desculpa. - falei chorando.
- Mereci. Pedro... eu acho que já apaguei por todos os meus pecados. Quero recomeçar a minha vida sem nenhum medo. Lembro quando você resolveu me visitar na prisão, aquela sua aceitação de perdão foi horrível. - ele disse rindo com dificuldade.
Comecei a rir também e levantei, ele pensou que eu ia bater nele novamente, mas o ajudei a levantar. Fui até o banheiro peguei um pano e limpei seu rosto.
- Você sempre foi um idiota. - falei. - Até quando te bato... você é um idiota.
- Faz parte do meu charme.
- Escuta... não vou ser o teu melhor amigo, mas... parece que a nossa vida se cruza sempre... então vamos viver em paz. - falei.
- Pode ser. Vamos viver em paz. Era tudo o que eu queria.
- Sim. - falei olhando para o lado. - Pera ai... essa foto aqui é da terceira série. Eu lembro.
SÃO PAULO - 22 ANOS ANTES.
- Ei menino. - falou o pequeno Márcio.
- Oi. - falei levantando do chão.
- Quer brincar com a gente? - ele perguntou.
- Quero. - falei limpando a mão na calça.
- Beleza... eu sou o bandido e você o policial. - ele disse correndo. - Vem me pegar.
- Bam! - fiz o barulho com a boca e usando a mão para simular uma arma.
- Aiii meu coração... - disse Márcio caindo no chão.
- Morre bandido!! - gritei.
Sim... aquelas eram duas crianças brincando... e eles tomaram rumos diferentes... porém suas vidas sempre estariam entrelaçadas. E isso seria de suma importância para o desfecho dessa história.
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