O Diabo na Aldeia - capítulo terceiro

Um conto erótico de alte welt
Categoria: Homossexual
Contém 1090 palavras
Data: 05/05/2013 10:33:22
Última revisão: 05/05/2013 10:47:18

Doutor Eisenschwanz sentou-se na cadeira ao lado da cabeceira da cama de Antonín, olhando profundamente dentro dos olhos azul-acinzentados do jovem endemoniado.

"Por que tu me perturbas, padre?", indagou o espírito maligno em latim, com sua combinação macabra de vozes.

"Não sou padre, sou um médico", respondeu Herr Doktor.

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"Não mintas, padre, teu Deus não aprova. Sinto em tua alma que já mandaste irmãos meus de volta para Hades", retrucou o demônio.

"Estudei a ciência do exorcismo sob a tutela dos monges da ordem de Sankt Benedikt von Nursia, mas nunca fui ordenado sacerdote", o clínico começava a perder a paciência: "Mas já basta, servo do Inimigo, não estou aqui para falar de mim. Quem és tu?".

"Femina sum - sou mulher", disse orgulhosamente a entidade diabólica dentro do corpo de Antonín. "Apenas mais uma de tantas que manipulam este mundo através da luxúria".

"E o que tu queres?"

"Quero a semente de um homem, para dar à luz um filho das trevas".

Visivelmente irritado, o doutor começou a esbravejar: "Imbecil! Como pretendes dar à luz, se possuis um corpo de homem?! Néscio filho da serpente!"

"O quê? Não me tentes enganar, padre! Sinto a força feminina da alma com que divido este corpo. Sinto seu amor pelos homens e seu desejo contido, prestes a transbordar. Esta moça muito em breve conceberá um servo de Lúcifer!" - o ente respondeu indignado.

"Não vou mais suportar tua estupidez, sucubus! O corpo que tu transgrides é de um homem, não de uma moça. Este que te fala é um médico, não um padre. Fosse eu um padre, já te haveria removido sem nem ouvir tuas palavras corrompidas. E é isto mesmo que providenciarei neste exato instante!" - vociferou Herr Doktor em uma mistura enrolada e raivosa de latim e alemão antigo, enquanto sacudia seu punho no ar.

O doutor era um homem altruísta, generoso e cheio de compaixão, mas quando se irritava, fervia em seu sangue teutônico a ira de toda sua longa linhagem de antepassados guerreiros. Naquele momento, seu sotaque ríspido soava tão intimidador, que o diabo no corpo de Antonín calou-se.

Alzbeta e Pavel, que estavam dentro da casa, não compreendiam palavra alguma que ali havia sido proferida, mas percebiam os tons de voz que cresciam, e com eles a tensão.

Subitamente, Václav, que estava do lado de fora, foi surpreendido pelo Doutor, que marchava em sua direção com passo resoluto, o olhar fixo e os punhos cerrados. Herr Doktor ordenou em língua boêmia: "Dá-me minhas relíquias, velho! Exorcizarei o ser imundo!". Atrapalhado e temeroso, o pobre ferreiro demorou a recuperar os artefatos dos seus bolsos. Impaciente, o médico deixou novamente transparecer a sua fúria alemã: "Rápido, velho! Aber schnell!".

Já com a cruz de São Pedro e a medalha de Nossa Senhora em mãos, Herr Doktor marchou de volta, com a mesma determinação, rumo à cama de Antonín. O demônio percebeu que não haveria mais delongas nem conversa. Ao sentir aproximar-se o calor proveniente da prata consagrada do crucifixo, Antonín arregalou os olhos e saltou da cama, exclamando: "CRUX! CRUX!".

Doktor Eisenschwanz agarrou o rapaz em meio a sua trajetória de fuga, arremessando-o de volta sobre o leito. Frustrado, o diabo xingou: "DAMNATIO AD INFERNUM!". O médico subiu com um dos joelhos sobre a cama, e o outro sobre o ventre de Antonín, para não deixá-lo escapar. Com sua mão direita, pressionou a medalha de Nossa Senhora contra a testa do jovem, e com a mão esquerda, a cruz de São Pedro no centro do tórax. Naquele momento, Antonín começou a debater-se e sua boca a espumar.

O médico iniciou o ritual:

"Eu te ordeno, espírito imundo, sejas quem fores, junto com todos os teus servos que agora atacam este servo de Deus, pelos mistérios da encarnação, paixão, ressurreição, e ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela descida do Espírito Santo, pela vinda do Nosso Senhor para julgamento, que tu me digas, por algum sinal, o teu nome, e o dia e hora da tua partida. Eu te ordeno, ainda, que me obedeças plenamente, eu que sou um ministro de Deus, a despeito de não ser merecedor; tampouco sentir-te-ás encorajado a ferir de maneira alguma esta criatura de Deus, nem os expectadores, nem mesmo seus bens".

Então, principiou a recitar, em voz lenta e retumbante, a fórmula composta de palavras bem conhecidas nos dias atuais, mas que pouquíssimos tinham ouvido naquela época, em pleno século XIV:

"CRUX SANCTA SIT MIHI LUX

NON DRACO SIT MIHI DUX

VADE RETRO SATANA

NUMQUAM SUADE MIHI VANA

SUNT MALA QUÆ LIBAS

IPSE VENENA BIBAS!"

Quando terminou de ser pronunciado o último verso do Vade Retro, cessaram as convulsões de Antonín. O Doutor, orgulhoso de seu trabalho, ficou de pé ao lado da cama enquanto cingia em torno de seu pescoço a corrente do crucifixo e recobrava a calma.

Antonín abriu lentamente os olhos, e, fitando o médico, abriu um sorriso. Este sorriu em retorno, com um misto de satisfação e altivez. Mas eis que os lábios do jovem ganharam contornos maliciosos, e, apertando-os, este cuspiu no rosto do doutor.

"O que tu pensavas, escravo do Deus Crucificado? Que eu abandonaria minha missão? Disse-te que estou aqui para receber em meu ventre a semente de um homem, e aqui permanecerei até ter atendido ao meu dever!", falou o súcubo através da boca de Antonín. E prosseguiu: "Tu podes castigar-me com teus encantamentos cristãos o quanto quiseres, mas asseguro-te que eu simultaneamente torturo a alma que comigo divide este corpo. Queres arriscar que ela fique insana, só para me expulsares? Pois bem, padre, vejamos quem resiste mais!".

Herr Doktor percebeu o sangue subir-lhe à cabeça. Ele começou a sentir um ódio irrefreável, que parecia estar prestes a explodir em um rompante gutural de palavras germânicas. Mas ao invés disso, ele inspirou profundamente, e fez um esforço sobre-humano para engolir a raiva, pois ele sabia que o demônio havia dito algo de verdadeiro. Não era raro que, uma vez falhado o exorcismo, o ministro do ritual perseverasse tentando expelir o diabo à força, enquanto este submetia a suplício a alma do hospedeiro. Tanta era a agonia, que o espírito parasita voltava para o inferno, mas causava loucura irreversível ao infeliz que tinha sido possuído.

"Pois bem, sucubus, venceste, por agora. Já expliquei o porquê de estar fadada ao fracasso tua missão, mas és estúpida e não me compreendes. Pouco importa. Retiro-me desta casa se deixares que o rapaz descanse", disse o médico, oferecendo um armistício.

"Deixarei a donzela dormir, padre", prometeu a entidade, ressaltando sensualmente a palavra PUELLA - "donzela".

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Comentários

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Muito bom! Mas, que estúpida essa sucubus. Vadia estúpida! 10!

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Que demônio burro, dá zero pra ele! Chocante e excitante.

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wow, esse exorcismo me lembrou Constantine... Mas foi muito melhor que o original. Tá, sucubus burrinha essa hein? Será que ela não consegue distinguir um pênis de uma vagina? (ou ela não olhou pra baixo pra ver?) Haha

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Muito bom, o espirito sentiu a alma feminina do rapaz. (so espero que nenhum "religioso" ache que todo gay tem espirito atuando). E dez!

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