Certa vez... lembro como se fosse hoje... o meu filho pediu de mim... papai o senhor pode comprar um carrinho? Sabe o que eu respondi? - perguntou Ryan para um guarda imobilizado.
Apenas com um olhar, o homem responde que não. Ryan saiu de cima dele e pegou uma faca. Pensou por alguns minutos e retornou para cima do homem.
- Eu disse... não filho... papai não pode. Você pode ficar com ódio de mim... assim como a sua família... mas, eu tenho coisas para fazer lá fora e infelizmente você estava no lugar errado na hora errada... como você pode observar, muitas vezes não conseguimos o que queremos... mas... - ele disse cortando o pescoço do homem que ficou se debatendo no chão.
- Vai demorar muito cara?! - perguntou outro detento.
- Vamos... vamos...
- Vamos para onde?! - perguntou o homem.
- Para a casa de um amigo meu... quer dizer... de um amigo nosso... vamos logo.
3 meses antes.
Confiança. Porque é tão importante para um ser humano buscar confiança em outro? Será que é para se proteger ou é algo que foi passado de geração a geração. E afinal de contas o que seria confiar?!
Phelip acordou tarde naquele sábado... estava cansado. Mas, levantou e encontrou Ezequias na sala com alguns amigos.
- Bom dia. - disse o jovem apenas de cueca.
- Bom dia! - responderam todos.
- Phelip? Quer trocar... quer dizer colocar uma roupa adequada. - pediu Ezequias.
Meu irmão ficou instantaneamente vermelho e voltou para o quarto. Depois de alguns minutos voltou adequadamente vestido. Não que os amigos de Ezequias não houvessem gostado. Muito pelo contrário.
- Gente... esse show vai ser muito importante pra gente. Um produtor musical vai nos visitar no clube... precisa ser perfeito. - disse ele.
- Mas, amigo... você é perfeito. - disse um dos músicos.
- Precisamos ser mais... precisamos ser legendários! - vislumbrou o namorado do meu irmão.
- Uma boa oportunidade é vocês participarem da Parada do Orgulho LGBT... vai ser um grande evento. - opinou Phelip sentando ao lado de Ezequias.
- Verdade... já pensou?! Vai ser um evento único. – disse um jovem.
- Não... gente... precisamos focar no clube... – falou Ezequias.
- Mas...
- Sem mais... quero tudo perfeito... eu preciso. – falou o jovem assustando os amigos. – Bem... já discutimos o repertório... a gente ensaia amanhã. – falou o jovem.
Os amigos de Ezequias foram embora e o meu irmão não imitiu nenhuma palavra durante o dia todo. Ezequias deitou-se por cima de Phelip e ele o empurrou.
- Nossa para que a grosseria? – perguntou.
- Grosseria?! Deve estar aprendendo com o melhor. – meu irmão disse prestando atenção no jogo.
- Eu?!
- Quer saber... vou assistir ao jogo com o Mauricio... eles estão reunidos nos preparativos do evento sem importância. – ele disse levantando, vestindo uma camisa e saindo do apartamento.
- Phelip!
Na minha casa uma visita me assustou. Era a minha irmã. Ela parecia nervosa e eu a levei para o quarto.
- Calma... o que aconteceu? – perguntei.
- Aconteceu que... que... eu estou grávida... novamente. – disse ela chorando.
- E isso é bom ou ruim? – perguntei.
- Eu não sei... estou confusa...
- Priscila?! Você não é mais tão jovem... vai querer... vai...
- Não... acho que não teria coragem... não depois de tudo o que eu passei. Acho que estou com medo de... de perder essa criança.
- Não se preocupa Pri... estou aqui com você. Fiz uma promessa ao Paulo e cuidarei de você. – falei a abraçando.
- Obrigada.
- Você vai contar para a dona Paula?!! – perguntei.
- Por enquanto não... quero ter certeza. – ela disse limpando as lágrimas.
Desci e os meninos continuavam a reunião. Faltavam poucos dias para a nossa parada de conscientização. Phelip chegou cabisbaixo e pouco falou durante o encontro. Depois de detalhados alguns pontos da festa o chamei até o quarto.
- Te achei distante hoje... outro irmão outro problema? – perguntei o abraçando.
- Como assim?
- Nada não... fala... o que está acontecendo? – perguntei sentando ao lado dele.
- Pedro... em algum momento você pensou em desistir de tudo?! – ele perguntou.
- Da vida?
- Não no sentido de morrer, mas... é.... é...
- Amor... eu sei que não deve ter sido fácil para você assumir responsabilidades na empresa do papai, mas alguém teria que fazer o trabalho sujo... é o carma de ser um Soares.
- Mas, não é só o trabalho...
- Estou achando que este problema é chamado de Ezequias... estou errado?
- Não. – ele consistiu em voz baixa.
- Deixa eu ver... ele está dando mais atenção a música do que a você? – perguntei.
- Sim... exatamente isso... ele está me esquecendo.
- Phelip... eu sou casado com um médico. A vida do Mauricio é aquele hospital. E em nenhum momento deixei de apoiar as decisões dele.
- E vocês fazem funcionar.
- Vocês só precisam se achar. – falei o abraçando. – Eu te amo. Quando precisar pode me procurar.
No hospital, o Mauricio começou a utilização do novo remédio do hospital. Era incrível como ele ficava feliz com aquilo.
- Você parece uma criança com um brinquedo novo. – falei o beijando.
-Amor... é uma novidade da tecnologia. O nosso hospital é referencia no Brasil. Nunca pensou nisso?! – ele perguntou.
- Não... mas se você diz que é importante... eu acredito. – falei pegando o frasco e rindo.
- Ele é pequeno... mas coloca um homem para dormir em menos de 5 segundos.
- Eu vi com o paciente da cirurgia. E quanto tempo ele deixa a pessoa apagada? – perguntei.
- Sendo administrado corretamente o dia todo, mas um frasco desse... hummm... uns 50 minutos. – falou.
- Entendi. E falando em minutos... precisamos ver o discurso da parada. E outra... vamos levar as crianças?
- Claro... claro que as crianças vão. Eles precisam aprender que ser diferente não é errado... existem pessoas diferentes das outras... e que o amar está lá.
- Nossa... casa comigo. – falei sorrindo.
- Desculpa, mas meu marido não deixa. – ele disse me beijando.
Priscila foi com Luciana até o ginecologista. Ela decidiu ir a outro hospital da cidade. Elas entraram e foram atendidas por uma enfermeira bastante gentil.
- Pri... porque esse hospital?! – perguntou Luciana.
- Amiga... sabe que quero discrição. Não quero ninguém que eu conheça vendo a minha vagina. – disse minha irmã.
- Você é engraçada. E quando pretende contar para o Caleb?
- Não sei Luciana. E se ele se assustar.
- Amiga, lembro da última vez que vi um brilho no olhar dele. – disse Luciana pegando nas mãos de Priscila.
- Espero que sim.
- Priscila Soares. – chamou a atendente.
- Vai lá... arrasa. – disse Luciana.
- Hummm?
- Desculpa estou nervosa. Boa sorte.
Minha irmã entrou na sala e outra enfermeira a recebeu. A moça despiu a minha irmã e a direcionou para a sala de atendimento. Para a surpresa da minha irmã quem entrou foi um antigo namorado dela.
- Heitor?! – perguntou Priscila.
- Priscila Soares. Não acredito. – disse o médico colocando a máscara.
- Vim me consultar com o Doutor Bruno Lopes. – disse Priscila levantando da mesa.
- Bruno Heitor Lopes e era para ter Soares. – ele falou deitando a minha irmã.
- Heii...Heitor... eu não posso... é... é....
- Oras... para com isso... somos profissionais... tenho um compromisso com a sua saúde
- Sabe que não temos nada. Para... eu vou gritar.
- Na sua ficha está dizendo que está grávida? Jesus... você pensa em abortar? – ele perguntou.
- Não seja ridículo. Jamais faria isso.
- Então deixa eu te atender. O que eu vou ver de novidade? Colocou uma tatuagem?
- Jesus... – disse minha irmã abrindo a perna.
- Nossa... que saudades... – falou Heitor.
- Idiota... quero saber tudo! – gritou minha irmã.
Heitor fez todos os exames e constatou a gravidez da minha irmã. Ele se mostrou decepcionado, mas aceitou o fato na boa. Assim ele disse. Priscila queria preparar uma surpresa para Caleb.
Quando tudo está muito calmo. Acontece alguma coisa para mudar as nossas vidas. Na principal avenida da nossa cidade, um caminhão de gás perdia o controle e batia contra um poste de alta tensão. Um vazamento causou uma grande explosão que foi ouvida a muitos quilômetros de distância. Casas derrubadas, prédios danificados e pessoas em pânico. O cenário era digno de um filme de terror.
10 minutos antes.
- Crianças... comportem-se. – falei para os meus filhos enquanto dirigia.
- Papai o Patrick roubou meu boneco. – disse Pablo.
- Não quero brigas. Mauricio!! – gritei.
- Crianças... quietos. – ele disse olhando para o tablet.
- Pai... o Dj puxou a minha orelha. – falou Pablo.
- Ai, ai, ai... vocês querem explodir o carro?! – gritei e me assustei ao ver uma bola de fogo vindo em nossa direção.
- Pedro!!!! – gritou Mauricio.
10 minutos antes
Luciana e Priscila voltavam do hospital. Minha irmã contou toda a história para a nossa amiga. Elas riram um pouco e foram surpreendidas pela explosão que quebrou os vidros do carro de Priscila e a fizeram bater o carro.
- Jesus... o que aconteceu? – perguntou minha irmã. – Luciana... acorda... Luciana... droga. Que fogo é esse?!
- O que... onde?! – perguntou Luciana. – O que foi isso? – ela perguntou chorando.
Priscila saiu do carro e viu a fumaça longe dali. Ela correu até o local e viu uma cena desoladora. Várias pessoas caídas no chão, muitas mortas, a maioria jovens. Acordei e vi Mauricio deitado ao meu lado. Nosso carro totalmente queimado. Pablo e Patrick choravam, DJ tentava acalmar os irmãos.
- Pai... pai acorda... os meninos estão machucados. – disse DJ.
- DJ... DJ... eu to preso. – falei. – Tira eles daqui... Mauricio... Mauricio acorda... – falei tocando nele.
- Pai... pai... o que eu faço? – perguntou DJ.
Tentei me mover, mas não conseguia. Acalmei DJ e pedi para ele abrir a porta. Ele saiu para buscar ajuda e eu tentei acalmar os meninos. Mauricio recobrou a consciência.
- O que aconteceu? – ele perguntou tirando o cinto de segurança e saindo do carro.
Ele ficou chocado ao ver o estrago. Correu e abriu a porta de trás do carro. Depois de alguns minutos, DJ trouxe a minha irmã.
- Céus... vocês estão bem?! – perguntou Priscila.
- Os gêmeos estão bem... alguns machucados. O Pedro está preso... no carro. – De repente um dos carros que foi atingido pelas chamas explodiu, quase atingido o nosso carro.
- Você precisa tirar os meninos daqui!!! – gritei.
Muito a contragosto, Mauricio correu para o mais longe que pode. Priscila entrou pelo lado do passageiro e tentou me soltar.
- A merda do volante está preso.... droga!!!
- Calma... – disse ela.
- Por favor... me ajude... me ajudem!!! – gritavam várias vozes.
- Eu... eu...
- Vai Priscila... as pessoas precisam de ajuda. Mas, você é meu irmão...
- E estou bem... vai logo... os bombeiros me tiram daqui. – falei sorrindo.
Na rua haviam várias pessoas ajudando, mas uma série de explosões tirou todos de perto. Priscila era uma das poucas pessoas que continuavam no local. Ela fazia o máximo, enquanto a ajuda estava a caminho. Não muito longe dali, Mauricio chegava na casa de um amigo da família. Ele ligou para Phelip buscar os meninos para leva-los ao hospital.
- Ei DJ. Lembra naquele dia que o papai Pedro sofreu um acidente e você tomou conta dos seus irmãos?! – perguntou Mauricio.
- Sim... lembro... – disse ele.
- Então... preciso que você seja forte novamente. Preciso voltar para ajudar as pessoas. O tio Moacyr vai esperar o tio Phelip aqui com vocês. Leve seus irmãos ao hospital. – disse ele se despedindo.
Priscila e Luciana faziam curativos improvisados com panos rasgados nas pessoas que sofreram hemorragia. As primeiras ambulâncias começaram a chegar, assim como os bombeiros. No carro, uma fumaça começou a sair na passagem de ar condicionado. Fiz de um tudo para sair. A fumaça começou a tomar conta do carro e eu não conseguia, mas ver nada. Comecei a tentar sair de qualquer forma... mas, cada vez que tentava sair ficava mais preso. Chorei e comecei a perder os sentidos, via tudo embaçado.
- Pedro!! – gritou o Mauricio ao meu lado. – Eu vou te tirar daqui amor.
- Não... o carro vai explodir!!! – gritei.
- Segura em mim... coloca os teus braços em volta do meu pescoço... quando eu contar até três faz força para sairDr. Priscila?! – perguntou um dos enfermeiros da ambulância.
- Graças a Deus... você tem luva?! – perguntou ela, quando outra explosão levou todos ao chão.
- Meu Deus! – gritou uma enfermeira.
- Pera aí... foi o carro do meu irmão!!! – gritou Luciana se desesperando. – Pedro!!! Pedro!!! – ela disse correndo para próximo do carro. – Não!!!
No hospital, todos se preparavam para receber os feridos dessa explosão. Estavam enfileirados em frente ao prédio. Alguns, os novatos sentiam um frio na espinha. Os mais velhos sabiam que aquele dia seria no mínimo trabalhoso. Osvaldo esperava próximo a Carlos. E não escondeu a felicidade de estar atendendo um caso como aqueles.
- Então... existem pessoas amputadas... gravemente feridas... e mortos. – disse Carlos falando alto. – Quero concentração... hoje é dia de salvarmos vidas!!!
- Onde está o Mauricio?! – perguntou Dra. Alexis.
- Hoje era a folga dele... vou bipa-lo. – disse Carlos.
- Faça isso por favor... vou começar a liberar alguns leitos. – disse a médica entrando no hospital.
- Você está ansioso? – perguntou Vinicius pegando no ombro de Osvaldo.
- Sabe... desde de pequeno quis ser médico... não trocaria essa vida por nada. – ele disse sorrindo.
- Não esqueça Osvaldo... são vidas... não precisa sorrir... faça isso por dentro.
Senti algo quente nas minhas costas e cabeça. Era o asfalto. Mauricio conseguiu me tirar do carro antes da explosão. Ficamos abraçados no chão por alguns minutos até a minha irmã chegar.
- Graças a Deus... pensei que você tivesse dormido. – ela disse me ajudando a levantar.
- Foi por pouco. – falei sorrindo, sabendo realmente da sorte.
- São muitas pessoas? – perguntou Mauricio.
- Mais de 20. – ela disse. – Um grupo de jovens de uma escola aqui da região passava no local.
- Jesus. – falei. – Mauricio e as crianças?!
- Estão na casa do Moacyr... pedi para o Phelip ir pega-los.
- Amor... seu braço... está ralado. – falei pegando um lenço no meu bolso.
- Está tudo bem... Pedro... precisas ir ao hospital. Consegue andar? – ele perguntou.
- Sim... consigo. Mas, e você vai ficar aqui?! – perguntei.
- Vou em poucos minutos... preciso ajudar...
- Amor... por favor...
- Ei... para com isso... eu vou voltar... prometo... não é uma despedida.
- Mauricio... vamos?! – perguntou Priscila.
Ainda abalado... andei alguns metros sem direção... até encontrar uma garotinha chorando. Me aproximei... e me deparei com uma cena que nunca irei esquecer. Uma mulher com as costas toda carbonizada, protegendo duas meninas. Me ajoelhei no chão chorando... e me aproximei delas.
- Está tudo bem... – falei para as meninas.
- Ajude-as... – disse a mulher me assutando.
- Calma... Mauricio!!! Priscila!!! – gritei chorando.
- Ajude as minhas filhas. – ela disse pegando na minha mão, podia sentir a pele dela quente. O cheiro me dava calafrios. – Aguente... aguente pelas suas filhas. – falei.
- Mãe... mãe... – disse uma das meninas que deveria ter uns 8 anos... a Cristina está assustada.
- Calma amor... ela vai ficar bem... vocês duas vão... o papai vai já encontrar vocês. – ela disse tossindo.
- Vem querida. – falei pegando uma das meninas. – Vai ficar tudo bem.
- Tire elas daqui... elas não podem ver isso. – disse a mulher.
- Ver o que mamãe?! – perguntou a filha mais velha.
- Vamos querida... vamos encontrar seu pai. – falei.
- Quero ficar com a minha mãe. – disse a menina chorando.
- Escuta... precisa ser forte pela sua irmã... qual é o seu nome? – perguntei abaixado.
- Carolina.
- Carol... você precisa ser forte agora... ok?! Sua mãe precisa ficar sozinha.
Um paramédico se aproximou e fez os primeiros atendimentos na mulher. Ele fez sinal de negativo com a cabeça e as lágrimas não paravam de cair no meu rosto.
Contato - contosaki@hotmail.com