Uma Nova Perspectiva.
Nunca tinha visto algo tão surreal, mais de sete anos sem vê-lo e ele estava ali na porta da minha casa com uma camisa com os dizeres: Não Perturbe. Típico dele, seus olhos, cor de mel, estavam frios como gelo. Eu via algo lá, lá no fundo dos seus olhos, será que era desejo? Eu devia estar louco, era alucinação, alguém ia me acordar, só podia. Sua pele morena estava mais linda do que nunca, ele andou mais um pouco e saiu de trás da porta. Era real! Pude ver o quanto ele cresceu, ele estava um homem, um doutor, como os pais dele sempre falavam para mim, e eu ainda continuava louco por ele, eu podia sentir em toda minha pele, em toda a minha alma, eu ainda queria aquele menino que um dia deixei escapar.
Mas alguma coisa tinha acontecido, ele olhou mais para trás, Mel também levantou a cabeça. Eu virei e pude ver no que ele prestava atenção, em uma coisinha de um metro e dez de altura que era a única razão para eu viver até aquele momento, seus olhos eram azuis e sua pele branca com os cabelos loiros. Sofia caminhava em minha direção e olhava pra Mel com olhar de carinho.
- Melllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll! - Mel reagiu com um latido e logo saiu do meu colo para ir aos seus braços. Com cuidado ela acariciava a cadela e me olhava. Luis deu um passou a frente e voltei a olhá-lo, seus olhos estavam perplexos, ele me olhava com uma cara de tristeza profunda e eu retribuía com a de compreensão ou tentava. Eu sei que quem pagou pelo erro foi eu, mas quem sofreu mais foi ele. Seis anos vivi como tinha jurado, jurado para mim, para Deus, para minha família e para de Carol. Mas mal sabia ele que de um ano para cá tudo tinha mudado na minha vida e na de Sofia.
Sofia por fim, reparou que tinha alguém dentro de casa e perguntou.
- Quem é esse Pai?
15 anos atrás
Eu não queria ir à escola, tudo lá era chato, os meninos todos molengas, eu batia em todos. As meninas todas queriam me beijar, ecá! Eu quero lá saber de meninas, quero jogar pedra na vidraça das casas, soltar pipa, jogar bola e zoar o Lula! Eu não sei o porquê, mas sinto algo por ele que não sinto por nenhum menino, queria chegar perto dele, mas não dá, eu tenho medo, sabe? Então é melhor eu bater do que bancar uma de otário.
Pensando bem, até que vale a pena ir à escola, pelo menos o Lula eu abuso! A gente estuda na mesma classe, só que eu sento lá trás e ele lá na frente. O primeiro dia de aula vai ser hoje, quinta série é um saco, me falaram que uma menina nova entrou que ela era filha do novo dono da fazenda Santa Rosa.
Cheguei à escola e como sempre nada de interessante, a não ser que o Lula cortou o cabelo, até que ficou legal, vou lá zoar ele:
- E ai, Lula?! Até que fim cortou a "moita” né ?! Tavam espalhando por ai que tu já tava criando piolho, mané kkkk - e dei um tapa na cabeça dele, mais com tanta força que ele caiu, comecei a rir mais alto ainda. Foi quando eu senti um dor no meu braço, olho e vejo que alguém está me dando um beliscão.
-Aiii! - ela ainda beliscava meu braço quando falou:
- Pede desculpa, se não aperto mais!- ela tinha os cabelos loiros como fios de lã dourado e olhos bem azuis como o céu, que emanavam raiva naquela hora.
- Desculpa Lula, não tive a intenção de te bater. - falei quase chorando, ela beliscava muito forte para uma menina.
Ela me soltou e foi ajudar o Lula. Nessa hora eu senti uma coisa, algo ruim, não queria que Ela o tocasse. Mas mesmo assim fiquei lá olhando a cena.
- Tem nada não, eu tô bem. - ele falava com cara de choro. Ela conseguiu ajeitá-lo e levá-lo a um banco, saiu um pouco e voltou com água.
- Tome. - e entregou o copo a ele.
- Obrigado, você é nova aqui né? Qual é o seu nome?
-Carolina, mas pode me chamar de Carol.
- Prazer. Eu sou Luis, mas pode me chamar de Lula e esse parado ai com cara de besta é o Jefferson. - Assim que ele falou, eu me toquei que estava lá vendo toda a cena, dei língua e fui embora, deixando os dois sorrindo de toda a situação.
Hoje
- Ele é um amigo muito antigo da sua mãe filha e meu amigo também. - foi tudo que consegui falar.
- Prazer, sou Sofia. - Ela falava e acariciava Mel.
- Prazer, eu sou Luis. - ele parecia ter acabado de despertar de um transe.
- E o que Mel faz aqui Pai?
- Ele é o dono de Mel, minha filha, você pode chamar Dona Francisca pra mim, Por favor? - ela se levantou levando Mel e sumiu de nossas vistas. Nesse momento nossos olhos se cruzaram e pude ver o quão frio seu olhar era sobre mim. Eu me levantei e percebi que estava sem camisa na frente dele.
- Quanto tempo né? – eu estava aterrorizado. O que falar? Que eu o queria? Que eu era um idiota por tê-lo deixado?
- Sim, muito. - foi tudo o que ele falou.
- É melhor eu levar Mel para casa. - assim ele falou dando mais dois passos e passando por mim. Mesmo sabendo que eu era o dono da casa e que ele não sabia onde ficavam as coisas o deixei entrar. A minha casa é muito simples, construí apenas como um passatempo nesse ano conturbado, tinha terminado há duas semanas, ela tem dois quartos, dois banheiros, uma cozinha e uma sala enorme, A parede de trás era de vidro e dava para ver todo o quintal. Ele passou com facilidade pela sala e estava no quintal. Eu o acompanhei, sabia que tinha que fazer alguma coisa, falar alguma coisa, antes que ele sumisse da minha vida de novo. Dona Francisca e Sofia brincavam com Mel a poucos metros, o suficiente para não reparar na gente. Eu o pego pelo braço e com o coração na mão digo:
- Precisamos conversar.
Nosso primeiro contanto e eu achei que ia morrer ali mesmo. Minha pele entrou em êxtase com o toque, tudo em mim transpirava, meu coração parecia que ia explodir, ele deixou aquela barreira cair por um segundo e pude ver aquele que um dia eu amei, por uma fração de segundos pude sentir que estava vivo de novo, mas seus olhos no mesmo instante ficaram frios novamente. Talvez fosse tarde demais. Ele só falou:
- Tudo bem, mas não agora. – eu fiquei parado ali, ele chegou perto de Sofia, pegou Mel, passou por mim e partiu.
Bom, obrigado pelos comentários, o conto terá no máximo oito a dez capítulos!