São inúmeras as brincadeiras de mau gosto que o destino faz conosco. Eu era feliz antes de te conhecer. Eu respirava aliviado e vivia em paz e harmonia. O problema é o dom que tens. Dom de perturbar. Dom de agitar. Dom de me enlouquecer. Dom de trazer a tormenta.
O mais estranho foi que, em meio ao turbilhão de sentimentos que causaste em meu coração, eu encontrei abrigo em seu abraço. Encontrei compreensão em seus olhos. Encontrei amor em seus lábios. Lábios doces, mas que guardam a essência de um dos piores venenos.
És uma hera venenosa. Esplêndido como o sol. Tão fatal quanto um veneno. Perdi minha alma ao tocar meus lábios nos seus. Sua essência se misturou à minha e jamais pude ser eu mesmo. Estavas em mim. Estás em mim. Sua lembrança me assombra. Perco os sentidos ao ver sua imagem. Minha mente se nega a aceitar sua partida.
Por quê? Por que me envenenaste e não me deste a cura? Se hoje estou no chão, foi por sua causa. Não consigo levantar-me mais. És uma droga. És meu veneno. Um doce veneno do qual minha alma necessita para viver. Ainda espero ver a luz de seus olhos novamente, Jeremy.
(http://www.youtube.com/watch?v=1QTWnd3bnaw)
VERTIGEM
A luz do sol penetrava as cortinas e iluminava minha grande cama. Vazia. Eu estava sentado numa poltrona dentro do quarto, digerindo o que havia acontecido. Meus pais haviam sido mortos. Eles tinham saído para assistir uma peça de teatro e foram abordados por criminosos que os assassinaram.
Quando soube do ocorrido, precisei de algo para me distrair. Saí. Fui beber em uma boate. Tentei anestesiar minha dor. Fiquei com vários homens naquela noite. Mas nada parecia preencher aquele vazio que crescia em meu peito como um buraco negro. Estava sugando minha vida. Estava sugando meus sonhos. Até não restar nada além da culpa. Culpa por não ter corrido atrás do amor da minha vida. Culpa por não ter dado o devido valor aos melhores pais que eu poderia ter. Culpa por nunca tentar acertar.
_ Garrat, você está aí? – Dizia minha avó batendo na porta. – Não demore. Temos que pegar seus primos no aeroporto. Não quero me atrasar!
Levantei-me de onde estava e caminhei até um espelho. Minha imagem estava horrível. Não em aparência física, mas a energia que era emanada do meu corpo. Eu ainda apresentava a beleza característica da família: 1,90m, corpo bem estruturado, olhos verdes, cabelo loiro. Infelizmente isso não era o suficiente. Minha alegria havia sido roubada, sobrando apenas densas trevas ao meu redor.
Ainda demorei a me animar para reencontrar o Jeremy. Faz tempo que não o via e daria tudo pra continuar assim. O que eu ia fazer? Meus pais estavam mortos e eu estava desorientado. Ao menos minha avó estava comigo pra me dar um alicerce pra me recompor.
Vesti-me de preto e partimos para o aeroporto. Fiquei próximo a uma janela observando os aviões. Eu estava precisando sair daquele clima. Precisava desesperadamente me livrar de tudo aquilo. Não demorou muito para que os dois estivessem se encaminhando a nossa direção.
Era um contraste muito interessante. Marcel possuía uma beleza máscula. Não era um “rato de academia”, mas seu corpo era bem formado, músculos definidos. Jeremy era diferente. Ainda possuía aquele ar pueril. Um rosto de anjo, corpo esguio, mas algo estava muito diferente nele e isso notei quando ambos retiraram seus óculos escuros.
O olhar de Marcel era livre, terno, puro, reluzia. Já o de Jeremy era obscuro, frio, como um buraco negro ou um cristal de ônix. Senti um arrepio percorrer meu corpo ao ver o que aquele garoto amoroso se tornou.
_ Quanto tempo Garrat! – Disse Marcel cumprimentando-me. – Tudo bem, vovó?
_ Claro, querido! E você, Jeremy? Como está? – Disse minha avó com um sorriso terno.
_ Bem, vó! Ficarei melhor, mas por hora estou bem. – Ele respondeu.
Aquela voz. Aquela voz ecoava em meus sonhos durante tantos anos. Ouvi-lo me fez lembrar daquele dia.
… Flashback …
Estávamos sentados debaixo de uma árvore perto de um lago na antiga casa de nossos avós. Ele estava sentado entre as minhas pernas. Conversávamos amenidades, nada que fosse realmente relevante. Eu amava o sorriso dele. Amava tudo nele. Seu toque era suave, amável e inspirador. Muitos artistas dariam tudo para sentir o que eu sentia quando aqueles dedos pousavam sobre meus cabelos.
_ Promete que não vai me esquecer? – Dizia ele com lágrimas nos olhos.
_ Prometo. Não vá se esquecer de mim! – Disse o abraçando com toda a minha força.
_ Jamais! Você sabe o quanto quero ficar com você, mas o verão está acabando. Tenho que voltar. – Dizia triste.
_ Ficaremos bem e ficaremos juntos futuramente. Isso é o que te prometo! – Disse dando um selinho nele.
… Fim Flashback …
Éramos jovens e apaixonados. Quem diria que o destino nos pregaria uma travessura de tamanho mau gosto? A vida infelizmente é assim. O Jeremy doce desapareceu, bem como o Garrat cheio de energia.
_ Vamos, Garrat? – Fui despertado por sua voz.
_ Claro, Jeremy. – Disse sem olhar para ele.
_ Está tudo bem? – Perguntou levando sua mão ao meu ombro.
O toque que tanto ansiei acabou por se tornar abominável.
_ Sim. Estou. – Disse tirando sua mão de mim. – E seu, pai? Como ele está?
_ Morto e enterrado, Garrat. Ele faleceu há alguns meses. – Disse com um tom de voz sereno.
_ Oh, Jeremy. Sinto muito. Me desculpe! – Disse envergonhado.
_ Não se preocupe. Ninguém sabia. – Revidou colocando os óculos e saindo de perto de mim, caminhando em direção a minha avó e Marcel.
Esse foi o começo da maior aventura de minha vida. Jamais imaginei que descobriria quem sou de verdade em meio a tanta dor.
________________
Sim, eu havia prometido uma coisa, mas decidi revogar por uma boa causa... Estarei apagando todos os antigos comentários e tudo ficará bem... Eu cheguei ao fundo do poço esses últimos dias... Tão fundo a ponto de tentar me suicidar, mas Deus não quis assim... A dose de remédio que tomei seria suficiente para ter acabado comigo, mas não foi o que houve... Se ele me deixou vivo, ainda há algo a ser feito... Não sou membro da Família Siren, mas percebo que também tenho uma missão...