Depois de minutos de espera o Doutor Oliveira Dan apareceu.
- E aí, doutor, como ele está? - Cauê não aguentava mais de tanta aflição.
- Você é o quê do paciente?
- Apenas amigo.
- Sendo assim só posso lhe afirmar que ele está bem, não há com o que se preocupar. Mais informações só ele pode te fornecer.
- Como assim "mais"? Existe mais alguma coisa? Por que não posso saber?
- Sigilo médico. Mas, como já disse, foi só um susto. Hoje mesmo ele volta para casa. Quer ir vê-lo?
- Sim, por favor.
- Por aqui.
O Doutor Oliveira Dan conduziu Cauê ao quarto em que Joaquim estava.
- Que susto, hein? - Cauê se aproximou após fechar a porta.
- É... Mas está tudo sob controle. - sorriu Joaquim que estava deitado.
- Por que você teve essa crise? O que aconteceu?
- Nada, devem ter sido os seus socos. Está feliz agora que conseguiu se vingar?
- Não estou feliz, estou preocupado. Eu que apanhei tanto ultimamente não tive isso o que você teve.
- Que lindo, você está preocupado? Relaxa. Estou bem.
- Por que será que eu não consigo acreditar em você?
- É sério. Estou bem. Olha, quero te falar uma coisa.
- O quê?
- Na verdade é uma confissão.
- Sim, o que é?
- Eu te amo.
Cauê ouviu uma música tocar dentro do seu coração. "Eu te amo". Foi exatamente o que ele tinha ouvido. E era exatamente o que queria ouvir.
- E, então? Não vai dizer nada?
- Você é maluco.
- Só por você.
- Por favor, não brinque comigo. Uma hora você diz que me odeia, logo em seguida diz que me ama... Eu não sou um brinquedo seu.
- Por favor, acredite em mim. Eu fiz tudo o que fiz por causa do Abel. Ele me obrigou.
- O Abel? Te obrigou? Sério? - debochou Cauê.
- É. Ele me chantageou com um vídeo.
- E o que há de errado com esse vídeo?
- Nele um cara está me tocando e eu não quero que ninguém veja.
- O Abel é o rei dos vídeos. Chantageia todo mundo. E me admira você, Joaquim, se curvando às ordens dele.
- Mas agora é diferente. Vou enfrentar tudo e a todos pra ficar do seu lado.
- Você esqueceu que ainda namora a Janaína?
- Não podia ter feito besteira maior. Meu relacionamento com a Jana foi só uma tentativa de fugir do que eu sinto por você.
- E o quê você sente por mim?
- Amor.
- Será? - Cauê estava incrédulo.
- Por que você está tão frio? Disse que te amo, que quero ficar com você e és tão duro nas respostas.
- Porque eu não sei se devo acreditar no que você diz. Como uma pessoa que me ama tanto deixa com que me espanquem covardemente?
- Eu já te expliquei o motivo.
- Isso é injustificável, Joaquim. Injustificável. - Cauê já se alterava - Quem ama abre mão de qualquer coisa.
- Mas não é só um vídeo, Cauê. Existe ainda a minha família, as pessoas com as quais a gente convive...
- Para de jogar a culpa nos outros! Você só pensa em si. Não quis que o Abel soubesse que gostava de mim. Teve medo que o seu videozinho caísse em mãos erradas. Teve medo de perder a fama de gostosão preferindo assim acabar com todo o sentimento que eu tinha por você.
- Mas você também foi chantageado.
- Eu correria qualquer risco pra te proteger.
- Sei que está muito magoado comigo, mas e o beijo? Não significou nada?
- Se você tivesse me beijado antes eu teria me jogado em seus braços sem pensar duas vezes, mas agora é diferente. Tenho meu orgulho e já o quebrei bastante por sua causa. Ainda bem que as coisas acontecem no momento certo.
- Então você não me ama mais?
- Amor... Não sei se foi bem isso o que eu senti por você. Acho que te fantasiei demais em minha cabeça e acabei me decepcionando.
- Eu posso provar que sou muito mais do que você imagina.
- Tarde demais, Joaquim. - Cauê se dirigiu até a porta e abriu-a.
- Nem um por cento de chance? - Joaquim continuava deitado.
- Nem um átomo. - Cauê olhou em seus olhos com tristeza e fechou a porta.
Saindo do quarto, Cauê caminhou até o final do corredor que dava para a sala de espera do hospital. Ouviu que o doutor Oliveira Dan conversava com uma senhora sobre Joaquim.
- Ele me disse que estava tomando todos os medicamentos, doutor.
- Não, não estava tomando os medicamentos e há muito ele não frequenta as terapias. Se o seu filho continuar desse jeito a situação dele só vai piorar! O tumor cerebral pode voltar a crescer.
Cauê engoliu em seco. Agora estava tudo explicado.
- Eu achei que ele tinha melhorado. - continuou a mãe de Joaquim.
- E melhorou. Mas por ser um tumor inoperável, ele não pode relaxar no tratamento. A senhora precisa ficar em cima, dona Soraia.
- Ficarei, mas eu sei de alguém bem melhor. Ele tem uma namorada agora que pode ajudar. Quem sabe a ela ele ouve?
***
Janaína havia acabado de sair do banho enrolada na toalha.
- Ai, que susto, Abel! Tá fazendo o quê aqui?
- Eu estava com saudades, princesa. - respondeu Abel sentado na janela.
- Abel, eu já disse que eu não quero nada com você.
- Eu não te entendo. Sempre te dei muito mais do que aquele banana do Joaquim. Por que não me ama?
- Porque eu amo o Joaquim.
- E tudo o que nós vivemos? As vezes que transamos... Todo o calor que só eu sei que existe por debaixo dessa toalha? - Abel abraçava Janaína roçando a barba em seu pescoço.
- Para, Abel... - Janaína estava arrepiada.
- Não paro! - Abel jogou Janaína na cama e subiu em cima dela arrancando sua toalha e desabotoando a calça.
Janaína começou a gritar e imediatamente Margarete estava em sua porta:
- Ei, larga ela, idiota! - avançou em cima de Abel.
- Eu te amo, Jana! E sei que você me ama também! Não vou desistir! - dizia enquanto descia da janela.
- Cai fora, palhaço! - Margarete gritava pra ele - Você está bem, irmã?
- Por favor, não comente nada com o papai nem com o Joaquim. O Abel está começando a me assustar.
***
- Meu Deus, então, Joaquim tem um tumor no cérebro? Isso é muito grave! - Felipe conversava com Cauê pelo telefone.
- Estou perplexo até agora. - disse Cauê enquanto voltava para casa.
- Puxa vida, e você foi descobrir isso justo agora que estava tentando esquece-lo.
- Não muda nada. O fato de ele ter uma doença grave não vai me prender.
- Mas tudo isso somado ao beijo que ele te deu balançou se coração, não foi?
- Um pouco. Mas minha decisão já está tomada. Joaquim é passado.
- Não entendo esse garoto. Se te ama tanto, por que te fez tanto mal?
- O Abel chantageou ele com um vídeo. Não aguento mais esse enrustido.
- Nem eu. Precisamos dar um jeito nele.
- Concordo, estou louco para me vingar, mas tem que ser especial.
- Vou pensar em algo.
- Olha, vou desligar. Tenho uma chamada na espera. Mantenha segredo a respeito do Joaquim.
- Tá. Se cuida.
***
Cauê recebera uma ligação do pastor Feliciano o convocando para uma reunião urgente. Chegando na igreja entrou em sua sala.
- Grande Cauê! - cumprimentou Abel que estava sentado a conversar com o pastor.
Mil coisas passaram pela mente de Cauê. O quê Abel estava fazendo ali?
- Sente-se, por favor, Cauê! - convidou-o o pastor Feliciano que estava com o rosto sério.
Cauê sentou.
- O que foi, Cauê? Parece amedrontado? - perguntou Abel.
- Eu estou bem. Pois não, pastor. Por que me chamou aqui? - Cauê estava tenso.
- Bom. - o pastor Feliciano encarou Cauê - Esse rapaz veio trazer um projeto muito interessante para a nossa igreja. Ele quer implantar um grupo de ajuda a homossexuais.
- Não entendi. - falou Cauê.
- É assim, Cauê. - emendou Abel - Formaremos um grupo que trará jovens da nossa idade, homossexuais para a igreja a fim de tirarmos os demônios que existem dentro deles.
- E o que eu tenho a ver com isso? - indagou Cauê.
- Abel andou me contando umas coisas sobre você...
Cauê sentiu as mãos suareme decidiu que quer você como líder junto com ele.
- O quê? - assustou-se Cauê.
- É isso mesmo, Cauê. Ninguém melhor do que você, um menino tão abençoado, pra nos ajudar nessa dura tarefa que é combater o homossexualismo. - Abel sorria deixando clara a ironia de suas palavras.
- E então, Cauê? Aceita? - o pastor Feliciano esperava por uma resposta.
- Sim. - Cauê respondeu com uma certeza que assustou Abel - Estou disposto a exterminar o homossexualismo. Amém?
- Amém! Sendo assim, vocês tem minha permissão para começar quando quiserem. - afirmou o pastor.
- Ótimo. Será um prazer trabalhar com você, Cauê. - Abel se levantou estendendo a mão para o novo "parceiro".
- Sem dúvidas faremos um grande trabalho. - Cauê respondeu ao aperto dirigindo-se em seguida à saída.
Abel veio logo depois:
- Por onde vamos começar, parceiro?
- O que você está querendo, Abel?
- Cauê, relaxa. O seu inferno está apenas começando. - soltou Abel partindo.
Cauê discou alguns números:
- Alô! - disse Felipe do outro lado da linha.
- Acho que já temos um plano de vingança.
***
Dona Soraia conduzia Joaquim com dificuldade para o quarto:
- Não sei de onde você puxou tanta teimosia, garoto.
- Ah, mãe, eu estou bem, tá?
- O que você tem é muito sério, Joaquim, não pode descuidar. Vou falar com a Janaína pra ela te monitorar quanto aos medicamentos.
- Não. Não conta pra ela. Não quero que a Jana nem ninguém se preocupe. Já sou bem grandinho e sei me cuidar. Prometo que vou ser mais responsável.
- Assim espero, ouviu? Vou preparar alguma coisa pra você comer.
- Tá bom. - respondeu Joaquim ao receber um beijo na testa de sua mãe.
Dona Soraia saiu e Joaquim ficou pensando na conversa que teve com Cauê. Já não era mais possível esconder seu sentimento. Não depois daquela declaração selada pelo melhor beijo que ele já havia dado. Seu coração não suportava a ideia de perder Cauê. Estava realmente apaixonado.
Ouviu batidas na porta e respondeu:
- Pode entrar, mãe!
- Joaquim, sou eu, a Jana! - Janaína abriu a pota.
- Oi, amor, entra!
- Meu gato, o que aconteceu com você? - Janaína se aproximou de sua cama e o beijou.
- Já foram te preocupar? Fica calma, gatinha, apenas um mal estar.
- Ah, que bom! Sua mãe parecia preocupada no telefone. Mas, mesmo assim, vou ficar pra cuidar do meu gatinho manhoso. - Janaína deitou a cabeça no peito de Joaquim.
Depois de um tempo enquanto fazia cafuné em Janaína, Joaquim perguntou:
- Jana, você me ama?
- Mais do que tudo. - ela olhava em seus olhos.
- Então é a você que vou dar todo o meu amor. - disse beijando-a novamente.
Dona Soraia voltou com a janta nas mãos, mas, ao ver os dois se beijarem, decidiu deixá-los à vontade.
***
Cauê havia chegado para trabalhar e, encontrando o depósito vazio, começou seu serviço.
- Você já está dominando tudo por aqui, não é? - Joaquim havia entrado silenciosamente.
- Sei a maioria das coisas.
- Então trate de aprender tudo enquanto estou aqui.
- Não entendi.
- Estou de aviso. Saio este mês.
- É por causa da sua doença?
- Quem te disse isso? - Joaquim não gostou da pergunta.
- Não importa! É tão grave assim?
- Não tem nada a ver com minha doença que, inclusive, você não deveria saber. Estou ótimo. Vou sair porque não aguento mais ficar no mesmo ambiente que você.
- Porque tem vontade de me socar?
- Não. Tenho vontade de te beijar.
- É uma pena porque...
- Eu já sei, não precisa repetir. Vou fazer de tudo pra te esquecer, Cauê.
- Não vai ser difícil, Joaquim.
- E, sobre a minha doença... Não comente com ninguém, ok? Não quero queria que tivesse pena de mim.
- Ninguém saberá. - Cauê mentiu pois já havia contado a Felipe.
***
Felipe estava fazendo umas compras no Carrinho Cheio Supermercados quando encontrou com Abel na quitanda.
- Comprando bananas, Felipe? Que sugestivo!
- Oi, Abel. Veio me espancar?
- Não, gracinha, vim te fazer uma proposta.
- Não estou interessado.
- Quero que você me ajude a acabar com o Cauê.
- Como é que é? Jamais!
- Sei que você não gosta dele, sempre foi apaixonado por mim.
- Vai te catar. - Felipe pegou sua cesta e saiu.
- Não quer nem ouvir a recompensa?
- Sim, estou curioso. Se eu aceitasse, o que eu ganharia em troca? - respondeu Felipe virando-se.
- Uma noite de sexo. Farei tudo o que você quiser.
Felipe se assustou com a tentadora proposta.
- E, então? É pegar ou largar.