Como Chamas 1x14: UM POTE DE VERGONHA!
Eu sai do serviço, ainda conseguiria pegar o ônibus mais rápido para o hospital. Mas quando cruzei a rua, encontrei o pai de Marcie e fui ate ele.
- Esta tudo bem? Perguntou o pai de Marcie para mim quando lhe pedi carona ate o hospital.
- Sim, vou passar a noite com um amigo.
- Sinto muito pelo o que ouve na sua casa. Esse mundo esta perdido.
Ele me levou ao hospital falando sobre a grande e perfeita família deles. Pessoalmente eu evitava com o pai de Marcie, ele se gabava demais, e tenho certeza de que não aprova meu jeito de ser. E ele nem sabia sobre a minha sexualidade ainda.
Paramos na entrada e ele se voltou para mim.
- Esta entregue. Seus pais sabem que esta aqui, certo?
- Sim, mas na verdade eles nem notariam que eu sai.
Me despedi dele e fui para dentro do hospital. O restante do mundo podia ser como os pais de Marcie, não aprovavam o estilo de vida das pessoas, mas também não criticavam.
Apanhei uma revista com data do ano passado e comecei a foliar na sala de espera do hospital.
Eu estava passado um tempo absurdo nesta sala, revezando com a família de Felipe as visitas a ele.
Há uma semana atras, traficantes invadiram minha casa para me pegar e usar como isca para atrair Mike, o irmão problemático de Felipe. Porém, algo deu errado e Felipe e um deles acabou caindo da varanda de minha casa.
O garoto caiu e quebrou o pescoço. Felipe teve um trauma cerebral e fraturou uma costela, ainda não havia acordado.
Minha consciência pesada e o amor que eu sentia por ele era o que me mantinha aqui todos os dias.
- Oi. Falou Marcie quando atendi ao telefone.
- Oi Best, como você esta?
- Preocupada e você?
Eu estou um caco, pensei em dizer, mas não o fiz.
Gregori ainda não havia voltado para casa, mas os pais dele disseram que ele ligou e esta na casa de algum conhecido na praia.
Eu estava gostando da ausência dele. Desde o dia do ataque a minha casa, eu não conseguia parar de pensar em um motivo ou ligação para ele estar no meio de tudo aquilo.
- Vou indo. Respondi enfim.
- Ta bom. Eu tenho que ir.
- Tudo bem, eu te ligo quando chegar em casa.
Marcie e eu estávamos distante nos últimos dias, eu ocupado com o acidente e ela com o sumiço de Gregori.
Mas ainda tentávamos nos falar todos os dias.
Estava sendo muito difícil convencer meu pai a me deixar sair a tarde para ir ao hospital. Ele não havia engolido a história do assalto e ainda me fazia perguntas.
Mas o que eu poderia dizer?
Pai, sinto muito que os traficantes amigos do meu ex-namorado invadiram e quebraram a casa toda. Os pais de Felipe haviam me dito que Mike ficou muito abalado e foi passar uns dias na casa de uma tia. Bem típico dele, fugindo dos problemas.
O pai de Felipe surgiu na sala, usando sueter azul e jeans claros, com sapatos social. Ele sorriu para mim.
Cumprimentei e fui ate a maquina de café.
Me sentei na cadeira ao lado do pai de Felipe com um copo de cappuccino quente nas mãos.
Ele era um senhor grisalho, mas muito bem apanhado.
- Seus pais não reclamam de você passar tanto tempo aqui? Ele me perguntou.
- Não. Eles sabem que eu e Felipe somos próximos.
- Próximos quanto?
Olhei para ele sem entender a pergunta.
- Somos muito amigos. Falei.
O pai de Felipe concertou sua postura na cadeira e se afastou um pouco.
- Como seu pai reagiu quando soube de você?
Senti o café quente queimar minha língua quando tomei um gole rapidamente.
- Soube o que de mim?
- Notei o seu jeito, meio... Sensível. Você é viado. Como seu pai reagiu?
Eu estava tão pasmo que nem fiquei ofendido, mas mesmo assim notei a repulsa em sua voz. Ele não podia estar falando serio.
Eu ja estive muitas vezes na casa dele e ele nunca falou comigo desta forma. Se bem que toda vez que estive lá, o Felipe esteve comigo.
Agora eu estava sozinho.
- Não conversei com meus pais sobre isso ainda. Respondi.
- Eu ficaria devastado se um dos meus dois filhos fosse viado. Não existe dor maior para um pai do que isso.
Fixei meus olhos no copo de café para não cair em lagrimas. Aquelas palavras me machucavam, mas eram verdade.
Eu detestava ser um fardo para minha família. Mas o que podia fazer? Eu nasci assim e não posso ser diferente, doa a quem doer eu vou ser pro resto da minha vida.
- Eu expulsaria meu filho de casa e nunca mais falaria nele.
O peso aumentou sobre meu peito. Sempre tive medo que minha família fosse reagir da mesma forma e simplesmente sumir comigo.
Mas então outra coisa me ocorreu: Felipe.
Eu não o havia forçado a nada, mas era culpado de alguma forma. Ele nunca estaria traindo a garota que ama se não fosse por mim, talvez estivesse, mas muito provável que fosse com outra garota.
Se bem que se fosse pra ele se envolver com um garoto, se não fosse eu seria outro.
O problema era que pensar assim não ajudava muito.
- Você não se sente mal em ser uma vergonha para sua família?
Olhei para ele com fúria, eu poderia xingar todos os palavrões que já ouvi na vida e mandar ele se ferrar.
Mas ai me lembrei que o filho dele estava no hospital por minha causa. E também do fato de que dormi com os dois.
- Eu preciso ir. Falei me levantando e correndo para fora.
Não conseguia mais conter as lagrimas que molhavam meu rosto. Tudo aquilo parecia tão injusto e ao mesmo tempo fazia sentido. Eu só não havia estragado a vida dos meus pais, como também estava fazendo com Felipe.
Eu tinha que acabar com aquilo.
Tomei um taxi para casa e chorei durante toda a noite assim que tomei minha decisão: eu iria terminar com Felipe assim que ele acordasse e depois contaria aos meus pais. Ja estava na hora de eu começar a traçar um rumo pra minha vida.
Depois de chorar no meu quarto durante a noite. Resolvi que agora seria diferente, eu só voltaria no hospital quando o Felipe acordasse.
Eu voltaria para a escola. Minha vida precisava seguir, certo?
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Muito bem gente, sentiram saudades? Eu falei que não demorava.
Estou muito empolgado em continuar escrevendo para vocês e fiquem de olho pois as coisas vai tomar um rumo meio louco daqui para a frente.