Felipe estava decidido a colocar um ponto final em sua paixão mal correspondida por Abel se envolvendo com Cauê. Ver aquele garoto que lhe ajudara tanto sofrer por outro cara era inadimissível. Ele precisava fazer alguma coisa.
Ali estavam os dois, Cauê e Felipe, com os lábios colados, abrindo os sinais para algo mais. Porém Cauê resistiu:
- Calma! Espera! Deixa eu respirar.
- O que foi? Te mordi? Estou com mau hálito?
- Não é isso. Adorei o beijo, mas ainda dói, entende? O meu amor pelo Joaquim está sendo tirado. Não vou conseguir entrar em uma nova relação.
- Mas não precisa ser sério. Vamos apenas transar, deixa eu te beijar, deixa eu te mostrar o quanto és especial. Quero retribuir todo o bem que fizeste a mim.
- Não precisa transar comigo por gratidão. A sua amizade já basta. Sexo não vai me fazer esquecer tudo o que ouvi hoje. Além do mais, eu acredito que a primeira vez tem que ser especial.
- Primeira vez? Cauê, você ainda é virgem?
- Sou totalmente. Nunca transei. Nem com homem ou mulher.
- Que fofo! Esse Joaquim é um idiota mesmo. Agora eu fiquei com inveja dele.
- Mas o que eu sinto por ele vai passar, é uma questão de tempo.
- Você imagina sua primeira vez com ele, não é?
- Imaginava.
- Como era?
- Sei lá, nunca pensei em lugar, entende? Minha única exigência é que seja surpresa.
- Surpresa?
- É, sem nenhum planejamento. Na hora em que der vontade e rolar.
- Bem aventureiro.
- É... Mas eu não quero falar em nada que me lembre o Joaquim, vamos mudar de assunto?
- Sim, senhor! Sobre o quê quer conversar?
- Me conta de você. Como foi se apaixonar pelo Abel?
- Ah, o Abel tem uma história triste. Os pais se separaram depois que o pai dele fugiu com outro homem. Depois a mãe se suicidou, enfim, ele sempre foi um garoto problemático.
- Então deve ser por isso que ele persegue tanto aos gays.
- Exatamente. Eu sempre enxerguei tristeza e solidão naqueles olhos. É como se eles gritassem pedindo por cólo ou carinho e é isso o que eu quero dar para ele.
- Ele sabe que você o ama?
- Sabe. Eu costumava lhe mandar cartas.
- E ele lia?
- Acho que sim. Mas me obrigou a parar, por isso me deu aquela surra naquela casa abandonada.
- Que imbecil.
- Ok, agora eu é que quero falar sobre outro assunto, pode ser?
- Sim. O que quiser.
- Que tal nós falarmos sobre... Homens gostosos?
***
Joaquim limpou o nariz e saiu do banheiro. Sentou na cama e abriu o papel que Cauê tinha lhe devolvido. Ao mesmo tempo em que se sentia triste pela perda de Cauê, seu coração se conformava por se afastar dele pois sabia que não seria fácil amá-lo. Teria que enfrentar muita gente e abrir mão de muita coisa preferindo assim esquece-lo.
***
As coisas entre Cauê e Joaquim estavam tensas. Eles mal se falavam durante o horário de serviço. Todos os dias parecia uma eternidade. O silêncio era gritante. Porém um dia Joaquim resolveu quebrá-lo:
- Como você consegue trabalhar aqui ainda?
- Não entendi.
- Você sabe, depois do que aconteceu eu achei que você fosse em bora.
- Não sou covarde como você e o Abel. Enfrento meus problemas e sozinho.
A verdade é que para Joaquim estava ficando difícil fingir que tinha raiva de Cauê. Conviver com ele só aumentava sua vontade de jogar tudo pro alto e se declarar:
- E o seu namorado? O Felipe.
- Ele nunca foi meu namorado. Só meu amigo. - disse Cauê para a alegria de Joaquim.
- Amizade estranha. Tem até beijo.
- Foi um beijo motivacional. Não haviam segundas intenções. E por que eu estou te falando isso? Não quero papo com você.
- Nem eu. Não gosto de gays. Acho que vocês são um câncer na...
- Vá se foder! - Cauê perdera a paciência.
- Você é quem faz isso, gazela, esqueceu?
Cauê acertou um soco nas fuças de Joaquim.
- Ai! Agora eu te quebro com gosto.
- Vem, aqui não tem seus amiguinhos pra te ajudar, seu bosta.
Os dois começaram uma briga pesada onde Cauê descontava todo o seu ódio.
Depois de muito apanhar Joaquim sobe em cima de Cauê e começa a lhe dar socos no rosto. Ao ver Cauê apanhando lembrou da covardia que havia feito no banheiro da escola e parou:
- Não, chega! Eu não posso! - Joaquim se levantou com as mãos no rosto.
Cauê foi pra cima dele, mas ele o segurou:
- Chega, Cauê, pára!
- Não paro não! Ainda não acabei com minha raiva. Quero matar você.
Joaquim o pressionou contra a parede segurando seu braços.
- Pára! Não precisa ser assim, chega!
- Você não sabe o quanto aquela noite doeu em mim, Joaquim. Não era apenas o Joaquim me traindo, era o homem da minha vida me traindo. Confesso que te amo e me odeio por isso. Não consigo te esquecer. Todas as vezes em que você aparece em minha frente como agora, eu quero te bater porque você nunca vai retribuir o meu amor. Muito amor não correspondido acaba se tornando ódio.
Joaquim estava estático. Aquela declaração de Cauê enchera seu coração de alegria. Ele também sentia o mesmo.
- Vai, anda! Me solta. Não quero ficar aqui pra ouvir você dizer que nunca gostaria de um garoto.
- É o que você pensa.
Joaquim beijou Cauê com todo o amor e carinho dos quais seu coração estava cheio. Envolveu a cintura de Cauê que afagava seu pescoço e puxava seu cabelo. Joaquim mordia seus lábios com muito desejo, querendo saciar toda a sua vontade. Cauê se sentia como num sonho, preso por aqueles músculos fortes. Não queria a liberdade.
Os dois ficaram por quase um minuto se beijando até que:
- Ai, minha cabeça!
- O que foi, Joaquim?
- Minha cabeça... Está doendo muito.
- O seu nariz está sangrando!
- Ai! Aaaaaaaaaai! Me ajuda, Cauê, estou com falta de ar.
- Calma! Respira devagar. Assim... Isso!
- Me leva pro hospital, não tá passando.