VERSÃO DE BRENT
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Brent: Sempre fui intenso no que se refere ao meu trabalho, quando repórter, cheguei a ganhar alguns prêmios por minhas investigações, era conhecido no meio por ter um forte faro jornalístico, boas fontes e, principalmente, mas não menos importante, por não desistir fácil de minhas empreitadas. Mesmo quando estas se mostravam estéreis, pois sempre tive grandes dificuldades em abandonar projetos já começados, mesmo que estes se mostrassem infrutíferos, sentia-me como que fracassando comigo mesmo se desistisse.
A princípio, logo que o caso Portman estourou me interessei, meus instintos me diziam que aquele seria o caso do ano, se não da década. Contudo, meu interesse e planos foram frustrados por meu editor-chefe que deu o caso para Lewis, um repórter mais velho, mais lento e menos competente que eu. Não percebi de imediato, mas aquela se tornaria minha maior e principal frustração profissional, pois o que eu queria, nenhum jornalista fez, contar a história sob o ponto de vista do Jonatan Leigh O’Connor. Todos focaram na vítima, em sua vida, sua juventude e colocaram Jonatan como um psicopata. Resolvi então, após minha aposentadoria prematura, escrever livros e meu primeiro livro seria: “A história que os jornais não contaram sobre o caso Portman”.
O Caso Portman, como já mencionei anteriormente, foi o caso policial mais comentado e que mais abalou a cidade de Atlanta na década de 50, pois este envolvera personagens comuns, os quais não estamos habituados a encontrar nas páginas policiais. Pessoas instruídas, de classe média, sem históricos de violência, com vidas aparentemente normais, sem nenhum indício que levasse alguém a prever ou entender o porque exatamente aquilo aconteceu.
Todos se perguntavam o motivo que levara um jovem trabalhador e pai de família (nem tão jovem assim, era razoavelmente comum os homens casarem cedo nesta época, o que deixa Jonatan O’Connor, na verdade, dentro da normalidade), com um bom nível cultural a abandonar um bom emprego na empresa de seu sogro, esposa, filho, casa confortável, tudo conquistado antes dos 25 anos, ou seja, a abandonar uma vida desejada e invejada por muitos. Mas tudo isso em nome de quê? Por quê? O que motivaria alguém, até então pacato, a jogar toda sua vida na lata do lixo e cometer o assassinato que ficaria marcado na memória das famílias de Atlanta, levando muitos a temer seus vizinhos por medo de que seus filhos se tornassem o próximo Christopher Portman? Essa foi à pergunta que assolara pais e mães por quase uma década e que eu me propunha a responder.
Quase nove anos haviam se passado e eu havia reunido tudo, ou quase tudo, o que fora falado e/ou publicado sobre o caso na época. Tentei por meses a fio entrar em contato com os familiares, amigos e pessoas ligadas a Jonatan O’Connor, na época em que os fatos aconteceram, quase todas as minhas tentativas foram em vão. Todos já estavam saturados das levas e levas de repórteres que sempre voltavam ano após ano. Isso só piorou, principalmente próximo da data do aniversário de morte de Portman.
Após um longo período de tentativas frustradas e de muita insistência, através de cartas, cartas e mais cartas, ligações e mais ligações, e como já haviam se passado 9 anos desde do ocorrido, ou seja, a poeira já havia baixado, consegui finalmente que a senhora O’Connor, me recebesse e aceitasse falar sobre o caso.
A senhora O’Connor me recebeu na casa de seus pais, com quem passara a morar desde o incidente que culminara com a morte de Christopher e prisão de seu marido. A casa era linda, branca, toda no estilo Georgiano, exceto pelas colunas que circundavam as paredes externas que parecem terem sido colocadas depois, muito provavelmente por vontade e pelo gosto duvidoso de seu dono.
Cheguei a sua casa no horário estabelecido, toquei a campainha e esperei, fui recepcionado por uma governanta que me conduziu até o escritório, onde Grace já me aguardava.
Quando entrei no escritório, não teve como deixar de notar que ela era uma mulher muito bonita, mesmo após quase 10 anos ela ainda era tão bonita quanto estava nas fotos que foram vinculadas nos jornais da época, ela, praticamente, não mudara nada. Exceto, talvez, por uma tristeza (constante) em seu olhar, que lhe conferia um semblante pesado que contrastava com seus traços delicados, provavelmente devido ao peso de ter sua vida vinculada a imagem de um assassino confesso. Em minhas pesquisas, descobri que desde a prisão do marido ela não fora visitá-lo uma única vez sequer, na verdade, desde então, a senhora O’Connor levara uma vida praticamente reclusa.
— Bom dia, senhora O’Connor. — Falei cumprimentando-a rapidamente. — Eu sou Brent Walker, prazer em conhece-la.
— Bom dia. — Grace respondeu rispidamente. — Me chame de senhora Lovejoy, por favor. — Corrigiu-me a ainda bela senhora, enquanto me indicava uma poltrona na biblioteca e se dirigia pra uma cadeira de escritório revestida de couro do outro lado da mesa de mogno polida.
O ambiente era cômodo e aconchegante, na parede da porta de entrada e na parede do lado direito a esta haviam altas estantes de madeira, abarrotadas de livros, muito bem organizados e perfeitamente enfileirados, na parede atrás da mesa de mogno na qual Grace estava, uma pequena estante da altura de cintura de um homem alto, na qual havia mais livros, menos na prateira de cima, que possuía alguns porta-retratos com fotos da família Lovejoy, e na parede acima desta estante havia um quadro, uma replica de uma pintura do período Rococó, eu acho, uma mulher em um balanço em cores muito alegres que nos transmite a ideia de jovialidade e alegria, na parede do lado esquerdo havia uma grande janela que iluminava todo o ambiente. Toda a biblioteca tinha um cheiro muito característico, agradável, que eu não consegui identificar.
— Claro, perdoe-me senhora Lovejoy, foi um pequeno deslize.
— Então, sejamos objetivos. O que o senhor quer saber que ainda não foi dito sobre aquele caso? — Ela foi incisiva e direta, como alguém que está em uma situação desagradável, mas precisa fazê-lo.
Peguei meu bloco de notas e liguei o gravador, colocando-o sobre a mesa.
— Tenho algumas perguntas, mas primeiro gostaria de saber o que a fez mudar de ideia e me receber para a realização desta entrevista? Afinal, já faz algum tempo que recebo sempre respostas negativas as minhas solicitações.
— Simples, a princípio pensei tratar-se apenas de mais um dentre tantos abutres que desejam apenas mais uma declaração que ainda não tenha sido feita, ou pelo menos, não com aquelas palavras para assim vender mais jornais, mas que após algumas recusas se cansaria e desistiria desta matéria. Mas o senhor permaneceu firme. — Ela fez uma pausa respirando pesadamente. ¬— Quando vi seu histórico profissional e sua persistência, mesmo perante minha constante recusa, percebi que sua matéria, ou melhor, livro não é isso? — Assenti com a cabeça e ela continuou. — Sairia com ou sem as minhas declarações, então dos males o menor. — A senhora O’Connor, fez uma pequena pausa, respirou fundo e com os olhos marejados continuou. — Tenho tentando, ao que me parece, por um longo tempo, manter toda essa história no seu lugar devido: no passado, mas esse pesadelo sempre volta pra assombrar a mim e ao meu filho. Se durante todos esses anos essa estratégia não funcionou para poder me livrar deste fardo, então resolvi muda-la. Benjamin passará os próximos 3 anos em um colégio interno na Inglaterra, morando com um tio, então essa história poderá ser mexida e remexida até a exaustão, que ele ficará bem. Espero que depois de todo o sensacionalismo barato que me aguarda, isto acabe. Finalmente, isto acabe.
— Perdoe-me pela pergunta, mas é meu papel, por que você afirma que esse “pesadelo sempre voltar para assombrá-la”?
— Por quê? — Ela falou com alguma indignação na voz. — O Senhor Walker deve está brincando.
Eu me limitei a ficar fitando-a de forma séria na expectativa de sua resposta.
— Desde aquele dia fatídico eu não tenho paz. — Grace voltou a falar — Tenho tentado manter meu filho longe de toda essa sujeira e a salvo do fardo de ser filho um assassino. Eu e meu pai já abdicamos de muitas coisas por causa desta herança maldita deixada por Jonatan. Eu sou mãe e faria qualquer coisa pra manter meu filho a salvo e longe de tudo isso. Tenho levado uma vida discreta, mudei de cidade a principio, abandonei o trabalho fora, fiquei apenas sendo uma exemplar dona de casa e mãe, longe de qualquer tipo de exposição para não correr o risco de que o passado voltasse para prejudicar ao meu filho. — Sua respiração ficou mais pesada, percebi que Grace lutava para manter seu controle emocional, mas a muito custo. — Meu pai teve muitos prejuízos financeiros, os negócios da família tendo sua imagem vinculada aquele assassinato. Demorou, mas finalmente nos recuperamos. Meu pai ainda abandonou suas ambições politicas, tudo para diminuir nossa exposição para que os abutres da impressa nos deixassem em paz, mas sempre há alguns deles sobrevoando nossas cabeças. — Ela declarou ácida.
— Compreendo.
— Não, não, o senhor não compreende. Pode até fazer alguma ideia, mas não compreende o que é ter sua vida virada de ponta cabeça. Descobrir que a pessoa que você ama, que você pensava que conhecia cometeu um assassinato, que você realmente não conhece quem era o homem que você pensava que amava, com quem você dividia sua vida, seus sonhos, seus medos, seus segredos, seus planos. Descobrir que esse estranho tinha seus próprios segredos, segredos estes que o levaram a matar alguém como aquele garoto. E por quê? — A senhora O’Connor falava totalmente dominada por suas emoções: dor, tristeza, raiva, medo. Externalizando tudo com um choro que entrecortava sua fala, vez por outra. — Você não compreende o que é ver quem você mais ama no mundo ser exposto a esse circo dos horrores como uma miniatura do pai, todos o destratando na rua, isso quando tiveram a chance, pois logo tratei de o proteger, na escola, como se uma criança de 4 anos pudesse fazer algum tipo de mal a alguém, como se ele fosse uma extensão do pai. Ninguém escolhe o pai que tem, nem pode ser condenado pelos crimes deste, mas foi exatamente o que quiseram fazer com meu filho. Foi exatamente o que tentaram fazer com meu pequeno Ben, só não o fizeram por causa da minha intervenção e da de meu pai.
— Eu realmente lamento muito senhora Lovejoy que a senhora e sua família tenham passado por tudo isso, especialmente o seu filho. Contudo não se preocupe, sou um jornalista sério e me deterei aos fatos. Agora senhora Lovejoy, a senhora poderia me contar como era sua relação com Christopher Portman?
— Ele era nosso “baby-sitter”, cuidava de Ben enquanto ou eu, ou Jonatan, ou ambos estávamos fora. Bem, pelo menos a princípio, mas logo Chris demonstrou ser muito mais que um simples funcionário. Mesmo com a diferença de idade e do fato de que Chris era um homem e eu uma mulher, tornamo-nos amigos rapidamente. Tínhamos em comum o gosto pela novidade, pela moda, que era minha paixão profissional e hobbie, e lógico, o motivo pelo qual Chris veio trabalhar em minha casa e parar em nossas vidas. — Ela falou perdendo o foco no olhar, como que a retornar a um passado bem distante. — Às vezes, ainda me pergunto se Chris não estaria vivo hoje, se eu não tivesse contratado ele para cuidar do meu Ben, se não tivesse ficado amiga dele e... e provocado, mesmo que não intencionalmente, o ciúmes de John.
— Por que a senhora se faz esse tipo de pergunta? Afinal o único responsável pela morte de Christopher é Jonatan, certo?
— Sinceramente, após todos esses anos tentando entender o que motivaria John a fazer o que ele fez, não estou tão certa de que Jonatan seja o único responsável pela morte de Christopher. Claro, ele é o principal e maior responsável, mas não o único.
— O quê? — Perguntei genuinamente curioso. — Explique-se melhor.
— Acredito que John matou Chris por raiva, ciúmes... — Ela falou perdida em pensamentos.
— Por quê? — Falei sem entender direito sua linha de pensamento.
— Como disse eu e Chris ficamos próximos, mas não via mal nisso, ele era praticamente uma criança. Contudo, acho que meu marido não gostava desta minha proximidade com Portman, pois quanto mais o tempo passava, mais notava certo receio, desconforto de Jonatan para com relação a nossa amizade. — Ela falava bebericando seu chá preto, servido em uma xícara de porcelana delica, com pinturas florais em azul de muito bom gosto. — Adicione a isso, o fato de Jonatan não querer, nem gostar da ideia de que eu trabalhasse fora de casa e de que em Chris eu encontrava todo o apoio que me faltava de meu marido. Chris torcia pelo meu sucesso. Isso foi o suficiente para Jonatan antipatizar Chris. A princípio ele até queria que eu trocasse de baby-sitter, eu que bati com o pé no chão e não aceitei. Acredito que tudo isso fomentou a raiva, os ciúmes e a inveja de John da minha relação com Chris.
— Mas o senhor O’Connor não demonstrava essa raiva, esse ciúmes dele com relação ao Portman em algum momento?
— Sim e não. Deixe-me explicar. A principio não, nada mudou, depois percebi esse desconforto de Jonatan com certo distanciamento, no começo não dei importância, mas esse distanciamento tornou-se pior a cada dia.
— Pior de que maneira?
— Nos afastamos muito, já não conversávamos como antes, já não havia aquele amor de antes e quando a minha crise matrimonial chegou a seu ápice e Chris tomou partido, o meu partido, eu acredito que isto tenha sido o gatilho que desencadeou o seu assassinato, especialmente motivado por vingança, por Chris me manter de olhos abertos as constantes e visíveis traições de John.
— A senhora descobriu quem era ou quem eram algumas dessas supostas amantes de seu marido? — Falei fazendo uma pequena anotação no meu bloco de notas.
— Nunca descobri com quem Jonatan me traia, apenas eu e Chris o vigiávamos e encontrávamos as evidências das traições, ele me consolava.
— A que tipo de evidências a senhora se refere?
— Primeiro, percebi certo desinteresse de Jonatan em mim e que fora muito estranho, pois isso nunca havia acontecido com John, pelo contrário. Segundo, Jonatan voltou a fumar, não que ele tivesse parado, mas agora era algo mais intenso, constante e ele não se preocupava mais em disfarçar, ele voltou a beber e passou a chegar em casa mais tarde que o habitual. Terceiro, Jonatan chegava com o cheiro de um perfume que não era meu, nem dele, ele chegou ao desplante de... — E Grace parou enrubescendo seu rosto com a vergonha que lhe impedia de me olhar nos olhos.
— Prossiga.
— Tudo bem, já é passado não importa mais. — Ela tentava convencer a si mesma, mas não mais falou sobre aquilo que tanto lhe causava vergonha.
— Onde Portman entra nessa história?
— Ele era a pessoa mais próxima a mim, não tive coragem nem de compartilhar isto com minha melhor amiga, Brenda. Além do mais, não adiantava negar nada a ele, ele presenciara uma de minhas discursões e depois disso mostrou-se muito maduro e compreensível, mantendo a descrição e profissionalismo além do esperado para alguém daquela idade, além de ter se mostrado solidário ao meu sofrimento. A maneira que encontrei de enfrentar tudo isto naquela época foi mergulhar de vez no trabalho, tentando esquecer os problemas matrimoniais, pois já era humilhante demais o que passara em minha própria casa, praticamente, na frente de um estranho, contudo, descobri mais uma vez apoio e cumplicidade neste estranho.
— Como se deu este “apoio e cumplicidade” a que a senhora se refere?
— Basicamente, Chris não me permitia sentir pena de mim mesma, nem me menosprezar. Ele elevava o tempo todo minha autoestima, dizia que eu era uma mulher maravilhosa e que John logo voltaria para os meus braços.
— O que ele falava a respeito do senhor O’Connor?
— Nada. Mesmo me apoiando sempre, incondicionalmente, ele nunca falara mal de John para que eu me sentisse melhor, ele simplesmente, em alguns raros momentos em que se referiu a Jonatan para falar sobre este assunto, disse algo como “Se ele te amar, vai voltar pra você, não se humilhe, mostre a John a pessoa maravilhosa que você é.” — Grace, assim como Jonatan, referia-se a Chris com certa admiração, não tão intensa quanto à de seu marido, mas ainda assim, estava ali, para quem quisesse ver.
— O que a leva a pensar que este foi o motivo que levou Jonatan a cometer este assassinato?
— Não consigo pensar em nenhum outro motivo, tudo o que consegui concluir ao longo destes anos foi isso.
— Há mais alguma coisa que a senhora queira acrescentar a esta entrevista que julgue relevante?
— Na verdade não.
— Por que não visitou Jonatan enquanto este ainda era seu marido no presídio?
— Primeiro, por que este o era no papel, mas já não o era mais de fato há algum tempo. Segundo, por que ele mesmo me pediu isto.
— Se já não o eram marido e mulher de fato, por que a senhora demorou três anos até optar por se divorciar de seu marido oficialmente?
— O que é melhor, ser esposa de um marido assassino ou ser uma mulher divorciada? Demorei em escolher o fardo menos pesado.
— Entendo, muito obrigado por sua atenção senhora Lovejoy e desculpe pelo incomodo e insistência.
— Tudo bem, só espero com está última entrevista ter me livrado disto tudo.
— A Josephine lhe acompanhará até a porta. — Ela disse enquanto se levantava se encaminhando até a sala e a governanta aparecendo por uma das portas, então Grace sumiu por umas das portas do lado e eu fui conduzido para fora da mansão.
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VERSÃO DE BRENT
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— Detesto essa espera, ficar esperando enquanto trazem Jonatan pra cá, é um saco, fora toda a burocracia pra entrar nesse presídio, mas fazer o que, né? Ossos do oficio.
— Sim, verdade. — Concorda Gerald, que parecia mais distraído que o normal.
— Estou te achando distraído hoje, Gerald, eu diria até irrequieto algum problema?
— Não nada nã... — A porta se abriu o Jonatan O’Connor entrou, nos cumprimentou e foi direto ao seu lugar de sempre.
Jonatan embora tivesse a cicatriz em seu rosto que levava todos a sua volta a manterem sua guarda em alta, pois só de olhar para seu porte já se imaginava tratar-se de um homem perigoso, John tinha um jeito calmo de falar, mantinha-se sempre sereno em sua cadeira com seu uniforme laranja e tinha gestos firmes, retos que transmitiam certa tranquilidade, está em sua presença sempre era uma sensação inquietante, ambígua.
— Podemos começar de onde paramos no nosso último encontro.
— Claro.
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VERSÃO DE JOHN
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Após dormir mais algumas horas acordei com uma dor de cabeça ainda persistente, mas muito menos intensa que naquela manhã cedo. Já eram umas 02:00 p.m. pois o calor, mesmo com o ventilador ligado já era insuportável, odiava o calor que fazia naquele lugar naquela época do ano. Fui ao banheiro lavei o rosto, me escovei e desci as escadas o mais rápido possível, pois estava sentindo o meu corpo necessitar tanto de água quanto de comida com alguma urgência, sendo a primeira superior à segunda.
Abri a porta da geladeira e bebi a água na garrafa mesmo. Cada gole era como se minha garganta a muito ressicada recebesse um alívio, mas muito leve, só que após a quantidade de água ingerida, a necessidade finalmente foi saciada. Quando guardei a garrafa que fechei a porta da geladeira quase dou um berro de susto. Christopher estava ali, no umbral da porta, me olhando, o rosto uma máscara indecifrável.
— Boa tarde. — Ele falou finalmente depois de nos encararmos por não sei quanto tempo sem nada dizermos.
— Boa tarde. — Falei meio aturdido pela chegada repentina de Chris, senti meu coração acelerar e resolvi perguntar qualquer coisa pra me distrair. — Onde está Ben?
— Na sala ao lado, colorindo um daqueles livros que ele tanto gostar. Ele tem talento com desenhos e pinturas.
— E Grace?
— No trabalho, como sempre nesse horário.
— Que história foi aquela que você inventou para Grace, hein garoto? — Eu falei enquanto o peguei pelo braço e o prensei na parede.
— Ué! Achei que essa fosse a melhor história a ser contada, ou você preferiria que eu dissesse para Grace onde e o que estávamos fazendo? — Ele me respondeu perguntando de uma forma desafiadora, estava ali, nos seus olhos, ele não se sentia intimidado por mim, embora eu fosse mais alto, mais forte e mais velho que ele.
— Não, claro que não, mas... — Chris me interrompeu se soltando de minhas mãos e passando por mim calmamente. Devido a nossa proximidade pude sentir o seu cheiro com a rajada de ar que foi deslocada com a sua passagem. Aquele cheiro, o cheiro de Chris me deixava louco. Fiquei de pau duro na hora, pois me veio à cabeça todas as memórias da noite anterior, com as partes que eu sabia que foram reais e as partes que eu não tinha tanta certeza também. Por sorte Chris saiu sem mais conversa da cozinha e foi direto pra sala onde se encontrava Ben, eu aproveitei e subi as escadas de volta pro quarto, pois estava de pau duro, estourando na cueca e apenas de cueca. O que me leva a outra pergunta: quem tirou minha roupa?
Chegando no quarto o cheiro do Chris não me saia da cabeça. Aquele cheiro era perfeito, parecia uma droga feita especialmente para mim, só de sentir o cheiro dele eu sentia um tesão desgraçado, sentia vontade de beijá-lo, de morder aquela pele branquinha, aquele pescoço, de apertar aquela bundinha linda, de sentir seu calor, de estar dentro dele. Eu queria possuir aquele garoto, eu necessitava disso.
— “John, John, John... onde você está com a cabeça?” — Pensei comigo mesmo. Não poderia continuar com aquela loucura, não podia negar que me sentia atraído por Christopher, mas não podia ir adiante com aquilo. Eu tinha de por um ponto final naquilo. Já tinha tido provas que eu teria problemas se continuasse com essa história.
Fui ao banheiro, tomei um banho, me segurei pra não me masturbar com aquele cheiro ainda em minha mente. Desci e fui comer alguma coisa. Resolvi ignorar Chris o máximo que pude durante aquele dia. Por vezes, o percebi me olhando com aqueles olhos de um azul-violeta incrível, mas este também não procurou por minha companhia, limitando-se a fazer o seu trabalho, o que acabou me provocando diversos sentimentos: Alívio, por ele ter me dado espaço, não ter forçado a barra comigo, eu sei que é muito louco isso, mas com a mesma intensidade que o desejava, eu meio que o temia, ou temia o que aquela atração significava. Eu não me via como viado, eu não desejava outros homens, mas ele, ele era diferente, ele, a cada dia, era um pensamento, um desejo, cada vez mais presente em minha cabeça. Até que chegou a hora dele ir embora e mais uma vez aquele playboyzinho do Scott estava em frente a minha casa o esperando; Insegurança, e se ele não desse a mínima pra mim e se fosse por isso que ele não me procurava; Mas acima de tudo, tesão um tesão doido e que parecia que quanto mais ele me ignorava, maior ficava meu tesão por aquele garoto.
— Bem senhor O’Connor, já está na minha hora, já vou indo embora, ok?
— Claro, sem problemas. Mas Christopher gostaria de lhe pedir que o Scott parasse de vir lhe buscar aqui na frente da minha casa todos os dias, já não está nem pegando bem essa história, nem pra vocês nem pra mim. Então pro bem de vocês e pro meu também, eu gostaria que ele não viesse mais aqui, ok?
— É por este motivo mesmo senhor O’Connor?
— Claro! — Falei meio desconcertado com a insinuação de Chris, que me fitava de forma intensa e desafiadora. Argumentei o desafiando também. — E por que outro motivo seria?
— Por que eu saberia? O pedido foi seu. — Christopher falou com uma falsa inocência, clara em sua entonação de voz. — Tentarei fazer o que o senhor me pediu, mas o senhor já conhece Scott, acho que deu pra perceber que ele é impulsivo e a rua é pública... Além do mais, não gosto de seguir regras, ou viver do jeito que esperam que eu viva a minha vida, prefiro vive-la do meu jeito, é mais interessante. Principalmente quando se trata de ideias provincianas como as da maioria das pessoas dessa cidade. Não me diga que o senhor se deixa influenciar por esse tipo de pessoas senhor O’Connor?
— Não, claro que não! — Falei meio envergonhado.
— E quanto ao risco que corremos... Bem, o perigo me excita. Ao senhor, não? — Chris falou isso enquanto mantinha sua atenção em um pedaço de linha que ele retira de minha camisa, levantando seus olhos esplendorosamente e fixando-os nos meus ao final da fala.
— Apenas faça o que lhe pedi se lhe for possível, eu agradeceria muito. — Falei o mais indiferente e friamente possível, isso externamente, pois seu jeito, petulância, juventude, beleza e charme, aliados ao seu cheiro estavam me matando de tesão, contudo eu teria de sufocar estes sentimentos, desejos, pois estes tornavam-se cada vez mais perigosos e destrutivos pra mim.
— Tudo bem então, agora preciso ir, Scott está me esperando aí na frente e eu tenho sido muito relapso com meu namorado. — Falou Chris passando por mim que estava no umbral da porta da cozinha fazendo nossos corpos meio que se roçarem e me permitindo sentir aquele cheiro que eu tanto amava. Claro que depois disso eu já estava de excitado de novo, era impressionante como o meu corpo reagia aquele garoto, por mais que eu me esforçasse pelo contrário.
O acompanhei até a porta em silêncio, sem saber o que dizer, optando por ficar calado. Ao chegar fora de casa, como o habitual naquele horário, a minha rua estava praticamente deserta, Christopher beijou de forma provocativa e sensual Scott, que desta vez, retribuía seu beijo de forma possessiva, quase que a demarcar território, como que pressentindo o perigo que Christopher corria ao ficar ali comigo, ou melhor, pressentido que haviam segundas intenções minhas para com Chris.
Vê aquele beijo mexeu mais comigo do que eu gostaria de admitir, eu sentia muita coisa ao mesmo tempo, raiva, eu queria quebrar na porrada aquele idiota do Scott Carter, impotência, pois eu queria pegar o pequeno Portman pelo braço e mostrar pra ele que o único que poderia desfrutar daquela boquinha vermelha linda era eu e mais ninguém, nem que pra isso eu tivesse que pegá-lo a força, mas não podia, sentia ciúmes, sim, muito ciúmes de Chris com o Scott, mas eu não poderia e nem deveria demonstrar e eu sentia raiva de mim mesmo por sentir raiva, ciúmes, por está desejando aquele moleque filho da puta da bunda mais linda que eu já havia posto meus olhos, tudo nele me atraía, mesmo o que não era pra atraí por se tratar de outro homem, mas atraia mesmo assim. E assim Scott e Christopher subiram na moto e sumiram no final da rua virando à direita. O restante da minha tarde depois disso foi uma merda.
Quando Grace chegou em casa por volta das 18 horas naquele dia, eu havia elaborado um pequeno e desesperado plano pra me manter longe de Christopher. Eu tentaria, a todo custo, transferir parte deste meu tesão louco por este garoto para Grace! Claro que isso que eu andava pensando e sentindo era culpa da seca que Grace me obrigava a passar por conta do seu puritanismo absurdo. Mas momentaneamente eu estava com problemas, Grace estava uma fera comigo, então, antes de partir pro ataque eu teria de amansar a fera.
— Boa noite Grace, como foi no trabalho?
— Boa noite John, fui bem, obrigada. Vejo que você está muito melhor que quando sai hoje pela manhã! — Ela falou casualmente, mas para me lembrar que tínhamos assuntos pendentes.
— Sim, estou, muito obrigado.
— Não pense que eu me esquecerei do que aconteceu está noite apenas com esse seu súbito interesse pelo meu trabalho, Jonathan O’Connor!
— Não, não é nada disso querida. Eu apenas estou tentando me redime com você demonstrando interesse pelo seu emprego já que você gosta tanto deste seu trabalho, embora eu continue achando desnecessário tanto esforço, mas não precisamos mais entrar em mérito. Além do mais, eu sei que eu errei, mas prometo que não irá se repeti, será que você desculpa esse seu maridinho aqui. — Falei já a agarrando pela cintura e beijando seu pescoço.
— Desculpar, eu até desculpo, mas Jonathan esse tipo de comportamento não mais condiz com você, além do mais, aquela não é a postura nem o comportamento esperado de um pai de família como você, aliás, aquilo não é estado de chegar em casa pra nenhum homem de bem!
— Tudo bem amor! Não vai mais se repetir eu prometo! — Falei mudando de assunto. — Eu estava pensando, que tal sairmos um pouco este fim de semana, apenas eu e você, como nos velhos tempos, hum?
Eu realmente tentei me aproximar o máximo possível de Grace durante as duas semanas seguintes, minhas investidas ficaram cada vez mais frequentes, mais do que já costumavam ser, e olha que já eram frequentes, o que aumentou a frequência com que transávamos, mas isso não aplacou meu desejo por Chris, muito pelo contrário. Durante o dia eu fazia o possível e o impossível para ficar longe de Christopher, passei a trabalhar no escritório da empresa do meu sogro, embora fosse desnecessária a minha presença neste período, pois agora eu batia cartão por lá todo dia, passei a fazer visitas periódicas os setores da loja como forma de inspeção. Mergulhei no trabalho de cabeça o que foi bom, mas a todo momento a imagem daquele garoto vinha a minha cabeça e aquele perfume, aquele perfume me perseguia.
Já Chris, continuou me tratando normalmente, como se não houvesse ocorrido nada, o que me fez estranhar muito seu comportamento. Ele não demonstrar irritação por meu afastamento, como se ele não sentisse o mesmo que eu sentia por ele, ou pelo menos, se sentia parecia ser numa intensidade muito menor, pois ele parecia totalmente confortável naquela situação. Eu sei que é infantilidade querer que as pessoas percebam as coisas como percebemos, mas pra mim, tudo era contraditório e novo. Eu o desejava, mas repudiava a ideia de dois homens transando, ao mesmo tempo em que isso era cada vez mais o que eu deseja: transar com ele, possuir aquele corpo de todas as formas que eu fantasiei e desejei por todos esses dias, desde que o vi pela primeira vez, já o desejando, meio que inconscientemente, mas já o querendo e ansiando por ter seu corpo em meus braços, por ser seu homem, seu macho.
Chris apenas uma vez outra me lançava olhares mais significativos que me faziam ter certeza de tudo era real, que eu não havia fantasiado ou sonhado que entre nós houve ou há um certo envolvimento. Scott continuou vindo buscar Chris em minha casa todos os dias, sem faltar um dia sequer.
Para ter desculpas para sair de casa e para descarregar minhas energias eu passei praticar corrida todos os dias, uma hora por dia.
O sexo com a Grace era bom, mas já não tinha a mesma graça, por vezes me peguei fantasiando que enquanto transava com Grace que quem estava ali era o jovem Chris e não ela, passei a sonhar com aquele filho da puta e com aquela perfeição de bunda em algumas noites nestes últimos dias, a ponto de acorda ofegante e, bem vocês, sabem como.
Tudo estava correndo normal, até aquela manhã de terça-feira, na qual infelizmente eu não fui para a loja de departamentos.
Chris estava com uma tigela com leite e cereais e foi levar para Ben que estava na sala, só que no caminho ele pisou em cima de um dos carrinhos de Ben que estava largado no chão da sala derramando sobre si toda a tigela de leite e cereais.
— Chris, Chris, você está bem, se machucou? — Perguntei enquanto o levantava do chão, eu realmente estava preocupado, o tombo foi bem feio. Por sorte Ben não viu e parecia está alheio aos acontecimentos da sala.
— Estou, eu acho. — Chris falou enquanto verificava que tinha um pequeno ferimento no braço.
— Venha deixa que eu cuido disso.
— E quanto a você Ben, fique aí quietinho que já voltamos.
O levei ao meu quarto onde havia um kit de primeiros socorros e, em seguida, fiz um curativo provisório, pois ele estava todo sujo de leite e cereais.
— Nossa! Você está encharcado. Precisa de um banho.
— Verdade, estou todo grudento. Acho que vou precisar ir em minha casa pegar um muda de roupa.
— Não se preocupe, vá ao banheiro que eu vou com o Ben em sua casa e pego sua muda de roupa, é o tempo do seu banho e eu estou de volta com sua muda de roupa.
Não tive problemas em explicar o ocorrido à senhora Portman, embora ela tenha ficado preocupada eu consegui tranquiliza-la, que ele estava bem e tudo mais, porém eu tive de prometer que eu o liberaria aquele dia, pois ela não estava de todo tranquila. Quando cheguei em casa, subi até o quarto e ele estava no quarto com a toalha em torno da cintura e aqueles filetes de água descendo pelo seu corpo que o deixava ainda mais sensual.
— Tá aqui suas roupas, mas sua mãe ficou preocupada e quer que você vá pra casa pois ela só se sentirá tranquila depois de conferir pessoalmente que você está bem.
— Nossa que exagero! Pra que tudo isso?
— Eu a compreendo, no lugar dela eu também me sentiria assim.
— Como?
— Nada, falei bobagem aqui.
— Vou me trocar e já volto. — Ele falou seguindo de volto pro banheiro, mas deixando a porta entreaberta.
De onde estava pude ver quando ele deixou a toalha cair e deixando a mostra sua pele extremamente branca que tanto contrastava com os seus cabelos negros no alto de sua cabeça, que pareciam lhe sugar toda a cor, mas que ao invés de lhe deixar estranho, apenas lhe conferia mais uma peculiaridade, mais uma coisa apenas sua, fora seu rosto e olhos de tirar o folego. Era impossível não perceber aquele garoto, onde quer que ele estivesse. Mas naquele momento, toda a minha atenção estava voltada para a sua bunda, sua linda bunda, pequena, máscula e extremamente sensual, rígida e empinada. Tive uma ereção na hora. Comecei a caminhar em direção a porta do banheiro e quando dei por mim, já haviam dois olhos de um azul violeta intensos me fitando através do espelho.
— Por que demorou tanto?
Fiquei meio que atônito com a pergunta, mas antes que eu pudesse responder ele já me interrompe novamente com outra pergunta.
— Então, vai ficar aí me olhando ou vai fazer alguma coisa?
Quando dei por mim, já estava em seus lábios, sentido o seu gosto, e que gosto, minhas mãos já passeavam por seu corpo, sua bunda...
Gente desculpe a demorar nas postagens, mas tava meio sem tempo pra postar aqui e minha vida tá uma loucura, troquei de emprego, mudei de casa, e agora tô estudando pra concurso, meu novo emprego é ótimo, mas me leva a alma e todo o meu tempo. E ainda tem minha facul. Enfim, tá difícil, tenham paciência comigo. Tentarei ser mais constante. Desculpem a demora. Mas tenho de trabalhar e viver, né? Mas serei mais responsável, ok? Beijos e abraços! Ah, quero meus amigos de volta no msn, cadê vocês, Guhhh!, Mô, Rô, todo mundo (inclusive aqueles que não falei o nome, cadê vocês galera?)?
Para contato, conversas, criticas, amizade, sugestões e o que vocês quiserem (kkkk – só não sei se posso atender!)
Antes que eu esqueça, Syaoran, Syaoran, poste logo meu amigo, pois estou sentindo a maior falta de seu conto aqui na CDC, tudo bem que você tá ocupado com a seleção do mestrado, mas tire um tempinho pra gente, vá lá. Ah, e quem não conhece eu indico esse conto "Timmy & Sam: Don't ask, don't tell", leiam eu mais que recomendo. E Syaoran, mais uma vez eu lhe agradeço por sua ajuda e paciência.