Como Chamas 1x23: NO FOGO CRUZADO!
- Porque estão fazendo isso? Perguntei.
- Nada pessoal cara, só faço o que me pedem.
Ele ainda apontava a arma para mim, mas algo nos olhos dele me fizeram relaxar só um pouco. Não pareciam querer tirar a minha vida.
Uma lagrima escapou sem que eu pudesse perceber e o rosto dele suavizou.
- Garoto não tenho escolha, ta legal? Ou é você ou aquele outro garoto.
- Que garoto? Perguntei.
Ele tirou um celular do bolso e mostrou uma foto de Felipe e eu conversando na cafeteria. Meu coração pareceu prestes a explodir. Por mais magoado que eu estivesse, pensar que ele poderia se machucar, ou morrer, por minha causa era demais. Não imaginava um mundo sem o Felipe.
Ja seria fácil comigo. Marcie iria se consolar com Gregori e ficaria bem, Meus pais acabaram de ganhar um filho emprestado e que não lhes daria vergonha, Felipe tinha Alice e Mike ficaria bem. Jordan também.
- Não precisa fazer nada com ele. Estou bem aqui não estou? Pois bem, pode fazer.
Fechei os olhos e esperei. Mas o tiro não veio. Ficamos em silencio por um tempo ate que o telefone dele tocou.
Eu abri os olhos, vendo tudo diferente desta vez.
Eu não queria morrer. Gostaria de passar minha vida com Marcie ao meu lado, gostaria de ir para o trabalho todo dia e olhar para o Felipe, sonhando com um futuro perfeito para nos, gostaria de ouvir mais das piadas sem graça de John e queria sentir meu rosto corar com as palavras de Jordan.
Eu não estava pronto para deixar a minha vida, ainda não.
- Sim, estou com ele... Não vou fazer... Ele dizia andando de um lado para o outro.
Aquele garoto não queria me machucar, mas eu não podia arriscar mais um pouco. Então esperei ate o momento que pudesse escapar, e quando o garoto se virou de costas, corri e o empurrei contra a parede.
Ele bateu a cabeça com toda força e deixou o celular e arma caírem. Um tiro acidental foi disparado e eu gritei.
Por mais estranho que fosse, o cheiro de gasolina naquele lugar estava me deixando zonzo. Estava tão forte que parecia estar brotando das paredes.
Sem enxergar nada, corri para a saída. Minhas mãos doíam de bater em todas as paredes ate chegar a escada.
Quando cheguei ao térreo, eu notei o clarão. Luzes vermelhas alaranjadas chicoteavam as paredes do lado de fora e estava entrando. Era fogo... E estava em toda parte.
Por isso o cheiro de gasolina seu idiota! Pensei correndo de volta para cima. A fumaça fez meus olhos lacrimejarem.
Quando mergulhei na escuridão de novo bati de frente com o garoto.
- Seu filho da Puta! Eu poderia estourar as sua cabeça! Ele gritou, mas então, algo atras de mim atraiu sua atenção. O garoto me soltou e correu para baixo, em meio a fumaça e o fogo.
- Mas que merda...
- Precisamos sair, agora! Gritei para ele.
O garoto subiu novamente, desta vez correndo direto para um dos cômodos do mausoléu.
- O que vai fazer? Perguntei.
- Esta vendo esta janela? Podemos pular ate a arvore. Ele disse.
Havia um buraco no meio do cômodo e com presa quase pisei nele. O garoto subiu no para-peito e pulou para o Carvalho.
Ele se atrapalhou um pouco, mas acabou ficando firme. Deu uma olhada significativa para mim.
Dei dois passos para a janela, mas então tudo pareceu sumir. Meus pés não tocavam mais o chão e eu sentia meu corpo flutuar por alguns segundos. E então toquei o chão.
Por um momento, senti apenas a fraqueza, e depois a dor. Meu corpo todo parecia estar doendo.
As chamas estão tão próximas que incomodavam minha pele. Aquele sim seria o fim. Pela primeira vez naquela noite, senti algo parecido com paz.
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- Por favor cara, acorda ai. Disse uma voz masculina bem perto dos meus ouvidos.
Tentei abrir os olhos, mas achei melhor não. Ao meu redor, não havia calor insuportável do fogo e eu não sentia os tijolos e pedras debaixo do meu corpo. Eu só sentia o cheiro de um perfume masculino conhecido e chiclete de menta.
Abri os olhos e vi os olhos de John me encarando de uma proximidade intima demais.
- Finalmente! Quer me matar de coração!?
Ele por impulso se abaixou e me beijou na boca. Não tive força o suficiente para afasta-lo. O beijo durou poucos segundos, mas os lábios macios e quentes deles eram marcantes.
- O que esta acontecendo? Como cheguei aqui? Perguntei me levantando.
Estávamos dentro do carro dele, em algum lugar escuro, longe do fogo, fumaça ou pessoas que querem me matar.
- Bom, tem algumas coisas que você precisa saber.
Levei a mão a cabeça aonde doía. No banco ao meu lado, havia uma bandeja de papelão com um copo grande de cappuccino e dois bolinhos de framboesa.
- Quer comer primeiro?
- Não. Quero respostas. Como me encontrou?
- Ta abafado aqui, vamos para fora. Consegue andar?
Não respondi, apenas me empurrei porta a fora. Estava frio e eu usava nada alem de uma camisa de manda longa, uma calça jeans e um tênis adidas... Todos rasgados e cobertos de poeira do mausoléu. Ate meu cabelo cheirava a fumaça.
John pegou o copo de café de meu entregou.
- Bebe isso pelo menos, esta frio.
Tomei um gole do café e me encostei sobre o carro. John caminhou alguns passos e ficou de frente para mim.
- Eu cheguei nesta a cerca de um mês e meio atras. Todos os meus parceiros vieram comigo com uma missão: Capturar o maldito ladrão.
Tive que pensar um pouco para ligar as coisas, a maneira como ele disse "parceiros" de maneira nada amigável. Ladrão... Mike havia pegado as drogas e fugido sem pagar por elas, então ele havia mesmo roubado.
- Você trouxe aqueles idiotas aqui para me matar? Acusei ele.
John me olhou ofendido.
- Não tínhamos intenção de fazer nada contra você. Só pareceu... Conveniente assustar você para que Mike desse as caras.
- Assustar? Viu aonde eu estava hoje a noite? Quase morre torrado e você chama isso de susto?
Ele ficou em silencio encarando o vazio por algum tempo. Eu queria socar a cara dele.
- Depois do ataque a sua casa, estávamos desesperados. Precisávamos pega-lo de qualquer jeito.
Um arrepio percorreu minha espinha, mas não deixei transparecer. Aquilo era loucura.
- Você mandou baterem em Jordan?
- Aquilo foi totalmente sem querer. Mandei ficarem de olho em você, mas o garoto que estava olhando disse que ele parecia estar batendo em você e então deixei ele atacar. Ele esperou mais alguns minutos, mas como eu não disse mais nada, prosseguiu.
- Mas alguma coisa mudou. Só estou aqui para conduzir a operação de recuperar o que aquele idiota roubou e voltar. Alguém de lá quis ferir você. Eu não sabia nada sobre o incêndio ou sua amiga.
- Quando você diz alguém de lá...
- Digo que alguém acima de mim.
Bebi mais um pouco do café e o encarei por alguns instantes. Como aquele garoto poderia estar por trás de tudo aquilo e eu nem mesmo havia notado?
- Em algum momento, nossa amizade foi real para você?
- Ela ainda é, porque acha que salvei você? Dan, eu falo serio, nunca quis colocar você no meio disso. Realmente me importo com você.
Ele me abraçou e eu deixei. Apesar de tudo, John havia me salvado afinal... E eu meio que me importava com ele também.
- Vem, hora de ir para casa.
Entramos no carro e ele dirigia em silencio ate minha casa. Estava tudo apagado, eu teria que me esforçar para não acordar meus pais.
- Obrigado. Eu disse antes de sair de perto dele.
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Na manha seguinte, eu estava sentado na varanda de minha casa, ao sol, e ao lado de minha melhor amiga, Marcie.
Eu havia contado toda a historia desde a viagem ate agora. Tudo que ela fez foi me abraçar e chorar.
- Me desculpe. Quer dizer, sou sua melhor amiga, e te deixei sozinho em tudo isso.
Eu enxuguei uma lagrima de seu rosto perfeito e sorri.
- Não tinha como você saber sua boba. Esta tudo bem.
- Não está não. Se alguém beijar você ou tentar te matar, tenho que saber, ok?
- Ok!
Um baque dentro da casa atraiu nossa atenção. Meu pai estava tirando vários entulhos do quarto e colocando na garagem. Minha mãe havia uma comprado um colchão novo e também uma escrivaninha. Tudo para o conforto de meu futuro irmão de mentirinha.
- Bom, quando esse garoto vai chegar? Marcie perguntou.
- Arg, nem me fale. Esse garoto ainda nem chegou e meus pais já estão mudando a casa por causa dele.
Marcie segurou minha mão.
- Sabe que no fundo eles amam você ne?
Antes que eu pudesse responder, shut up N' dance da Victoria Justice começou a tocar e a puxei para mim.
- Calada, só dance!
Começamos uma dança louca e divertida, do jeito que você só dança com sua melhor amiga quando acha que não tem ninguém olhando. Catávamos gritando ate a musica acabar.
- Eu te amo. Falou Marcie.
- Também te amo!
Nos abraçamos de novo. Eu ainda sentia toda a magua em meu peito. Felipe partiu meu coração, mas os pedaços que restaram apenas o desejam ardentemente. Meus pais não queriam saber de mim e eu definitivamente estava longe de alguma coisa perto de uma vida amorosa. Mas, enquanto tiver minha melhor amiga ao meu lado, eu vou ficar bem.
Depois o Gregori passou para busca-lá e fiquei sozinho novamente.
Subi para o quarto e me deitei.
- Dan, você ta ai? Perguntou a voz de Alice entrando dentro do meu quarto. Felipe entrou logo atras dela. Fiquei tão surpreso que nem consegui sorrir.
- Nossa, alguém detonou com você ne? Ela riu e me abraçou. Retribui o abraço.
Notei que ela e Felipe não tiravam os olhos dos hematomas em minhas pernas e braços.
Alice era uma garota tão legal e eu havia feito besteira e estragado as coisas com ela. Se algum dia ela soubesse, tenho que certeza de que iria me odiar e estaria com toda a razão.
- Esta tudo bem? Perguntou Felipe de pé, sem se aproximar.
Olhei desconfortável para eles. Desde a noite na escola, eu não havia pensado em como ver ele e saber sua real opinião sobre mim machucaria tanto, mas agora eu sabia.
- Estou sim. Cai, mas vou ficar bem.
- Que bom. Ele disse por fim.
Alice suspirou alto e se voltou para mim.
- Caiu? Que tipo de pessoa cai e se machuca toda?
Eu dei um sorriso amarelo para ela.
- Você deveria ter visto, meu tombo foi digno de filme.
Ate Felipe riu desta vez.
Eu sabia que não queria mais gostar daquele idiota, mas não consegui fazer meu coração ficar quieto ao ver ele sorrir.
- Podia ter ligado. Quando Joaquim disse que tinha se machucado fiquei... Nos ficamos preocupados. Ele disse sem olhar para mim.
Felipe me conhecia tão bem que sabia que eu estava magoado e não estava tentando fingir que nada acontecera.
Conversamos por mais algum tempo e depois eles foram embora.
Mike me mandou uma mensagem agradecendo a força e dizendo que tudo ia ficar bem para nos dois. Eu esperava que ele estivesse sorte.
A noite, eu estava sentado na sala de estar vendo tv, quando meus pais surgiram todo arrumados e elegantes como sempre.
- Vamos jantar fora. Disse meu pai.
Geralmente, ele só dizia que estavam saindo e nem se dava o trabalho de dizer para onde. Uma onda de esperança percorreu minha mente, ele estava tentando me convidar para ir com eles?
- Tudo bem. Falei, me voltando para a televisão e eles saíram sem dizer nada.
Algumas coisas realmente nunca mudam mesmo. Subi de volta para quarto e troquei de roupa para dormir, ao apagar a luz, vi que Jordan estava parado em sua janela, sem camisa, apenas de jeans me encarando de maneira sensual.
Apanhei meu celular e liguei para ele.
- Assustador demais? Perguntei rindo.
Ele passou a mão em cima de seu membro.
- Você ainda não viu nada...
- Quer entrar aqui e fazer coisas ruins comigo? Perguntei fingindo estar assustado.
Ele sorria, pervertido.
- Depende do que chama de ruin...
- Tudo bem... Pena que tenho que ir dormir.
Ele deu um gargalhada alta e apontou o dedo para mim.
- Você ta zuando ne?
- De jeito nenhum!
Aquele jogo de provocação era muito mais divertido quando é você que esta no controle e atiça a outra pessoa.
- Beleza, sei que você quer transar comigo e eu vou esperar ate você se render. Mas fora isso, esta tudo bem?
- Está sim. E você? Como vai o namoro?
- Vai bem, sabe cara, acho que estou começando a gostar dela. Pela primeira vez não parece que estou apenas perdendo tempo.
Eu senti uma pontada de inveja. Da garota que o tinha só para ele e por ele esta tão bem de vida amorosa. O mais perto que cheguei disso nos últimos dias foi o beijo tosco de John na noite do incêndio que quase me matou.
- Cara, você viu o lance do incêndio na tv? O velho Sabino já era. Ele disse.
- Eu vi, já era mesmo.
Você não faz idéia de como eu vi, pensei.
- Bom, eu preciso ir. Boa noite. Falei desligando o telefone. Dei mais uma olhada para ele.
Ele olhou para mim e sorriu. "Boa Noite" pude identificar seus lábios sem som me dizendo. Sorri de volta e apaguei luz. Quando o fiz, houve um movimento nos arbustos bem abaixo da minha janela e um farfalhar de folhas bem abaixo no meu quintal. Ouvi o som de alguma coisa havia caído, ou como se alguém tivesse pulado para a relva. Uma silhueta surgiu em meios as sombras lá em baixo e cobri a boca com a mão por causa do susto.
Meu coração deu um salto e continuei olhando para baixo. Porém, a sombra havia desaparecido. Me afastei da janela e fui para a cama.
- Você tem que relaxar idiota. Isso tudo terminou. Falei para mim mesmo enquanto me deitava. Não devia me preocupar com isso. As coisas ruins haviam terminado e tudo ficaria bem, certo?
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Muito bem, o tão esperado fim chegou e estou muito contente que estejam gostando do conto. Foi ótimo escrever esta temporada e pretendo voltar em breve com novos mistérios, romances, e tipo, umas novidades muito loucas.
Vejo vocês em breve. Obrigado.