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A História de Caio, completa e revisada para leitura on line e download e contos inéditos no meu blog:
http://romancesecontosgays.blogspot.com.br/a-historia-de-caio-leitura-on-line-e.html
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Eu já estava sentado na cama chorando. Por aquela certamente eu não esperava. Ele dizer assim na cara dura que não conseguia desejar meu corpo porque eu fui estuprado. Poxa, eu não estava querendo sexo, só um beijo, mas parece que nem aquilo ele tinha tesão para me dar. Aquele beijo não tinha função sexual nem nada disso, eu gostava de beijar o Yoh, de ter contato físico com ele, porque era nesses momentos que ele se entregava para mim, que ele não parecia tão distante e misterioso.
Na hora dos beijos e do sexo, eu me sentia protegido, me sentia parte dele. Nas outras horas, ele parecia apenas uma amigo. Acho que o vício que eu tinha nele era esse anseio de me sentir protegido novamente, de sentir que eu tinha um macho meu, só meu e só vivia isso quando ele me possuía ou me beijava. Ele ficou sem ação durante alguns instantes, então sentou ao me lado e me abraçou ternamente:
- Não gosto de te ver assim. Gosto de te ver sorrindo. Vamos lá ver o advogado, ele terá boas notícias para nós.
- Não to nem pensando nisso agora. Só penso que agora eu sou um inválido para você. - Falei enquanto as lágrimas caiam.
Não sei se alguém já passou por isso. Mas é uma situação horrível ouvir uma pessoa que você gosta dizer que não consegue sentir tesão por você. Voltou toda a sensação negativa do estupro, me senti sujo, inútil. Nisso eu pensei no Daniel, ao contrário do Yoh, aquela situação fez foi nos aproximar, ele criou coragem para se declarar para mim. Será que ele me amava mesmo?
Será que o Yoh tinha apenas atração carnal e por isso não se excitava mais comigo só porque sabia todos os abusos que eu tinha passado? Pensando bem, como eu poderia culpar ele. Se ele fez o Carlos falar tudo que fez comigo fazendo hipnose, era compreensível até que ele não conseguisse pensar em sexo comigo. Imagino ele comigo na cama, querendo transar e lembrando como aquele corpo nu ao lado dele foi usado, abusado e violado de todas as formas. Teria como sentir outra coisa senão piedade? O Yoh, não, o Daniel, talvez. Embora o Daniel não soubesse tudo pelo que passei. Será que ele perderia o tesão em mim também?
Será que algum homem se excitaria em fazer sexo comigo se soubesse o meu passado? Ou só conseguiriam sentir pena. Será que ao invés de ver um garoto jovem e bonito, com um corpo legal e desejável, será que veriam apenas um coitado que foi violentado e é digno apenas de piedade e não de desejo? Por quanto tempo aquele pesadelo iria me perseguir? Os machucados do meu corpo sarariam em poucos dias, mas e as sequelas na minha alma? Será que eu um seriam superadas?
- Ca. - Chamou Yoh. - Você é muito importante para mim. A despeito de qualquer coisa que ocorreu ou venha a ocorrer.
Encostei a cabeça no ombro dele. Ele afagou meu cabelos.
- Desculpa, Yoh. Não posso exigir mais do que você está fazendo por mim.
- Caio. - Riu ele. - Dê tempo ao tempo. Resolva sempre uma coisa de cada vez. Agora, vamos resolver a questão do testamento. O Dr. Vasques conseguiu marcar uma audiência com o Juiz do inventário da sua mãe, não podemos atrasar.
Resolvi me recompor. Eu estava sofrendo uma pressão enorme de todos os lados, mas realmente precisava reagir e entender que só resolveria uma coisa de cada vez.
Levantei e coloquei a camisa. Fechei a calça e segui o Yohan, que estava com o testamento nas mãos. Fomos no carro dele até o Fórum da Cidade. É um prédio enorme que ocupa uma área de vários quarteirões. Fiquei na dúvida se o Yohan sabia para que lado ir, mas deveria porque afinal ele trabalhava na justiça.
Deixamos o carro em um estacionamento do próprio Fórum, pois o Yoh se identificou como servidor da justiça. Eu nunca tinha entrado lá e fiquei impressionado com o tamanho dos corredores.
- Você sabe para onde ir?
- Claro. - Falou ele enquanto pegava o celular e discava para o advogado.
Ele trocou apenas algumas palavras e logo desligou e me indicou uma direção para seguirmos. Andamos um corredor enorme, sem subir nenhuma escada. No final dele haviam algumas agências bancárias e uma porta com o símbolo da OAB e escrito logo abaixo: SALA DOS ADVOGADOS. Entramos.
Logo no meio da sala, de pé, como quem está ansiosamente esperando alguém, estava o Dr. Vasques. Um pouco mais velho do que eu me lembrava, mas ele era inconfundível. Senti uma ponta de nostalgia ao vê-lo, lembrei das várias vezes em que ele esteve em minha casa para resolver coisas para minha mãe.
- Caio, que prazer revê-lo, meu jovem. - Adiantou-se o advogado apertando minha mão. - Você deve ser o rapaz que me ligou cedo não é? Yohan?
- Sou eu sim. - Falou Yoh apertando também a mão dele.
- Então, é verdade o que você me disse? Vocês possuem o testamento. ?
- Sim. - Confirmou Yoh, mostrando um envelope pardo onde havia colocado o testamento.
- Venham, vamos sentar nessa sala um pouco, aqui é mais privativo. E a audiência é daqui a uma hora e meia apenas. Foi um milagre conseguir marcar assim para o mesmo dia. Mas consegui convencer o Juiz da urgência do caso, considerando que a falecida deixou um testamento que ficou escondido.
Seguimos ele e entramos na sala, era uma saleta muito pequena, tinha uma mesa e 4 cadeiras. Quando nos acomodamos o advogado nos contou a história daquele testamento:
- Eu sou o testamenteiro da sua mãe. - começou. - Por isso meu nome estava junto com o papel do registro do testamento. Eu sabia onde o testamento estava e sabia a senha do cofre. Era a única pessoa que sabia. Quando ela faleceu eu fui até lá para pegar o testamento. Mas seu pai me impediu. Ele quis saber o que havia no testamento e eu obviamente não poderia falar, apesar de ter sido eu que escrevi.
- O senhor que escreveu? - Perguntei surpreso.
- Sim. E como você abriu o cofre?
- Eu adivinhei a senha. - Falei rindo satisfeito comigo mesmo e recebendo em troca um olhar impressionado do velho causídico. - O senhor pode me dizer o que há escrito nele? Eu quase abri para ler tamanha a minha curiosidade.
- Teria sido um péssimo negócio abrir. Se não for aberto pelo Juiz ele perde a validade. E se perdesse a validade você perderia uma boa quantidade de dinheiro. Porque sua mãe lhe nomeou herdeiro universal dela.
Sinceramente aquilo para mim não queria dizer muita coisa, foi o Yoh que explicou.
- Funciona assim, Caio. Você pode dispor em testamento de metade das suas coisas, a outra metade deve ficar com os herdeiros necessários, que são os filhos, esposo e esposa. Se sua mãe te nomeou herdeiro universal, metade de tudo que é dela, fica para você, a outra metade é dividida entre seu pai, seus irmãos e você, já que você também é herdeiro necessário.
- O papai não queria que o testamento fosse cumprido só para me prejudicar?
- Não é tão simples. - Explicou Dr. Vasques. - Sua mãe tinha participações acionárias importantes nas empresas da família. Os bens dela são consideráveis, o casarão da família pertence a ela, dezenas de imóveis pela cidade que seu pai administra. Mas não é metade de tudo que fica para você, você fica com metade de tudo que ela possuía antes de casar. Mas 25% do patrimônio dela do período de casada. Pois metade passou pelo seu pai como meação do casamento. Então a herança dela constitui metade desse patrimônio, da qual ela pode dispor em testamento de 25%. A questão é que sua mãe possuía um vasto patrimônio como solteira. Está tudo no processo de inventário. Agora precisamos cuidar de outra coisa, você é menor de idade, então esses bens não ficarão a sua total disposição até os seus 18 anos. Antes de tudo, saiba que eu sou advogado, então estou aqui como profissional lhe aconselhando. O Yohan me contou seus problemas com a família, então poderia ser uma boa ideia fazer um pedido de tutela para você.
- O Yoh não poderia ser meu tutor? - Perguntei.
- Não Caio, eu sou servidor da justiça. O Dr. Vasques era o advogado de confiança da sua mãe. Você conhece ele pouco, mas acredito que não haja pessoa mais indicada pra isso.
- Tudo bem. - Concordei.
Minha cabeça rodou com aquela discussão jurídica. É pior que aula de matemática, então não vou me alongar nessa parte. Lembro que aquela tarde foi meu primeiro contato cru com o mundo do direito e foi algo decisivo para eu escolher minha profissão. Conversamos e ajustamos várias coisas até a hora da audiência. O juiz abriu o testamento e realmente era tudo como o Dr. Vasques falou. Eu voltei para casa muito satisfeito. Não ficaria na rua da amargura, poderia me sustentar sozinho e mandar meu pai e irmão às cucuias.
Sai do fórum com o dia escurecendo, quando estramos no carro de volta, o Yoh ligou para o Daniel dizendo para ele ir até a casa dele. Chegamos exaustos, e o Daniel estava chateado na porta nos esperando.
- Porra meu, você disse para eu vir aquela hora.
- O trânsito tava péssimo Dan. - Explicou Yoh.- Vamos entrando.
Eu não tinha entendido ainda porque o Yohan havia chamado o Daniel, quando entramos eu disse que tomaria um banho e ia dormir. O Yohan me interrompeu dizendo.
- Nada disso, você toma banho depois. Eu disse que tínhamos algo importante para conversar, lembra?
- Foi mesmo, vim aqui pra isso. - Falou Daniel. - Vai chamar a gente para assassinar Carlos e Carlos jr. de uma vez? - Completou gargalhando.
- Não, falou ele olhando sério para nós. Eu quero que os senhores parem de fingimentos e me falem exatamente o que está acontecendo entre os dois.
Continua …
Até 21h00 postarei outro capítulo.